O MINISTÉRIO DA SAÚDE EM DUAS LINGUAGENS - UMA ABORDAGEM SEMIÓTICA INTRODUÇÃO



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Transcrição:

O MINISTÉRIO DA SAÚDE EM DUAS LINGUAGENS - UMA ABORDAGEM SEMIÓTICA Clara B.Bonome Zeminian (UNIMAR) Rosely de Fátima Jurado (UNIMAR) INTRODUÇÃO O estudo desenvolvido na disciplina Semiótica, Comunicação e Linguagens possibilitou-nos perceber que a teoria semiótica greimasiana preocupa-se com as condições de produção, de apreensão, e da recepção do sentido. Paralelamente, a comunicação é concebida pela semiótica como sendo a transmissão da mensagem de forma particular por ser modalizada pelo fazer-saber (informativo), pelo fazer-crer, persuasivo e pelo fazer-fazer, factitivo ou manipulador. O fazer interpretativo significa que houve um crer e que a mensagem foi assumida. Assim sendo, a comunicação é mais um fazer-crer e um fazer-fazer do que um fazer-saber, como se imagina um pouco apressadamente (GREIMAS, COURTÉS, 69). Um fazer-saber designa apenas a mensagem recebida que poderá ou não ser assumida. O texto em análise foi retirado da revista Curitiba Where Ano 4 ed. 30 maio 2005 Ed. Fama. Faremos primeiramente uma abordagem do corpus verbal e depois do imagético por tratar-se de produção sincrética. Nesta, o narrador verbal e o imagético, S1 e S3 (papéis actanciais do poder-fazer) fundem-se, aparentemente, na figura de um só ator no papel temático de Ministério da Saúde. Este caracteriza-se como enunciação enunciada (ou reportada). O TEXTO VERBAL (I) O Ministério da Saúde adverte: (Embreagem actancial) (Intimidação). (II) Fumar causa câncer de boca e perda dos dentes. (Intimidação) (III) Novas imagens nos maços de cigarro. (Provocação) (IV) Porque você precisa saber a verdade.(provocação + sedução). (V) Se você é fumante, peça ajuda ao seu médico ou vá a um Posto de Saúde. (Sedução + tentação). 1

(VI) Disque Pare de Fumar: 08007037033 (Tentação aos que desejam) (VII) Ministério da Saúde Brasil Um país de todos (Sedução). Governo Federal O texto será examinado de conformidade com as seqüências acima enumeradas. Para a análise do conteúdo, segundo O Percurso Gerativo do Sentido, greimasiano, serão apreciadas, as estruturas: a) discursiva (que remete à enunciação); b) sêmio-narrativas (representativas do enunciado) comportando os níveis superficial e profundo. Estruturas discursivas a) Sintaxe discursiva (ator, tempo e espaço) A publicidade, segundo D ÁVILA (2001a: 103), transforma produtores, compradores e consumidores virtuais em realizados, e produz duas etapas na sanção produzida pelo enunciatário-leitor. Uma consignada a si mesma, como sinal da genialidade e do talento do publicitário, e a outra condicionada ao produto oferecido, fruto do merchandising. No exame do texto como produto oferecido, analisaremos os atores no tempo e no espaço da narrativa, de acordo com os seus papéis temáticos (discursivo) e actanciais (narrativo), embora os actanciais pertençam à etapa posterior. Efetuamos a junção dos papéis nesta etapa, porque permite ao leitor o entendimento do nível discursivo vestindo o nível narrativo. Os papéis temáticos são: Ministério da Saúde (delegado pelo Governo Federal em função metonímica) e você. Os papéis actanciais são investimentos modais particulares que o sujeito assume no transcorrer da narrativa. Os actantes são sucessivamente dotados de modalidades tais como as do /querer-fazer/, /saber-fazer/, /poder-fazer/ e /dever-fazer/. O estatuto actancial representa a soma dos investimentos modais assumidos pelo sujeito, considerando sua totalidade. 2

