FALANDO SOBRE CÂNCER DE MAMA

Documentos relacionados
SINTOMAS E SINAIS: DOR, NÓDULOS E SECREÇÕES

O que é câncer de mama?

FALANDO SOBRE CÂNCER DE MAMA

Apesar de ser um tumor maligno, é uma doença curável se descoberta a tempo, o que nem sempre é possível, pois o medo do diagnóstico é muito grande,

Descobrindo o valor da

ULTRA-SONOGRAFIA. Falando sobre câncer de mama

CANCER DE MAMA FERNANDO CAMILO MAGIONI ENFERMEIRO DO TRABALHO

OUTUBRO. um mes PARA RELEMBRAR A IMPORTANCIA DA. prevencao. COMPARTILHE ESSA IDEIA.

Câncer de Mama COMO SÃO AS MAMAS:

UNILAB no Outubro Rosa Essa luta também é nossa. CUIDAR DA SAÚDE É UM GESTO DE AMOR À VIDA. cosbem COORDENAÇÃO DE SAÚDE E BEM-ESTAR

Entenda o que é o câncer de mama e os métodos de prevenção. Fonte: Instituto Nacional de Câncer (Inca)

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

CÂNCER DE MAMA. O controle das mamas de seis em seis meses, com exames clínicos, é também muito importante.

CAPÍTULO 2 CÂNCER DE MAMA: AVALIAÇÃO INICIAL E ACOMPANHAMENTO. Ana Flavia Damasceno Luiz Gonzaga Porto. Introdução

O que é câncer de estômago?

Tratamento do câncer no SUS

Pode ser difícil para si compreender o seu relatório patológico. Pergunte ao seu médico todas as questões que tenha e esclareça todas as dúvidas.

A situação do câncer no Brasil 1

Histórico. O Outubro Rosaéum movimento popular dedicado a alertar as mulheres para a importância da prevenção e da detecção precoce do câncer de mama.

CÂNCER DE MAMA: é preciso falar disso. Ministério da Saúde Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva

OUTUBRO ROSA UMA CAMPANHA DE CONSCIENTIZAÇÃO DA SOFIS TECNOLOGIA

Cancro da Mama. Estrutura normal das mamas. O que é o Cancro da Mama

CÂNCER DE MAMA: é preciso falar disso. Ministério da Saúde Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva

CÂNCER DE MAMA: é preciso falar disso. Ministério da Saúde Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva

CÂNCER DE MAMA PREVENÇÃO TRATAMENTO - CURA Novas estratégias. Rossano Araújo

OUTUBRO ROSA REFORÇA A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE NA CURA DO CÂNCER DE MAMA

DIAGNÓSTICO MÉDICO DADOS EPIDEMIOLÓGICOS FATORES DE RISCO FATORES DE RISCO 01/05/2015

O que é o câncer de mama?

Azul. Novembro. cosbem. Mergulhe nessa onda! A cor da coragem é azul. Mês de Conscientização, Preveção e Combate ao Câncer De Próstata.

CAMPANHA PELA INCLUSÃO DA ANÁLISE MOLECULAR DO GENE RET EM PACIENTES COM CARCINOMA MEDULAR E SEUS FAMILIARES PELO SUS.

O Câncer de Próstata. O que é a Próstata

TÍTULO: "SE TOCA MULHER" CONHECIMENTO DAS UNIVERSITÁRIAS SOBRE O CÂNCER DE MAMA

ESTUDO: CONHECENDO AS MAMAS, EXAME DE MAMOGRAFIA Professora: Regiane M Siraqui

1. Da Comunicação de Segurança publicada pela Food and Drug Administration FDA.

Saúde Bucal no Programa de Saúde da Família De Nova Olímpia - MT. Importância da Campanha de. Nova Olímpia MT.

CANCER DE COLO DE UTERO FERNANDO CAMILO MAGIONI ENFERMEIRO DO TRABALHO

Arimide. Informações para pacientes com câncer de mama. Anastrozol

7ª série / 8º ano 2º bimestre U. E. 10

Qual é a função dos pulmões?

Citopatologia mamária. Histologia da mama feminina

Exames que geram dúvidas - o que fazer? SELMA DE PACE BAUAB

Câncer de Pulmão. Prof. Dr. Luis Carlos Losso Medicina Torácica Cremesp

Radiology: Volume 274: Number 2 February Amélia Estevão

Câncer. Claudia witzel

Diagnóstico do câncer de mama Resumo de diretriz NHG M07 (segunda revisão, novembro 2008)

PROGRAMA DE RASTREAMENTO DO CÂNCER DE MAMA EM MULHERES DA REGIÃO DO CARIRI OCIDENTAL, ESTADO DA PARAÍBA

Câncer de Tireóide. O segredo da cura é a eterna vigilância

- Ambulatório: Termo usado geralmente em regime de tratamentos não obriga a estar acamado ou em observação;

Núcleo Mama Porto Alegre (NMPOA) Estudo longitudinal de rastreamento e atenção organizada no diagnóstico e tratamento do câncer de mama

RELATÓRIO PARA A. SOCIEDADE informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS

Papilomavírus Humano HPV

Registro Hospitalar de Câncer de São Paulo:

Mas por que só pode entrar um espermatozóide no óvulo???

