A transferência da sede do bispado de Conímbriga



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Transcrição:

MASARYKOVA UNIVERZITA V BRNĚ Filozofická fakulta Ústav románských jazyků a literatur Portugalský jazyk a literatura Pavlína Dvořáková A transferência da sede do bispado de Conímbriga Bakalářská diplomová práce Vedoucí práce: Mgr. et Mgr. Michaela Malaníková Brno 2011

Prohlašuji, že jsem bakalářskou diplomovou práci vypracovala samostatně s využitím uvedených pramenů a literatury..

Na tomto místě bych ráda poděkovala především vedoucí své bakalářské práce Mgr. et Mgr. Michaele Malaníkové za veškerý čas, úsilí a trpělivost, které mi věnovala, za užitečné rady a připomínky, kterými mi pomáhala při tvorbě mojí práce.

Índice INTRODUÇÃO... 3 1. A HISTÓRIA DO DOMÍNIO ROMANO NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS. 4 1.1 ÉPOCA PRÉ-ROMANA... 4 1.2 AS LUTAS ENTRE ROMANOS E CARTAGINESES E A CONQUISTA DA PENÍNSULA IBÉRICA... 5 1.3 A ORDENAÇÃO DO TERRITÓRIO DA PENÍNSULA IBÉRICA... 8 2. CONÍMBRIGA E AEMINIUM, DUAS CIDADES DA ÉPOCA ROMANA... 10 2.1 A CIDADE DE CONÍMBRIGA... 10 O FÓRUM DE AUGOSTO... 11 AS TERMAS DE AUGUSTO... 12 O AQUEDUTO... 12 O FÓRUM FLAVIANO... 13 AS TERMAS DE TRAJANO... 13 A MURALHA DA CIDADE... 14 2.2 A CIDADE DE AEMINIUM... 16 O CRIPTOPÓRTICO DE AEMINIUM E O FÓRUM DA CIDADE... 17 3. A TRANSFERÊNCIA DO BISPADO DE CONÍMBRIGA PARA AEMINIUM NO CONTEXTO HISTÓRICO... 19 3.1 ATAQUES PELAS TRIBOS GERMANAS... 19 3.2 A INFLUÊNCIA CRISTÃ EM CONÍMBRIGA... 22 3.3 A SEDE DO BISPADO EM CONÍMBRIGA E A SUA TRANSFERÊNCIA A AEMINIUM... 25 3.4 OS PROBLEMAS DE DATAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DO BISPADO E A UTILIZAÇÃO DE NOME CONÍMBRIGA... 26 4. OS MOTIVOS DO ABANDONO DE CONÍMBRIGA... 30 CONCLUSÃO... 32 ANEXOS... 34 IMAGENS... 34 ESCAVAÇÕES... 36 BIBLIOGRAFIA... 39 AS FONTES DA INTERNET... 42 2

Introdução Cada civilização desaparecida deixa-nos alguns vestígios da sua existência. É graças ao esforço de arqueólogos e historiadores, que nos ajudam a descobrir estes vestígios perdidos, que foi possível escrever este trabalho sobre duas antigas cidades. Trata-se de Conímbriga e Aeminium, as cidades que alcançaram o seu desenvolvimento máximo na época romana. Às vezes é difícil acreditar que nos edifícios em ruínas e agora descobertos graças ao trabalho empenhado dos arqueólogos, habitavam os nossos antepassados. Todavia este trabalho não tem como sua principal tarefa reconstruir pormenorizadamente os monumentos da época romana. Tenta sim, apresentar aqueles que eram essenciais para a vida dos habitantes do Império Romano ou importantes para a defesa da cidade. Não se trata da reconstituição vasta, mas da apresentação sumária que nos relata a beleza e a importância destas cidades. Mas não nos enganemos, nada persiste para sempre e apesar da sua glória, a cidade de Conímbriga foi abandonada e quase esquecida. O objectivo deste trabalho é tentar revelar os últimos momentos da existênica desta cidade poderosa e encontrar os motivos do seu desaparecimento. Pretendemos descobrir os motivos da transferências da sede do bispado de Conímbriga para Aeminium, descrever os acontecimentos antecedidos ao abandono da cidade. Vamos procurar alguma possível data do abandono e, se possível, determinar o exacto momento do abandono. Também mencionamos as razões porque foi escolhida Aeminium como o sítio para a sede do bispado. Conímbriga era uma cidade grandiosa, apesar disso não conseguiu sobreviver. Só o seu nome foi mantido até ao presente na forma modificada Coimbra. 3