Para Ministério da Saúde, usaremos S1, e para você, S2. Assim, ao analisar a ação entre os sujeitos (em primeira instância), S1 apresenta-se na posição /poder-fazer/ como manipulador de S2 que, na posição de /dever-fazer/, poderá sentir-se intimidado. A dimensão da ação entre sujeitos é cognitiva, pragmática e tímica. Papel actancial...papel temático S1 sujeito manipulador...ministério da Saúde S2 destinatário...você b) Semântica discursiva: figura e tema As figuras que comporão o percurso figurativo serão escolhidas após um levantamento dos campos semânticos; esse percurso deverá sempre remeter a um tema, condensado por um papel temático. Os campos semânticos extraídos do texto em análise são compostos por sememas tais como: maços de cigarro, verdade, Posto de Saúde, fumante, médico, disque Pare de Fumar, Ministério da Saúde, câncer de boca, perda dos dentes. O percurso figurativo é um sistema de representações, tem um correspondente perceptível no plano da expressão. É ligado à cultura e à natureza. Deve ter um tema como suporte e uma forma sintáxica determinada. No texto, o tema é da existência, saúde e jovialidade. PODER (MINISTÉRIO DA SAÚDE) Imaterial material Advertência, Ajuda, Saúde. Médico, Posto de Saúde, Disque Pare de Fumar, câncer de boca, perda dos dentes 3

Estruturas sêmio-narrativas de superfície A intencionalidade da narrativa surge da ordenação dos arranjos e inserções nos percursos narrativos que são organizados por meio de modalidades virtualizantes (querer e dever), atualizantes (saber e poder) e realizantes (ser e fazer). a) Sintaxe narrativa Os programas narrativos são desenvolvidos pelos actantes-sujeitos na busca do objetovalor, cuja finalidade é a de definir sua competência no nível do ser e do fazer. Objeto-Valor é o fim almejado pelo sujeito que busca valores inseridos no objeto. O Objeto modal é o meio para atingir o fim desejado. Segundo GREIMAS, o programa narrativo (PN), dito performance, pressupõe um outro, o da competência, devendo o sujeito do fazer-ser ser, previamente, modalizado, por exemplo, como sujeito do querer-fazer ou do dever-fazer. A competência surge como um programa de uso, caracterizado pelo fato de os valores visados por ele serem de natureza modal. O texto inicia-se marcando a temporalidade (novas imagens nos maços de cigarro) visando ao programa de apropriação da verdade. (Veja QUADRO N 1) b) Semântica-narrativa Esse nível deve ser considerado como a instância de atualização dos valores. A busca permanente de valores. Definida como ideologia por Greimas, Courtés (s/d.:225-4), é retratada no texto através da advertência que visa a conduzir destinatários ao alcance da verdade numa constante atualização na sintagmatização textual, interpretada como ganhos (ou perdas), tais como: poder, saúde, jovialidade, longevidade. Estruturas sêmio-narrativas profundas As estruturas sêmio-narrativas profundas apresentam-se sob a forma de uma gramática semiótica e narrativa que comporta, dentro do nível profundo, a sintaxe fundamental e a semântica fundamental. Somadas às estruturas sêmio-narrativas de superfície, e Discursivas, a semiótica será então denominada Gramática do Conteúdo (D Ávila, 2001a: 120). 4

QUADRO N 1 a) Sintaxe fundamental A sintaxe fundamental constitui, com a semântica fundamental, o nível profundo dessa gramática do conteúdo. As operações sintáxicas fundamentais, chamadas de transformações, 5

são de duas espécies: a negação e a asserção. A negação de um termo provocará o aparecimento de outro surge a contradição; neste caso, o modelo taxionômico corresponde às condições epistemológicas necessárias ao reconhecimento da estrutura elementar da significação e recebe sua representação sob a forma de quadrado semiótico, reunindo termos situados no eixo dos contrários e no dos contraditórios. Os termos apreendidos por negação ou asserção são resultantes de levantamentos efetuados na esfera isotópica. b) Semântica fundamental Na semântica fundamental, as unidades que instituem o discurso são estruturas elementares da significação e podem ser formuladas como categorias semânticas suscetíveis de serem articuladas no quadrado semiótico. Nesse nível, a semântica fundamental aparece como um inventário de categorias sêmicas passíveis de serem exploradas pelo sujeito da enunciação, como outros tantos sistemas axiológicos virtuais, cujos valores só se atualizam no nível narrativo, no momento de sua junção com os sujeitos. Tal estrutura axiológica elementar, que é de origem paradigmática, pode ser sintagmatizada graças às operações sintáxicas que fazem com que seus termos materializem percursos previsíveis a partir da manifestação (parecer x nãoparecer) para atingir a imanência (ser x não-ser), ambas evidenciadas no eixo dos contraditórios dos quadrados semióticos. Estes serão apresentados após demonstrarmos como foi edificada a dimensão isotópica. Plano isotópico nível profundo Isotopia temática Existência saudável saúde (temática que se transforma em figurativo quando tem algo superior: existência saudável) PERSUASÃO=FAZER CRER. Crer = juízo epistêmico VERDADE (Veridicção) Isotopias figurativas: advertência Isotopia Temática: credibilidade e solidariedade 6