Experiência: VIGILÂNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE. Gerência de Regulação PROTOCOLO DE ACESSO A EXAMES/PROCEDIMENTOS AMBULATORIAIS ULTRASSONOGRAFIA MAMÁRIA

PATOLOGIA DA MAMA. Ana Cristina Araújo Lemos

vulva 0,9% ovário 5,1%

NOVEMBRO. NAO SE ESCONDA ATRaS DOS SEUS PRECONCEITOS CUIDAR DA SAUDE TAMBEM e COISA DE HOMEM

O QUE É? O NEUROBLASTOMA. Coluna Vertebral. Glândula supra-renal

Linfomas. Claudia witzel

MAMOPLASTIA REDUTORA E MASTOPEXIA

4 Encontro de Enfermagem Ginecológica do Estado do Rio de Janeiro

Enfermagem em Oncologia e Cuidados Paliativos

Diagnóstico do câncer

Por outro lado, na avaliação citológica e tecidual, o câncer tem seis fases, conhecidas por fases biológicas do câncer, conforme se segue:

CARCINOMA MAMÁRIO COM METÁSTASE PULMONAR EM FELINO RELATO DE CASO

Para compreender como os cistos se formam nos ovários é preciso conhecer um pouco sobre o ciclo menstrual da mulher.

Relato de Experiência. Projeto Reabilta-ação Fisioterapia Oncológica. PICIN, Celis i e COPETTI, Solange M. B. ii Faculdade de Pato Branco FADEP

Reabilitação Pós câncer de mama Assistência às mulheres mastectomizadas

O sistema TNM para a classificação dos tumores malignos foi desenvolvido por Pierre Denoix, na França, entre 1943 e 1952.

Cefaleia crónica diária

Programa de controle de CA de Mama

DIA MUNDIAL DO CÂNCER 08 DE ABRIL

Governador Geraldo Alckmin entrega o maior laboratório destinado a pesquisas sobre o câncer da América Latina

Porque se cuidar é coisa de homem. Saúde do homem

CHECK - LIST - ISO 9001:2000

COMPROMETIMENTO COM OS ANIMAIS, RESPEITO POR QUEM OS AMA.

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DA SAÚDE CESAU

Nota referente às unidades de dose registradas no prontuário eletrônico radiológico:

TOMOSSÍNTESE MAMÁRIA CASOS CLÍNICOS

5.1 Nome da iniciativa ou Projeto. Academia Popular da Pessoa idosa. 5.2 Caracterização da Situação Anterior

Tipos de Câncer. Saber identifi car sinais é essencial.

Principais formas de cancro na idade adulta

TÍTULO: UTILIZAÇÃO DA MAMOGRAFIA PARA O DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE MAMA MASCULINO

AJUSTE DO MODELO DE COX A DADOS DE CÂNCER DE MAMA

De Olho Na Mama. Campanha de Prevenção ao Câncer de Mama CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA INDÚSTRIA CNTI

Atuação da Acupuntura na dor articular decorrente do uso do inibidor de aromatase como parte do tratamento do câncer de mama

ACOMPANHAMENTO GERENCIAL SANKHYA

É por isso que um exame clínico anual das mamas, através de um médico, é obrigatório.

Tipos de tumores cerebrais

ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE BUCAL

Apresentação de Caso Clínico L.E.M.D.A.P.

COBERTURA DE MAMOGRAFIAS REALIZADAS NO MUNICÍPIO DE SOUSA PARAÍBA COM REGISTRO NO SISMAMA

Prof.: Luiz Fernando Alves de Castro

FÓRUM Câncer de Mama. Políticas Públicas: Tratamento e Apoio Dra. Nadiane Lemos SSM-DAS/SES-RS

Anatomia da mama Função biológica

4. Câncer no Estado do Paraná

Analisar a sobrevida em cinco anos de mulheres. que foram submetidas a tratamento cirúrgico, rgico, seguida de quimioterapia adjuvante.

Transcrição:

FALANDO SOBRE CÂNCER DE MAMA

2002 Ministério da Saúde Proibida a reprodução total ou parcial desta obra de qualquer forma ou meio eletrônico, mecânico, fotográfico, gravação ou qualquer outro, sem a permissão expressa do Instituto Nacional de Câncer/MS (Lei nº 5.988, de 14.12.73) Ministério da Saúde Secretaria de Assistência à Saúde Instituto Nacional de Câncer Tiragem desta edição: 30.000 exemplares Criação, redação e distribuição: Instituto Nacional de Câncer (INCA) Coordenação de Prevenção e Vigilância Conprev Rua dos Inválidos, 212 2º, 3º e 4º andares 20231 020 Rio de Janeiro RJ Tel.: (0XX21) 3970.7400 ramal 2047 Fax: (0XX21) 3070.7516 e-mail: conprev@inca.org.br FICHA CATALOGRÁFICA Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev). Rio de Janeiro: MS/INCA, 2002 66 págs. Ilustrações Inclui bibliografia 1. Câncer de mama 2. Risco 3. Prevenção 4. Diagnóstico ISBN 85.7318-050-1 CDD 616.9940.49

