MODA E SUSTENTABILIDADE: DESENVOLVIMENTO DE UMA COLEÇÃO DE BOLSAS A PARTIR DE RESÍDUOS TÊXTEIS

Documentos relacionados
Logística e Distribuição. Conceito

COLEÇÃO DE MODA UPCYCLING EM ESCALA A PARTIR DO DESCARTE DE CAMISAS

ECOBAGS: REUTILIZAÇÃO DE BANNERS NA PRODUÇÃO DE BOLSAS

SUSTENTABILIDADE E VALORIZAÇÃO DO ARTESANATO: COLEÇÃO MÃOS QUE CONSTROEM

Curso Técnico em Vestuário MATRIZ CURRICULAR Nº. Redação Técnica e Metodologia Científica

REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS TÊXTEIS: ESTUDO DE CASO DE DUAS EMPRESAS DE LONDRINA

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ALIADA À INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO RESUMO

Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda

Upcycling no Segmento da Moda: Estudo de Caso na Recollection Lab. LUCIETTI, T. J.; RAMOS, M. D. S.; SORATTO, R. B. TRIERWEILLER, A. C.

RESÍDUOS SÓLIDOS: pesquisa sobre reciclagem com servidores administrativos de uma Instituição de Ensino Tecnológico RESUMO

Perspectiva do CICLO DE VIDA. do produto

A logística reversa dolixo eletrônico: Diferencial econômico e ambiental.

O papel do designer de moda no desenvolvimento de produto e suas formas de gestão de redução de resíduos têxteis

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DO DESIGN EM UMA INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO.

ESTUDO DOS MÉTODOS DE PROJETO E DA GESTÃO DE DESIGN COM FOCO EM MODA

TINGIMENTO NATURAL: UMA ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL

PMAS - Pense no Meio Ambiente Sirtec Tema: GESTÃO DE RESÍDUOS

MAPEAMENTO LOGÍSTICO DO PROCESSO DE DESCARTE DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NO SETOR SUL DA CIDADE DE BOTUCATU 1 INTRODUÇÃO

RESÍDUOS SÓLIDOS. Introdução

ESCOLA ESTADUAL EDGAR BARBOSA OFICINA: QUÍMICA AMBIENTAL E RECICLAGEM NATAL/RN 2013

Todos os Cursos. Nome do curso Tipo de curso Carga horária Descrição

GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS EVOLUÇÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS: LOGÍSTICA REVERSA

GESTÃO DE RESÍDUOS TÊXTEIS: CUSTOS E OPORTUNIDADES

AVALIAÇÃO DA USINA DE TRIAGEM E COMPOSTAGEM DA CIDADE DE PARAISÓPOLIS - MINAS GERAIS

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO. Missão. Objetivo Geral

IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS TÊXTEIS

32ª COORDENADORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO INSTITUTO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO PROFESSOR OSMAR POPPE ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO EIXO TEMÁTICO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Oi, Ficou curioso? Então conheça nosso universo.

Apresentação dos Indicadores de Desempenho Ambiental

IMPORTÂNCIA DA RECICLAGEM E DO REAPROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NA INDÚSTRIA TÊXTIL EM INHUMAS GOIÁS

ABORDAGEM PRÁTICA SOBRE DESCARTE DE RESÍDUOS TÊXTEIS EM INDÚSTRIAS DE CONFECÇÃO

nº 09/2017 PMAS - Pense no Meio Ambiente SIRTEC Tema: GESTÃO DE RESÍDUOS RECICLÁVEIS

Resíduos Eletroeletrônicos Consumo (In) Consciente

Logística Reversa, Economia Circular e Empresas B

Programa de Pós-Graduação em Têxtil e Moda

UNIRESIDUOS: GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA UNIVIÇOSA UNIDADE 2

Novas Aquisições. JONES, Sue Jenkyn. Fashion design: manual do estilista. 3. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

OS IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELAS INDÚSTRIAS DE VESTUÁRIO E AS POSSIBILIDADES DE SUSTENTABILIDADE POR MEIO DA TÉCNICA DE UPCYCLING

A Empresa. da sociedade. aos clientes e promovendo um aumento do bem estar

CONSUMO URBANO E O DESCARTE FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

MANIFESTO DO DESIGN NA ECONOMIA CIRCULAR

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ DALGLISH GOMES REUTILIZAÇÃO DE GARRAFAS PET

A IMPORTÂNCIA DA PEÇA PILOTO PARA A MODELAGEM DO VESTUÁRIO

A IMPORTÂNCIA DE IMAGENS AUDIOVISUAIS PARA A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE ECONOMIA DOMÉSTICA

Ementário do Curso de Design de Moda - Matriz

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO. Missão. Objetivo Geral

PROCESSO DE FUSÃO COMO TÉCNICA DE REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS TÊXTEIS SINTÉTICOS

Valoração da Reciclagem dos Resíduos Plásticos na Economia das Empresas

Inovar está na moda. Soluções Sebraetec para a Indústria de Moda

ESTUDO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA CASA CONSTRUÍDA COM GARRAFAS PETS

DESIGN. para. Empresas de Pequeno Porte

DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO DE MODA: multifuncionalidade no vestuário feminino.

