O FLUXO, A MORTE E O ACONTECIMENTO MEDIÁTICO linguagens, representações e imaginário Investigador Principal (CECS): Moisés de Lemos Martins Investigador Principal (UFMG): Paulo Bernardo Vaz Membros da equipa: (CECS/Universidade do Minho): Maria Manuel Baptista; Emília Araújo; Maria da Luz Correia; Madalena Oliveira; Sandra Marinho; Ana Cármen Ferreira; Ana Duarte Melo; Ana Santiago; Lurdes Macedo; Vítor de Sousa; Belmira Coutinho (Universidade Federal de Minas Gerais): Bruno Souza Leal; Elton Antunes; Carlos Alberto Carvalho; Phellipy Jácome; Nuno Ribeiro; Leandro Lage; Carlos Jáuregui; Michele Tavares; Igor Lage; Marco Sousa; Luísa Ramos Os média oferecem diariamente temas que farão parte da conversação social. É, por isso, fundamental que se perceba de que forma dão conta dos acontecimentos e como se pode apreender a dinâmica em fluxo desses acontecimentos sem cair em fixações artificiais. O projeto O fluxo, a morte e o acontecimento mediático elege como recorte um acontecimento limite, capaz de fazer ver as qualidades da construção mediática dos acontecimentos sociais, a sua
disseminação e limites. Esse acontecimento é exatamente aquele que implica a interrupção de pelo menos uma parte do fluxo, da corrente da vida: a morte. Ao convocar e coordenar as interações sociais, os média podem ser entendidos como lugar de uma construção discursiva que se realiza não apenas ao nível do dispositivo, mas para além dele, dado que promove o cruzamento dos discursos transformando-os num local de mistura e intersecção. Essa tematização do quotidiano pelos processos mediáticos apresenta pelo menos duas faces complexas e desafiadoras, até mesmo por estarem interligadas. Uma delas diz respeito à integração dos processos mediáticos na vida social, numa dinâmica em que os acontecimentos não param de brotar e cuja significação se espraia e ramifica para diferentes âmbitos das instituições, dos grupos e dos indivíduos. Esta integração entre os processos mediáticos e o quotidiano é, pois, da ordem do fluxo, ou seja, de uma dinâmica incessante. A segunda dimensão dessa dinâmica diz respeito aos acontecimentos de natureza diferenciada que pontuam e que se constituem momentos de articulação da experiência e da corrente quotidiana. Há os acontecimentos que ocorrem independentemente de nossa vontade ou expectativa e há também aqueles que são provocados ou controlados com objetivos estratégicos. Há os que se produzem devido às modificações que atingem as coisas e aqueles que ocorrem connosco, modificando-nos. E há ainda aqueles que ocorrem no dia-a-dia, sem concitar particular importância, e outros que são mais marcantes, a ponto de se tornarem referências numa trajetória individual ou coletiva. Nessa perspetiva, é fundamental que se pergunte de que forma dão os média conta do acontecimento e, mais ainda, através de que modos se pode apreender a dinâmica em fluxo dos acontecimentos sem cair em fixações e enrijecimentos artificiais. Entrevê-se, portanto, na articulação entre acontecimento, média e fluxo quotidiano um potencial de investigação de caráter ao mesmo tempo teórico e metodológico, uma vez que exige que se reflita tanto sobre os conceitos e as relações que a configuram quanto sobre os modos, procedimentos e instrumentos para sua apreensão crítica e sistemática. Diariamente identifica-se na cobertura jornalística, por exemplo, relatos ou sinais da ocorrência de diversas mortes, resultantes de toda ordem de causalidades: acidentes, violência, naturais, doenças etc., num extenso catálogo editorial de acontecimentos. Se as mortes são expostas continuamente, fazendo do jornalismo uma narrativa e um testemunho desse morrer, torna-se
pertinente indagar se e que figurações invoca, que sensibilidades seriam essas que colocam o relato das mortes como elemento articulador para compreensão da dinâmica social e comunicacional contemporânea. Pode, assim, perceber-se uma face importante do desafio metodológico que reside na articulação da morte, acontecimento, fluxo e quotidiano. A análise de conteúdo é a metodologia mais frequentemente evocada quando se procura apreender as relações entre os media e acontecimento. No entanto, esta metodologia tem limites claros e a sua apreciação crítica abala decisivamente os seus pressupostos fundadores, como a linearidade do processo comunicativo, a anterioridade lógica do acontecimento em relação à narrativa mediática, a estabilidade do sentido e do significado e mesmo a rigidez do