SUMÁRIO Apresentação... 5 Orientações úteis ao usuário... 7 Epidemiologia... 8 Fatores associados ao câncer de mama... 11 O que é câncer?... 12 O câncer de mama... 14 História natural do câncer de mama... 16 Anatomia da mama... 18 Fisiologia da mama... 20 Sintomas e sinais: dor, nódulos e secreções... 22 Identificando os nódulos benignos da mama... 24 Viva mulher uma resposta para o controle do câncer de mama... 26 Realizando a prevenção primária e identificando grupos de risco... 28 Realizando a detecção precoce... 30 Fases da abordagem do câncer de mama... 32 Anamnese... 34 Realizando o exame clínico da mama... 36 Como é o auto-exame da mama... 38 Mamografia... 40 Ultra-sonografia... 42 Biópsia confirmação do diagnóstico... 44 Estadiamento... 46 Informações gerais... 48 A cirurgia... 50 A radioterapia... 52 O tratamento sistêmico... 54 Seguimento... 56 Orientações pós dissecção-axilar... 58 Reconstrução mamária... 60 A vida após o tratamento do câncer de mama... 62 Leitura recomendada... 65

APRESENTAÇÃO O controle do câncer em nosso país representa, atualmente, um dos grandes desafios que a saúde pública enfrenta. O câncer é a segunda causa de morte por doença e demanda a realização de ações com variados graus de complexidade. O câncer de mama em mulheres teve um aumento considerável da taxa de mortalidade, entre 1979 e 1998, de 6,14 para 9,70 por 100 mil, e ocupa o primeiro lugar nas estimativas de incidência e mortalidade para o ano 2001. Esta tendência é semelhante a de países desenvolvidos, onde a urbanização levou ao aumento da prevalência de fatores de risco de câncer de mama, entre eles, a idade tardia à primeira gravidez. Nesses países, houve um aumento persistente na incidência do câncer de mama, acompanhado da redução da mortalidade na faixa etária maior que 50 anos, devido à garantia do acesso à assistência médicohospitalar e, provavelmente, à adoção de políticas de detecção precoce do tumor. Em alguns países em desenvolvimento ocorre o contrário, pois o aumento da incidência está acompanhado de um aumento da mortalidade atribuído, principalmente, a um retardamento de diagnóstico e terapêutica adequados. A elevada incidência e mortalidade por câncer de mama no Brasil justifica o planejamento de estratégias nacionais visando a sua detecção precoce. É, portanto, fundamental que haja mecanismos pelos quais indivíduos motivados a cuidar de sua saúde encontrem uma rede de serviços quantitativamente e qualitativamente capaz de suprir essa necessidade, em todo o território nacional. Torna-se necessário, para enfrentar tal desafio, a adoção de uma política que contemple, entre outras estratégias, a capacitação de recursos humanos para o diagnóstico precoce do câncer. A estruturação do Viva Mulher Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama prevê a formação de uma grande rede nacional, na qual o profissional de saúde, capacitado para a detecção, tem um papel fundamental. Esta publicação faz parte de um conjunto de materiais educativos elaborados para atender essa estratégia, sendo dirigida àqueles que, atuando no dia-a-dia do SUS, consolidarão a melhoria da qualidade do atendimento à mulher brasileira. JACOB KLIGERMAN Diretor-Geral do Instituto Nacional de Câncer Ministério da Saúde 5

ORIENTAÇÕES ÚTEIS AO USUÁRIO Esta publicação foi elaborada para profissionais de saúde e reúne informações sobre o câncer de mama, sua epidemiologia, fatores de risco e fatores protetores, mecanismos de formação, potenciais para sua detecção precoce (prevenção secundária) e bases para abordagens terapêuticas. Trata-se, na verdade, de um instrumento de apoio ao Viva Mulher - Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama, uma vez que visa facilitar o processo de socialização de informações estratégicas sobre a doença e, assim, dar visibilidade à dimensão do problema que o câncer de mama, em mulheres, representa para a saúde pública no País e o quanto se pode fazer para reverter a atual situação de morbidade e mortalidade pela doença. O profissional de saúde poderá utilizá-lo apresentando essas informações em todas as situações necessárias à sensibilização de grupos alvo, colaborando com o controle da doença no Brasil. Concebido sob a forma de uma seqüência de textos e imagens, onde o texto referencia a imagem apresentada na página contralateral correspondente, os palestrantes, ao usarem este material, têm toda a liberdade para apresentá-lo à sua própria maneira, podendo alternar sua seqüência ou lhe acrescentar imagens, além de suprimir ou condensar suas informações, de modo a mais bem adaptá-las às necessidades do grupo e da instituição aos quais se dirijam. As imagens podem ser usadas sob a forma de diapositivos (slides), transparências, álbum seriado ou de qualquer outro meio que seja conveniente ao apresentador. Caso o apresentador queira aprofundar-se mais em determinados aspectos dessas informações, poderá consultar a referência bibliográfica citada no rodapé da página ou as publicações recomendadas no final do livrete. De forma alguma este manual pretende esgotar o tema, sugerindo-se ao leitor que busque informações adicionais na extensa bibliografia científica disponível. 7

