A BIOGINCANA COMO ATIVIDADE LÚDICA NA PRÁTICA EDUCATIVA DO ENSINO DE BIOLOGIA NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO FILGUEIRAS LIMA, IGUATU/CE. Lídia Batista Teixeira¹, Juan Carlos Ferreira Paulino¹, Clarice Cartaxo Cavalcante², Fernando Roberto Ferreira Silva³. 1- Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu - FECLI/UECE e Bolsista do PIBID/CAPES; 2- Professora da Rede Pública Estadual de Ensino e Supervisora do PIBIB/CAPES; 3- Professor do Curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu - FECLI/UECE e Coordenador de Área do PIBID/CAPES. RESUMO As atividades lúdicas são usadas por diversas disciplinas, pois, auxiliam na transposição dos conteúdos considerados mais difíceis, dando significado a aprendizagem. Além disso, desenvolvem e estimulam os alunos a oralidade, as expressões corporais, o uso da lógica e reforça os laços sociais. Nesse sentido a Biogincana surge como uma forma de estimular o aprendizado e desenvolver a conscientização em relação ao meio ambiente, promover a interação entre os alunos da escola e destes com os bolsistas PIBID e despertar o interesse pela biologia. A Biogincana foi planejada e desenvolvida pelos bolsistas PIBID UECE/FECLI que atuam na Escola de Ensino Médio Filgueiras Lima, desde o ano de 2010 e ocorre em todas as salas da escola, foi desenvolvida em três etapas: provas de conhecimento, coletiva e de torcidas. A primeira fase ocorreu nas salas de aula com provas de conhecimento envolvendo assuntos biológicos, tais como: meio ambiente e sustentabilidade, saúde e curiosidades a respeito dos seres vivos, dentre outros; a segunda etapa constou de provas coletivas, nas quais os vencedores conquistavam o direito de responderem questões sobre os assuntos citados anteriormente; a terceira etapa envolveu atividades de produção de cartazes, coleta de materiais recicláveis, elaboração e apresentação de paródias, teatro, dança e a construção de hortas, todas relacionadas com o tema da Biogincana que foi O homem como principal responsável pela sustentabilidade do planeta. A realização dessa atividade de caráter lúdico contribuiu de forma significativa para a integração dos alunos da escola com os bolsistas do PIBID, proporcionando também o trabalho coletivo e colaborativo entre alunos e o estímulo à comunicação, principais objetivos deste trabalho. Com base nas observações realizadas nessa experiência, o grupo pretende aperfeiçoar a atividade e aplicá-la novamente nos anos seguintes. Palavras chaves: Ensino de Biologia. Gincana. Lúdico. PIBID. 1 INTRODUÇÃO O ensino de Ciências, ao longo dos tempos, vem passando por diversos processos de mudanças nas metodologias. Essas mudanças estão ocorrendo de forma gradativa, tendo em vista, principalmente, as exigências dos processos educacionais da
2 sociedade contemporânea. Por outro lado, muitas são as dificuldades encontradas pelos professores de Biologia e áreas afins para proporcionar uma aprendizagem que seja potencialmente significativa na vida dos discentes. Nesse caminhar é possível que estas dificuldades estejam atreladas a formação inicial dos docentes. Assim, Behrens (2000) relata que é desafiador para o docente modificar os caminhos existentes na sociedade atual, propondo novas metodologias que leve o aprender. Assim, na perspectiva de fortalecer o aprender a aprender, faz-se necessário mudar os paradigmas que estão arraigados nas práticas tradicionais e adentrar nas novas metodologias de ensino, considerando que o professor precisa está aberto para proporcionar cenários de aprendizagem que leve o estudante a ser um pesquisador e construtor de novos conceitos. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2001), o mundo atual está passando por rápidas transformações que influenciam a forma de aprender, tornando uma aprendizagem pautada em reproduzir fórmulas, símbolos e conceitos em substituição a formação cidadã que busca o processo de argumentar, compreender, agir e resolver problemas do cotidiano. Diante do exposto, viu-se a necessidade de utilizar algumas atividades diferenciadas, na perspectiva de desenvolver nos discentes a autonomia em buscar novos saberes. Esta autonomia estabelece uma relação crítica na dualidade professor aluno capaz de fomentar uma aprendizagem significativa. Como estratégia metodológica no ensino da Biologia, o uso do lúdico surge como um dos recursos pedagógicos viáveis para dinamizar o processo de ensino na sala de aula, já que ele tem por finalidade de facilitar a compreensão dos conteúdos pelos alunos, como também tornar as aulas mais dinâmicas e atrativas. Vários autores apontam que as atividades lúdicas não se resumem apenas na memorização do assunto abordado, mas também para incentivar o aluno a raciocinar, refletir, pensar e a reconstruir seu conhecimento (SOARES et al., 2003; BERTOLDI, 2003; CUNHA, 2004). De acordo com Cabrera e Salvi (2005) aprender e ensinar brincando, enriquece as visões de mundo fortalecendo as possibilidades de relacionamento, companheirismo, socialização e troca de experiências e conhecimento além do respeito às diferenças e de reflexão sobre suas as ações. Assim, o lúdico aplicado no ambiente escolar tem a função também de dar
3 prazer ao ato de aprender e permite aos alunos descobrir neste processo motivos intrínsecos, significativos para a sua aprendizagem. Como afirma Mello (2004) a atividade que faz sentido para a criança é a chave pela qual ela entra em contato com o mundo, aprende a usar a cultura e se apropriam das aptidões, capacidades e habilidades humanas. Ainda de acordo com Melo (2005), vários estudos sobre atividades lúdicas comprovam que o jogo além de ser uma fonte de prazer e de conhecimento para o aluno, também traduz o efeito sócio histórico refletido na cultura e contribuindo significativamente para o processo de construção do conhecimento do aluno como mediante da aprendizagem. Segundo Vygotsky (1989) os jogos ajudam no desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração, o lúdico influencia no desenvolvimento do aluno, ajudando-o a agir corretamente em determinadas situações e estimulando sua capacidade de discernimento. Os jogos tem um papel relevante no processo de aprendizagem. Dessa forma, os jogos tem se tornado um importante recurso para a construção do conhecimento, que segundo Rau (2011, p. 30): O jogo possibilita a aprendizagem do sujeito e o seu pleno desenvolvimento, já que conta com conteúdos do cotidiano, como as regras, as interações com objetos e a diversidade de linguagens envolvidas em suas práticas. Desse modo, com base no pressuposto de que a prática pedagógica possa proporcionar alegria aos alunos no processo de aprendizagem, o lúdico deve ser levado a sério na escola, proporcionando- se o aprender por meio do jogo e, logo, o aprender brincando. Podemos deduzir, assim, que a formação lúdica do professor favorece essa prática. No ensino de Biologia tem-se utilizado cada vez mais os recursos lúdicos para ajudar na compreensão dos conceitos biológicos, que as vezes se tornam mais difíceis de compreender com aula expositiva. Desta forma, observa-se que na educação básica a busca pelo aprendizado torna-se inevitável para ser atingido. Nesse sentido, a Biogincana surge como uma forma de estimular este aprendizado e desenvolver no educando uma construção crítica relacionado ao meio ambiente, além de promover a interação entre os alunos da escola e os bolsistas PIBID.