Plano de Trabalho Docente

Ficar de olho no papel que usamos faz toda a diferença

BIOTECNOLOGIA AMBIENTAL

A importância do descarte correto de EPI s

O ILOG conta com a participação de Empresas, Cooperativas, Associações e Sindicatos, que juntas representam mais de 400 empresas, comprometidas com a

Sustentabilidade. Portaria STJ nº 293 de 31 de maio de 2012 (Dispõe sobre a política de sustentabilidade no Superior Tribunal de Justiça)

Desafios / Oportunidades

IV CONCLUSÃO. 1. Conclusões Gerais

Logística E gerenciamento da cadeia de abastecimento

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO. Missão

Todo projeto que promete mudanças deve, afinal, comunicar-se de uma maneira eficiente com seu público. E todo projeto sustentável deve tornar clara a

UMA ANALISE DO POTENCIAL DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS HOSPITALARES DE UMA UNIDADE DE SAÚDE

Líder: Ana Carolina Freire RA: Organizador: Vanessa Rocha RA:

ATENÇÃO. Apresentação

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PROMOVENDO A SUSTENTABILIDADE POR MEIO DA RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS

GESTÃO DE RESÍDUOS TÊXTEIS NO SETOR DE CONFECÇÃO DE MODA DA REGIÃO DE LONDRINA

DOSSIÊ DE SUSTENTABILIDADE

A GESTÃO DE RESÍDUOS E O BENEFICIAMENTO DE ARROZ 1

Todos os Cursos Nome do curso Tipo de curso Carga horária Descrição

REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: ARTESANATOS PRODUZIDOS PELOS ALUNOS DA UNIVERSIDADE DA MELHOR IDADE

Eco-desire: redução do impacto ambiental no projeto de coleção de lingerie através de modificação na modelagem.

Projeto Pedagógico do Curso. de Formação Inicial e Continuada (FIC) em. Costura Básica. Modalidade: presencial

ANÁLISE DO CICLO DE VIDA

Plano de Trabalho Docente

REPROCESSAMENTO DO ÓLEO DE COZINHA USADO

Sacolas Bioplásticas e a Coleta Seletiva da cidade de São Paulo

O uso de recursos da natureza. Profª. Ms. Fabiana Chinalia FACULDADES COC 10 e 11 de novembro

MODA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: COLEÇÃO CÁPSULA INCLUSIVA 1 FASHION AND RESPONSABILITY SOCIO-ENVIRONMENTAL: INCLUSIVE CAPSULE COLLECTION

AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DO PRODUTO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA CAMPUS SÃO GABRIEL

Manual Coleta Seletiva DGA. Diretoria de Gestão Ambiental

ANÁLISE DO BENEFICIAMENTO DE ROCHAS ORNAMENTAIS NA CIDADE DE MONTEIRO-PB

A CONSIDERAÇÃO DO USUÁRIO EM PESQUISAS ACADÊMICAS SOBRE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO

RESÍDUOS ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM COM ÊNFASE NA FEIRA DO PRODUTOR RURAL (MERCADÃO 2000)

Horta na Escola E.E WASHINGTON LUÍS

DESENVOLVIMENTO DO FIO DE FIBRA DE BANANEIRA

Plano de Trabalho Docente

OUTROS TERRITÓRIOS OFICINA O CASACO DE MARX

09 OUT - 14H00 16H00 ECODESIGN: EMPREENDEDORISMO AMIGO DO AMBIENTE

DIAGNÓSTICO DA DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NO ESTADO DA PARAÍBA

Consumo sustentável e a implantação da logística reversa de embalagens em geral. XI SEMINÁRIO ABES Brasília, agosto de 2014 Patrícia Iglecias

PRÁTICAS DE DESCARTES DAS EMBALAGENS DO SETOR VAREJISTA DE RONDONÓPOLIS

Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil: Situação e Perspectivas. Carlos R V Silva Filho ABRELPE

Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso Reciclagem de Materiais Plásticos

O PODER DOS 5 R S DA SUSTENTABILIDADE

Metodologia da Pesquisa Orientada para Elaboração do TCC Seminários Carga Horária Total 432

ETIQUETAS: UMA ABORDAGEM INFORMATIVA DA CONSERVAÇÃO ADEQUADA DOS PRODUTOS TÊXTEIS.

Transcrição:

MODA E SUSTENTABILIDADE: DESENVOLVIMENTO DE UMA COLEÇÃO DE BOLSAS A PARTIR DE RESÍDUOS TÊXTEIS Ana Carolina Matos da Silva; Tamily Roedel Centro Universitário de Brusque (UNIFEBE); 88352-400,Brusque/SC, Brasil; karolmatos734@gmail.com Resumo Os resíduos têxteis são sobras de tecidos de um processo produtivo que não têm mais utilidade para a produção e acabam sendo descartados. O objetivo geral deste trabalho é desenvolver uma coleção de bolsas usando resíduos têxteis; e os objetivos específicos são relacionar a sustentabilidade ambiental a moda; descrever os principais impactos causados pelo descarte de resíduos têxteis; apresentar práticas de reciclagem e reaproveitamento no setor têxtil; e apresentar o memorial descritivo onde consta o processo criativo para o desenvolvimento da coleção, contendo planejamento, geração de alternativas, avaliação e detalhamento, e produção. A fundamentação deste artigo teve uma abordagem qualitativa, método exploratório, e tipo de pesquisa bibliográfica. O desenvolvimento da coleção seguiu uma metodologia projetual aplicada, e ocorre em quatro fases: pesquisa, planejamento, design e desenvolvimento. Os impactos ambientais do setor da moda são muitos, eles iniciam na produção das fibras de algodão, e pelo elevado uso de produtos químicos, podem poluir as águas e aumentar a resistência dos insetos. A sustentabilidade surge aí como uma forma de reinventar a moda, por meio das práticas de reciclagem e reaproveitamento no setor. Para o desenvolvimento da coleção foram produzidas quatro bolsas, reaproveitando tecidos que possuíam algum defeito, e que seriam descartados. A macrotendência estabelecida foi Afinidade; o tema, Misture-se; e o conceito Reuse. Pode-se concluir que por meio da coleção, levou-se uma mensagem de conscientização e respeito às culturas, raças, etnias e a conservação dos recursos naturais. Palavras-chave: Sustentabilidade. Resíduos têxteis. Bolsas. FASHION AND SUSTAINABILITY: DEVELOPMENT OF A COLLECTION OF BAGS FROM WASTE TEXTILES Abstract Textile wastes are leftovers from fabrics of a productive process, which are no longer useful for production and end up being discarded. The general objective of this work is to develop a collection of bags using textile waste; and the specific goals are to relate stylish environmental sustainability; describe the main impacts caused by the disposal of textile waste; to present practices of recycling and reuse in the textile sector; and present the descriptive memorial in which the entire creative process for the development of the collection of scholarships, containing planning, generation of alternatives, evaluation and detailing, and production are presented. The basis of this article had a qualitative approach, exploratory method, and type of bibliographic research. The development of the collection followed an applied design methodology, and occurs in four phases: research, planning, design and development. The environmental impacts of the fashion industry are many, they start cotton fiber production, and by the high use of chemicals, can pollute the waters and increase insect resistance. Sustainability emerges as a way to reinvent fashion, through