EPIDEMIOLOGIA Taxas brutas de mortalidade por câncer de mama feminino - Brasil, entre 1979 e 1998 8

No Brasil, o câncer de mama é o mais freqüente em incidência e mortalidade no sexo feminino, apresentando curva ascendente a partir dos 25 anos de idade e concentrando a maioria dos casos entre os 45 e 50 anos. Representa, aproximadamente, 20% do total de casos diagnosticados e 15%, em média, das mortes por câncer. É mais comum em mulheres de classe social elevada e entre aquelas que vivem nas grandes cidades do que naquelas que vivem no campo. INCIDÊNCIA As taxas de incidência variam por área geográfica, observando-se as mais baixas em partes da China, Japão e Índia, taxas intermediárias na América do Sul, Caribe e Europa Oriental e as mais altas na Europa Ocidental. Nos últimos anos tem havido um aumento rápido na taxa de incidência, principalmente na Ásia e em países da Europa Central. As variações geográficas observadas dentro do Brasil, com as taxas em áreas urbanas geralmente excedendo aquelas observadas em áreas rurais, corroboram as tendências internacionais. MORTALIDADE As taxas de mortalidade por câncer de mama também variam de acordo com a área geográfica. Países com baixas taxas incluem México, Costa Rica, Chile, Hong Kong e Cingapura; e as taxas mais elevadas são registradas nos Países Baixos, Dinamarca, Escócia, Irlanda e Nova Zelândia (1983-1987). Desde 1973, as taxas de mortalidade têm permanecido relativamente estáveis em países com altas taxas, enquanto aumentos vêm acontecendo em muitos dos países que apresentavam, tradicionalmente, baixas taxas. A análise das tendências nas taxas de mortalidade por câncer de mama observadas no Brasil, apontam para um aumento progressivo, considerável, observando-se de 1979 a 1998, uma variação de 6,14/100.000 a 9,70/100.000 na taxa de mortalidade. É a partir da idade de 50 anos que a mortalidade por câncer de mama vem crescendo no País, sendo que em faixas etárias mais precoces a mortalidade permanece estável nos últimos 20 anos. Estima-se que o câncer de mama se manterá como a primeira causa de morte por câncer no Brasil. FONTE MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estimativa da incidência e mortalidade por câncer no Brasil. Rio de Janeiro, Secretaria Nacional de Assistência à Saúde, Instituto Nacional de Câncer. 2001. INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER. Cancer Incidence in Five Continents, Editores C. Muir, J. Waterhouse e T. Mack (IARC Scientific Publication 88). 1987. 9

FATORES PROTETORES E FATORES DE RISCO 10

FATORES ASSOCIADOS AO CÂNCER DE MAMA Os principais fatores associados a um risco aumentado de desenvolver câncer de mama são: sexo feminino, menarca precoce (antes dos 11 anos), menopausa tardia (após os 55 anos), nuliparidade, primeira gestação a termo após os 30 anos, ciclos menstruais menores que 21 dias, mãe ou irmã com história de câncer de mama, na pré-menopausa, dieta rica em gordura animal, dieta pobre em fibras, obesidade (principalmente após a menopausa), radiações ionizantes, etilismo, padrão socioeconômico elevado, ausência de atividade sexual, residência em área urbana e cor branca. Por outro lado, os principais fatores associados a um risco diminuído de desenvolver câncer de mama são: sexo masculino, menarca após os 14 anos, menopausa antes dos 45 anos, primeira gestação a termo e amamentação precoces (idade inferior a 30 anos), atividade física regular e hábitos alimentares saudáveis (baixo teor de gordura, sal e açúcar; aumento no teor de grãos integrais, tubérculos, vegetais e frutas). Portanto, a adoção de hábitos saudáveis de vida aliada às estratégias para a detecção precoce do câncer devem ser incentivadas, pois o tumor maligno da mama, quando diagnosticado precocemente, é passível de cura na grande maioria dos casos. A MULHER COM SITUAÇÃO DE ALTO RISCO É considerada mulher com situação de alto risco aquela com história familiar de câncer de mama em ascendentes ou parentes diretos (mãe ou irmã) na pré-menopausa; ou aquela que teve diagnóstico prévio de hiperplasia atípica ou neoplasia lobular in situ; ou ainda câncer de mama prévio. Recomenda-se, nessa situação, a realização do auto-exame mensal e o exame clínico semestral ou anual. O exame radiológico (mamografia) deve ser feito anualmente, a partir dos 40 anos de idade, independente do exame clínico ou do auto-exame estarem normais. FONTE BLAND KIRBY, Y, COPELAND, E M. The Breast, Comprehensive management of benign and malignant diseases, WB Saunders Company. 1998. BARROS, ACSD, NAZÁRIO, AC, DIAS, EN, SILVA, HMS, FIGUEIRA F., ASS. Mastologia: Condutas. Editora Revinter. 1998. DIAS, E N, CALEFFI, M, SILVA, HMS. Mastologia Atual. Rio de Janeiro, Editora Revinter. 1994. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Falando sobre câncer. 2 ed., Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Câncer, Coordenação Nacional de Controle do Tabagismo e Prevenção Primária de Câncer (Contapp). 1997. 11