ajuda aconselhamento social política atratividade (sedução) higienização, profilaxia verbo-viso-plástica somática, abstinência. Os semas levantados na dimensão isotópica do texto verbal permitem-nos traçar o quadrado semiótico abaixo exposto. QUADRO N 2 O texto apóia-se no Poder do governo, que faz com que o Ministério da Saúde (adjuvante) seja levado a /querer e dever manipular S2/ pela advertência /poder-fazer/, nas indicações de novas imagens e da verdade, para que S2 se sinta posicionado frente à modalidade do /dever fazer/. A ação manipuladora (factitiva) entre os sujeitos fundamenta-se nas manipulações por intimidação, tentação, sedução e provocação, estas proporcionadas pelas oportunidades de ajuda : PROCURE SEU MÉDICO, VÁ A UM POSTO DE SAÚDE, DISQUE PARE DE FUMAR. 7

O TEXTO NÃO-VERBAL E SINCRÉTICO QUADRO N 3 A análise do texto não-verbal e sincrético da publicidade e propaganda do Ministério da Saúde apoiar-se-á na Teoria Semiótica da Figuratividade Visual, de D ÁVILA, no estabelecimento de comparações, transferências, diversificações e alterações na maneira de distribuir os patamares da produção do sentido visual greimasiano, na produção dos traços, dos volumes sem contorno e de massas contornadas, dispostos, proxemicamente, em planos e espaços ritmicamente definidos por simetrias ou assimetrias. A imagem é regida pela intencionalidade e representa muito mais do que uma intenção, pois esconde muito mais do que mostra para atingir a um fim esperado. Conforme D Ávila (1999a, 2003c, 2004ª e 2006c), as figuras e imagens podem ser analisadas sob a categoria dos figurais (Figural 1 e 2) e dos figurativos visuais (Figurador 1 e 2). 8

QUADRO N 4 Da figuralidade Os Figurais compõem o eixo semântico da Figuralidade como categorias formais denotativas, sem histórias a narrar. São assim especificados: a) figural 1- nuclear; b) figural 2- classemático (clas a, clas b e clas c). O clas a, caracterizado por formas gestálticas presentificadas; o clas b como formas primitivas presentificadas, a exemplo da pintura abstrata, contendo circunferências, triângulos, quadrados, cubos etc.; o clas c, formas icônicas presentificadas representando a passagem do figural ao figurativo quando lhes são incorporados as formas geometrizadas, os semas básicos do traço (tracemas básicos), compondo os classemas da imagem (imagemas) do ícone presentificado já figurativizado, porém, sem continuidade histórica, mas que se realizará como imagem nomeada na categoria dos figurativos. Do figurativo Os Figuradores compõem o eixo semântico do Figurativo, sob categorias formais conotativas, a saber: a) Figurador 1 - vertente do logos, imagem representada em histórias narradas, nomeadas e categorizadas no mundo natural; b) Figurador 2 - vertente do mythos (como imagens re-representadas em histórias narradas, ficcionais ou de criatividade ilimitada). Este 9

