EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE UBERABA, MINAS GERAIS JOSANA MARTINS RODRIGUES AGRELI, brasileira, natural de Capinópolis-MG, casada, advogada regularmente inscrita na OAB/MG sob o nº 176.571, cadastro de pessoa física sob o nº 904.242.396-04, Registro de Identidade nº MG-6.980.373 PCMG, expedida em 06/05/2010, nascida em 08/09/1974, filha de Joaquim Rodrigues de Oliveira e Lázara Martins Rodrigues, residente e domiciliada na avenida Luzia Vanucci, nº 394, Condomínio Jockey Park, CEP 38.046-060, Uberaba/MG, vem com fulcro nos artigos 42 e 49, ambos do Código de Defesa do Consumidor propor ação de restituição de indébito em desfavor de CNOVA COMÉRCIO ELETRÔNICO S.A., CNPJ: 07.170.938/0001-07, Inscrição Estadual: 636.330.646.110, com matriz na Rua João Pessoa, n 83 - Piso Mezanino - Sala 02, Centro, São Caetano do Sul - SP - CEP: 09.520-010, e-mail: atendimento.servicos@cnova.com (doc. 4 em anexo), o que faz pelos razões de fato e de direito a seguir alinhavadas.
1. A Requerente é advogada (doc. 2 em anexo) atuando em causa própria nos termos do art. 103, parágrafo único do CPC, motivo pelo qual dispensa-se procuração. 2. A Requerente adquiriu em 10.04.2017 as 13h51, via internet, uma TV registrada sob o pedido de nº 117098379, que não correspondeu às suas expectativas, pois como consumidora e sem informação tecnológica, restou comprando uma TV sem a tecnologia WI-FI (não smart) que, portanto não se conecta à internet (docs. 5 a 7). 3. O produto foi entregue em 13.04.2017 as 16h43 (docs. 8 e 9). 4. Em 17.04.2017 por volta de 11h20, ou seja, 04 (quatro) dias após o recebimento do produto, a Requerente solicitou via telefone (11)4003-3383, o cancelamento do produto e de sua respectiva garantia, o que gerou junto à Requerida o protocolo de atendimento nº 1704201705970, nos exatos termos do direito de arrependimento das compras efetuadas fora do estabelecimento comercial, o que inclui a Internet. Art. 49 da Lei nº 8.078/1990. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. (grifos nossos) Art.1º do Decreto 7.962/2013. Este Decreto regulamenta a Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico, abrangendo os seguintes aspectos: III - respeito ao direito de arrependimento. 5. A Requerente, imediatamente ao cancelamento da compra da TV não smart, em 17.04.2017 as 11h38, via extra.com.br, expressando sua boa-fé objetiva comprou uma TV SMART, pedido de nº 117439717 (docs. 10 a 13).
6. Entretanto, somente após insistentes contatos entre a Requerente e a Requerida (docs. 14 a 24), é que, finalmente, e, após exatos 100 (cem) dias, em 25.07.2017, o produto foi recolhido (docs. 25/26) e a promessa de estorno expresso foi efetivado, em 26.07.2017, pela Requerida (doc. 27). Sendo inegável a afronta ao escopo do art. 49 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990) c/c art. 1º do Decreto de Contratação no Comércio Eletrônico (Decreto 7.962 de 15 de março de 2013), uma vez que a mercadoria deveria ter sido imediatamente retirada quando da solicitação desta consumidora e a mesma ressarcida quanto aos valores eventualmente já pagos, o que inclui os valores pagos com a garantia estendida original do produto e seu frete, por serem estes acessórios do produto. Art. 5º, Decreto 7.962/2013. O fornecedor deve informar, de forma clara e ostensiva, os meios adequados e eficazes para o exercício do direito de arrependimento pelo consumidor. 1 o O consumidor poderá exercer seu direito de arrependimento pela mesma ferramenta utilizada para a contratação, sem prejuízo de outros meios disponibilizados. 2 o O exercício do direito de arrependimento implica a rescisão dos contratos acessórios, sem qualquer ônus para o consumidor. 3 o O exercício do direito de arrependimento será comunicado imediatamente pelo fornecedor à instituição financeira ou à administradora do cartão de crédito ou similar, para que: I - a transação não seja lançada na fatura do consumidor; ou II - seja efetivado o estorno do valor, caso o lançamento na fatura já tenha sido realizado. 4 o O fornecedor deve enviar ao consumidor confirmação imediata do recebimento da manifestação de arrependimento. (sem grifos no original) 7. A Requerente restou pagando a TV não smart, objeto desta lide, bem como os valores dos acessórios (garantia estendida original de vinte e quatro meses mais frete) até a décima e última parcela, cada parcela no valor de R$203,49 (duzentos e três reais e quarenta e nove centavos) (docs. 28 a 37, anverso e verso), perfazendo o valor total da compra mais frete, a saber R$2.034,90 (dois mil e trinta e quatro reais e noventa centavos).