O QUE É CÂNCER? 12

Os seres vivos são feitos de unidades microscópicas chamadas células. Grupos de células formam tecidos que por sua vez constituem orgãos. O câncer é caracterizado por alterações que determinam um crescimento celular desordenado comprometendo tecidos e orgãos. Se o câncer se inicia em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, ele é chamado carcinoma. Se começa em tecidos conjuntivos, como o tecido de sustentação da mama, é chamado sarcoma. As células são constituidas de três partes: membrana celular, a parte mais externa; o citoplasma, que é o corpo da célula; e núcleo, sua parte mais interna, onde estão os cromossomas. Estes são compostos de unidades menores chamadas genes, por sua vez formados pelo ácido desóxirribonucleico, o DNA. É através do DNA que os cromossomas passam todas as informações relativas a organização, forma, atividade e reprodução celular. Podem ocorrer alterações nos genes que passam a receber informações erradas para suas atividades. Essas alterações podem ocorrer em genes especiais, chamados protooncogenes, inativos em células normais, transformando-os em oncogenes, responsáveis pela cancerização de células normais. As células cancerizadas multiplicam-se de maneira descontrolada, acumulam-se formando tumor, e invadem o tecido vizinho; adquirem capacidade de se desprender do tumor e migrar, chegando a orgãos distantes, constituindo as metástases; perdem sua função especializada e, a medida que substituem as células normais, comprometem a função do órgão afetado. O processo de carcinogênese, ou seja, de formação de câncer, é em geral lento, podendo levar vários anos para que uma célula prolifere e dê origem a um tumor palpável. Esse processo é composto de vários estágios, quais sejam: estágio de iniciação, onde os genes sofrem ação de fatores cancerígenos; estágio de promoção, onde os agentes oncopromotores atuam na célula já alterada; e estágio de progressão, caracterizada pela multiplicação descontrolada e irreversível da célula. FONTE MINISTÉRIO DA SAÚDE. Falando sobre câncer. 2 ed., Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Câncer, Coordenação Nacional de Controle do Tabagismo e Prevenção Primária de Câncer (Contapp). 1997. 13

O CÂNCER DE MAMA 14

O tempo médio para ocorrer a duplicação celular, no câncer de mama, é de 100 dias. O tumor pode ser palpável quando atinge 1 centímetro de diâmetro. Uma esfera de 1cm contém aproximadamente 1 bilhão de células que é o resultado de 30 duplicações celulares. Portanto, uma célula maligna levará 10 anos para se tornar um tumor de 1cm. Oitenta porcento dos cânceres se manifestam como um tumor indolor. Apenas 10% das pacientes queixam-se de dor, sem a percepção do tumor. No caso dos tumores clinicamente palpáveis, a paciente será inicialmente submetida à mamografia. A seguir, a punção aspirativa por agulha fina ou a punção por agulha grossa (core biopsy) devem ser realizadas, a fim de melhor orientar a condução dos exames e programação cirúrgica a que será submetida a paciente. A punção por agulha grossa dá diagnóstico histológico e, portanto definitivo, da lesão. SITUAÇÕES ESPECIAIS Carcinoma ductal in situ O carcinoma in situ é aquele que não invadiu a membrana basal e, portanto, não tem capacidade de enviar êmbolos para o sistema vascular. É um tumor quase sempre descoberto em fase subclínica, por meio de mamografia, através da presença de microcalcificações. O seu tratamento atinge índice de curabilidade próximo de 100% e é baseado em quadrantectomia ou mastectomia, dependendo da extensão do próprio tumor. Sarcomas Os sarcomas originam-se do tecido conjuntivo que existe nos septos do tecido glandular. São raros e se disseminam pela corrente sangüínea. Podem crescer rapidamente e atingir grandes volumes locais sem ulcerações. Seu tratamento é cirúrgico, com a retirada total da mama. Carcinoma de Paget Essa é uma lesão especial que, freqüentemente, se manifesta como dermatite eczematóide unilateral da papila mamária, por isto ela deve sempre merecer um certo grau de suspeição e requer biópsia. Carcinoma inflamatório O carcinoma inflamatório é uma forma especial de tumor caracterizada pelo comprometimento difuso da mama, que adquire características de inflamação. Ao microscópio, observa-se a presença de êmbolos subdérmicos maciços. Clinicamente, a pele apresenta calor, rubor e edema, lembrando a casca de uma laranja. Trata-se de um tumor agressivo, fundamentalmente tratado pela quimioterapia. FONTE BONADONNA, G, HORTOBAGYI, G, GIANNI, A. Textbook of breast cancer. A Clinical guide to therapy. Mosby. 1997. 15