entendimento do que seria o texto mediático, inevitavelmente circunscrito e concebido sob o privilégio do verbal. O desafio metodológico, então não seria simplesmente descartar a análise de conteúdo ou outra metodologia, mas envolve a necessidade da invenção, reflexão e combinação cuidadosa de procedimentos operacionais, de modo a produzir o diálogo produtivo entre os fenômenos, os conceitos e teorias e modos de investigação. O projeto O fluxo, a morte e o acontecimento mediático tem, portanto, uma meta principal, o de desenvolver ferramentas teórico-metodológicas que permitam a apreensão do acontecimento mediático no fluxo quotidiano. São também objetivos desta investigação os seguintes propósitos: Rever criticamente e contextualizar as teorias existentes sobre a temática do acontecimento. Propor a desconstrução crítica dos materiais mediáticos e dos seus processos de produção tendo como eixo a cobertura de factos a partir das suas construções áudioverbo-visuais. Identificar e avaliar diferentes metodologias para o tratamento das figurações do acontecimento na sua relação com o imaginário. Observar e refletir sobre disparidades e similaridades entre os modos português e brasileiro de construção e apropriação dos acontecimentos. Reunindo um conjunto de investigadores do CECS e da Universidade Federal de Minas Gerais, este projeto resulta de uma parceria entre as duas instituições que têm já uma longa história de cooperação. No encontro de preocupações comuns, este projeto visa assim analisar o modo
como a morte se torna acontecimento mediático e, concomitantemente, perceber em que sentido a cobertura jornalística e as narrativas mediáticas deste acontecimento representam e/ou constroem um sentido cultural da vivência da morte.
Eventos Colóquio O Fluxo e a Morte, Universidade do Minho e Universidade Federal de Minas Gerais, 9 de julho de 2013, Braga, Universidade do Minho. Org.: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) e Coordenação do Colóquio: Moisés de Lemos Martins e Maria da Luz Correia. Comunicações/ensaio fotográfico de diferentes membros do projeto (Declinações trágicas na moda contemporânea, Moisés Lemos Martins; Imago, vitrines de um tempo imperfeito, Maria da Luz Correia; Representações pictóricas da morte em Andy Warhol, Ana Carmén Palhares...). Seminário Internacional O Acontecimento Mediático, Universidade do Minho e Universidade Federal de Minas Gerais, 28 de junho de 2012, Braga, Universidade do Minho. Org.: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) e Coordenação do Seminário: Moisés de Lemos Martins e Madalena Oliveira. Intervenções de três membros do projeto: Angie Biondi; Elton Antunes e Bruno Leal, com moderação de Moisés de Lemos Martins.
Publicações Araújo, Emília (2011) "A Política de Tempos: elementos para uma abordagem sociológica", Política & Trabalho - Revista de Ciências Sociais, n. 34 Abril de 2011 - p.19-40 Correia, Maria da Luz (2011). L image récréative : des photos fantaisistes aux jeux virtuels. Sociétés 111, 27-34. Leal, Bruno S. ; Antunes, Elton (2011) «O acontecimento como conteúdo: limites e implicações de uma metodologia. In Leal, Antunes e Vaz (org.) Jornalismo e Acontecimento: percursos metodológicos. Florianópolis: Insular, p. 17-36 Leal, Antunes e Vaz (org.) Jornalismo e Acontecimento: percursos metodológicos. Florianópolis: Insular Lopes, F.; Ruão, T.; Marinho, S.; Araújo, R. (2012) «E. Coli: uma doença em notícia em discursos de incerteza e contradição» Observatório, 6 (1), pp. 159-181. Lopes, F., Ruão, T., Marinho, S., Araújo, R. (2012) «A Media pandemic: influenza A in Portuguese newspapers», in Journal of Management & Marketing in Healthcare, 5 (1), 19-27 Macedo, Lurdes. (2011) Qu est-ce cosmopolitisme? Leitura e recensão da obra de Ulrich Beck. Caleidoscópio, Revista de Comunicação e Cultura, 10: 217 223. Macedo, Isabel, Cabecinhas, Rosa & Macedo, Lurdes (2011) "Narrativas identitárias e memórias pós-coloniais: uma análise da série documental Eu Sou África", Anuário Internacional de Comunicação Lusófona, LUSOCOM/SOPCOM/CECS, Grácio Editor, pp. 173-191. Martins, Moisés de Lemos (2011) Crise no castelo da cultura. Das estrelas para as telas. São Paulo: Anneblume]. [Edição portuguesa: Martins, Moisés de Lemos (2011) Crise no castelo da cultura. Das estrelas para os ecrãs. Coimbra: Grácio Editor]. Maffesoli, Michel & Martins, Moisés de Lemos (Eds.) [2011] L imaginaire des médias. Numéro 111 da revista Sociétes. Bruxelles: De Boeck.