1. A História do domínio Romano no território português 1.1 Época pré-romana Os primeiros habitantes no território português que conseguimos identificar foram os Iberos. Estes viviam provavelmente na parte mediterrânea já no neolítico e penetraram lentamente também nas áreas do oeste. 1 Os Iberos negociavam preponderantemente com metais como ouro, prata, estanho e cobre. E também por causa das jazidas abundantes de cobre, os Fenícios começam a chegar à Península Ibérica cerca do século XI a. C e estabeleceram aqui muitas feitorias comerciais. 2 E não só os Fenícios foram atraídos pelas jazidas de cobre e estanho, desde o século VII a. C., mas também os Gregos começaram a desembarcar na margem portuguesa. A sua influência é testemunhada pela letra usada no sudoeste de Portugal que era muito parecida à letra da Grécia Antiga. 3 Cerca do século VI a. C. chegaram da Europa central as tribos dos indoeuropeus Celtos. Dominavam prepoderantemente a parte ocidental e central da Península, porém, penetraram também na parte sudoeste, ocupada pelos Iberos, e mestiçaram-se com eles. A povoação assim criada chamou-se celtibérica. 4 Cerca do século IV, os Cartagineses começaram a influenciar a Península. 5 Estes conseguiram apoderar-se das feitorias fenícias e consolidar a sua posição económica. 6 1 KLÍMA, Jan. Dějiny Porgualska. Praha: Nakladatelství Lidové noviny, 2007. Doba bronzová a vliv středomořských civilizací (2000 př.n.l 200 př.n.l.), pág. 11 13. 2 HÁLA, Arnold. Úvod do dějin a kultury Portugalska. Praha: Státní pedagogické nakladatelství, 1987. Období pravěké a starověké, pág. 5 11. 3 KLÍMA, Jan. Dějiny Porgualska, pág. 11 13. 4 Ibidem, pág. 11 13. 5 Segundo: LÖWE, G., STOLL, H. ABC Antiky. trad. Dalibor Plichta. Praha: Ivo Železný, 1999. p. 177: Os Cartagineses provinham de Cartago, a cidade fundada pelos Fenícios no século IX a. C. na norte da África. 6 HÁLA, Arnold. Úvod do dějin a kultury Portugalska, pág. 5-11. 4

1.2 As Lutas entre Romanos e Cartagineses e a Conquista da Península Ibérica A conquista da Península Ibérica pelos Romanos está ligada às guerras púnicas, 7 decorridas no século III a. C. Trata-se das guerras pela hegemonia sobre todo o território do Mediterrâneo entre os Romanos e os Cartagineses. Após a primeira guerra púnica (264 241 a. C.) quando o Cartagineses derrotados perderam a Sardenha (238 a. C.), tentaram, pois, alargar o seu domínio na Península Ibérica, que era para eles a fonte dos recursos naturais. Começaram por conquistar a área de Sagunto a Olisipo e estenderamse até ao Tejo, e posteriormente até ao Douro. Em 226 a. C. foram acordados tratados que delimitavam a fronteira da influência entre Roma e Cartago. Mas, no ano de 218, o exército cartaginês atacou Sagunto e atravessou o rio Ebro, o que foi considerado pelos Romanos como desrespeito aos tratados e declararam, portanto, a segunda guerra púnica contra Cartago. E com esta guerra começou também a conquista da Península Ibérica pelos Romanos. 8 No início o exército romano não conseguiu encarar as habilidades militares do exército cartaginês mas, no ano 202 a. C., foi travada a batalha de Zama, uma área na norte da Árica em direção a sudoeste de Cartago, 9 e os Romanos conseguiram derrotar os Cartagineses. Cartago teve que assinar um tratado de paz e assim terminou a segunda guerra púnica, após quase 20 anos de duração. Sobre o avanço romano no território português não temos dados literários nem arqueológicos, não sendo possível dizer por onde os Romanos entraram no Sul de Portugal. A ocupação do Algarve e do Alentejo deve ter acontecido na primeira metade do século II a. C. 10 Por conseguinte, o território da Península Ibérica já estava sob a influência dos romanos e começou a colonização activa pela povoação romana. 11 7 Segundo: LÖWE, G., STOLL, H. ABC Antiky, pág. 308: Trata-se de três guerras entre Roma e Cartago. Depois da última, terceira guerra, Cartago foi derrotado, saqueado e os habitantes foram matados ou vendido como escravos. 8 JORGE, Vítor Oliveira, et al. Nova História de Portugal, vol. I: Portugal: das origens à romanização. Lisboa: Presença, 1990. pág. 346. 9 LÖWE, G., STOLL, H. ABC Antiky, pág. 410. 10 JORGE, Vítor Oliveira, et al. Nova História de Portugal, vol. I: Portugal: das origens à romanização, pág. 346. 11 Ibidem, pág. 308. 5

