UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL



Documentos relacionados
UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CONTINUADA NO CONTEXTO DE CRECHE

FACULDADE ASTORGA FAAST REGULAMENTO ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

O ENSINO DA MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE JOGOS EM SALA DE AULA E DE UM OLHAR SENSÍVEL DO PROFESSOR

A LUDICIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

METODOLOGIA: O FAZER NA EDUCAÇÃO INFANTIL (PLANO E PROCESSO DE PLANEJAMENTO)

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

Prefeitura Municipal de Santos

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

QUANTO VALE O MEU DINHEIRO? EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O CONSUMO.

ISSN PROJETO LUDICIDADE NA ESCOLA DA INFÂNCIA

Palavras-chave: Justiça; Direitos; Cooperação; Brincadeiras

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ANOS INICIAIS: UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL

2.2 O PERFIL DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Projeto Pedagógico. por Anésia Gilio

O COORDENADOR PEDAGÓGICO E AS REUNIÕES PEDAGÓGICAS POSSIBILIDADES E CAMINHOS

Dicas que ajudam pais na escolha da escola dos seus filhos

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Jéssica Victória Viana Alves, Rospyerre Ailton Lima Oliveira, Berenilde Valéria de Oliveira Sousa, Maria de Fatima de Matos Maia

A RELAÇÃO DO CUIDAR-EDUCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL Carla Ariana Passamani Telles 1 Franciele Clair Moreira Leal 2 Zelma Santos Borges 3.

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE DE LICENCIANDOS EM MATEMÁTICA

O AMBIENTE MOTIVADOR E A UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

O LÚDICO NA APRENDIZAGEM

Organização do espaço e do tempo na Educação Infantil. TEMA 03 Profª Luciana Ribeiro Pinheiro

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NUMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE GUARAPUAVA: DA TEORIA À PRÁTICA

9. Os ciclos de aprendizagem e a organização da prática pedagógica

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

A EDUCAÇAO INFANTIL DA MATEMÁTICA COM A LUDICIDADE EM SALA DE AULA

DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES E ALUNOS DA EJA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

INVESTIGANDO O ENSINO MÉDIO E REFLETINDO SOBRE A INCLUSÃO DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA PÚBLICA: AÇÕES DO PROLICEN EM MATEMÁTICA

PALAVRAS-CHAVE economia solidária, ensino fundamental, jogos cooperativos, clube de troca. Introdução

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E AS DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE FORTALEZA

SIMPÓSIO SOBRE ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO PAUTA

FACULDADE INTERNACIONAL DO DELTA PROJETO PARA INCLUSÃO SOCIAL DOS SURDOS DA FACULDADE INTERNACIONAL DO DELTA

JOGOS NAS AULAS DE HISTÓRIA ATRAVÉS DO PIBID: UMA POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E DE INTERAÇÃO

HORTA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA CONSCIÊNCIA PLANETÁRIA

Faculdade Sagrada Família

MÉTODOS E TÉCNICAS DE AUTOAPRENDIZAGEM

ÁLBUM DE FOTOGRAFIA: A PRÁTICA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 59. Elaine Leal Fernandes elfleal@ig.com.br. Apresentação

Papo com a Especialista

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

O REGISTRO COMO INSTÂNCIA DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR

Módulo 14 Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas Treinamento é investimento

TEXTURAS E SENSAÇÕES COM PINTURAS DE AMILCAR DE CASTRO: REFLEXÕES SOBRE A EXPERIÊNCIA DO PIBID DE PEDAGOGIA EDUCAÇÃO INFANTIL.

Educação Acessível para Todos

PROFESSORES DE CIÊNCIAS E SUAS ATUAÇÕES PEDAGÓGICAS

REFLEXÕES INICIAIS DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS PARA INCLUIR OS DEFICIENTES AUDITIVOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA.

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

O PSICÓLOGO (A) E A INSTITUIÇÃO ESCOLAR ¹ RESUMO

Projeto Educativo de Creche e Jardim de Infância

Avaliação-Pibid-Metas

Pedagogia Profª Luciana Miyuki Sado Utsumi. Roteiro. Perfil profissional do professor

A educadora avalia a formação de nossos professores para o ensino da Matemática e os caminhos para trabalhar a disciplina na Educação Infantil.

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

GUIA DO ALUNO. Bom trabalho e conte conosco para trilhar este caminho com sucesso!

Profª. Maria Ivone Grilo

PLANO DE ENSINO PROJETO PEDAGÓGICO: 2010

A escola para todos: uma reflexão necessária

Palavras-chaves: inclusão escolar, oportunidades, reflexão e ação.