recycling practices and reuse in the sector. For the development of the collection four bags were produced, reusing tissues that had some defect, and that would be discarded. The established macro-trend was Affinity; the theme, Blend; and the concept "Reuse". It can be concluded that through the collection, a message of awareness and respect for cultures, races, ethnicities and the conservation of natural resources was born. Key words: Sustainability. Textile wastes. Bags. 1. Introdução De acordo com Salcedo (2014) por causa de suas dimensões, especificidades e planeta, a moda se reinventa a todo o momento, e com isso a fabricação e a busca por novos produtos acabam gerando desperdícios e resíduos diariamente. Os resíduos têxteis são sobras de tecidos de um processo produtivo que não têm mais utilidade para a produção e acabam sendo descartados, muitas vezes, de forma incorreta. Além das próprias peças de roupa que em algum momento serão descartadas, incluem-se aqui também as embalagens não reutilizáveis ou não recicláveis (SALCEDO, 2014, p. 28). O reaproveitamento de resíduos surge como solução para a destinação final, os quais poderiam acabar sendo descartados de forma inadequada em terrenos baldios, contribuindo para a poluição do solo e da água, causando danos ao meio ambiente. Algumas soluções para amenizar os impactos ambientais são: minimizar os resíduos nas operações de produção, maximizando o uso da matéria-prima e insumos. Ou dando uma segunda vida para os resíduos, por meio da venda para revendedores desses materiais. Como se pode perceber a preocupação vai muito além da compra do tecido, deve-se conhecer o processo ao adquirir uma peça de roupa ou objeto, e descartá-lo de maneira correta. Conciliar moda e sustentabilidade não é uma tarefa fácil, pois o tema permeia as questões de consumo, a rapidez como a moda se reinventa, e a procura por algo novo constantemente. O reaproveitamento surge como uma linha da sustentabilidade ambiental aplicada ao setor industrial. O objetivo geral deste trabalho é desenvolver uma coleção de bolsas usando resíduos têxteis. Os objetivos específicos são: relacionar a sustentabilidade ambiental à moda; descrever os principais impactos causados pelo descarte de resíduos têxteis, apresentar práticas de reciclagem e reaproveitamento no setor têxtil; e apresentar o memorial descritivo no qual consta todo o processo criativo para o desenvolvimento da coleção de bolsas, contendo planejamento, geração de alternativas, avaliação e detalhamento,

e produção. Para o desenvolvimento da coleção foram consideradas as seguintes etapas: planejamento, pesquisa, pesquisa de tendência, tema da coleção, conceito da coleção, a definição da escolha dos tecidos e aviamentos, a cartela de cores, o desenho de moda, a ficha técnica, e a produção. 2. Moda e Sustentabilidade Berlim (2014, p. 20) afirma que moda é [...], sobretudo, um negócio, que acompanha a tendência da economia, dos estilos de vida das pessoas, seu comportamento e, ao mesmo tempo, independência de e entre mercados. A moda pode ser usada ainda para indicar a produção de objetos pela indústria do vestuário, que são colocados em pequena, média ou grande escala no mercado, quanto para indicar a valorização do novo de forma sazonal e por um curto espaço de tempo [ ] (CHRISTO, 2013, p. 23). A moda a qual este artigo se refere é a Moda como um fenômeno social e econômico. A moda é cíclica, ela se reinventa, a cada estação surge uma proposta diferenciada, algo novo, que desperta a atenção do público. O consumidor pode querer comprar para aumentar a sua autoestima, ou até mesmo pela busca de status, adquirido após a compra de algum produto. Mas ele também pode ser envolvido pelo desejo incessante de nunca parar de comprar. A sustentabilidade surge aí como uma forma de reinventar a moda, de acordo com Gwilt (2014) mesmo que o foco ainda esteja centrado na seleção de matérias adequadas, a indústria moderna da moda percorre hoje muitos caminhos. Salcedo (2014) afirma que há a necessidade de conscientização de todas as partes envolvidas, desde o estilista, o produtor, o fabricante, até o consumidor. Moda e sustentabilidade caminham juntas em busca de um consumo consciente. Gwilt (2014) aponta que as preocupações com a sustentabilidade aliada ao design surgiram na década de 60, com a tentativa de reduzir os impactos no meio ambiente. Para Barbieri (2011) o crescimento do número de consumidores que preferem comprar produtos e serviços que respeitem a natureza é outro fator que impulsiona o tratamento estratégico das questões ambientais. É necessário ressaltar que o setor é responsável por altas taxas de desperdício. Um

