O fluxo de matéria em suspensão na Amazônia ocidental como marcador da dinâmica fluvial



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Transcrição:

O fluxo de matéria em suspensão na Amazônia ocidental como marcador da dinâmica fluvial Naziano FILIZOLA 1, Carlos BEISL 2, Jean Loup GUYOT 3, Fernando Pellon de MIRANDA 4 1 Universidade do Estado do Amazonas, Av. Darcy Vargas, 1200 s/ C-28, Manaus, AM 2 UFRJ-COPPE, Rio de Janeiro, RJ; 3 IRD LMTG, Univ. Toulouse, França 4 PETROBRAS-CENPES, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ Abstract. The study of the total suspended matter (TSM) in the Amazon has been allowing the investigations which are associated with different landscape elements to explain differences in erosion and transport along rivers. In this study, data from the National Water Agency for the production of suspended sediment budget, already criticized, are reviewed in order to build a comparison table between two of the main tributaries of the Rio Solimões / Amazon, (Rivers Juruá and Purus) normally viewed as very similar in terms of its general physiography. However, in terms of hydrological and hydro-sedimentological aspects, they can be distinguished and strong differences can be found. Association between TSM data with topography and geomorphology can be used in seeking to justify some of these differences. Therefore, because of an antagonism found between these two rivers on a comparison of results from suspended matter flow budget, an analysis of relief using SRTM data was performed. This analysis gives an account of a possible differential influence of a structural high, tectonically active, located in the headwaters of those rivers, with regard to the forces put in motion the process of removing parts of detrital material to be transported by rivers. Resumo. O estudo dos fluxos de matéria em suspensão na Amazônia vem permitindo a realização de investigações onde se associam diferentes elementos da paisagem para explicar diferenças na erosão e no transporte ao longo de seus rios. No presente estudo, dados da Agência Nacional das Águas para a produção de balanços de fluxos de matéria em suspensão, já criticados, são revistos no sentido de montar um quadro comparativo entre dois importantes tributários do Rio Solimões/Amazonas, os Rios Juruá e Purus, tidos como muito semelhantes do ponto de vista fisiográfico geral. No entanto, do ponto de vista hidrológico e hidrossedimentológico é possível diferenciá-los e utilizar os dados de forma associada a informações de relevo e geomorfologia na busca de justificar algumas dessas diferenças. Assim, em vista de um antagonismo entre aqueles dois rios numa comparação de resultados do balanço de fluxos de matéria em suspensão, realizou-se uma análise do relevo a partir de dados SRTM. Tal análise dá conta de uma possível influência diferencial de um alto estrutural, tectonicamente ativo, localizado nas cabeceiras daqueles rios, no que diz respeito às forças que colocam em marcha o processo de retirada das vertentes do material detrítico a ser transportado pelos rios. Palavras-chave: Amazônia, Dinâmica Fluvial, Matéria Em Suspensão, Tectônica, Hidrologia INTRODUÇÃO Os estudos das relações entre tectônica, clima e processos erosivos facilitam a compreensão de formação das cadeias de montanhas. Em particular esses três elementos exercem influência na forma e na altura máxima das montanhas, além do tempo necessário para formá-las ou destruí-las (Allen, 2008). Muito da resposta à ação desses elementos pode ser detectada através do transporte de material em suspensão através dos rios. Esse sedimento pode ser medido e sua concentração