As intervenções romanas no território português não foram todavia apenas contra os Cartagineses, pois a segunda guerra púnica já tinha acabado em 201 a. C., mas contra a população indígena. 12 O território português era habitado, na época da colonização romana, pelas tribos dos Galaicos (ou Calaicos) que residiam no Norte, no baixo Douro. Entre o Douro e o Tejo estendia-se a área dos Lusitanos e ao Sul, no baixo Tejo viviam as tribos dos Cónios. Depois da segunda guerra púnica, os Romanos começaram a ter a pretensão sobre a área da Península e, em 197 a. C., dividiram o território em novas províncias Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior 13 mas os Celtibéricos, particularmente os Lusitanos na Hispânia Ulterior, revoltaram-se contra esta ocupação. Em 194 e 193 a. C., os Romanos defrontaram-se com as tribos indígenas e conseguiram acalmar a rebelião. Depois de 189 a. C., foi proclamada paz mas, nos anos 155 150 a. C. decorreram outras lutas com os Lusitanos. 14 Em 150 a. C., os Romanos invadiram a terra dos Lusitanos e saquearam-na. 15 Durante a conquista do território 9000 Lusitanos foram mortos e 20 000 aprisionados ou vendidos como escravos. 16 Em 147 a. C., os Lusitanos comandados por Viriato 17 iniciaram novamente as lutas contra a ocupação. Preferiam o estilo de guerrilha porque só assim tinham possibilidade de atacar o adversário mais efectivamente. As equipas romanas foram assaltadas inesperadamente. Viriato não só desempenhava o papel do comandante de todo o exército lusitano mas também de representante supremo político dos mesmos, por conseguinte, somente ele podia negociar com os Romanos o tratado de paz (140 a. C.). O senado romano admitiu a autonomia da Lusitânia e denominou Viriato como amicus populi romani. Mas a aliança durou pouco tempo. Em 139 a. C., três homens da confiança de Viriato assassinaram o líder perto de Viseu. 18 12 JORGE, Vítor Oliveira, et al. Nova História de Portugal, vol. I: Portugal: das origens à romanização, pág. 346. 13 KLÍMA, Jan. Dějiny Porgualska, pág. 14. 14 Ibidem, pág. 14 15. 15 Ibidem, pág. 14 15. 16 JORGE, Vítor Oliveira, et al. Nova História de Portugal, vol. I: Portugal: das origens à romanização, pág. 347, também em: KLÍMA, Jan. Dějiny Porgualska, pág. 14. 17 Viriato: (? 139 a.c.) segundo a lenda era o pastor, que se tornou o líder de rebelião celtibérica e começou a ser considerado como o héroi nacional o símbolo da luta pela liberdade. 18 JORGE, Vítor Oliveira, et al. Nova História de Portugal, vol. I: Portugal: das origens à romanização, pág. 347 348. 6

Apesar da morte de Viriato a resistência dos Lusitanos continuava também depois da morte dele. Os Romanos não conseguiram pacificar a rebelião das tribos por muito tempo. Em 80 72 a. C. ocorreram as lutas contra a hegemonia romana. Mas por fim, o exército lusitano, desta vez comandado pelo lugar-tenente de Sertório, 19 foi derrotado pelos Romanos. 20 Embora também no futuro tenham ocorrido lutas 21 de maior ou menor importância, os Romanos conseguiram estender progressivamente a sua influência na Península Ibérica. Esta expansão paulatina da influência romana no território e nas colónias ocupadas pelos Romanos chamamos o processo da romanização. Este processo podemos ver em vários sectores. Por exemplo, no sector militar onde se processava o encaixamento da povoação indígena no exército romano e a construção dos campos militares. No que diz respeito à administração foram criadas as unidades típicas para o Império Romano. Os Romanos também desenvolveram as relações comerciais entre a Península e o Mediterranêo, relações que já decorriam anteriomente. Iniciaram o desenvolvimento da agricultura, instalaram os novos processos agrários, intensificaram a produção de trigo, vinho e azeite com a finalidade da exportação. Em relação ao dever de pagar as taxas, estendia-se por toda Península a utilização do dinheiro. A possibilidade de cunhar moedas era o símbolo da importância económica. No sul de país cunhavam-se moedas, por exemplo, em Évora, Beja, Alcácer do Sal, Faro. 22 A maioria das moedas era cunhada em Roma e chegavam à Península graças ao comércio de troca. Mais tarde foi construída a rede viária que conjugava a parte Sul com a do Norte, a zona litoral com o interior e a costa atlântica com a mediterrânea. As estradas tinham importância não só estratégica e económica mas também cultural. Possibilitavam o contacto mais fácil entre várias regiões e facilitavam a expansão da cultura romana. Para além das estradas, construiram-se também pontes, aquedutos, termas e outros edifícios. 23 19 JORGE, Vítor Oliveira, et al. Nova História de Portugal, vol. I: Portugal: das origens à romanização, pág. 349. 20 HÁLA, Arnold. Úvod do dějin a kultury Portugalska, pág. 8. 21 Segundo JORGE, Vítor Oliveira, et al. Nova História de Portugal, vol. I: Portugal: das origens à romanização, pág. 351: As lutas demoram até 25 a. C. pois a conquista do território demorou cerca de 175 anos. 22 HÁLA, Arnold. Úvod do dějin a kultury Portugalska, pág. 9 10. 23 Ibidem, pág. 9 10. 7