exemplo que pode ser citado é aquele gerado nas confecções, pois as peças são talhadas, e as sobras de retalho (resíduos) acabam virando lixo (produto sem nenhuma utilidade). Além do desperdício, Jones (2011) ressalta que a indústria têxtil e de moda é particularmente culpada, pois muitos dos produtos, que são desnecessários, consomem uma quantidade enorme de energia em processamento. Outra tendência de sustentabilidade na moda está focada no produto e no processo de produção, desenvolvendo produtos ecológicos (BERLIM, 2014). Ao desenvolver um produto ecológico, a preocupação vai além das escolhas por materiais corretos, ela inicia no processo de criação e permeia todo o ciclo de vida do produto. De acordo com Gwilt (2014, p. 65): Roupas confeccionadas com materiais orgânicos são feitas por meio de processos ecologicamente corretos, aplicado desde os campos de plantação até a fabricação. Na indústria da moda, a Global Organic Textilen Standard, GOTS (Norma Global de Têxteis Orgânicos), ou a Soil Association (Associação Britânica Para o Solo) trabalham em conjunto com designers e empresas com o objetivo de dar suporte e monitorar práticas e padrões sustentáveis. Gwilt (2014) destaca que a moda ainda pode estar relacionada com a aplicação do modelo triple bottom line, ou tripé da sustentabilidade. Dias (2011) afirma que o triple bottom line surgiu na década de 1990, mas tornou-se de conhecimento do grande público em 1997. O triple bottom line é também conhecido como os 3 Ps (People, Planet and Profit, ou, em português, Pessoas, Planeta e Lucro). No Brasil é conhecido como o tripé da sustentabilidade, é um conceito que tanto pode ser aplicado de maneira, macro, para um país ou o próprio planeta, como micro, numa residência, numa empresa, numa escola ou numa pequena vila. People Refere-se ao tratamento do capital humano de uma empresa ou sociedade. Planet Refere-se ao capital natural de uma empresa ou sociedade. Profit Trata-se do lucro. É o resultado econômico positivo de uma empresa. (DIAS, 2011, p. 46). Conforme Vilaca et al. (2016, p. 2) é importante salientar que dentro dos princípios de sustentabilidade, não se podem separar as questões sociais das ambientais. Ele complementa, que o tripé da sustentabilidade se tornou amplamente conhecido entre os pesquisadores e as empresas, sendo uma ferramenta conceitual útil para interpretar as interações empresariais e, especialmente, para ilustrar uma visão da sustentabilidade. A sustentabilidade traz implícito que não adianta uma empresa ter preocupações com a área ambiental e manter trabalho escravo em suas confecções.

Hoje a moda sustentável deve levar em consideração três áreas relevantes: a sociedade (que deve focar o direito a propriedade social); o meio ambiente (que, por sua vez, deve focar a estabilidade ecológica); e a economia (cujo foco deve estar centrado na viabilidade econômica). O desafio que os designers encontram está em gerenciar esses três aspectos de modo responsável e adotar uma abordagem holística à sustentabilidade. (GWILT, 2014, p. 22). Existe outra vertente, a produção de peças novas com aquelas antigas, isso para consumidores que são apegados aos seus objetos porque há algum significado emocional. Esta é outra forma dos designers aderirem à sustentabilidade, o que contribui para evitar o desgaste da peça, e ainda deixá-la exclusiva. Pode-se citar como exemplo, o Projeto Bolsa de Tara Baoth Money: Tara Baoth Mooney se baseia no elo emocional que as pessoas podem estabelecer com objetos de tecido que carregam memórias pessoais. A bolsa já foi um presente de muito valor, que passava de mãe para filha e que foi reinterpretada por ela em um item de vestuário usável, funcional e cheio de significado. (GWILT, 2014, p. 58). Há a tendência dentro da sustentabilidade social, que é a questão de trabalhar com produtos éticos, na medida em que a mudança climática e a consciência ambiental se tornaram questões políticas e sociais predominantes. Algumas empresas e marcas vêm buscando a relação com produtos ecológicos e sustentáveis. 3. Impactos ambientais da indústria da moda A indústria têxtil possui um elevado potencial de geração de resíduos sólidos (BERLIM, 2014). Salcedo (2014) exemplifica que na cidade de Hong Kong, são produzidas 253 toneladas de resíduos têxteis diariamente, e acrescenta ainda que os volumes de resíduos que são gerados na China podem representar 50% dos resíduos no mundo. No Brasil, a estimativa de resíduos têxteis é de 175 mil toneladas/ano (RIBEIRO, 2015, p. 1). Para o SEBRAE (2017) estima-se que sejam produzidas 170 mil toneladas de retalhos/ano, e o maior produtor é a cidade de São Paulo. O documento ainda ressalta que 80% desse material é destinado para os lixões, mesmo que eles já tenham sido proibidos mediante a Política Nacional de Resíduos Sólidos publicada em 2010 (BRASIL, 2010). O fato das peças serem cada vez mais baratas e mais acessíveis, com diversas formas de pagamento, a moda está cada vez mais curta, isso faz com que o consumidor queira e consiga se desfazer facilmente de uma roupa para adquirir outra. Na indústria, as etapas que mais causam impacto são a tecelagem (fiação) e o corte de tecido (sobras de tecido).