A HISTÓRIA NATURAL DO CÂNCER DE MAMA 16

A história natural do tumor deve ser entendida como a sua evolução se não for adotada nenhuma medida de tratamento. Desde o início da formação do câncer até a fase em que ele pode ser descoberto pelo exame físico (tumor subclínico) - isto é, a partir de 1 cm de diâmetro - passam-se, em média,10 anos. Estima-se que o tumor de mama duplique de tamanho a cada período de 3-4 meses. No início da fase subclínica (impalpável), tem-se a impressão de crescimento lento, porque as dimensões das células são mínimas. Porém, depois que o tumor se torna palpável, a duplicação é facilmente perceptível. Se não for tratado, o tumor desenvolve metástases (focos de tumor em outros órgãos), mais comumente nos ossos, pulmões e fígado. Em 3-4 anos do descobrimento do tumor pela palpação, ocorre o óbito. FONTE BARROS, ACSD, NAZÁRIO, AC, DIAS, EN, SILVA, HMS, FIGUEIRA F., ASS. Mastologia: Condutas. Editora Revinter. 1998. BLAND KIRBY, Y, COPELAND, EM. The Breast, Comprehensive management of benign and malignant diseases, WB Saunders Company. 1998. 17

ANATOMIA DA MAMA 18

As mamas são órgãos pares, situadas na parede anterior do tórax, sobre os músculos Grande Peitoral. Externamente, cada mama, na sua região central, apresenta uma aréola e uma papila. Na papila mamária exteriorizam-se 15 a 20 orifícios ductais, que correspondem às vias de drenagem das unidades funcionantes, que são os lobos mamários. A mama é dividida em 15 a 20 lobos mamários independentes, separados por tecido fibroso, de forma que cada um tem a sua via de drenagem, que converge para a papila, através do sistema ductal. ÁCINO porção terminal da árvore mamária, onde estão as células secretoras que produzem o leite. LÓBULO MAMÁRIO conjunto de ácinos. LOBO MAMÁRIO - unidade de funcionamento formada por um conjunto de lóbulos (15-20) que se liga à papila por meio de um ducto lactífero. DUCTO LACTÍFERO sistema de canais (15-20) que conduz o leite até a papila, o qual se exterioriza através do orifício ductal. PAPILA protuberância composta de fibras musculares elásticas onde desembocam os ductos lactíferos. ARÉOLA estrutura central da mama onde se projeta a papila. TECIDO ADIPOSO todo o restante da mama é preenchido por tecido adiposo ou gorduroso, cuja quantidade varia com as características físicas, estado nutricional e idade da mulher. LIGAMENTOS DE COOPER - responsáveis pela retração cutânea nos casos de câncer de mama, são expansões fibrosas que se projetam na glândula mamária. As mulheres mais jovens apresentam mamas com maior quantidade de tecido glandular, o que torna esses órgãos mais densos e firmes. Ao se aproximar da menopausa, o tecido mamário vai se atrofiando e sendo substituído progressivamente por tecido gorduroso, até se constituir, quase que exclusivamente, de gordura e resquícios de tecido glandular na fase pós-menopausa. Têm como função principal a produção do leite para a amamentação, mas têm também grande importância psicológica para a mulher, representando papel fundamental na constituição de sua auto-estima e auto-imagem. Embelezam a silhueta do corpo feminino e desempenham também função erógena e de atração sexual. FONTE FRANCO, JM. Mastologia, Formação do Especialista. Rio de Janeiro-Editora Ateneu. 1997. HARRIS, JR, Lippman, ME, Morrow, M, Helman, S. Diseases of the Breast. Philadelphia, Lippincott-Raven Publishers. 1996. 19

FISIOLOGIA DA MAMA 20

Na infância, as meninas apresentam discreta elevação na região mamária, decorrente da presença de tecido mamário rudimentar. Na puberdade, a hipófise, uma glândula localizada no cérebro, produz os hormônios folículo-estimulante e luteinizante, que controlam a produção hormonal de estrogênios pelos ovários. Com isso, as mamas iniciam seu desenvolvimento com a multiplicação dos ácinos e lóbulos. A progesterona que passa a ser produzida quando os ciclos menstruais tornam-se ovulatórios, depende da atuação prévia do estrogênio, é diferenciadora da árvore ducto-lobular mamária. Na vida adulta, o estimulo cíclico de estrogênios e progesterona fazem com que as mamas fiquem mais túrgidas no período pré-menstrual, por retenção de líquido. A ação da progesterona, na segunda fase do ciclo, leva a uma retenção de líquidos no organismo, mais acentuadamente nas mamas, provocando nelas aumento de volume, endurecimento e dor. Depois da menopausa, devido à carência hormonal, ocorre atrofia glandular e tendência à substituição do tecido parenquimatoso por gordura. No período da gestação, o estímulo de estrogênio e progesterona (hormônios esteróides) é máximo, devido à sua produção pela placenta, mas outros hormônios também se elevam na gestação, sem os quais não seria possível a lactação. São eles: prolactina, hormônios da tireóide, corticosteróides e lactogênio placentário. A plenitude funcional das mamas ocorre na amamentação, com a produção e saída do leite. A ejeção do leite, no momento das mamadas, é reflexo basicamente da contração das células mioepiteliais, que circundam os ácinos, estimuladas pela liberação de um outro hormônio, a ocitocina, que é produzido na hipófise posterior ou neuro-hipófise. A mulher que não amamenta jamais atinge a maturidade funcional da mama. FONTE FRANCO, JM. Mastologia, Formação do Especialista. Rio de Janeiro-Editora Ateneu. 1997. HARRIS, JR, Lippman, ME, Morrow, M, Helman, S. Diseases of the Breast. Philadelphia, Lippincott-Raven Publishers. 1996. 21