No sector cultural podemos inserir também a expansão do cristianismo. Porém, a principal contribuição observou-se na expansão da língua latina. O latim vulgar sermo vulgaris tem sido o fundamento da criação da língua portuguesa. 24 1.3 A ordenação do território da Península Ibérica Não temos dados literários nem arqueológicos, por isso, não podemos dizer com certeza como parecia o ordenamento territorial préromano. «A diversidade dos níveis de integração político-administrativa que se verificava em Portugal nos fins do século I a. C., não foi ignorada por Augusto quando definiu o seu programa de reordenamento territorial». 25 Carta das divisões administrativas romanas da Hispânia (J. Alarcão, Roman Portugal, 1988) A Península Ibérica foi dividida em três províncias: a Bética, a Tarraconense e a Lusitânia, a data é incerta mas a divisão ocorreu provavelmente entre 16 e 13 a. C. 26 «O território actual português ficou repartido por duas províncias: a região a norte do Douro foi integrada na Citerior, cuja capital era Tarraco (Tarragona); a área entre o Douro e o Guadiana foi incluída na Lusitânia, com Emerita Augusta (Mérida) por capital.» 27 (na imagem) As províncias eram repartidas em conventus. 28 24 Segundo: HÁLA, Arnold. Úvod do dějin a kultury Portugalska, pág. 9 11. 25 Citação segundo: JORGE, Vítor Oliveira, et al. Nova História de Portugal, vol. I: Portugal: das origens à romanização, pág. 360. 26 Ibidem, pág. 383. 27 Ibidem, pág. 383. 28 KLÍMA, Jan. Dějiny Porgualska, pág. 15. 8

Uma unidade político-administrativa típica para o Império Romano era a civitas. Cada civitas tinha uma cidade capital e outros aglomerados urbanos secundários que eram sujeitos à cidade, para além da população rural dispersa. 29 No que diz respeito às unidades indígenas pré-romanas, os romanos atenderam à distribuição étnico-cultural original. Muitas vezes as fronteiras de uma unidade étnica ou política original coincidiam com as fronteiras de uma civitas. 30 «No sul e na faixa litoral entre o Tejo e o Douro, isto é, na área que designámos por céltico-túrdula, o estádio da evolução político-social permitia, sem grandes dificuldades, a instalação de civitates». 31 Algumas das unidades anteriores, prepoderantamente os oppida, podiam ser eleitas como capitais ou centros da região. 32 «A selecção poderá ter sido condicionada pela situação geográfica, pela implantação topográfica (mais ou menos prestável para um reordenamento urbano segundo os padrões mediterrâneos), pelo nível de vida material e cultural, pela composição social dos oppida e pela sua eventual atitude filo-romana durante as guerras civis». 33 Na época inicial da romanização nem todos os habitantes das colónias romanas possuiam a cidadania romana. Nas civitates com o direito latino só os funcionários tinham a cidadania romana. O municipium autónomo com um senado próprio era Olisipo. Todas as outras cidades maiores tinham o estatuto das cidades estipendiárias. Os habitantes destas cidades eram obrigados a pagar impostos sobre a utilização do solo. A cidadania romana era atribuída primeiro aos cidadãos selectos. Depois da implantação de ius Latii, 34 imposto durante o reinado de Vespasiano, 35 os direitos romanos estenderam-se à maioria dos habitantes do Império, porém, todos os habitantes do Império Romano receberam a cidadania em 212 d. C. 36 29 JORGE, Vítor Oliveira, et al. Nova História de Portugal, vol. I: Portugal: das origens à romanização, pág. 360. 30 Citação segundo: Ibidem, pág. 360. 31 Citação segundo: Ibidem, pág. 360. 32 Ibidem, pág. 360. 33 Citação segundo: Ibidem, pág. 360. 34 Segundo: LÖWE, G., STOLL, H. ABC Antiky, pág. 297 298: O direito latino dado pelos Romanos, o nível intermédio entre a cidadão de pleno direito e a cidadão sem direitos. 35 Tito Flávio Sabino Vespasiano: (69 d. C. 79 d. C.) 36 KLÍMA, Jan. Dějiny Porgualska, pág. 16 17. 9

2. Conímbriga e Aeminium, duas cidades da época romana Cada época e cada civilização trazem consigo não só mudanças políticas e administrativas mas, também, faz com que os monumentos culturais passem por algum progresso. Começam a transformar-se os edifícios de acordo com estilos daquela época, erguem-se construções necessárias à vida urbana. O mesmo acontece com a conquista da Península Ibérica pelos Romanos. À medida que o tempo passava a sua influência expandia-se em muitas partes da Península. As suas actividades são perceptíveis em todos os cantos da Península. Nós vamo-nos focar só nas duas cidades Conímbriga e Aeminium. O povoamento pré-romano nos lugares das cidades futuras é muito provável mas, a grande prosperidade pode ser observada só na época romana. A disposição das cidades que descrevemos nos subcapítulos seguintes, ajudam-nos a imaginar a grande beleza e a monumentalidade destas cidades. Trata-se principalmente dos edifícios públicos que os Romanos consideravam importantes à vida urbana ou as construções essencias à defesa. 2.1 A cidade de Conímbriga As Ruínas de Conímbriga (classificada como Monumento Nacional) ficam perto de Condeixa a Velha, no concelho de Condeixa a Nova, distrito de Coimbra e província da Beira Litoral, a cerca de 17 quilómetros a Sul da cidade de Coimbra. Implantada num pequeno promontório que é constituído por tugo calcário e encaixado entre dois vales, onde a sul corre o Rio dos Mouros. 37 Na época romana, Conímbriga era situada na parte mais ocidental do Império Romano, na província da Lusitânia, exactamente, em Conventus Scallabitanus. Localizava-se junto às importantes vias de comunicação como era a estrada romana que ligava Olisipo a Bracara e o rio Modego. 38 «A passagem por Conímbriga de uma das estradas mais importantes da faixa ocidental da Península, e que na época romana teria 37 BURACA, Ida Isabel. Civitas Conimbriga : ânforas romanas. Coimbra, 2005. Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentada à Fac. de Letras da Universidade de Coimbra, pág. 12. 38 Ibidem, pág. 12. 10