A indústria da têxtil e de moda é particularmente culpada, especialmente, já que muito dos produtos são desnecessários, consomem uma quantidade enorme de energia em processamento, lavagem, tingimento e transporte, e grandes quantidades de produtos descartados acabam em aterros ou incineradores. (JONES, 2011, p. 32). Os impactos ambientais do setor iniciam na produção das fibras de algodão, mais de 10% dos pesticidas consumidos no mundo, incluindo quase 25% dos inseticidas, são empregados somente na cultura do algodão (SOUZA, 1998, p. 101). O uso desses produtos químicos contribui para a poluição das águas subterrâneas (lençol freático) e das águas superficiais, e pode aumentar a resistência dos insetos. De acordo com Shulte (2015, p. 52) destaca-se também a utilização de produtos químicos durante todo o processo de fabricação de uma roupa, além de outros problemas como o uso de uma mão de obra infantil, escrava e semiescrava. Souza (1998, p. 102) ainda acrescenta que o manejo inadequado de máquinas e equipamentos é apontado como fator [...] para a erosão dos solos, que provoca a perda de nutrientes e matéria orgânica de sua camada superficial, responsável pela melhor nutrição das plantas e pelo armazenamento de água. Ao longo da cadeia produtiva têxtil, os impactos ambientais envolvem contaminação do solo, consumo de água, de energia, emissões atmosféricas de poluentes (PORTOGENTE, 2014, p. 1). Sob a ótica ambiental, a geração de resíduos, e o destino dado a esses resíduos, pode representar um aumento do risco de contaminação do meio ambiente, principalmente quando a sua gestão é feita sem a consciência dos possíveis danos ambientais (FREIRE; LOPES, 2013, p. 5). Na produção de uma peça, geram-se muitos retalhos e aparas, que muitas vezes são descartados no lixo comum. Salcedo (2014) ainda complementa que 15% do tecido utilizado pela indústria viram resíduos, que acabam no chão das oficinas de corte da fábrica. Os resíduos deveriam ser encaminhados para aterros sanitários, mas ainda são encaminhados para aterros controlados e lixões (PORTOGENTE, 2014). Barbieri (2011) ressalta que eles precisam ser destinados para locais apropriados, os quais devem ser licenciados pelos órgãos ambientais competentes. Com a licença, é garantida a execução de projetos ambientais, e o monitoramento da área.

4. Práticas de reciclagem e reaproveitamento no setor têxtil Esse cenário está começando a ser transformado, a partir de soluções que, aos poucos, são implementadas na cadeia têxtil. Tais iniciativas têm destinado resíduos de tecidos para o reaproveitamento e a reciclagem em novos processos produtivos (SEBRAE, 2017). Conforme Berlim (2014) hoje em dia existem vários Rs como repensar, readequar, reavaliar, reusar, restaurar, reformar, etc. A validade de todos é inquestionável, todavia, os princípios mais importantes são os seguintes: reduzir, ou seja, diminuir o consumo de recursos naturais na forma de matérias-primas e energia, reduzindo, assim, a quantidade de descarte e poupando os recursos; reutilizar, que é usar novamente os produtos, dando a eles novas funções ou não; e reciclar, retornar o que foi utilizado ao ciclo de produção. As práticas de reciclagem e reaproveitamento no setor têxtil estão sendo cada vez mais aplicadas. Para Salcedo (2014) ao usar a expressão reciclar peças de roupas, não se fala propriamente no processo de reciclagem, mas em uma reciclagem têxtil do tecido. Berlim (2014) destaca que no mercado, os resíduos podem ser transformados em estopas, ou serem usados como enchimento de travesseiros, edredons e bichos de pelúcia, por exemplo. Existem várias maneiras de reinventar uma peça e evitar que ela seja descartada, uma delas é o upcyling, um termo utilizado para agregar valor à um produto, que seria jogado fora. A ideia do upcycling é transformar uma roupa danificada, deixando-a atrativa e usável, trazendo com ela algo inovador, que desperte o interesse de quem irá adquiri-la. [...] o upcycling permite que você aumente o aproveitamento e o valor de um material, prolongando sua vida. A técnica pode ser aplicada no design e na confecção de uma nova peça de roupa ou ser usada para reformar ou remanufaturar uma roupa já existente. (GWILT, 2014, p. 146). O upcycling é uma forma de reaproveitamento, a ideia é criar roupas inteiras usando retalhos ou sobras de tecido. Vilaca et al. (2016) citam que o upcycling é uma das formas de contribuição para se pensar em um novo uso da moda, utilizando como base o consumo sustentável. Ao fazer isso, há um prolongamento do ciclo de vida do produto, que em vez de ser descartado, passará a ser reutilizado por meio da criação de novas peças, muitas vezes, trazendo ao produto, um valor e status agregado. Para Berlim (2014), o upcycling se

fundamenta no uso de materiais cujas vidas úteis estejam no fim, por obsolescência real ou percebida na forma, função ou materialidade, valendo-se deles para a criação de outros. Gwilt (2014) afirma que as roupas danificadas podem ser reaproveitadas como esfregões e panos de limpeza. A reciclagem é um processo que consome muita energia, mas estudos mostram que é melhor aproveitar um resíduo do que processar novas fibras brutas. Por meio da reciclagem se desenvolve novos materiais surgidos pela mistura de tecidos picados que foram desperdiçados antes e jogados fora depois pelo consumidor (GWILT, 2014, p. 146). A ideia de reciclagem também pode ser aplicada no uso de outros resíduos, como aqueles que usam garrafas PET na produção dos fios de algodão. Salcedo (2014) indica como exemplo, as jaquetas da marca Patagônia, fabricadas a partir de garrafas PET, que, por sua vez, são completamente recicladas graças ao programa de reciclagem Common Threads. Outro movimento que vem obtendo espaço é o slow fashion. De acordo com Morelli (2011, p. 9) o slow fashion é o conceito que define que a moda terá uma velocidade menor, com peças perenes, ou que pelo menos persistam mais de uma estação. É o movimento que defende peças duráveis, de qualidade, para serem guardadas e não descartadas. A ideia principal é que os consumidores passam a se preocupar em consumir menos e adquirir peças que tenham mais qualidade, as quais podem ser usadas por mais de uma estação. O slow fashion não é apenas uma tendência, e sim um estilo de vida, que sugere que o consumidor pense mais na hora de comprar suas roupas. Segundo Moreira (2015) o movimento slow fashion se refere a produtos feitos sob medida ou de forma artesanal, ele pode ser concebido por uma única pessoa, tornando-se um produto único, e com um ciclo de produção menor. 5. Metodologia A fundamentação deste artigo teve uma abordagem qualitativa, método exploratório, e tipo de pesquisa bibliográfica. A pesquisa qualitativa é aquela que se concebem análises mais profundas em relação ao fenômeno que está sendo estudado (BEUREN, 2009, p. 92). A pesquisas exploratória têm como propósito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses (GIL, 2010, p. 27). Seu planejamento é bastante flexível, pois é interessante considerar os variados aspectos relativos ao fato ou fenômeno estudado (GIL, 2010). A pesquisa bibliográfica trata-se de