último serve para facilitar aqueles que, ao invés de apreenderem o sentido articulado no interior do texto/discurso, aplicando adequadamente uma teoria que lhes seja específica, por desconhecimento, optam pela ficção ou por transferências dialógicas para extrapolarem o nível da fertilidade imaginativa. Os figurativos (figuradores 1 e 2), a exemplo dos interferentes ocasionais ou de atuação constante, segundo D ÁVILA - quando trata de textos verbo-viso-sonoros - (1998: 461), sendo entremeados de falas, ruídos, sons melódicos, cores, matizes e efeitos de sentido dos mais diversos, valem-se do caráter proxêmico (espaço) como pano de fundo para que, em gestos ou em cenário, dinamizados, conduzam o destinatário ao mais alto estado de tensão emocional. Os interferentes ocasionais, quando administrados simultaneamente a sememas (verbais), ou a sonemas (formemas sonoros) valorizados, como trilhas sonoras portadoras de síncopas, motivos, incisos, andamentos e dinâmica, sob cesuras bruscas ou ainda em cadência suspensiva (sobre o VI), ocasionam no destinatário da mensagem largos momentos de tensão e suspense, levando-o ao clímax da manipulação pelo /querer/ e/ou pelo /deverfazer/. No nosso corpus de análise visual, em ritmo estático, assimétrico e não periódico, observamos o imagema boca, elemento de destaque na composição plástica, não propriamente como um interferente ocasional, dada sua estaticidade, mas sim, interferindo na totalidade visualizada em situação de estranhamento, em virtude da função de síncopa (no visual) apreendida pela interrupção do estado de continuidade da totalidade visualizada como texto imagético. A figuratividade se dá pela soma da Figuralidade com o Figurativo (Veja QUADRO N 5). Para analisar o corpus de estudo da comunicação não-verbal e sincrética, imagética, usaremos algumas das etapas do percurso gerativo de sentido visual em teoria daviliana. Nas Estruturas Discursivas observamos o Figural 1, nuclear, como propulsor da Substância do Conteúdo, ou o arcabouço da forma plástica, designando tratar-se de um texto figurativo com profunda nitidez e implicação, porém, na desconstrução do visual em figurais classemáticos, oferecendo a condição de apreensão da figuralidade no formema parcial /fp/ que se posicionou em destaque, por implicação da proxêmica. 10

QUADRO N 5 Desse modo, do formema total /ft/ = texto (rosto + boca), examinamos o formema parcial /fp/ boca, numa espacialidade plástica diretamente condicionada ao contexto e responsável por instabilidades, estranhamentos e rupturas no percurso do olhar do enunciatário-analista. Assim sendo, este formema, embora parcial, será examinado como totalidade formal espácio-temporalizada. À espacialidade do /fp/ consignaremos o levantamento de figuras (campos semânticos), que comporão dois percursos figurativos: a) percurso figurativo da perfeição, limpidez, salutar, alinhamento, beleza, simetria, periodicidade, coloração ambar, em verticalidade, pureza, brancura; em oposição semântica ao b) percurso figurativo da imperfeição, impureza, deterioração, desalinhamento, feiura, assimetria, aperiodicidade, coloração dos elementos sob escurecimento cinza escuro, tombados em diagonalidade, putrefação,escurecido. 11

Espaços valorizados e planos na estruturação do sentido. QUADRO N 6 Espaço aberto = /fpi/ ( boca saudável) Espaço fechado= /fpi/( boca não saudável) Da junção desses tracemas em oposição teremos a totalidade examinada. 12

QUADRO N 7 (Nos ANEXOS) A Substância do Conteúdo é semi-simbólica (representação/conotativa), do logos, figurativa. A Forma do Conteúdo, embora tendo implicação com o verbal, demonstra sua força e seu poder tensivos sobre a manifestação verbal, causando uma certa independência à manifestação visual na especulação sobre seu aspecto simbólico. 13