um papel equivalente ao que hoje tem a estrada Lisboa-Porto, deve ter sido um dos mais decisivos factores para a sua valorização.» 39 É possível que esta área já tivesse sido ocupada antes da chegada dos Romanos, mas não temos nenhumas provas para esta hipótese porque os vestígios de eventuais casas da Idade de Ferro não são possíveis de reconhecer, sobretudo, numa zona tão densamente povoada como era Conímbriga. 40 Mas a existência de algum povoamento pré-romano é atestada pelo próprio nome. «Briga é um sufixo céltico e o radical relaciona-se com a tribo dos Conii.» 41 Também os vestígios encontrados não sao suficientes para designarmos exactamente a povoação indígena. Os Romanos talvez tivessem o primeiro contacto com esta povoação. Tratava-se mais do contacto hostil do que amigável, mas é certo que Conímbriga tinha sido integrada no Império Romano. Em Conímbriga podemos encontrar muitos monumentos romanos que foram descobertos por arqueólogos no século XX. O fórum de Augosto É o único fórum inteiramente escavado no território português. O fórum da cidade de Conímbriga desempenhava três funções: era um centro religioso, administrativo e comercial. A praça pública era lajeada e num dos lados menores estava ocupada por nove tabernae. 42 «À frente delas corria um pórtico, que igualmente acompanhava, pelo interior, a fachada sul do monumento. Nesta se abria a entrada principal e única directa do fórum, sensivelmente alinhada pelo eixo do templo. No lado nascente do fórum instalaram-se a basílica e a cúria.» 43 No lado setentrional do fórum encontrava-se o templo, esse era erguido sobre um criptopórtico, cuja altura se estima pelos 4,5 metros. Assim o templo erguia-se acima do plano da praça pública. 44 39 Citação segundo: Conimbriga roteiro do museu e das ruínas. Conímbriga: Museu Monográfico de Conímbriga, 1979, pág. 6. 40 ALARCÃO, Jorge de. Trabalhos de Arqueologia, 38: In territorio Colimbrie: lugares velhos (e alguns deles, deslembrados) do Mondego. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia, 2004. pág. 13. 41 Citação segundo: Conimbriga roteiro do museu e das ruínas, pág. 4. 42 ALARCÃO, Jorge de. O Domínio romano em Portugal: Cidades, Vici e Castella, pág. 67; Taberna (plural tabernae) era uma sala de abóbada que servia muitas vezes da locação de uma loja ou de outros objectivos comerciantes. 43 Citação segundo: Ibidem, pág. 67. 44 Ibidem, pág. 68. 11

As termas de Augusto A grande renovação pública, na época augustana (27 a. C. 14 d. C), 45 incluia não só a criação do fórum, mas também a construção das termas. É difícil reconstruir a sua parte setentrional por causa da profunda destruição que ocorreu no século I d. C. para se instalarem novos banhos. 46 Parece que as novas termas foram enriquecidas de uma grande palaestra, 47 sem pórtico interno, fora do canto sudoeste, por onde se entrava no frigidarium 48 ou no pediluvium. 49 Junto à entrada encontravam-se três salas com a função de alojamento do porteiro ou com a função do apodyterium. 50 «O frigidarium era um recinto porticado em três lados. Ao que chamamos de pediluvium, é uma pequena sala coberta com um tanque quadrado pouco fundo.» 51 Este tanque era lajeado de tesselas brancas, ornamentado com pequenos esquadros de tesselas azuis. O tanque provavelmente servia para a lavagem dos pés dos frequentadores quando passavam da palaestra ao banho quente. 52 É interessante que não se encontre nenhum pararelo na arquitectura termal romana dos inícios do Império. 53 Do pediluvium ou do frigidarium podia entrar-se numa sala lajeada com um nicho semicircular que possivelmente servia de lavatório. Nas termas também podiamos encontrar o caldarium, cómodo, onde estava muito quente e cheio de vapor. 54 O aqueduto As termas com dimensão tão vasta não podiam funcionar sem um aqueduto. O aqueduto em Conímbriga tinha a extensão de 3550 metros e trazia água de Alcabideque. Deste modo, os construtores conseguiram abastecer todas as casas e as termas em Conímbriga. 55 45 LÖWE, G., STOLL, H. ABC Antiky, pág. 419. 46 ALARCÃO, Jorge de. O Domínio romano em Portugal: Cidades, Vici e Castella, pág. 68. 47 A palaestra era uma liça que servia preponderandemente para combates. 48 O frigidarium era o espaço das termas com água fria. 49 O pediluvium, o espaço que era utilizado para o banho de pés. 50 O apodyterium era uma sala com a entrada privada onde os visitantes das termas podiam deixar a sua roupa; ALARCÃO, Jorge de. O Domínio romano em Portugal: Cidades, Vici e Castella, pág. 68. 51 Ibidem, pág. 68. 52 Ibidem, pág. 68. 53 Ibidem, pág. 68. 54 Ibidem, pág. 68 69. 55 Ibidem, pág. 69. 12