levantamento de toda bibliografia já publicada em forma de livros revista, publicações avulsas e imprensa escrita (MARCONI; LAKATOS, 2007, pp. 43-44). O desenvolvimento da coleção seguiu uma metodologia projetual aplicada, que é uma metodologia de projeto voltada para a indústria da moda (TREPTOW, 2013). Ela ocorre em quatro fases: pesquisa, planejamento, design e desenvolvimento. Essa metodologia previne erros, assim como, controla as variações de risco e a incerteza ao longo do desenvolvimento do projeto (SANCHES-MONTEMEZZO, 2008). Dessa forma, a metodologia foi adaptada para atender os objetivos deste trabalho. 6. Desenvolvimento da coleção Basicamente, o caminho que o produto percorre está centrado em etapas de planejamento, pesquisa, desenvolvimento, pilotagem e produção (TREPTOW, 2013). Para o desenvolvimento de uma coleção é necessário seguir um cronograma, partindo de um planejamento, pesquisa de moda, pesquisa de tendência, tema de coleção, conceito da coleção, cartela de cores, tecidos e aviamentos, desenho de moda, ficha técnica e a produção, ou seja, um passo a passo essencial para que o produto final seja feito com qualidade e possa agradar o consumidor. 6.1- Planejamento O planejamento engloba as estratégias que precisam ser decididas antes de tudo, como cronograma, mix de produtos, estratégias e opinião de mercado uma das etapas mais importantes. Essas informações irão fornecer o conceito e a essência do produto. Treptow (2013) afirma que alguns autores consideram o planejamento como um período anterior ao desenvolvimento da coleção, o que, a princípio, parece uma abordagem lógica, é preciso planejar antes de executar. Planejamento não se resume à concepção ou ao processo criativo do design. Planejamento vai além e inclui a análise da viabilidade produtiva e comercial e sua coerência de coleção. Para isso, é importante a participação do design em fases além da concepção. Ele deve acompanhar seu desenvolvimento, distribuição e a reação do mercado à coleção, observando e avaliando cada etapa. (TREPTOW, 2013, p. 90). Os designers que costumam acompanhar todo o ciclo de uma coleção acabam adquirindo mais conhecimento e automaticamente estarão preparados para tomar decisões se

algo de errado acontecer no decorrer do processo, aprimorando o seu processo criativo. Conforme Jones (2011) criar é uma questão de misturar elementos conhecidos de uma maneira nova e estimulante para gerar combinações e produtos diferentes. 6.2- Pesquisa Pesquisa significa investigação criativa, e o bom design não acontece sem alguma forma de pesquisa. Ela nutre a imaginação e inspira a mente criativa (SORGER, 2009, p. 16). A pesquisa de moda está presente constantemente na vida dos designers, pois ela é uma ferramenta que vai ajudar no processo de criação. Pesquisa significa uma investigação criativa, e para ser um bom designer é necessário alguma forma de pesquisa, para ter uma fonte de inspiração no momento da criação das peças. 6.3- Pesquisa de tendência A tendência definida foi a Afinidade, que é apontada pelo site WGSN, como aquela com uma visão inovadora, inspirada nas rotas comerciais ao redor do mundo, aborda a mistura de identidades culturais, trazendo uma noção compartilhada de comunidade, história e criatividade em um clima de design multicultural. De acordo com WGSN (2017), a tendência Afinidade aponta sobre a cultura e os grupos tanto reais como virtuais. As pessoas buscam sempre estar conectadas umas com as outras, por meio das mídias sociais ou na vida real. A partir de agora, deve-se olhar para a identidade física com outros olhos, para unir fronteiras e romper as barreiras, trocando informações para contar novas histórias de outras maneiras. 6.4- Tema da coleção De acordo com Treptow (2013, p. 83) o tema da coleção é a história, o argumento, a inspiração de uma coleção. Morris (2007, p. 14) complementa que pode ser qualquer coisa que desperte o interesse [...]. A coleção enfatiza a diversidade cultural no Brasil, por isso o tema Misture-se. Ela apresenta a ideia de que todos as pessoas são iguais, independente de raça, gênero ou etnia. O tema da coleção é a diversidade cultural no Brasil. A ideia da coleção é explorar a mistura de raças, e a diversidade que o país possui, e que difere os brasileiros, uns dos outros. Depois de