O que indubitavelmente, preenche os três requisitos necessários para que a Requerida seja condenada ao ressarcimento em dobro do valor efetivamente pago pela Requerente, nos termos do art. 42, parágrafo único do CDC c/c art. 5º do Decreto 7.962/2013, quais sejam, a existência de cobrança indevida, o pagamento desta pelo consumidor e engano injustificável uma vez que o próprio fornecedor reconheceu expressamente o cancelamento do pedido, efetuou o recolhimento do produto e expressou a previsão de estorno em cartão de crédito (doc. 27). Cabendo à Requerente o ressarcimento no importe de R$4.069,80 (quatro mil e sessenta e nove reais e oitenta centavos). Art. 42, CDC. Omissis Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. (sem grifos no original). 8. Frise-se que a Requerente efetuou em 17.04.2017 (quatro dias após o recebimento do produto) contato telefônico com a Requerida pelo número (11)4003-3383, o que gerou o protocolo de atendimento nº 1704201705970, informando que ao receber informação do técnico, contratado por esta para realizar a instalação da TV, informou-lhe que a mesma não possuía tecnologia WI-FI, conversa esta que, foi informado pela Requerida, foi gravada, sendo prova documental cabal para comprovar o exercício do direito de arrependimento da Requerente, mas que se encontra em poder da Requerida, restando, se assim entender este douto juízo, como imprescindível para a solução da lide, seja degravada pela Requerida, nos termos exatos de inversão do ônus da prova aplicado ao CDC e à Lei 9.099/95. Art. 6º da Lei 8.068/90. São direitos básicos do consumidor: VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; (grifos nossos) Neste sentido colaciona-se alguns julgados: TJ-DF - ACJ: 16096320118070001 DF 0001609-63.2011.807.0001, Relator: JOSÉ GUILHERME DE SOUZA, Data de Julgamento: 20/03/2012, 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Publicação: 11/04/2012, DJ-e Pág. 265. CONSUMIDOR. CARTÃO DE CRÉDITO. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE REJEITADA. COBRANÇA INDEVIDA DE VALORES EM DUPLICIDADE NA FATURA DO CONSUMIDOR. RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO DEVIDA. ENGANO INJUSTIFICÁVEL. DEVOLUÇÃO EM DOBRO DEVIDA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 2) AVERIGUADO O PAGAMENTO INDEVIDO, PELO CONSUMIDOR, DE QUANTIA COBRADA IRREGULARMENTE PELA EMPRESA REQUERIDA, DEVE ESTA SER CONDENADA A DEVOLVER EM DOBRO OS VALORES ILICITAMENTE COBRADOS, PRINCIPALMENTE QUANDO AUSENTE HIPÓTESE DE ENGANO INJUSTIFICÁVEL (ART. 42, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC). 3) CONFORME FIRME JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, ÓRGÃO JUDICIÁRIO COM A ATRIBUIÇÃO DE PACIFICAR A INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL, A REGRA DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 42 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, QUE DETERMINA A DEVOLUÇÃO EM DOBRO, OBJETIVA CONFERIR À SUA INCIDÊNCIA FUNÇÃO PEDAGÓGICA E INIBIDORA DE CONDUTAS LESIVAS AO CONSUMIDOR (RESP Nº 817733) E PRESSUPÕE ENGANO INJUSTIFICÁVEL. IN CASU, HOUVE COBRANÇA INDEVIDA, EFETIVO PAGAMENTO PELO CONSUMIDOR E ENGANO INJUSTIFICÁVEL, DIANTE DE INÚMERAS TENTATIVAS DE SOLUCIONAR A QUESTÃO EXTRAJUDICIALMENTE, SEM QUALQUER ÊXITO. INDUBITÁVEL O DIREITO DA CONSUMIDORA À DEVOLUÇÃO EM DOBRO NO VALOR DE R$ 1.098,00 EM DECORRÊNCIA DE COBRANÇA DE QUANTIA DOBRADA EM FATURA DE C ARTÃO DE CRÉDITO, CORRIGIDO MONETARIAMENTE A PARTIR DA DATA DO EFETIVO DESEMBOLSO DE CADA PARCELA/FATURA, INCIDINDO JUROS A PARTIR DA CITAÇÃO, NO PERCENTUAL DE 1% (UM POR CENTO) AO MÊS. (grifos nossos).
Superior Tribunal de Justiça STJ já se pronunciou no sentido de que "a só remessa de carta de cobrança ao consumidor não preenche o suporte do art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor; diversamente do art. 1531 do Código Civil, para o qual é suficiente a simples demanda, o Código de Defesa do Consumidor apenas autoriza a repetição se o consumidor tiver efetivamente pago o indébito". (STJ, REsp. nº 539.238/RJ, Relator Min. Ari Pargendler, DJ. 29.03.2004.) (grifos nossos). 9. Em suma, conclui-se, por toda documentação acostada aos autos, que apesar de todo imbróglio o produto foi recolhido pela Requerida, mas os débitos foram indevidamente efetuados no cartão de crédito da Requerente, até a última parcela, no valor integral do produto. Ante o exposto, requer: 1) a citação da Requerida para que, querendo, ofereça defesa no prazo processual legal, sob pena de sujeitar-se aos efeitos da revelia; 2) seja julgada TOTALMENTE PROCEDENTE a ação, com a consequente condenação da Requerida ao pagamento da repetição do indébito dos valores pagos indevidamente no importe de R$4.069,80 (quatro mil e sessenta e nove reais e oitenta centavos), acrescidos de juros e correção monetária; Provará o que for necessário, utilizando-se de todos os meios de prova permitidos em direito, em especial pela juntada de documentos atuais (em anexo) e novos.
oitenta centavos). Dá ao pleito o valor de R$4.069,80 (quatro mil e sessenta e nove reais e Termos em que p. deferimento. Uberaba, 05 de março de 2018. Josana Martins Rodrigues Agreli OAB/MG 176.571