CONTRIBUIÇÃO ANALÍTICA SOBRE OS IMPACTOS NA ESTRUTURA SOCIAL RURAL PROVOCADOS PELA AGROINDÚSTRIA E INTEGRAÇÃO REGIONAL NO BRASIL

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CONTRIBUIÇÃO ANALÍTICA SOBRE OS IMPACTOS NA ESTRUTURA SOCIAL RURAL PROVOCADOS PELA AGROINDÚSTRIA E INTEGRAÇÃO REGIONAL NO BRASIL Eixo Temático: Globalización, integración y dinámicas territoriales Autor - André Luís Ferreira Lima Mestrando em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES andresmoc@yahoo.com.br Co- autor - Aline Chelone Maia Aleixo Mestranda em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES alinechelone@yahoo.com.br Resumo: O presente artigo busca contribuir para o debate em torno da agricultura e agroindústria e suas possibilidades de desenvolvimento a partir da integração regional, à luz das relações de globalização dos mercados no contexto brasileiro. Propõe apontar que as transformações na organização da produção e distribuição agrícola desencadeada pelo capital agroindustrial, tem sido fator determinante no rearranjo territorial, obrigando os sujeitos excluídos desse processo a engendrar novas táticas de sobrevivência. Submetendo-se o campo a uma complexa rede de reprodução do capital marcado por mudanças organizacionais e tecnológicas, o resultado é uma total remodelação do espaço agrário, colocando em evidência novos desafios teórico-metodológicos associados às redefinições do mundo rural na era globalização. Além disso, estes espaços não experimentam apenas mudanças estruturais que determinam as variações econômicas. É também neste cenário que a interação em rede expressa na economia, sociedade e cultura regida pelo plano capitalista local, regional ou global, sustentando um novo tipo de superação do tempo e espaço. São questionados os paradigmas sociais, a configuração do trabalho e os modelos econômicos existentes. A exemplo disto, Castells (2006) indica que o avanço tecnológico proporcionou um aumento exponencial do efeito de rede, modelando a sociedade atual, na qual se insere a sociedade da informação e do conhecimento. As grandes cadeias produtivas que articuladas a produção agrícola com a produção industrial e com os setores de comércio e serviço faz com que a competitividade alcance o centro das atenções na relação com o desenvolvimento econômico. Adiante, os mecanismos de flexibilidade no processo trabalhista surgem com elementos contraditórios, pois envolvem a reprodução da vida cotidiana bem como revigorando os impactos nas estruturas sociais rurais, atingindo diretamente os pequenos produtores do campo. O que se percebe é que, estimulado pelo decurso da desregulação/re-regulação do espaço rural, o conflito entre capital e trabalho acirra-se no bojo das relações de expropriação territorial. Esta lógica excludente faz parte da agenda política do Estado, que por meio de iniciativas jurídicas e incentivos econômicos especificamente direcionados tendem a beneficiar grandes produtores nesta relação de disputa, ligada aos interesses mercantins múltiplos pelo território. Por fim, entendemos que o conceito de Questão Agrária coloca-se como alicerce essencial para explicar estes fenômenos numa perspectiva crítica de análise. Palavras-chave: Questão Agrária; Agroindústria; Integração Regional; Disputas Territoriais.

Introdução Em virtude das mudanças de relações que ocorrem no campo brasileiro, a Questão Agrária se tornou um norte para as discursões a respeito da atual conjuntura da agricultura, agroindústria, integração regional na atual conjuntura da globalização dos mercados. Visto que se aponta de interessante nesta nova fase de investimento do capital na agricultura é a questão do avanço deste setor: insumos, produção, processamento, distribuição até o consumidor final. Como decorrência deste raciocínio, é possível compreender a territorialização do capital na agricultura como estratégia para a reprodução deste setor específico da economia, desdobrando-se conforme o processo de inovação e de concorrência inter-capitalista. Além disto, o conflito entre capital e trabalho é notório entre os sujeitos envolvidos neste processo. Trata-se portando de compreender a expropriação territorial no bojo das relações entre a agricultura familiar (pequeno produtor) e o agronegócio representado pelo grande capital. Esta lógica excludente faz parte da agenda política do Estado, que por meio de iniciativas jurídicas e incentivo econômico tende a beneficiar o grande produtor nesta relação de disputa ligada aos interesses múltiplos pelo território. Como bem sinaliza Ortega (2005, p.44), a representação de interesses do agronegócio no Brasil foi se modificando ao longo das décadas, expandindo num processo cuja representação de interesses se baseia na hegemonia de um reduzido grupo de organizações formais que realizam a intermediação social de seus representantes. Os processos de desregularização setorial é a analisado como uma das estratégias de internacionalização como impacto direto sobre a organização dos sistemas produtivos. Em Do Complexo Rural aos Complexos Agroindustriais, Graziano da Silva (1996, p.25) aponta que: Em resumo, na década de 60, particularmente em seus anos finais, havia um conjunto de condições macroeconômicas e politicas internas que possibilitaram uma mudança qualitativa no padrão de desenvolvimento da agricultura e no lugar que ela passava a ocupar no padrão geral de acumulação do pais. Essa mudança qualitativa concretizou-se nos Complexos Agroindustriais e no processo de fusão/integração de capitais intersetoriais pelo capital financeiro. Assim, as grandes cadeias produtivas que articulam a produção agrícola com a produção industrial e com os setores de comércio e serviço fez com que a competitividade alcançasse o centro das atenções na relação com o desenvolvimento econômico. A inserção de tecnologia altamente avançada proporciona um ganho maior na produtividade e lucratividade. Esta interação em rede expressa na economia, sociedade e cultura pela interação capitalista seja ela, local regional ou global, sustenta um novo tipo de superação do tempo e espaço. Os paradigmas sociais, bem como a configuração do trabalho e os modelos econômicos existentes se apresenta como elemento contraditório, revigorando os impactos nas estruturas sociais rurais, atingindo diretamente o trabalhador do campo.