SINTOMAS E SINAIS: DOR, NÓDULOS E SECREÇÕES 22

O sintoma da dor mamária é o mais freqüentemente referido pelas mulheres (mais de 60%), que a associam com uma irreal propensão ao aparecimento de tumor. A causa mais freqüente de dor mamária é a alteração funcional benigna da mama (AFBM), antes conhecida como displasia mamária. A dor é cíclica e depende da ação dos hormônios ovarianos sobre a mama, tornando-a túrgida e dolorida, principalmente no período pré-menstrual. A mulher que tem muitas gestações e amamentações, em geral, não refere dor mamária. Os traumas, infecções, neurites, inflamações nos arcos costais e stress são outras causas de dor, que pode ser agravada pela ingestão exagerada de cafeína (coca-cola, chocolate, café). A AFBM não é considerada doença e não aumenta o risco das mulheres para desenvolver câncer no futuro. A descarga papilar é de importância em relação ao câncer de mama apenas quando abundante, de aspecto cristalino ou sanguinolento, unilateral, exteriorizando-se por um único ducto. O líquido deve ser submetido ao exame citológico na busca de células cancerosas e aquele setor da mama merece investigação cirúrgica. O nódulo mamário (tumor) é uma área definida, de consistência variada, de limites precisos ou não, que pode ser a manifestação de um simples cisto - tumor de conteúdo líquido - ou sólido, benigno ou maligno. A importância do tumor varia de acordo com sua natureza que deve portanto ser esclarecida inicialmente através do exame clínico, a seguir com recurso de imagem, seja ultra-sonografia e/ou mamografia e ainda por meio de procedimentos ambulatoriais, quais sejam, a punção aspirativa por agulha fina (exame citológico) e a punção por agulha grossa ou core-biopsia (exame histopatológico). O nódulo sólido benigno mais freqüente é o fibroadenoma, que apresenta consistência dura e elástica, superfície lobulada, em geral é único e ocorre em mulheres jovens. O câncer de mama apresenta-se como um tumor de consistência dura, de limites mal definidos, de tamanho que pode variar de 1 até vários centímetros de diâmetro, de acordo com o tempo de evolução. O tumor menor que 1cm dificilmente será detectado clinicamente. Pode estar com a mobilidade preservada ou aderido à pele, ao gradil costal ou a ambos. A pele que recobre a mama pode estar íntegra, ulcerada pelo tumor ou apresentar-se como uma casca de laranja. FONTE BARROS, ACSD, NAZÁRIO, AC, DIAS, EN, SILVA, HMS, FIGUEIRA F., ASS. Mastologia: Condutas. Editora Revinter. 1998. FRANCO, JM. Mastologia, Formação do Especialista. Rio de Janeiro, Editora Atheneu. 1997. 23

IDENTIFICANDO NÓDULOS BENIGNOS DA MAMA 24

Existem muitos tipos de nódulos de mama que são de natureza benigna. Os mais comuns são os fibroadenomas e os cistos. O fibroadenoma apresenta-se como um nódulo duro e elástico, sólido, não doloroso, móvel à palpação, de limites precisos e mede de 1 a 3 cm. Surge quase sempre na mulher jovem, entre 15 e 30 anos. Trata-se de uma lesão sem potencial de malignização. Certos tipos de câncer, chamados tumores circunscritos, podem simular um fibroadenoma sendo, portanto, prudente que os fibroadenomas sejam submetidos à confirmação histopatológica. Os cistos são tumores de conteúdo líquido, facilmente palpados, de consistência amolecida e podem atingir grande volumes. Existem cistos pequenos, chamados microcistos, que não são palpáveis e que são detectados pela ultra-sonografia. Quase sempre são múltiplos, não representam problema clínico e não precisam receber qualquer atenção específica. Alguns tipos de cistos grandes podem exibir crescimento tumoral no seu interior lembrando uma vegetação em desenvolvimento. Estas vegetações intra-císticas merecem investigação, pois podem representar lesões pré-malignas ou malignas. O cisto exibe-se bem à mamografia e à ultra-sonografia como nódulo de contornos bem definidos e sem calcificações. A ultra-sonografia é o método diagnóstico ideal da doença cística. O tratamento do cisto é a punção aspirativa esvaziadora com agulha. Ele deve ser extraído cirurgicamente nos casos de conteúdo sanguinolento à punção, persistência de tumor após punção, vegetação intra-cística ao ultra-som ou em casos de reaparecimento do cisto no local já puncionado (recidiva). FONTE BARROS, ACSD, NAZÁRIO, AC, DIAS, EN, SILVA, HMS, FIGUEIRA F., ASS. Mastologia: Condutas. Editora Revinter. 1998. DIAS, EN, CALEFFI, M, SILVA, HMS. Mastologia Atual. Rio de Janeiro, Editora Revinter. 1994. 25