em miligramas por litro de amostra de água. Essa concentração associada à vazão do rio permite calcular o fluxo dessa matéria. Assim, alguns autores (Espurt et al., 2007 & Hampel, 2002), têm sugerido que a entrada em subducção de uma ride oceânica pode gerar conseqüências importantes em termos de deformação e erosão na placa superior. Notadamente, Espurt et al (2007), coloca que a ride de Nazca interfere na evolução geodinâmica dos Andes há cerca de dez milhões de anos. Segundo os mesmos autores, registros morfológicos e sedimentares da subducção desta ride têm sido analisados, principalmente, na zona de back-arc dos Andes no interior da Bacia Amazônica comprovando essa interferência. Ainda segundo os mesmos autores esta bacia, apresenta na fronteira SW-Brasil/Peru, traços morfológicos possivelmente ligados à subducção horizontal da ride de Nazca. Eles propõem uma compartimentação, na sua porção oeste, em duas sub-bacias subsidentes maiores: 1)Pastaza Marañon e 2)Beni-Mamoré, respectivamente a norte e a sul do arco tectônico denominado Fitzcarraldo, que se superpõe à parte subductada mais oriental, da ride de Nazca (Fig.1). Ainda segundo Espurt et al (2007) e Hampel (2002), o arco vem sendo submetido à erosão recente e se constitui de sedimentos da região de ante-país, de idades que variam do mioceno ao plioceno. As dimensões (1100 x 900 km) e a idade relativamente recente deste arco, controlam atualmente uma boa parte da morfologia fluvial da bacia hidrográfica Amazônica na região supra-citada. Rios Juruá e Purus Bacia Pastaza- Maraño n Bacia Beni- Mamoré Figura 1. Imagem da América do Sul com a posição da Ride de Nazca, o Arco de Fitzcarraldo e a bacia Amazônica de ante-país (Adaptado de Espurt inf. pessoal).

Em território brasileiro a região acima mencionada corresponde às cabeceiras dos formadores dos Rios Juruá e Purus. Portanto, na área sobreposta ao arco, as nascentes de dois importantes tributários do Rio Solimões/Amazonas, situam-se respectivamente a oeste e a leste daquela estrutura. Dados recentes quanto ao fluxo de matéria em suspensão (MES), indicam uma variação longitudinal significativa naqueles dois rios (Filizola e Guyot, 2009). Esta variação parece marcar o atual estágio de evolução da morfologia fluvial, influenciada ou não pelo arco de Fitzcarraldo. Neste estudo aqueles dados de MES são revistos no sentido de uma avaliação preliminar quanto a uma possível associação entre a tectônica e a dinâmica fluvial dos rios Juruá e Purus, utilizandose principalmente de dados sedimentométricos e dados de topografia por satélite. MATERIAIS E MÉTODOS Para o presente estudo foram tomados dados de Material Em Suspensão (MES) e de Vazões (Q) (interanuais) do Programa HIBAM (DNAEE/CNPq-IRD), nas estações da Ag. Nacional de Águas (ANA), ao longo dos Rios Juruá e Purus, coletados, processados e analisados conforme indicado em Filizola (2003) e Filizola e Guyot (2009). Os dados da ANA advêm de campanhas de medições realizadas a cada 3 ou 4 meses onde são realizadas medidas de vazões e coletas de MES segundo metodologia tradicionalmente utilizadas (DNAEE, 1970, USGS-Guy e Norman, 1976; WMO-Yuqian, 1989; WMO, 1994, Carvalho et al., 2000). Dessa base de dados foram analisados e calculados os fluxos de MES (QS), segundo (Filizola et al., 1999) em 6 estações, 3 sobre o Rio Purus e 3 sobre o Rio Juruá (Tabela 1). Tabela 1. Estações utilizadas no estudo e informações sobre os dados. Código ANA Estação ANA Rio Latitude Longitude Área de Drenagem (km²) Período dos dados de MES No. Amostras Período dos dados de Q 13750000 Seringal Fortaleza Purus -7,6833-66,9333 153.016 01/92 08/00 24 