Por sua vez, o agricultor familiar que se encontra encurralado pela complexa trama de relações latifundiárias, se vê agora imerso no desafio de resistir também a busca desenfreada pelos setores que atuam em rede. Isso implica na substituição da produção de alimentos (Soberania Alimentar), considerando que o poder de pressão do capital endossado pelo Estado tende a beneficiar os Complexo Agroindústrias recriando novos ciclos de conflituosidade no campo brasileiro. Somente o Plano Safra 2013/2014 da Agricultura Familiar representa pouco mais de 20% do que é destinado ao agronegócio. O processo de mediação da produção e reprodução do capital no campo brasileiro não pode ser visto sem o entendimento das mediações do Estado para que o capital nacional e internacional siga seu processo de territorialização e subordinação do trabalho e da terra aos seus ditames. (THOMAZ JUNIOR, 2002, p. 23). Um dos principais vetores de influência no cenário em questão é o desenvolvimento tecnológico como fator de desenvolvimento dos setores agroindustriais. Nota-se que mais uma vez o pequeno agricultor se insere neste processo apenas como consumidor de novas tecnologias, muitas vezes imposta pela conjuntura de incentivos que obrigam estes a produzirem conforme os interesses do capital. Esta reprodução dos pequenos produtores e o espaço de mercado que ocupam na economia rural dependem fundamentalmente dos rumos que toma a política agrícola governamental. Sobre isto, define-se três tipos de produtores: aquelas que aderem a investida do capital, sobretudo que se encontravam no bojo das novas relações de forma economicamente consolidada. [...] a modernização da agricultura não conduz, necessariamente, ao desenvolvimento rural e sim ao desenvolvimento econômico, porque está diretamente interessada no aumento da produção e produtividade; não leva em conta o homem, elemento importante nesta transformação e em todo processo de desenvolvimento também, pois as condições socioeconômicas das pessoas que participam diretamente no processo de produção constituem preocupações do desenvolvimento rural (PESSÔA, 1982, p. 20). Também se encontram os pequenos e médios produtores que tem uma fraca participação no setor, tendo em vista que dependem de vários fatores para garantir a sua integração no modelo industrial. E por último, os trabalhadores que são excluídos totalmente deste contexto, são os chamados sem-terra que utilizam da prática de ocupação, reinvindicações junto ao estado e luta cotidiana por melhores condições de vida como tática de sobrevivência dentro da cadeia do sistema. O desenvolvimento Agroindustrial no Brasil Todo este processo, como foi referido acima só é possível a partir da área de biotecnologia, principalmente voltada para a cadeia agroalimentar.

Os produtos da agricultura igualmente apresentaram problemas singulares para a produção industrial. O destino deles como alimento impedia sua simples substituição por produtos industriais. Entretanto, o surgimento da indústria alimentícia, argumentamos, representa um processo igualmente descontínuo, mas permanente, de alcançar a produção industrial de alimentos, que denominamos substitucionismo. Neste processo, a atividade industrial não apenas representa uma proporção crescente do valor agregado, mas o produto agrícola, depois de ser primeiramente reduzido a um insumo industrial, sofre cada vez mais a substituição por componentes não-agrícolas. (GOODMAN; SORJ; WILKISON; 1990, pag.21) A análise denota que os complexos agroindústrias é por tanto transitória, no sentido que o domínio da capital sobre a natureza representado pela indústria, apesar do avanço das biotecnologias nas últimas décadas, apresenta alguns limites inerentes a condição tecnológica. Assim, as barreiras naturais sobre a lavoura, mesmo com um maior controle sobre a produção, apresentam-se como restrição do domínio do homem sobre a natureza. Este processo se consolida na forma de organização entre a agricultura e indústria, tendo em vista que a organização em rede permite uma diminuição da fronteira entre a produção e os limites naturais. Completo Agroindustrial em Campo Florido MG Autor: LUÍS, A.L.F. 2014 Tais empresas tendem a organizar a cadeia de produção e distribuição a partir de redes de subsidiárias, que consiste em uma série de relações essencialmente financeira, aprofundando a dependência dos países subdesenvolvidos perante o cenário de internacionalização do capital. Em outras palavras, a subordinação das biotecnologias a serviço das agroindústrias se dá a partir de investimentos estrangeiros e não responde as necessidades reais de uma população marginalizada neste processo, como é o caso dos milhares de sem-terra que existem no país. Ao discutir sobre isto, a pesquisadora Elias (2008, p.23) aponta que: Por outro lado, amplia-se o processo de subordinação de alguns pequenos produtores agrícolas que, ao invés de expropriados pelo processo de territorialização do espaço agrário, subordinam-se diretamente às empresas agrícolas, e acabam por transferir parte da renda da