VIVA MULHER PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO E DE MAMA DIRETRIZES ESTRATÉGIAS 1 articular e integrar uma rede nacional consolidar uma base geopolítica gerencial do Programa 2 motivar a mulher a cuidar da sua saúde articular uma rede de comunicação com a mulher 3 reduzir a desigualdade de acesso da mulher à rede de saúde redimensionar a oferta real de tecnologia para detecção, diagnóstico e tratamento 4 melhorar a qualidade do atendimento à mulher informar, capacitar e atualizar recursos humanos e disponibilizar recursos materiais 5 aumentar a eficiência da rede de controle do câncer criar um plano de vigilância e avaliação 26

O controle do câncer de mama no Brasil representa, atualmente, um dos grandes desafios para a saúde pública. O diagnóstico tardio da doença e a não identificação de mulheres com situação de alto risco apontam para a necessidade de um programa que estimule o diagnóstico precoce da doença. Por outro lado, a desigualdade de acesso à oferta de tecnologia na atenção ao câncer de mama e de seu diagnóstico precoce, mostra a necessidade do conhecimento e redimensionamento da oferta real de mamógrafos, bem como de sua capacidade de realização de exames, o mesmo podendo ser dito em relação à rede de diagnóstico, tratamento e reabilitação. O cadastramento dos profissionais envolvidos na rede, sua capacitação, bem como a normalização, uniformização de procedimentos e controle de qualidade constituem-se ações prioritárias. Estas, incorporadas aos procedimentos referentes à atenção do câncer de mama, certamente, promoverão mudanças favoráveis no diagnóstico precoce, tratamento e reabilitação. O Viva Mulher Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama tem, portanto, como objetivo, reduzir a mortalidade e as repercussões físicas, psíquicas e sociais desses cânceres na mulher brasileira, por meio da oferta de serviços para prevenção e detecção em estágios iniciais da doença e do tratamento e reabilitação das mulheres. Desta forma, as diretrizes e estratégias traçadas para o Programa contemplam a formação de uma rede nacional integrada, com base em um núcleo geopolítico gerencial, sediado no município, que permitirá ampliar o acesso da mulher aos serviços de saúde. Além disso, a capacitação de recursos humanos e a motivação da mulher para cuidar da sua saúde fortalecerão e aumentarão a eficiência da rede formada para o controle do câncer. Suas estratégias de implantação prevêem a resolução das necessidades constantes nas seguintes diretrizes: articular e integrar uma rede nacional; motivar a mulher a cuidar da sua saúde; reduzir a desigualdade de acesso da mulher à rede de saúde; melhorar a qualidade do atendimento à mulher; aumentar a eficiência da rede de controle do câncer. FONTE MINISTÉRIO DA SAÚDE. Implantando o Viva Mulher - Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama, Rio de Janeiro - Instituto Nacional de Câncer, Coordenação de Prevenção e Vigilância - Conprev (no prelo). 2001. 27

REALIZANDO A PREVENÇÃO PRIMÁRIA E IDENTIFICANDO GRUPOS DE RISCO 28

A Organização Mundial da Saúde recomenda o estímulo de hábitos alimentares saudáveis (baixo teor de gordura, sal e açúcar e o aumento de grãos integrais, tubérculos, vegetais e frutas) como uma medida importante de prevenção primária de câncer. A atividade física regular e a manutenção do Índice de Massa Corporal abaixo de 30, preferencialmente entre 18,5 e 25, também constituem importantes fatores de proteção e devem ser adotados pelo indivíduo e estimulados nas rotinas de consulta dos profissionais de saúde e nas ações de comunicação social públicas. Por outro lado, o consumo de bebidas alcoólicas (mais do que 1 drink para as mulheres e 2 drinks para os homens, por dia), também contribui para um significativo aumento no risco de aparecimento de câncer e deve ser desestimulado nas populações. Vale mencionar que o conhecimento científico atual aponta para o uso de fármacos, como o tamoxifeno, em mulheres com situação de alto risco, ou seja, com mãe ou irmã com câncer de mama na pré-menopausa ou com antecedente pessoal de hiperplasia atípica ou neoplasia lobular in situ detectada em biópsia prévia. FONTE WORLD CANCER RESEARCH FUND/AMERICAN INSTITUTE FOR CANCER RESEARCH. Food, Nutrition and the Prevention of Cancer: a global perspective. Washington, D.C. 1997. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Manual on the Prevention and Control of Common Cancers, Geneva, Switzerland. 1998. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Falando sobre câncer. 2 ed., Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Câncer, Coordenação Nacional de Controle do Tabagismo e Prevenção Primária de Câncer (Contapp). 1997. 29