delimitado o tema, foi escolhido o nome da coleção: Misture-se. A ideia consiste em demonstrar por intermédio das bolsas, diferentes tons de pele, estas representadas pelos diferentes tons de marrom. Os recortes representam a diversidade cultural, com o intuito de levar uma mensagem de conscientização por meio do produto, que todos os seres humanos são iguais, independentemente da cultura, raça ou etnia, afinal, a diferença faz parte da história do Brasil. 6.5- Conceito da coleção Com o mundo passando por uma transformação, os consumidores passam a buscar produtos que tenham uma história para contar. Para Schulte (2015, p. 54) fazer uma moda ética, mais adequada ao contexto de desenvolvimento responsável, é o grande desafio para o design de vestuário, influenciado pelas tendências de moda na era pós-moderna. O conceito da coleção é Reuse, e tem como objetivo transmitir a ideia de reaproveitamento, praticidade e conscientização. Cada bolsa tem um significado, seja no material, nas formas, na modelagem, nos acabamentos, e no seu design. Aproveitar os resíduos têxteis, especialmente os retalhos, que não têm mais utilidade para a indústria, não é uma tarefa fácil, porém é uma oportunidade de trazer algo novo, e evitar seu descarte em locais inapropriados. Por isso, na coleção foi usado o conceito do upcycle, ao criar as bolsas, pois com o uso dos retalhos, diminuem-se os impactos ambientais no meio ambiente. 6.6- Tecidos e aviamentos Todas as bolsas foram feitas a partir de resíduos têxteis. Os resíduos foram coletados na empresa Mana Confecção em Brusque - SC, que possui uma marca própria e desenvolve a produção de suas peças desde a talhação (corte das peças) até a costura. Dentre a ampla variedade de tecidos descartados, foram escolhidos aqueles que estavam de acordo com a tendência, tema e conceito da coleção. Todos os tecidos utilizados para a produção das bolsas possuíam algum defeito, e seriam descartadas pela empresa por não estar dentro do padrão de qualidade. As alças das bolsas, por exemplo, foram feitas a partir das auréolas que o tecido possui, muitas vezes essa parte tem algum defeito como pequenos furos, podendo aparecer nas peças, e para não correr esse risco a empresa acaba descartando esse pedaço.

O único custo da produção ocorreu com a compra de aviamentos, que somaram um total de R$ 10,00 reais. Ressalta-se que todos os tecidos que são inferiores a 1 m não possuem mais utilidade para a empresa, e viram resíduos. 6.7- Cartela de cores Treptow (2013, p. 109) afirma que a cartela de uma coleção deve ser composta por todas as cores que serão utilizadas, incluindo preto e branco. A cartela deve reportar ao tema escolhido para a coleção. Para Jones (2011, p. 128) a escolha das cores determinará o clima da coleção, ou sua sintonia com a estação, e ajudará a diferenciá-la da sua predecessora. A cartela de cores foi estabelecida a partir dos resíduos disponíveis; ela é composta por cores fortes e vibrantes (Figura 1), com tons terrosos e intensos, tradicionais do verão. Essas cores podem formar novas combinações, apresentando uma coleção alegre e harmoniosa. Figura 1 - Cartela de Cores Fonte: Elaborado pelas autoras (2017). A escolha das cores na hora de compor a coleção é uma tarefa muito importante. Morris (2007) cita que se deve ser ousado na escolha das cores. 6.8- Desenho de moda O desenho de moda deve ser elaborado de modo coerente com as informações obtidas. É o momento em que o processo criativo toma forma, com agilidade e objetividade. Por meio do tema escolhido, a coleção Misture-se (Figura 2), mostra em sua geração de alternativas, diferentes tons de marrom representando a cor da pele, e a diversidade cultural do Brasil, com o principal objetivo de levar por meio do produto, uma mensagem de conscientização (Figura 2).

Figura 2 - Desenhos das peças da coleção Fonte: Desenvolvido pelas autoras (2017). 6.9- Ficha técnica Na indústria, os detalhes são imprescindíveis para melhorar a confecção das peças da coleção. O desenho técnico tem a finalidade de mostrar uma versão da peça ainda mais detalhada, como acabamentos, tipo de costura e beneficiamento da peça. Os desenhos técnicos foram feitos apenas para as quatro bolsas produzidas (Figura 3). Figura 3 - Desenhos técnicos das bolsas produzidas. Fonte: Desenvolvido pelas autoras (2017). Treptow (2013) ressalta que o desenho técnico também é conhecido como desenho planificado ou desenho de especificação, e tem por objetivo comunicar as ideias do design ao setor de amostras (modelagem e pilotagem). De acordo com Morris (2007) o desenho técnico é uma etapa importante, sendo considerado um instrumento indispensável nas confecções.

A partir do desenho técnico, é possível levantar todos os materiais necessários à confecção da peça e prever o custo de sua produção. Pode-se dizer que todas as informações necessárias para a confecção das roupas estão escritas na ficha técnica. Ela possui as ilustrações e anotações do modelo, procedimentos de manufatura e acabamentos (TREPTOW, 2013). 6.10- Produção Após todo o processo planejamento, geração de alternativas, avaliação e detalhamento, o último processo é a produção. Na produção, se confeccionam as peças. Com os tecidos e aviamentos já definidos, é feita a modelagem das bolsas. Para Gwilt (2014) é na etapa de criação de moldes e de peças-piloto do processo produtivo, que uma ideia de design realmente ganha vida. Durante essa etapa são determinados o visual final da peça, os materiais e a mão de obra necessária. Logo após a modelagem desenvolvida é hora de confeccionar as peças. Para Morris (2007), a confecção é a base do vestuário e do design de moda. O uso de tipos diferentes de costura muitas vezes é ditado pela escolha de tecido, mas também pode ser conduzido pelo design. Na Figura 4 apresenta-se uma imagem da produção das peças, e na Figura 5, as peças prontas. Figura 4 - Produção das bolsas Fonte: Desenvolvido pelas autoras (2017).