07/67 11/00 13870000 Lábrea Purus -7,2500-64,8000 220.351 07/92 11/00 27 07/67 06/00 13962000 Arumã - Jusante Purus -4,6833-62,1167 359.853 07/83 10/00 52 11/75 10/00 12500000 Cruzeiro do Sul Jurua -7,6167-72,6667 38.537 06/81 08/00 60 08/67 11/00 12550000 Eirunepe - Montante Jurua -6,6833-69,9000 77.136 04/92 09/00 27 02/79 06/00 12840000 Gavião Jurua -4,8333-66,7500 162.000 06/85 11/00 41 06/73 06/00 Os dados foram avaliados à luz de uma análise regional da topografia da região tomada a partir de modelo digital de elevação obtido a partir da Shuttle Radar Topographic Mission (SRTM) no quadrante, 61 0 W/03 0 S, 61 0 W/11 0 S e 75 0 W/03 0 S, 75 0 W/11 0 S (Figura 2), seguindo a sistemática proposta por Almeida F o et al. (2005). Sobre as cartas digitais SRTM, foram analisadas, em escala regional, as direções preferenciais e os padrões das drenagens como indicado em Bravrad e Petit (1997). Sobre as imagens SRTM foram traçados perfis transversais e paralelos às duas drenagens principais. A análise dos perfis fixou-se sobretudo ma variação altimétrica e nas linhas gerais de tendência da declividade do relevo. Com os dados de fluxo sedimentar, um estudo de balanço de massa foi realizado em função do aumento do fluxo hídrico ao longo de cada curso principal sem levar em consideração as contribuições laterais dos tributários de forma direta. Analisou-se, também, a produção específica de sedimentos para cada área de drenagem relacionada a cada estação, através da razão entre QS e a área total da bacia a montante. Na análise dos dados hidrológicos, optou-se por um procedimento de análise considerando uma abordagem interanual independente do período de dados adotado, isso tanto para dados de MES, quanto para dados de Q. Consideraram-se apenas as estações que tivessem um conjunto de dados

maior ou igual a 20 amostras de MES coletadas. Para aos dados de vazão foram utilizadas séries a partir dos anos 1970 para o estudo de regimes hidrológicos e para os cálculos de QS consideraram-se os períodos compatíveis onde houve concomitância entre medidas de Q e coletas de MES. Deste modo se pretende que os resultados sejam estatisticamente mais representativos e gerem o menor comprometimento do ponto de vista de erros, numa análise em escala regional. Maiores informações quanto aos critérios de avaliação podem ser obtidas em Filizola (1999) e em Filizola e Guyot (2009). Figura 2. Detalhe da região do estudo em imagem SRTM, com a indicação da localização das estações utilizadas e os rios Juruá e Purus, ambos desaguando no Rio Solimões. Observar a variação topográfica forte a SW cuja indicação de Espurt et al e Hampel, 2002, descrevem como sendo o Arco de Fitzcarraldo). Finalmente, os resultados dos dados de Q e QS foram comparados às análises dos perfis realizados nas imagens SRTM. As perfilagens do relevo foram realizadas longitudinalmente e transversalmente (Figura 3). No primeiro procedimento, 3 perfis foram selecionados, sendo o primeiro traço (1) localizado sobre o que os autores Espurt et al (2007) e Hampel (2002) consideram como a porção central do Arco de Fitzcarraldo e os demais traçados a oeste (2) a leste (3) deste traço central, todos com aproximadamente 100km de distância entre si. No sentido transversal às drenagens dos rios Purus e Juruá, foram realizados 8 perfis alinhados sucessivamente de montante para jusante (AA, BB, CC, DD, EE, FF, GG, HH ), espaçados de aproximadamente 100km entre si, sendo o primeiro localizado no Peru, próximo à fronteira entre os territórios brasileiro e peruano, sobre a porção da estrutura destacada na porção SW da área e cuja altitude máxima é de aproximadamente 500m.