O fórum flaviano Na época dos Flávios, a dinastia imperante do ano 69 até o ano 96 no Império Romano, 56 ocorreram outras renovações urbanas. O fórum da época de Augusto foi completamente reconstruído e também as termas 57 foram demolidas para assentarem aqui as novas com uma extensão ainda mais vasta. «O fórum flaviano de Conímbriga foi construído em dois planos. No mais baixo instalou-se a praça, lajeada». 58 Toda a praça foi portificada pelos pórticos de ordem coríntia que contornavam os lados nascente, meridional e poente. Em frente dos pórticos havia um passeio descoberto, este tinha a largura igual à do pórtico e em frente deles corria um passeio descoberto, de largura igual à do pórtico também. «O templo erguia-se no plano mais elevado, no centro de uma esplanada fechada por outro pórtico.» 59 O templo foi instalado sobre um criptopórtico. Dificilmente reconstruiríamos a parte sul do fórum que foi bastante arruinada. Sem dúvida tinha uma entrada monumental ao centro, a única do recinto e no exacto eixo do templo. 60 O fórum de Conímbriga era um espaço sagrado. Tratava-se do sítio consagrado ao culto imperial, um recinto meramente religioso. Desta maneira, era impossível que funcionasse aqui alguma vida administrativa ou actividade comercial. 61 As termas de Trajano A segunda remodelação das termas decorreu na época de Trajano (98 117). Foram construídas novas termas que substituíram as da época de Augusto. «A entrada das termas dá imediato acesso a um espaço vasto e aberto, em cujo centro se instalou uma natatio. 62 A sul, na fachada do frigidarium, erguia-se uma colunata.» 63 O frigidarium era pavimentado de placas de calcário. Sob estas placas encontrava-se a rede de 56 LÖWE, G., STOLL, H. ABC Antiky, pág. 419. 57 Segundo: ALARCÃO, Jorge de. O Domínio romano em Portugal, pág. 72: a construção das termas novas são atribuídas a Trajano, talvez o projecto se possa considerar dos Flávios. 58 Citação segundo: Ibidem, pág. 72. 59 Citação segundo: Ibidem, pág. 72. 60 Ibidem, pág 72. 61 Ibidem, pág 73. 62 Uma piscina designada à natação. 63 Citação segundo: ALARCÃO, Jorge de. O Domínio romano em Portugal, pág. 73. 13

canalizações de chumbo. 64 «Tinham um átrio central, definido de um lado e do outro por duas colunas ou pilares, e dois espaços, nos topos, reservados às banheiras de água fria, rigorosamente iguais e simétricas.» 65 Do frigidarium podia-se entrar pelas duas portas no tepidarium. 66 O arquitecto colocou as de forma a evitar as correntes de ar. No lado nascente do tepidarium havia um laconicum. 67 No centro da sala podiamos encontrar uma bacia com degraus. Era um pequeno anfiteatro especial onde os frequentadores das termas se sentavam para os banhos de vapor. A bacia com água no fundo não era suficiente para banhos, mas para pôr a atmosféra mais húmida. 68 A palaestra tinha uma dimensão muito vasta. Do lado poente do edifício podiamos encontrar o acesso portificado. Desta forma, o pórtico ligava a palaestra com o terreiro da natatio. Do lado norte havia uma colunata que dominava toda a palaestra, à qual se chegava por uma escadaria monumental. 69 A muralha da cidade Depois das grandes renovações urbanas ocorridas em Conímbriga, durante a época de Augosto, dos Flávios e de Trajano, o número de construções diminuiu. Até ao fim do século III e o início do IV d. C. não existem muitos dados sobre Conímbriga. Esta época é significativa para a criação das muralhas em todas as cidades romanas do Ocidente. Enquanto, por exemplo, nas províncias da Bretanha ou da Germânia eram construídas as muralhas preponderantemente de carácter defensivo, 70 nas províncias do Ocidente a construção das muralhas não era tanto a questão da defesa, era mais a questão de honras da própria cidade. Nos anos 60 do século III, as tribos dos Francos e dos Alamanos saquearam a Gália e grande parte da Hispânia. 71 Apesar de as tribos não terem assolado o território português, a crise económica e a agitaçaão social foram as consequências 64 ALARCÃO, Jorge de. O Domínio romano em Portugal, pág. 73. 65 Citação segundo: Ibidem, pág. 73. 66 O tepidarium era um espaço aquecido por um sistema do aquecimento central. 67 ALARCÃO, Jorge de. O Domínio romano em Portugal, pág. 73 74; Tipo de uma sauna. Uma sala destinada a sudação. 68 Ibidem, pág. 74. 69 Ibidem, pág. 74. 70 Ibidem, pág 74: No século IV, cada vez mais, cresce a agressão das tribos bárbaras. Por causa disso contstruíram-se as muralhas defensivas que deviam protegir a cidades contra esta agressão. Noutro caso a cidade fortificada era a marca da certa autonomia. 71 Ibidem, pág. 75 76. 14

