A CIDADELA DE CASCAIS: O MONUMENTO, A ENVOLVENTE URBANA E O VALOR SOCIAL
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- Pedro Lucas Bayer Neto
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1 349 A CIDADELA DE CASCAIS: O MONUMENTO, A ENVOLVENTE URBANA E O VALOR SOCIAL Jacinta Bugalhão O conjunto monumental militar designado globalmente como Cidadela de Cascais (e que engloba, nesta acepção, a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz e todos os espaços construídos na sua envolvente) é uma materialidade extraordinariamente marcante no espaço urbano de Cascais, desde um momento muito precoce da sua história. De facto, pode considerar se que as raízes do núcleo urbano de Cascais remontam aos períodos antigo e medieval. No entanto, é essencialmente a partir do século XIV que adquire inequívoco estatuto urbano, enquadrado pelo seu castelo. A partir de quinhentos, já em presença da Torre de Santo António e, posteriormente com a construção da Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, sucedem se os projectos de ampliação da fortificação marítima de Cascais, processo que coexiste com a perda de expressão, material, funcional e simbólica, das velhas muralhas medievais. Na entrada do século XVII, a construção da Cidadela determina de forma indelével a imagem da vila de Cascais. Torna se o edifício mais presente e evidente do espaço urbano, independentemente da perspectiva de aproximação ou do ponto no qual a vista é tomada. A Cidadela torna se a marca de Cascais, perceptível para os cascalenses, como o seu castelo. Impõe se como estrutura definidora e identificadora da paisagem, elemento simbólico do território urbano, natural e humano.
2 350 Cascais, gravura de Braunio, 1572 Planta da vila de Cascais de Vicenzo Casale, 1589 Cidadella de Cascais, 2.ª metade do século XVIII Planta da Praça de Cascais, finais do século XVIII
3 351 Para os seus habitantes e também para forasteiros e viajantes, a Cidadela identifica Cascais. Por outro lado, o conjunto monumental define e enforma Cascais, cuja estrutura urbana e viária e edificada, é profundamente influenciada pela sua existência, implantação, localização dimensão, características, função, bem como pelos usos que foi desempenhando ao longo dos séculos, até à actualidade. Embora os aspectos mencionados permaneçam no essencial efectivos, também é certo que progressivamente e, principalmente, durante todo o século XX, o conjunto monumental foi reforçando o seu carácter opaco e fechado, elemento característico da sua natureza militar defensiva, mas cada vez mais desnecessário e contra natura num aglomerado urbano crescentemente moderno, cosmopolita e verdadeiramente aberto ao mundo. Esta divergência de vocações entre Cascais e a Cidadela provocou, durante muitas décadas, uma ausência de diálogo e mesmo um interdesconhecimento, que terão motivado a perda de expressão, conceptual e mesmo física, do monumento no discurso urbano contemporâneo.
4 352 Cidadela de Cascais, fotografia aérea, anos 30 do século XX As intervenções urbanísticas no espaço público envolvente e, de forma mais evidente, os projectos recentemente desenvolvidos (e em parte concretizados) de refuncionalização do conjunto monumental Fortaleza Cidadela, pretendem devolver lhe sustentabilidade, permeabilidade e entrosamento urbano, Cidadela de Cascais, ortofotomapa, 2011 (durante as obras de adaptação a Pousada. garantir a sua conservação, assegurar a sua fruição pública e, no limite, acautelar a sua (pers)existência. Trata se portanto de um processo essencialmente social, económico, cultural e até político, no qual, as premissas
5 353 fundamentais e actuais da intervenção patrimonial nomeadamente, a salvaguarda, a conservação, a investigação, a extensão e limites da fruição pública, a musealização e difusão de informação histórica in loco, os usos e o ordenamento urbano envolvente lutam para encontrar o seu espaço. Trata se, enfim, de restituir à Cidadela o protagonismo no núcleo urbano de Cascais que originalmente lhe coube, com todas as semelhanças e diferenças que determinar o maravilhoso mundo novo que todos os dias se constrói. COSTA, António José Pereira da, 2003 Cidadela de Cascais (pedras, homens e armas). Lisboa: Estado Maior do Exército Direcção de documentação e História Militar. Monumentos, , Lisboa: IHRU. Palácio da Cidadela de Cascais, 2011 Cascais: Museu da Presidência da República/Câmara Municipal de Cascais. RAMALHO, Margarida de Magalhães, 2010 Fortificações Marítimas. Cascais: Câmara Municipal, D.L. Bibliografia de referência Arquivo de Cascais: boletim cultural do município. Cascais: Câmara Municipal, BOIÇA, Joaquim Manuel Ferreira; BARROS, Maria de Fátima Rombouts de; RAMALHO, Margarida Magalhães, 2001 As fortificações marítimas da costa de Cascais. Lisboa: Quetzal. Cidadela de Cascais, génese e transformação, 2009 [Cascais Arquitectura, 4]. Cascais: Câmara Municipal.
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