Figura 3. Posição dos cortes longitudinais e transversais feitos sobre a imagem SRTM para obteção de perfis de relevo analisados. RESULTADOS & DISCUSSÃO A tabela 2 abaixo resume os resultados obtidos para os 4 principais parâmetros gerados a partir da base de dados utilizada. Pelo que ali se observa, nas 3 estações do Rio Purus há um incremento na ordem de grandeza das vazões entre Lábrea e Arumã Jusante, enquanto no Rio Juruá isso ocorre, relativamente, mais para montante, entre Cruzeiro do Sul e Eirunepé. Tabela 2. Resultados de vazão líquida, vazão sólida, balanço do fluxo sólido e a produção específica de sedimentos em suspensão. Estação ANA Q (m3.s-1) QS (ton.ano-1) Balanço (%) Prod. Específica (ton.km-2.ano-1) Seringal Fortaleza 3,6E+03 1,03E+08 671 Lábrea 5,5E+03 6,84E+07-33% 310 Arumã - Jusante 1,1E+04 4,72E+07-31% 131 Cruzeiro do Sul 9,1E+02 1,24E+07 321 Eirunepe - Montante 1,8E+03 1,18E+07-5% 153 Gavião 4,8E+03 2,54E+07 116% 157 Analisando-se os fluxos de MES percebe-se, que no Rio Purus há uma mudança, ainda que pequena, na ordem de grandeza entre Seringal Fortaleza e Lábrea, enquanto no Rio Juruá não se observa tal fato. Em termos de balanço de fluxo de MES o que se percebe é uma tendência de sedimentação ao longo dos trechos do Rio Purus com uma taxa aproximadamente igual (em torno de 30%), enquanto que no Rio Juruá observa-se o inverso; de uma estabilidade ( -5% - valor pouco representativo para indicar deposição) para uma forte produção (+115%) no último trecho estudado (entre as estações de Eirunepé e Gavião). Do ponto de vista da Produção específica, por sua vez, o que se percebe é uma forte produção na alta bacia do Purus (Seringal Fortaleza - estação mais a montante analisada). Tal produção representa mais que o dobro da registrada na estação mais a montante do Rio Juruá ( Cruzeiro do

Sul). Na seqüência, o Rio Purus registra uma diminuição sucessiva na produção específica da ordem de 40% nas estações analisadas. Já o Rio Juruá, registra no primeiro trecho, aproximadamente, a mesma tendência e ordem de grandeza que o Rio Purus, porém na última estação registra uma produção específica (157 ton.km -2.ano -1 ) quase idêntica a da estação de montante (153 ton.km -2.ano -1 ). Regime hidrológico e padrão da rede de drenagem Do ponto de vista dos regimes hidrológicos, as estações estudadas apresentam características muito semelhantes à exceção daquela de Arumã-Jusante. Pelo que se observa na Figura 4, considerando-se no eixo das abscissas os 12 meses do ano e no eixo das ordenadas a intensidade das vazões com escala aqui diferenciada para evidenciar melhor a variabilidade intra-anual em cada estação, temos um regime predominantemente tropical austral. Segundo Filizola et al. (2002), esse tipo de regime na Bacia Amazônica é representativo dos principais tributários à margem direita do Rio Solimões/Amazonas e caracteriza-se por vazões mais altas na primeira metade do ano civil, notadamente nos meses de março a abril, e por vazões mais baixas na segunda metade do ano civil, de modo mais destacado o período entre os meses de agosto e setembro. A tendência geral por conta das características de regularidade geradas do cálculo da razão entre os valores extremos nas vazões, é de que se tenha para montante um destaque maior dos meses em que os picos de cheia ocorrem com maior freqüência. O caso de Arumã-Jusante, a exceção ao regime acima identificado, é nitidamente o de um regime do tipo equatorial, refletindo o regime clássico do Rio Solimões, com um pico de vazões na porção central do ano civil e vazões menores entre os meses de outubro e novembro. Esse reflexo em Arumã-Jusante é fruto do efeito de