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO CONTEXTO TECNOLÓGICO: DESAFIOS VINCULADOS À SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Relato de experiência sobre uma formação continuada para nutricionistas da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco

VII E P A E M Encontro Paraense de Educação Matemática Cultura e Educação Matemática na Amazônia

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Edital de seleção para formação em gestão de Organizações da Sociedade Civil Fundação Tide Setubal 2011

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

ACESSIBILIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIA COM UM ALUNO CEGO DO CURSO DE GEOGRAFIA, A DISTÂNCIA

INTERPRETANDO A GEOMETRIA DE RODAS DE UM CARRO: UMA EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA

RELATÓRIO MESA DEVOLVER DESIGN (EXTENSÃO) Falta aplicação teórica (isso pode favorecer o aprendizado já que o aluno não tem a coisa pronta)

Colégio João Paulo I Unidade Norte e Higienópolis. Projeto Mostra Científica 2014 Vida eficiente: a ciência e a tecnologia a serviço do planeta

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

A MATEMÁTICA ATRÁVES DE JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA PROPOSTA PARA ALUNOS DE 5º SÉRIES

O ESTUDO DE CIÊNCIAS NATURAIS ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA RESUMO

OFICINAS DE APOIO PARA LEITURA E ESCRITA ATRAVÉS DA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DA UFPB

CAMPUS BRUMADO DEPEN / COTEP P L A N O D E E N S I N O-APRENDIZAGEM. Manual de instruções. Prezado Professor e prezada Professora,

Informações gerais Colégio Decisão

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DA ESCRITA COMO INSTRUMENTO NORTEADOR PARA O ALFABETIZAR LETRANDO NAS AÇÕES DO PIBID DE PEDAGOGIA DA UFC

EXPRESSÃO CORPORAL: UMA REFLEXÃO PEDAGÓGICA

Mestre em Educação pela UFF (Universidade Federal Fluminense) e Professora Assistente na Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus BA).

A efetividade da educação à distância para a formação de profissionais de Engenharia de Produção

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

PROGRAMA DE METODOLOGIA DO ENSINO DE EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA

1. INTRODUÇÃO. Espero que faça um bom proveito do conteúdo e que, de alguma forma, este e-book facilite a sua decisão de adquirir um planejamento.

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

5 Considerações finais

UnP. fazendo e compartilhando a gente aprende mais

OFICINAS PEDAGÓGICAS: CONSTRUINDO UM COMPORTAMENTO SAUDÁVEL E ÉTICO EM CRIANÇAS COM CÂNCER

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA N.4/2014 PROCEDIMENTO DE OBSERVAÇÃO DE AULA

Os fazeres do coordenador pedagógico: gico: da clareza conceitual à eficiência da açãoa. Prof. Francisca Paris

TÍTULO: PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PROFISSIONAIS FORMANDOS DA ÁREA DE NEGÓCIOS DA FACIAP

Política de Formação da SEDUC. A escola como lócus da formação

POSSIBILIDADE DE ACESSO A EDUCAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO PROGRAMA MULHERES MIL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Sua Escola, Nossa Escola

TECNOLOGIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

OS SENTIDOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA CONTEMPORANEIDADE Amanda Sampaio França

R0BÓTICA EDUCACIONAL. Curso Extracurricular de Robótica educacional

Transcrição:

UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL COSTA, Efigênia Maria Dias 1 MONTENEGRO, Fabrícia Sousa 2 NEVES, Elidiana Oliveira das 3 SANTOS, Jefferson Silva de Barros 4 SILVA, Luiz Eduardo Paulino da 5 Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias/ Departamento de Educação/ PROBEX. RESUMO O desenvolvimento da prática docente nas instituições de educação infantil requer um olhar cuidadoso e atencioso, já que diz de uma ação pedagógica/educativa cotidiana para crianças de 0 a 5 anos de idade. Logo, faz-se necessário pensar os vários aspectos que corroboram para o bom desempenho do fazer docente, desde a formação/qualificação profissional para o exercício da docência à organização do trabalho pedagógico propriamente dito. Esse foi um dos objetivos principais que o Projeto de Extensão Fortalecendo a formação de professoras da primeira infância tentou desenvolver e atingir na Creche Pd. Geraldo, no município de Solânea-PB. Como metodologia de trabalho, fizemos uso das aulas expositivas, realização de palestras, oficinas, dinâmicas de grupo e debates. Os pilares de sustentação de nossa ação foram baseados no estudo, pesquisa e prática, que muito nos tem fez refletir sobre os resultados obtidos com a nossa presença na Instituição. Alguns avanços foram visíveis: professoras bem mais informados e cientes da razão de seu trabalho na Creche; planejamento das práticas pedagógicas cotidianas; melhor desenvolvimento na aprendizagem das crianças. Logo, percebe-se a importância de uma formação docente que colabore no processo de superação e transformação das práticas pedagógicas no chão da educação infantil. PALAVRAS-CHAVE: Formação, Docência, Infância. 1 Profª. orientadora/ufpb efigeniamdc@yahoo.com.br 2 Profª. colaboradora/ufpb fabriciamontenegro@yahoo.com.br 3 Discente bolsista/ufpb elidiana.bn@gmail.com 4 Discente colaborador/ufpb jeffersonguerras@hotmail.com 5 Discente colaborador/ufpb eduardops25@hotmail.com