Martins, Moisés de Lemos et alii (Eds.) [2011], Imagem e pensamento. Coimbra: Grácio Editores. Oliveira, Madalena (2011) L esthétique de l écoute: sur la liaison de l imaginaire radiophonique à la parole émotive. Le Boeck Université. Revue Sociétés, 111. pp. 123-130. Oliveira, Madalena (2011) «Da fotografia de imprensa à fotografia de arte: quando a atualidade se presta ao olhar artístico», in Martins, Moisés de Lemos et alii (Eds.) [2011], Imagem e pensamento. Coimbra: Grácio Editores, pp. 277-288 Oliveira, Madalena (2011) Metajornalismo - quando o jornalismo é sujeito do próprio discurso. Grácio Editor. Oliveira, Madalena (2005) «Olhando a morte dos outros», in BOCC < http://www.bocc.ubi.pt/pag/oliveira-madalena-olhando-morte-outros.pdf> Sousa, V. (2011) O equívoco da portugalidade, in CD-ROM de atas do Congresso Internacional "A Europa das Nacionalidades. Mitos de Origem: discursos modernos e pós-modernos", Universidade de Aveiro (9-11 de maio. ISBN: 978-972-789-342-3. [http://europenations.web.ua.pt/prog3.htm, 13/04/2011] Sousa, V. (2013) A portugalidade no discurso parlamentar português: Assembleia Nacional (1935-1976) e Assembleia da República (1976-2012), in atas do XIII Congreso Internacional Intercom, Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela Facultade de Ciencias de la Comunicación [http://tinyurl.com/mosoca8] Doutoramentos / Pós-doutoramentos / Missões científicas (em curso) Do eu privado ao eu público : a construção da imagem pessoal e a sua mediatização, de Ana Isabel Santiago (doutoramento em Ciências da Comunicação da UM). Da Portugalidade à Lusofonia, de Vítor de Sousa (doutoramento em Ciências da Comunicação da UM).
O Papel Social das Ações Educativas em Arte Contemporânea: um estudo de caso nos Museus de Serralves (MACS), Portugal, e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), Brasil, de Ana Cármen Palhares (doutoramento em Estudos Culturais da UM/UA). Cães, indignados e indignos: o pathos da indignação no discurso jornalístico, de Carlos Pinto (programa de pós-graduação em Comunicação Social da UFMG) Turismo e morte: representação, mediação e tecnologias da linguagem, de Belmira Coutinho (doutoramento em Estudos Culturais da UM/UA) Do discurso às narrativas: as metáforas fundadoras e as transformações do jornalismo de notícias no Brasil, de Phellipy Jácome (programa de pós-graduação em Comunicação Social da UFMG) O fantástico no jornalismo, de Nuno Ribeiro (programa de pós-graduação em Comunicação Social da UFMG) A construção do testemunho jornalístico, hoje, de Leandro Lage (programa de pós-graduação em Comunicação Social da UFMG) Lula e Obama: os príncipes do povo, de Michelle Tavares (programa de pós-graduação em Comunicação Social da UFMG) (concluídos) Corpo sofredor - Figuração e experiência no fotojornalismo, de Angie Gomes Biondi (2013) (programa de pós-graduação em Comunicação Social da UFMG) Acontecimento e imaginário social nas primeiras páginas de magazines informativos. O caso da revista brasileira Veja. Ano de 2009, de Paulo Bernardo Vaz (projeto de pós-doutoramento, com estadia na Universidade do Minho, de fevereiro a agosto de 2010) O olhar do morto: acontecimentos violentos e o sentido do trágico no noticiário jornalístico, de Elton Antunes (projeto de pós-doutoramento, com estadia na Universidade do Minho, de março de 2012 a março de 2013)
Moisés de Lemos Martins, Professor da Universidade do Minho. Foi professor visitante na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), de 20 a 25 de Novembro de 2011. Lecionou um curso intensivo de 20h à Pós-graduação, sobre o acontecimento mediático.