4 2 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO A Biogincana foi organizada e realizada pelos bolsistas licenciandos do Programa de Iniciação à Docência (PIBID), do subprojeto do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), campus da Universidade Estadual do Ceará (UECE), em conjunto com os professores supervisores e promovida na Escola Estadual de Ensino Médio Filgueiras Lima, localizada no bairro Veneza do município de Iguatu/CE. A escola possui uma clientela de alunos de vários bairros da cidade e da zona rural, funcionando nos turnos manhã (07 turmas) e tarde (06 turmas). A atividade foi realizada no período de julho e agosto de 2014 e teve a participação de todos os alunos que estavam presentes nos dias das ações. A Biogincana é dividida em três etapas e é composta por diferentes tipos de provas: provas de conhecimento, provas coletivas e provas que envolviam a torcida. a) A primeira etapa aconteceu em todas as salas de aula, de ambos os turnos. Os alunos de cada sala foram divididos em quatro equipes e foram sorteadas seis perguntas para cada equipe: 02 de nível fácil (10 pontos a cada acerto), 02 de nível médio (20 pontos a cada acerto) e 02 de nível difícil (30 pontos a cada acerto). Os alunos tiveram o tempo máximo de dois minutos para responder às perguntas, cada resposta errada implicou a perda de 10 pontos. A equipe que somou o maior número de pontos foi a vencedora e passou para a etapa seguinte. b) A segunda etapa reuniu as equipes vencedoras e aconteceu na quadra poliesportiva da escola uma semana após o encerramento da primeira etapa. Para essa etapa, as equipes vencedoras (após sorteio) foram reorganizadas em três equipes em cada turno. As equipes tinham que realizar provas de habilidades e a equipe que vencia a prova ganhava o direito de responder às perguntas (20 pontos para cada acerto e perda de 10 pontos para cara erro). Ao final de sete rodadas de provas/perguntas, as duas equipes que obtiveram o maior número de pontos classificaram-se para a terceira etapa. c) A terceira e última etapa da Biogincana aconteceu no pátio da escola. Nessa fase, foram propostos desafios/atividades (paródia sobre a temática ambiental, desfile de fantasias ecologicamente corretas, confecção de uma horta, dentre outros) que foram avaliados por três jurados, membros do
5 núcleo gestor da escola. Os jurados atribuíram 15 pontos para o vencedor e 08 para o segundo lugar. Ao fim de todas as apresentações, uma equipe de cada turno foi consagrada como vencedora. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A BioGincana já acontece, anualmente, desde o ano de 2011, sempre envolvendo centenas de alunos da Escola. Esse ano não foi diferente, uma vez que houve uma grande participação de todos os alunos da Escola e também contou com o apoio de funcionários, professores e gestão da Escola. A primeira etapa, realizada dentro de cada sala de aula, revelou uma boa participação dos alunos respondendo as questões propostas como também discutindo e debatendo com os colegas da equipe os conteúdos. Esse jogo envolvendo perguntas e respostas dentro da sala, quase sempre, traz resultados positivos, haja vista o fato de que a sala de aula é lugar ideal de brincar desde que o professor consiga conciliar os objetivos pedagógicos com os desejos do aluno (FORTUNA, 2000). No que diz respeito a esse equilíbrio que deve ser encontrado entre os conteúdos que devem ser ministrados e o envolvimento na atividade por parte dos alunos, Fialho (2007, p. 129) afirma: A intensidade do jogo é tão grande que a fascinação que ele exerce sobre as pessoas é imensurável. Com isso, acreditamos que a utilização de jogos na educação vem ao encontro de uma opção diferenciada, capaz de atuar como reforço de conteúdos, que por sua vez podem ser avaliados ou não pelo professor e, também como instrumento interessante e motivador no ensinoaprendizagem. Porém, é valido relembrarmos que esses jogos são de apoio e que, para realizá-los, o aluno deve ter já um conhecimento do assunto. No segundo e terceiro momento da BioGincana houve a interação entre as turmas que se saíram vencedoras na primeira etapa. Além dessa interação, houve também o envolvimento dos alunos em atividades lúdicas (brincadeiras, correr, etc.). Percebemos que a inserção da ludicidade traz em si um valor educativo, pois, todos gostam de brincar, assim, atividades lúcidas têm sido usadas como ferramenta pedagógica, levando os educadores a utilizá-las para melhorar a motivação e o processo de ensino e aprendizagem. Teixeira (2005) caracteriza o lúdico como possuindo dois elementos: o prazer e o esforço espontâneo. De um lado tem-se o aspecto do prazer, com forte conteúdo emocional que faz com que ele absorva o indivíduo de uma forma intensa,