PRIMEIRAS PALAVRAS Inicialmente, gostaríamos de destacar que vemos a discussão em torno da questão da formação/qualificação de professores/as não apenas relacionada à configuração do contexto político-econômico social e cultural da sociedade contemporânea, mas, principalmente, pela própria condição e compreensão de seres inacabados que somos, ou seja, a necessidade inerente de todo SER humano de conhecimento e, consequentemente de crescimento e emancipação (Freire, 1996). No nosso entendimento, a formação de qualquer profissional deve perpassar os limites e exigências legais do mundo atual tecnologia, informação, comunicação, mercado, capital, consumo etc. No caso específico do/a professor/a, um/a profissional diferenciado dos demais, especialmente por lidar com gente e evidentemente ser o/a responsável pela educação de pessoas. Portanto, o desafio posto a esse/a profissional é grande, e ainda mais quando se trata de uma educação para crianças pequenas, aquelas as quais imprimimos as primeiras marcas do saber escolar. Nesse sentido, vale recorrer a Arroyo, quando tão brilhantemente diz que: Pela própria experiência humana, pelo convívio com filhos (as), netos(as), na família, pela proximidade com a infância nas salas de aula sabemos que ninguém nasce feito. Nos fazemos, nos tornamos gente. Virou gente! falamos com orgulho de um filho, crescido e criado. Não nascemos humanos, nos fazemos. Aprendemos a ser. Todos passamos por longos processos de aprendizagem humana. Se preferirmos, toda criança nasce humana, mas isso não basta: temos que aprender a sê-lo. Podemos acertar ou fracassar. Nessa aprendizagem também há sucesso e fracasso (2000, p. 53). Assim sendo, a formação docente não pode ser vista apenas como um processo de acumulação de conhecimento de forma estática, como cursos, teorias, leituras e técnicas, mas sim como a contínua reconstrução da identidade pessoal e profissional do/a professor/a. Esse processo deve estar vinculado à concepção e à análise dos contextos sociais e culturais, produzindo um conjunto de valores, saberes e atitudes encontradas nas próprias experiências e vivências pessoais, as quais imprimem significados ao fazer educativo. O direcionamento que damos ao nosso SER professor/a diz muito do trabalho que realizamos junto às crianças. Se reconhecemos nossas limitações e nos permitimos aprender a cada dia, possivelmente tendemos a desenvolver uma prática docente eficiente e digna que realmente colabora no e para o crescimento dos/as cidadãos/ãs pequenos/as. Por outro lado, se acreditamos saber muito e expressamos a não necessidade da busca constante pelo conhecimento, infelizmente assumimos o

descompromisso não só com a profissão, mas com muitas vidas que passam em nossas mãos. A ação docente, portanto, precisa ser permeada de um sólido saber teórico e consolidada na prática cotidiana através do desejo/vontade de mudança, mudança essa que se faz presente na inovação e transformação do ato meramente pedagógico e burocrático para o ato essencialmente humano de ensinar e aprender e aprender e ensinar. Foi com esse olhar que desenvolvemos o Projeto de Extensão junto às professoras da Creche Pd. Geraldo. A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO: UMA CONQUISTA A prática da organização pedagógica de uma jornada diária nas instituições de educação infantil é de fundamental importância para que a criança se sinta segura no lugar onde está e sobre o que vai fazer, ainda constituindo-se uma forma de oportunizar a construção das noções temporais e de outros aspectos relacionados ao conhecimento e forma de atuação da criança no mundo. De acordo com o Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil RCNEI as sequências de atividades auxiliam no processo de construção da identidade e na conquista da autonomia das crianças. No mesmo documento, encontramos ainda a seguinte afirmação: Todas as atividades permanentes do grupo contribuem, de forma direta ou indireta, para a construção da identidade e o desenvolvimento da autonomia, uma vez que são competências que perpassam todas as vivências das crianças. Algumas delas, como a roda de conversas e o faz-de-conta, porém, constituem-se situações privilegiadas para a explicitação das características pessoais, para a expressão dos sentimentos, emoções, conhecimentos, dúvidas e hipóteses quando as crianças conversam entre si e assumem diferentes personagens nas brincadeiras (BRASIL, 1998, p. 62). Portanto, um princípio fundamental a ser considerado pelo/a professor/a da educação infantil é o de que a jornada diária deve ser estruturada de acordo com a realidade e as características de sua turma atentamente observadas. Assim, diz Barbosa: Para dispor tais atividades no tempo é fundamental organizá-las tendo presentes às necessidades biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene e à sua faixa etária; as necessidades psicológicas, que se referem às diferenças individuais, como por exemplo, o tempo e o ritmo que cada uma necessita para realizar as tarefas propostas; as necessidades sociais e históricas que dizem respeito à cultura e ao estilo de vida, como as comemorações significativas para a comunidade onde se insere a escola e também as formas de organização institucional de cada escola infantil. Enfim, o