remanso (barragem hidráulica) do Rio Solimões sobre o Rio Purus. O efeito é sentido, mesmo em face de a estação de Arumã-Jusante se localizar a mais de 100km da foz do Rio Purus, porém ainda sob a influência da vasta planície de inundação do rio principal. Avaliando o macro-padrão de drenagem das duas bacias hidrográficas, se percebe ainda uma complexidade refletindo o que se tem numa escala de maior detalhe. No aspecto regional a drenagem do Rio Purus apresenta-se segundo uma padrão dendrítico, este padrão é normalmente associado a rochas sedimentares com baixa declividade. Apresenta-se, a montante, alinhada lateralmente à estrutura elevada de destaque no relevo (Arco de Fitzcarraldo), sofrendo desta influência e em alguns trechos registra alteração em sua orientação regional principal (SW/NE) para S/N. No entanto, a rede de tributários da margem esquerda mostra nítidas mudanças de padrão de jusante para montante passando de um padrão dendrítico, para a um padrão entre o retangular e o anelar, em geral mais associados a terrenos controlados por falhas e domos ou altos estruturais, respectivamente. Em alguns trechos, na porção frontal da área de topografia acentuada (visivelmente destacada na porção central da Figura 4) percebem-se feições indicativas de captura fluvial iminente, logicamente que a ocorrer num horizonte de tempo compatível com a velocidade de soerguimento da crosta, em especial a advogada por Espurt et al. (2007 e Hampel (2002). O Rio Juruá, por sua vez apresenta um macro-padrão que também acompanha a estrutura do arco em seu curso superior de direção praticamente N45E. Porém no curso médio e daí para o curso inferior passa a uma direção praticamente para Norte. No entanto, não se observa nos seus tributários da margem direita, à semelhança dos tributários da margem esquerda do Rio Purus, a mesma intensidade de mudança de padrão em relação ao curso principal como indicativo de uma

suposta influência do arco tectônico. O que se percebe é uma alinhamento paralelo a dendrítico das drenagens dos tributários no curso superior da bacia. Figura 4. Regimes hidrológicos das estações estudadas. No eixo x têm-se os meses de janeiro a dezembro e no eixo y a variação das vazões. Notar diferença significativa na estação de Arumã (Rio Purus), na qual reflete influência do regime do Rio Solimões. Perfilagem longitudinal e transversal do relevo O resultado das perfilagens realizadas foram resumidos aqui nas Figuras 5 e 6. A Figura 5, mostra o resultado para os perfis 1, 2 e 3, longitudinais. No perfil 1 na porção central do arco, se percebe um ponto de máxima acima dos 500 metros de onde se desce abruptamente por mais de 500km em linha reta. A partir deste ponto a declividade se torna mais suave. O coeficiente a da equação da linha de tendência traçada indica uma declividade com uma taxa de -0,37. No entanto, os demais perfis, 2 e 3, apresentam-se muito semelhantes entre si, mais do que em relação ao perfil central, tanto na forma quanto na taxa de declividade (-0,32, para os perfis 2 e 3). A posição da concavidade mais pronunciada do perfil, que naquele de número 1 se dá por volta dos 260 km, em direção à foz das bacias estudadas, nos perfis 2 e 3 se dá por volta dos 400km. A partir dos 700km em relação ponto de partida dos 3 perfis se pode afirmar que os mesmos se harmonizam a apresentam praticamente a mesma declividade. Vale destacar que o perfil 3 na porção superior (até 200km) apresenta maior irregularidade, acima dos 300 metros de altura, que o perfil 2. No entanto, o que se tem é basicamente uma estrutura que já se pode dizer no mínimo semi-dômica, com arrefecimento na sua altitude no sentido SW/NE.