desta invasão em toda parte do Império. A pacificação conseguiu-se no fim do século III., que trouxe consigo também a grande reconstrução das muralhas, à qual a Lusitânia não ficou indiferente. 72 Mas a própria datação da muralha em Conímbriga leva algumas dúvidas. Já na época augustana temos dados sobre uma muralha que identificava a porta principal e que abria a sudoeste em direção a Sellium (hoje Tomar). 73 É necessário descrever a evolução da muralha para definirmos melhor a data da sua criação. Numa primeira fase a muralha tinha uma porta ladeada por duas torres de planta quadrangular. No interior da porta havia dois espaços rectangulares que funcionavam como casa de guarda. Posteriormente, foram adossados dois maciços de construção distinta. 74 «(Estes) devem ter sido originalmente escadas de acesso às torres, à própria muralha tendo provavelmente desempenhado também a função de contrafortes estabilizadores das torres.» 75 A fase posterior destas mudanças é comprovada graças a um dupôndio de Antónia encontrado aqui. 76 A última evolução da muralha, em que as torres foram demolidas e substituídas por uma fachada monumental com vão triplo e em que foi também tranformado o espaço interno num cavaedium 77 com abside, podemos colocar na época trajânica por causa de algumas semelhanças com a arquitectura da palaestra desta época. 78 O problema do financiamento desta obra está relacionado também com a datação, porque antes da época dos Flávios não seria possível datar uma obra de tão grande dimensão. A Conímbriga era um oppidum stipendiarium e a dotação e edificação da muralha significaria uma certa autonomia. 79 Apesar da possibilidade da existência duma muralha anterior, o século III ou IV para a criação da muralha defensiva parece como ser data mais provável. 72 ALARCÃO, Jorge de. O Domínio romano em Portugal, pág. 75 76. 73 CORREIA, Virgílio Hipólito. Os Problemas a Resolver: A Muralha da Cidade. In Perspectivas sobre Conimbriga. Coimbra: Âncora Editora, 2004. pág. 51. 74 Ibidem, pág. 51. 75 Ibidem, pág. 51. 76 Ibidem, pág. 51. 77 Era um tipo de pátio romano. 78 CORREIA, Virgílio Hipólito. Os Problemas a Resolver: A Muralha da Cidade. In Perspectivas sobre Conimbriga, pág. 51. 79 Ibidem, pág. 51. 15

2.2 A cidade de Aeminium Aeminium encontrava-se segundo o Itinerário de Antonino, 80 a dez léguas de Conímbriga, na estrada de Olisipo a Bracara Augusta. 81 A menção mais antiga da cidade está na História Natural de Plínio 82 que descreve a cidade como o oppidum principal dos Aeminienses incluído na lista dos estipendários da Lusitânia. 83 Mas noutros documentos aparece, também, o termo civitas. Segundo Mantas: «esse termo designa, numa fase anterior à municipalização do território, a cidade capital regional, dotada de um estatuto intermédio entre o simples oppidum e o municipium». 84 Durante o governo de Augusto, a cidade foi escolhida como a capital da região, graças à sua posição vantajosa. Podia corrigir a passagem do rio e ficava entre a costa e o interior montanhoso. A proximidade da via romana Olisipo-Bracara contribuiu para o desenvolvimento de Aeminium na época romana. 85 «A via Olisipo-Bracara ligava o grande porto da foz do Tejo à capital de um dos conventos jurídicos da tarraconense, representando, sem dúvida, um dos mais importantes itinerários da rede viária peninsular.» 86 Este sítio, onde se ergue agora a cidade de Coimbra, foi colonizado, provavelmente, já na época pré romana, mas para essa hipótese faltam provas. 87 A respeito dos monumentos que sobreviveram da época romana podemos mencionar o aqueduto reconstruído por D. Sebastião em 1570, um arco triunfal cujas últimas ruínas foram demolidas em 1778 e o fórum da cidade com o criptopórtico onde está agora instalado o Museu Machado de Castro. 88 O fórum com o criptopórtico é uma das construções mais importantes, conservadas até ao presente. 80 Segundo: Vias romanas [online]. Maio 2011 [cit. 2011-08-05]. O Itinerário de Antonino. Disponível em WWW: <http://viasromanas.planetaclix.pt/vrinfo.html#antonino>: Trata-se de um roteiro das estradas romanas no Império. O Itinerário é do autor desconhecido e a data da criação é também incerta. A obra foi criada provavelmente no século III e contém as distâncias em milhas entre as sucessivas estações das principais estradas. 81 ALARCÃO, Jorge de. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra: GAAC, 1979. pág. 25. 82 Ibidem, pág. 23. 83 MANTAS, Gil Vantas. Notas sobre a estrutura urbana de Aeminium. Biblos. Revista da Faculdade de Letras, 1952, vol. LXVIII, pág. 488. 84 Ibidem, pág 492. 85 Ibidem, pág. 493. 86Citação segundo: Ibidem, pág. 494. 87 ALARCÃO, Jorge de. Roman Portugal, II: Gazetteer, fasc. 2 Coimbra e Lisboa, pág. 95. 88 Ibidem, pág. 95. 16