que é mais adequado propormos para crianças maiores e menores (2000, p. 68). Nesse sentido, o/a professor/a deve sempre levar em consideração as características da faixa etária do grupo e as características do grupo de crianças com a qual está trabalhando. Para que a constituição da jornada diária seja utilizada de forma positiva, a fim de concretamente auxiliar o desenvolvimento integral da criança, o/a professor/a deve oferecer sistematicamente atividades diversificadas e ainda oportunizar que as crianças opinem sobre as atividades que serão realizadas durante o dia, como também no uso dos materiais a serem explorados. As atividades permanentes realizadas pelas crianças passam a ter maior visibilidade e destaque dentro da ótica infantil no momento em que estas conseguem e têm oportunidade de realizar sozinhas atividades e ações para as quais já possuem competências, mas que muitas vezes o/a professor/a não lhes permite realizar por acreditar que ainda não conseguem, ou que fica mais organizado e rápido ela mesma fazer. Um exemplo prático deste tipo de situação está relacionado à arrumação da sala e dos brinquedos utilizados pela criança. No RCNEI encontramos: Considerar um tempo ao final de cada atividade dedicado para a arrumação é uma boa oportunidade para que elas possam de um lado, aprender a cooperar e perceber que a arrumação é algo da responsabilidade de todos. De outro lado, essa atividade pode permitir que elas percebam que são capazes de realizar ações de forma independente, como guardar materiais, brinquedos, varrer a sala, jogar restos de papel no lixo, devolver materiais que foram tomados emprestados de outras salas ou locais da instituição etc. É bastante provável que no início o professor tenha de apoiar e supervisionar a ação das crianças. A arrumação gasta tempo, por isso deve ser considerada uma atividade em si e, como tal, ser planejada. Pode ser feito um quadro em que as tarefas de cada um no momento de arrumação são marcadas, de forma que todas as crianças saibam qual a sua tarefa daquele dia e possam, além disso, conferir que todos irão experimentar todas as modalidades (BRASIL. 2, 1998, p. 63). Assim como no momento de arrumar a sala de aula, a criança já tem condição de atuar e compreender seu envolvimento com o meio no qual está inserida, existem outras tantas situações passíveis de atitudes de cooperação e independência, cabendo ao/a professor/a, então, organizar e oportunizar tais momentos. A possibilidade de poderem se organizar e transitar dentro do espaço escolar, de acordo com uma ordem de atividades e combinações estabelecidas pelos alunos e professor/a, traz consigo a concepção de criança como sujeito social e cultural, que dentro de suas potencialidades

tem condições de opinar e participar ativamente do cotidiano escolar, ou seja, ser sujeito de sua própria aprendizagem. ÚLTIMAS PALAVRAS Com a realização do projeto foi possível depreender que a educação para a infância não pode perder de vista os reais envolvidos nesse processo: as crianças, pessoas em desenvolvimento, capazes de expressar sua palavra, seu pensamento e seu desejo para a sociedade que as cerca, quando esta não se torna surda, mas troca o princípio da ordem, da reprodução e do silêncio pelo ruído do movimento, das interações e do diálogo essenciais à vida e fundamentais para a construção do projeto de pessoa que se deseja. Como observa Paulo Freire (1987), para que o ser humano faça a história e não seja levado por ela e se torne partícipe ativo e criador nos períodos de transição, é preciso que se eduque não para a domesticação ou escravidão, mas para a libertação. Desse modo, o aprendizado da participação nas instituições de educação infantil será certamente transferido para as situações da vida adulta como governante ou como governado. A ação docente pode ter muito ou pouco a ver com isso. Ao longo do projeto, as professoras da Creche e o grupo extensionista conseguiram construír essa consciência. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. BARBOSA, Maria Carmem S.; HORN, Maria da Graça. Organização do espaço e do tempo na escola infantil. IN CRAYDI, Carmem,; KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva. Educação infantil: pra que te quero? Porto alegre: Artmed, 2001. BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.