SEÇÕES SW-NE OBTIDAS COM DADOS SRTM NA AMAZÔNIA OCIDENTAL 600 Perfil longitudinal 1 y = -0,37x + 387,8 ALTURA (m) 450 300 Perfil longitudinal 2 y = -0,32x + 346,32 150 0 Perfil longitudinal 3 y = -0,32x + 324,85 0 250 500 750 1000 DISTÂNCIA (km) Figura 5. Perfis longitudinais 1, 2 e 3 com as respectivas linhas de tendência e equações lineares. Analisando-se os perfis transversais em escala regional se percebe que existem 3 domínios bem marcados quanto à variabilidade altimétrica. Um primeiro domínio marcado pela variação entre o perfil AA e o perfil BB, outro entre os perfis CC e EE e um terceiro entre FF até HH. Percebe-se também da referida figura que o curso superior do Rio Purus encontra-se em posição altimétrica mais elevada que o do Rio Juruá. Isso permite justificar a maior produção específica de sedimentos na porção superior do curso do Purus, do que na mesma porção relativa no curso superior do Juruá. Um estreitamento na distância lateral entre os dois cursos principais ocorre no nível do perfil EE, porém sendo mais larga a montante do que a jusante deste perfil. Percebe-se também que a variabilidade lateral em escala regional do curso do Rio Purus, aparenta ser menor que a do Rio Juruá. Ademais de tudo o que já foi observado, as elevações do relevo geral na porção superior da bacia do Rio Purus se apresentam mais acentuadas e distribuídas numa área maior do que na bacia do Rio Juruá. No entanto, a inclinação da vertente à direita da alta bacia do Rio Juruá (Domínios 1 e 2) é muito mais pronunciada que na Bacia do Rio Purus em mesma situação geográfica relativa, o que por si favorece a uma ação erosiva bem mais pronunciada naquele do que neste rio. Percebe-se nos domínios de relevo superiores, a existência de um jogo entre uma energia potencial maior lateralmente no Rio Juruá e uma energia potencial longitudinal maior no Rio Purus. Os dados de produção específica indicam uma aparente prevalência de uma maior energia de transporte do Rio Purus, longitudinalmente, em relação ao Rio Juruá. Porém, os dados do

balanço dos fluxos de QS associados aos resultados das análises dos perfis longitudinais e transversais, indicam que a alta declividade relativa das vertentes do Rio Juruá (margem direita), influenciada pela borda do alto estrutural, pode justificar a grande taxa de aumento de QS no último trecho de jusante deste rio, entre as estações de Eirunepé e Gavião. Outra possibilidade é contar com algum fenômeno causador de grande re-suspensão, o que pode ser estudado aumentando a freqüência amostral, bem como o número de estações de coleta. Figura 6. Os 8 perfis transversais de AA até HH com a posição do curso dos dois rios vista de forma simplificada de modo a possibilitar uma visão da distância lateral entre eles (pontilhado) Ainda em tempo, analisando-se os dados hidrológicos conjuntamente com os dados altimétricos, para o Rio Purus, percebe-se que longitudinalmente a energia potencial/cinética maior é traduzida por uma área maior da bacia e um fluxo tanto hídrico quanto sólido maior do que o encontrado no Rio Juruá. No entanto, a energia potencial/cinética lateral, em especial das vertentes da alta bacia do Rio Juruá apresenta-se mais importante no contexto geral comparativo, para justificar o antagonismo nos fluxo de MES refletido, sobretudo na porção mais a jusante das duas bacias (domínio 3). Os resultados aqui apresentados são uma primeira investida no tema. Têm portanto o caráter de uma análise preliminar. Mais ainda tem que ser feito, sobretudo trabalho de campo, e levantamento bibliográfico. Uma análise biogeográfica, geocronológica da área pode ajudar a entender a situação do alto estrutural e sua influência. Também será necessária uma análise mais profunda da bibliografia geológica com relação aos trabalhos de mapeamento realizados na região, marcada por alguns geólogos brasileiros como aparentemente contraditório em relação à existência do Arco de Fitzcarraldo (Edgardo Latrubesse, Inf. Pessoal).