Figura 5 - Bolsas prontas Fonte: Desenvolvido pelas autoras (2017). 7. Considerações Finais Os principais impactos causados pelo descarte de resíduos têxteis são a contaminação do solo, da água, além das emissões atmosféricas. É possível amenizar os impactos que a moda traz ao meio ambiente, pela aplicação dos 3Rs, e as práticas de sustentabilidade. O reaproveitamento surge como uma linha dentro da sustentabilidade ambiental aplicada ao setor industrial, um exemplo é o upcycling. Para atender ao objetivo geral deste trabalho foi desenvolvida uma coleção de quatro bolsas, a partir da macrotendência Afinidade, e tema Diversidade no Brasil. O conceito foi desenvolver uma coleção que trouxesse um menor impacto ao meio ambiente, por isso todos os tecidos utilizados para a confecção das bolsas eram de retalhos. Após esse processo de pesquisa foi delimitada a cartela de cores e desenhadas as bolsas, posteriormente foram feitas as fichas técnicas de cada uma, e assim, o último passo foi a produção, quando as peças foram desenvolvidas, realizando-se a modelagem e a costura das peças. Conciliar moda e sustentabilidade não é uma tarefa fácil, pois o tema permeia as questões de consumo e a rapidez com que a moda se reinventa. 8. Referências BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental e empresarial: Conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo: Saraiva, 2011. BARBOSA, Jaque. Para provar que a moda pode ser sustentável, marca lança projetos de roupas pensando no meio ambiente. Disponível em: <http://www.hypeness.com.br/ 2014/05/para-provar-que-a-moda-pode-ser-sustentavel-marca-lanca-projetos-de-roupas-apensar-no-ambiente/>. Acesso em: 26 jan. 2017. BERLIM, Lilyan. Moda e sustentabilidade: uma reflexão necessária. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2014.

BEUREN, Ilse Maria. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: teoria e prática. 3. ed., atual. São Paulo: Atlas, 2009. BRASIL. Lei nº 12.305 - Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 02 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/ l12305.htm>. Acesso em: 12 mar. 2017. CAREER. Sustentabilidade. Disponível em: <http://career.hm.com/content/hmcareer/ pt_pt/ workingathm/what-can-you dohere/corporate/sustainability.htzl>. Acesso em: 27 jan. 2017. CHRISTO, Deborah Chagas. Estrutura e funcionamento do campo de produção de objetos do vestuário no Brasil. 2013. 146f. Tese (Doutorado) Pontifícia Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. DIAS, Reinaldo. Gestão Ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2011. FARM RIO. Upcycling de responsa. Disponível em: <http://www.farmrio.com.br/ adorofarm/tag/pp-acessorios/>. Acesso em: 25 jan. 2017. FREIRE, Estévão; LOPES, Guilherme Bretz. Implicações da Política Nacional de Resíduos Sólidos para as práticas de gestão de resíduos no setor de confecções. Redige, SENAI, v. 4, n. 01, p.1-22, abr. 2013. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.184 p. GWILT, Alison. Moda sustentável: um guia prático. São Paulo: Gustavo Gili, 2014. 175 p. JONES, Sue Jenkyn. Fashion design. 3. ed. São Paulo: Cosac & Naify, 2011. 271 p. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório publicações e trabalhos científicos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 225 p. MOREIRA, Louisie Furtado. A Revalorização Do Movimento Slow Fashion Visando O Consumo Sustentável. In: XI SEMANA DE EXTENSÃO, PESQUISA E PÓSGRADUAÇÃO SEPESQ, 2015, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre, 2015. p.1-7. MORELLI, Graziela. Paradoxos da sociedade contemporânea: o movimento slow fashion. In: 7º COLÓQUIO DE MODA, 2011, Maringá. Anais... Maringá, 2011. p.1-12. MORRIS, Bethan. Fashion illustrator: manual do ilustrador de moda. São Paulo: Cosac & Naify, 2007. 208 p.

PORTOGENTE. Os impactos ambientais decorrentes da cadeia produtiva têxtil. 2014. Disponível em: < https://portogente.com.br/noticias/meio-ambiente/82179-os-impactosambientais-decorrentes-da-cadeia-produtiva-textil>. Acesso em: 7 mai. 2017. RIBEIRO, Clara. Produção de algodão causa impactos ambientais. Revista Viva Saúde, ed. 136, 2015. SALCEDO, Elena. Moda ética para um futuro sustentável. São Paulo: GG, 2014. 127 p. SANCHES-MONTEMEZZO, M. C. F. Projetando Moda: Diretrizes para a concepção de produtos. In: PIRES, Doroteia Baduy. (Org.). Design de Moda: Olhares diversos. v.1. São Paulo: Barueri: Estação das Letras e Cores, 2008. p. 289-301. SCHULTE, Neide Köhler. Reflexões sobre moda ética: contribuições do biocentrismo e do veganismo. Florianópolis: UDESC, 2015. 144 p. (Teses de moda) SEBRAE - SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Retalhos de tecidos: no lugar do desperdício, negócios sustentáveis. Disponível em: <http:// www.sebraemercados.com.br/retalhos-de-tecidos-no-lugar-do-desperdicio-negociossustentaveis/>. Acesso: 14 mai. 2017. SORGER, Richard. Fundamentos de design de moda. Porto Alegre: Bookman, 2009. 176 p. SOUZA, Maria Célia Martins de. Algodão orgânico: o papel das organizações na coordenação e diferenciação do sistema agroindustrial do algodão. 1998. 194f. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998. TREPTOW, Doris. Inventando moda: planejamento de coleção. 5. ed. São Paulo: D. Treptow, 2013. 207 p. VILACA, D.B.G.O, ARAUJO. A. C. M, OLIVEIRA, A. L. N, GUIMARÃES, S. S, BEZERRA, P. R. S. Upcycling e sustentabilidade: o despertar da indústria da moda para a logística reversa. In: XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 2016, João Pessoa. Anais... João Pessoa, 2016. p.1-12. WGSN - WORTH GLOBAL STYLE NETWORK. Previsão de acessórios femininos P/V 18: Afinidade. Disponível em: <https://www.wgsn.com/content/board_viewer/ #/67555/page/2> Acesso em: 11 abr. 2017.