Desse modo, conforme D ÁVILA (2006d) O sincopema, com suas cinco etapas: desorganização, projeção, condensação, expansão e reorganiização, relaciona-se com a incidência e permanência do ponto de tensão quando este surge motivado por um momento de ruptura do envolvimento do nível narrativo com o discursivo, ocasionando rápida modulação ao discursivo, proporcionada pelo caráter proxêmico que, em duas instâncias, dispõe os objetos de um determinado modo, num determinado espaço, com fins de significação. Na observação do rosto, como totalidade significante (AB), apreendemos numa parte (B) dessa totalidade, o formema parcial /fp/ boca saudável + não saudável, que nos permitiu descrever as cinco etapas do sincopema, assim formuladas: desorganização da totalidade AB; projeção à parte B ( boca saudável + não saudável); condensação na parte B (com os questionamentos e comparatividades); expansão desta parte tendo como motivo o surgimento de uma isotopia dominante: a SALUTAR -, à reorganização da totalidade narrativo-discursiva, AB ( rosto ). Ao cruzarmos as linguagens verbal e não-verbal, percebemos contradições entre a advertência feita pelo Ministério da Saúde e a imagem a ela associada. A totalidade AB salienta a alegria, o prazer e a jovialidade no uso do cigarro que está em desacordo com o aconselhamento proposto no espaço utilizado pelo Destinador: inferior, na página, e distante do ponto de tensão. O disfórico da mensagem, aparecendo em menor proporção, teve o privilégio de estar posicionado num espaço áureo, na Divina Proporção o pitagórico número de ouro-, sendo este mesmo espaço, ainda, agraciado com a projeção paradigmática por extrapolação da forma (D ÁVILA, 2003c), retangularizada, metaforizando aquela dos maços de cigarro, e tendo nos dentes desiguais, postos no espaço AB, projeções igualmente paradigmáticas de pressupostos cigarros já queimados. Neste caso, podemos assim representar o fato na estrutura elementar da significação: QUADRO N 8 14

QUADRO N 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COQUET, J.-C. Sémiotique Littéraire. Paris: Ed. Mame, l973, p. 181 e 206, apud D ÁVILA, N. R. Renart e Chanteclerc. Por uma abordagem semiótica do estatuto do actante-sujeito /RENART/ (segundo a teoria de J. C. COQUET). In: Leopoldianum: Revista de Estudos e Comunicação. vol. XVIII, n. 52. Santos: Unisantos, abril, 1992, p. 68-75.. Renart e Chanteclerc. Análise semiótica do texto na teoria de A. Greimas. Leopoldianum: Revista de Estudos e Comunicação. vol. XVI, n. 47. Santos: Unisantos, 1990, p. 23-42.. Dados elucidativos sobre as funções da síncopa, Conferência intitulada Approche sémiotique du rythme samba en percussion. XIII Convegno Internazionale. Il senso del ritmo: presenza ed euristica della forma.urbino, Itália, 9-11 de junho, 1998. 15

. Semiótica Musical e Sincrética na Publicidade e Propaganda (da Caixa Econômica Federal). In: Anais do Xl Encontro Nacional da ANPOLL. Campinas: Ed. UNICAMP, 1998, 461-466. Publicado também no site: www.niciadavila.com.br. Semiótica Visual - O ritmo estático, a síncopa e a figuralidade. In: Semiótica & Semiologia. Org. D.Simões. Rio de Janeiro: Dialogarts (UERJ), 1999a, p.101-120.. Semiótica na Publicidade e Propaganda Televisiva. (SUKITA) In: Letras & Comunicação Uma parceria no Ensino de Língua Portuguesa. Org. J. C. Azeredo, V Fórum de Estudos Lingüísticos. Petrópolis: Vozes, p.101-121, 2001a.. Le Rythme Statique, la Syncope et la Figuralité In: Sémiotique du Beauorg.Groupe Eidos. Paris I/Paris VIII. Éditeur: l Harmattan, 2003c, p.141-159.. A Noção de Objeto: Presentificação e Representação- In: III Selissigno e IV Simpósio de Leitura da UEL-2002 - Discurso e Representação. Org. L. Limoli Londrina: publicação em CD-ROM. ISSN 16.796.829 2004a.. Perspectivas Semióticas na Noção de Objeto. In: Comunicação: VEREDAS, n 5, - Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação- org. Flory, S. e Bulik, L.. Marília: Editora UNIMAR - 2006c, p. 09-22.. 3 Apostilas: Semiótica e Comunicação nos discursos Publicitário e Cinematográfico (Harry Potter); Para entender Greimas (semiótica e análise do discurso político) e Retórica do Visual, oferecidas em sala de aula. Curso de Pós-graduação em Comunicação - Universidade de Marília UNIMAR-2006d. GREIMAS, A. J. e COURTÉS, J. Dicionário se semiótica. São Paulo: Cultrix, 1989. 16