6 entusiasmando o aluno. Em virtude desta atmosfera dentro da qual se desenrola, a ludicidade é portadora de um interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um esforço total para consecução de seu objetivo. Portanto, as atividades lúdicas são excitantes, mas também requerem um esforço voluntário. Na atividade aqui relatada, observou-se grande entrosamento entre os alunos e entre estes e os bolsistas do PIBID. Foi possível observar boa receptividade em relação às atividades propostas. A totalidade dos alunos que participaram externaram sua satisfação e o desejo de participar de outros momentos semelhantes ao da Biogincana. Foi possível observar com a aplicação dessa atividade, uma maior interação entre os alunos e a conscientização do trabalho em equipe, fator de motivação para os estudantes. A interação entre os bolsistas e os alunos foi importante para assegurar o bom desenvolvimento na realização das atividades durante todo esse período de convivência dos bolsistas na escola. Aliado a tudo que foi já foi exposto, é importante ressaltar que no momento em que a escola torna-se mais amigável, mais agradável aumenta-se as chances de sucesso na aprendizagem. Isso porque o aluno procura constantemente relações interpessoais para criar laços, estabelecendo seu círculo de relações, às quais, em determinadas circunstâncias, lhes conferem segurança e credibilidade. Sabendo que parte significativa do seu tempo é empregada no espaço escolar, entende-se que esse ambiente contribua tanto para seu desenvolvimento cognitivo e afetivo quanto para o exercício da busca de sua autonomia como indivíduo. Nesse sentido, a BioGincana realizada na Escola possibilitou aos alunos uma visão diferente sobre a disciplina, tornando-a mais agradável de se estudar e mais fácil de compreender. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os alunos mostraram-se receptivos quando lhes foi estimulada a troca de informações e experiências sobre os assuntos abordados. Pode-se inferir que os alunos demonstraram desejo de participar e emitir opiniões sobre a condução da prática pedagógica adotada. O uso da disputa como forma de estimular o raciocínio nos alunos mostrouse bastante eficaz e promissor. Espera-se que essa ação possibilidade o alcance de bons resultados a curto e longo prazo.
7 É imprescindível que mais atividades como a BioGincana sejam organizadas na Escola, pois, ela pode auxiliar como elemento importante no sentido de diminuir a falta de interesse e a evasão escolar e também por tornar o estudo da Biologia mais agradável e alegre para os alunos. REFERÊNCIAS BEHRENS, Marilda, A. Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. In: MORAN, J.M.; MASETTO, M.; BEHRENS, M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000. BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Parte IV. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, Brasília: MEC/SEMT, 2001. CUNHA, A. M. O.; CICILLINI, G. A. Considerações sobre o ensino de ciências para a escola fundamental. In: VEIGA, I. P. A.; CARDOSO, M. H. F. Escola fundamental: currículo e ensino. 2. ed. Campinas: Papirus, 1995. CABRERA, W.B.; SALVI, R. A ludicidade no Ensino Médio: Aspirações de Pesquisa numa perspectiva construtivista. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 5. Atas, 2005. FIALHO, N. N. Jogos no ensino de química e biologia. Curitiba: Ibpex, 2007. FORTUNA, T. R. Sala de aula é lugar de brincar? In: XAVIER, M. L. M.; DALLA ZEN, M. I. H. (org.) Planejamento em destaque: análises menos convencionais. Porto Alegre: Mediação. Cadernos de Educação Básica, 6, p. 147-164. 2000. MELLO, Suely Amaral. A Escola de Vygotsky. In: CARRARA, Kester (Org.). Introdução à Psicologia da Educação. São Paulo: Avercamp, 2004. P.135-155. MELO, C. M.R. As atividades lúdicas são fundamentais para subsidiar ao processo de construção do conhecimento (continuação). Información Filosófica. v. 2, nº1, p.128-137. 2005. RAU, M. C. T. D. A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica. Curitiba: Ibpex, 2011. SOARES, M. H. F. B.; OKUMURA, F; CAVALHEIRO, E. T. G. Proposta de um jogo didático para ensinar o conceito de equilíbrio químico. Química Nova na Escola, n.18, p.13, 2003. TEIXEIRA, C. E. J. A ludicidade na escola. São Paulo: ed. Loyola, 1995. VYGOTSKY, L. S. O papel do brinquedo no desenvolvimento. In: A formação social da mente. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1989. 168p. p.106-118.
8 ANEXOS Figura 01. Primeira fase da BioGincanca. Figura 02. Segunda etapa da BioGincana.
Figura 03. Terceira fase da BioGincana. 9