Trata-se de um edifício único que merece ser analisado mais profundamente. Ajuda-nos a imaginar, pelo menos parcialmente, como a cidade de Aeminium parecia na época romana. O criptopórtico de Aeminium e o fórum da cidade É o exemplo mais monumental deste tipo dos edifícios em Portugal. Acima do criptopórtico da antiga Aeminium erguia-se o fórum da cidade. A sua planta é desconhecida, mas certamente ultrapassava a superfície do criptopórtico. Infelizmente, faltam os vestígios que têm desaparecido nas reconstruções em curso desde a Idade Média até o século XVII. 89 «O cripotopórtico de Aeminium foi construído em dois andares. No piso superior, uma galeria em forma de envolve outra do mesmo traçado. Em cada braço, três passagens dão acesso de uma a outra galeria; nos topos, as galerias são também comunicantes. De través, entre os braços do, sete pequenas sala comunicam entre si por passagens abobadadas dispostas no mesmo enfiamento.» No andar inferior podemos encontrar outras sete salas mais altas e vastas. Estas salas são dispostas ao longo de uma galeria e comunicam entre si por corredores estreitos. Por causa da construção das casas na época medieval ou moderna este andar foi parcialmente destruído. 90 Construções das casas dificultavam a reconstrução da fachada poente do criptopórtcico. Esta fachada era provavelmente uma das mais altas ou talvez a mais alta fachada romana em Portugal. 91 Aeminium não pertencia às cidades romanas mais importantes de Portugal, mas o criptopórtico de Aeminium parece ter posto um dos maiores problemas técnicos e estéticos em toda a história da arquitectura romana de Portugal. Não temos nenhum dado arqueológico ou epigráfico, mas há hipótese que o arquitecto dessa construção tenha sido Caio Sévio Lupo, o mesmo architectus aeminiensis que construiu o farol romano da Corunha em Espanha. 92 No que diz respeito à datação do edifício temos de considerar que além do fórum, também foi encontrada aqui uma estrutura habitacional. 93 Essa era, provavelmente, 89 ALARCÃO, Jorge de. O Domínio romano em Portugal: A Arte, pág. 184. 90 Ibidem, pág. 184. 91 Ibidem, pág. 184. 92 Ibidem, pág. 184. 93 CARVALHO, Pedro. O Forum de Aeminium. Lisboa: Instituto Português de Museus, 1998. pág. 179. 17

algum tipo de casas que foram ocupadas durante os primeiros decénios do século I da nossa era, mas para especificarmos a cronologia, precisaríamos de ter mais dados. Essa estrutura habitacional poderá ter sido construída nos finais do século I a. C., durante o governo de Augusto, numa época em que a maioria dos oppida a norte do Tejo passou pelo desenvolvimento urbanístico. 94 «De facto, o reordenamento político-administrativo iniciado no tempo de Augusto terá desencadeado profundas alterações urbanísticas nos oppida, que, como Aeminium, terão sido promovido à condição de capitais regionais dos teritoria das civitates recémcriadas.» 95 Assim nas cidades do Império começou a construção dos edifícios públicos que os Romanos consideravam cruciais para vida urbana. Uma das construções deste tipo era naturalmente o fórum. Era, por conseguinte, muito provável que o primeiro fórum em Aeminium tivesse sido erguido já na época de Augusto. 96 Também é possível que a construção do edifício remonte à primeira metade do século I 97 ou à época Júlio- Claudiana. 98 Porém para confirmar estas hipoteses faltam-nos dados epigráficos ou arqueológicos. 94 CARVALHO, Pedro. O Forum de Aeminium, pág. 179. 95 Citação segundo: Ibidem, pág. 180. 96 ALARCÃO, Jorge de, et. al. O Forum de Aeminium: A busca do desenho orginal. Coimbra: Instituto dos Museus e da Conservação: Museu Nacional de Machado de Castro, 2009., pág 37. 97 Segundo: MANTAS, Gil Vantas. Notas sobre a estrutura urbana de Aeminium, pág. 506: «Nos entulhos foram encontrados os retratos de Lívia e de Agripina e também o fórum é semelhante com o fórum de Bilbilis. «No caso de Aeminium, a esplanada e os edifícios profanos terraço artificial obtido através da construção do criptopórtico enquanto o templo ocuparia uma posição mais elevada sobre um terraço natural, situado a este. Teríamos, assim, um fórum com uma implantação e com uma estrutura semelhante à forum de Bilbilis (Cerro de la Bambola, Calatayd), construído no principado de Tibério.» 98 Segundo: CARVALHO, Pedro. O Forum de Aeminium, pág. 180: A época em que se passou balizagem da via Olisipo-Bracara no território eminiense, efectuada por Calígula. «De facto, os miliários de Calígula encontrados no território eminiense parecem sugerir uma datação Júlio- Cláudia para o ordenamento teritoria da civitas de Aeminium.» 18