SUMÁRIO Assim, diante do aqui observado, podemos dizer que: O presente estudo é uma iniciativa pioneira e preliminar quanto ao uso de dados de Q, MES e SRTM para análise das duas bacias em pauta no que diz respeito à elaboração de um quadro comparativo do ponto de vista hidrossedimentológico. Os dados estudados permitem elaborar um quadro comparativo (Figura 7) entre o funcionamento hidrológico dos Rios Purus e Juruá, na busca de justificar as diferenças em termos de fluxo de MES (QS) detectada a partir dos dados da Agência Nacional das Águas. Um comportamento antagônico entre as duas bacias, identificado ao se elaborar balanço dos fluxos sólidos e o cálculo de produção específica, aparenta estar relacionado à situação geográfica de uma estrutura aparentemente semi-dômica descrita por diferentes autores como um alto estrutural tectonicamente ativo desde o mioceno (Arco de Fitzcarraldo), conforme pode ser visto na figura 7. Os processos de erosão e o transporte efetivo de matéria em suspensão através dos Rios Purus e Juruá, aparentam forte relação com processos tectônicos impostos à geologia da região SW do estado do Amazonas e cortando o estado do Acre no sentido SW/NE, além de seus parâmetros hidrológicos. A resultante em termos de transporte efetivo apresenta maior eficiência para no Rio Purus que no Rio Juruá, apesar de este último apresentar uma forte produção em seu baixo curso. Figura 7. Quadro sumario elaborado a partir da analise dos dados utilizados, mostrando a possível área de influência de um alto estrutural (Arco de Fitzcarraldo). Trechos identificados

como zonas de produção ( ) e de sedimentação ( ), bem como a área mais provável ( ) para justificar o valor de +115%, no balanço de QS entre Eirunepé e Gavião. BIBLIOGRAFIA Allen, P. A 2008 From landscapes into geological history. Nature, Reprinted from Vol.451, no. 7176 (Supplement), pp. 274-276. Almeida-F o, R.; de Miranda, F.P. & Beisl, C.H. 2005 Indício de uma mega captura fluvial no R. Negro (Amazônia) revelado em modelo de digital de elevação - SRTM. In: Anais Cong. Bras. Sens. Remoto. Brasil DNAEE (Dep. Nacional de Águas e Energia Elétrica) 1970 Normas e recomendações hidrológicas. Anexo III Sedimentometria. Publ. MME-DNAEE, Brasília. Bravrad, J.P & Petit,F. 1997 Les cours d eau. Ed. Armand Colin.Paris. 222pp. Carvalho, N. O., Filizola, N., dos Santos, P.M.C. e Lima, J.E.F.W. 2000 Guia de práticas sedimentométricas. Ed. ANEEL, 154pp., Brasília Espurt, N., Baby, P., Brusset, S., Roddaz, M., Hermoza, Regard V., Antoine, P.-O., Salas- Gismondi, R., Bolaños, R.. 2007. Geology, v.35, no.6, pp.515-518. Filizola, N. & Guyot, J-L. 2009 Suspended sediment yields in the Amazon basin: an assessment using the Brazilian national data set. Hydrol. Process. 23, 3207 3215. DOI: 10.1002/hyp.7394. Filizola, N. 1999 Fluxo de sedimentos nos rios da Amazônia Brasileira Ed. ANEEL, 63 pp., Brasília. Filizola, N. 2003. Transfert sédimentaire actuel par les fleuves amazoniens. Thése, UPS, Toulouse III. 273pp. Filizola, N., Guyot, J.L, Molinier, M., Guimarães, V., de Oliveira, E., de Freitas, M.A. 2002 Caracterização hidrológica da Bacia Amazônica. In: Rivas, A. & Freitas, C.E. de C. Amazônia uma perspectiva interdisciplinar. Ed. EDUA, pp.33-53, Manaus, Brasil. Guy, H.P. & Norman, V.W. 1976 Field methods for measurement of fluvial sediment. In: Techniques of Water Resources Investigations of the U.S. Geological Survey, 3 rd. Ed. Chp.C2, Book 3, 59p., Denver. Hampel,A. 2002. The migration history of the Nazca Ridge along the Peruvian active margin: a re-evaluation. Earth Planet. Sci. Lett., 203, pp. 665-679. WMO 1994 Guide to hydrological practices. WMO Pub. No. 168, 5a. Ed. 735pp, Geneve. Yuqian, L. 1989 Manual on operational methods for the measurement of sediment transport, WMO Pub. No. 686, 169pp., Geneve.