terra que lhes caberia. Esta subordinação se dá através de mecanismos financeiros e de controle técnico da produção, assim como pela contratação da compra da produção, desenvolvendo-se empresas semi-integradas. Todo este processo verificado acima traduz os rumos que a agricultura moderna tem seguido conforme as relações setoriais entre a indústria e agricultura. O investimento do capital através da biotecnologia e das novas relações de produção esboça que a agricultura vem perdendo cada vez mais o seu caráter autônomo, a partir também das articulações entre os setores proposta pelos Complexos Agroindustrial, que em ultima instância representa a acumulação geral do capital em curso no Brasil e no mundo. Borrás e Toledo (2006, p.35 ) abordam que: Desse modo, uma cadeia agroindustrial pode ser entendida como o conjunto multicamada de redes de produção com fluxos multidirecionais de matérias e informação, em que a manutenção de sua estrutura está pautada nas relações entre os agentes de um segmento e deste com outros segmentos ou camadas, podendo ser influenciada pelos ambientes socioeconômico, político, ambiental e tecnológico nos quais a cadeia está inserida, tendo como objetivo principal à produção de alimentos saudáveis e capazes de sustentar a saúde do consumidor ao mesmo tempo em que proporciona claros benefícios aos integrantes da rede. Como bem sinaliza Ortega (2005, p.30), a representação de interesses do agronegócio no Brasil foi se modificando ao longo das décadas, expandindo num processo cuja representação de interesses se baseia na hegemonia de um reduzido grupo de organizações formais que realizam a intermediação social de seus representantes. Levando em consideração o acima exposto e para procurar entender a evolução da fronteira agrícola e os impactos produzidos por este fenômeno, compete observar que na visão de Martins (1997, p.22) a fronteira tem um caráter litúrgico e sacrificial, porque nela o outro é degradado para, desse modo, viabilizar a existência de quem o domina, subjuga e explora. [...] é na fronteira que encontramos o humano no seu limite histórico. Entretando, com Grabois apud Marques (2004, p.65) destaca que: [...] A luta pela terra hoje existente no país constitui, de um modo geral, mais um capitulo da história do campesinato brasileiro, movido pelo conflito entre a territorialidade capitalista e a territorialidade camponesa inaugurado com a criação do mercado de terras no Brasil na segunda metade do século XIX. Mas as novidades observadas neste momento são muitas, a começar pelo processo de recampesinação verificada, que representa a negação da uniformidade do processo de proletarização em curso no campo, demonstrando que a possibilidade de recriação camponesa não se esgota em a expropriação e migração destas pessoas para a cidade. Em suma, os desafios apresentados frente às mudanças em curso no campo englobando desde a produção até o consumidor final, sugere uma redefinição nas táticas e estratégias a serem

adotadas frente aos perigos que os investimentos e suas principais consequências resultam para a população em geral. Por isso, compreendemos que: O processo de integração indústria e agricultura não se deu à margem das relações entre as grandes empresas, os grupos econômicos e o Estado. Este último atuou, sobretudo, através de subsídios creditícios, incentivos fiscais e toda uma bateria de políticas incentivadoras das exportações (MÜLLER, 1989, p. 18). Oberva-se que o constante aumento da modernização além de não garantir o aumento na produção, contribui para a degradação ambiental colocando em risco as populações expostas a este tramite principalmente no que diz respeito à produção de alimentos. Considerações Finais O debate em torno da agricultura e agroindústria e suas possibilidades de desenvolvimento a partir da integração regional, à luz das relações de globalização dos mercados no contexto brasileiro. Propõe apontar que as transformações na organização da produção e distribuição agrícola desencadeada pelo capital agroindustrial, tem sido fator determinante no rearranjo territorial, obrigando os sujeitos excluídos desse processo a engendrar novas táticas de sobrevivência. Submetendo-se o campo a uma complexa rede de reprodução do capital marcado por mudanças organizacionais e tecnológicas, o resultado é uma total remodelação do espaço agrário, colocando em evidência novos desafios teórico-metodológicos associados às redefinições do mundo rural na era globalização. Além disso, estes espaços não experimentam apenas mudanças estruturais que determinam as variações econômicas. É também neste cenário que a interação em rede expressa na economia, sociedade e cultura regida pelo plano capitalista local, regional ou global, sustentando um novo tipo de superação do tempo e espaço. As grandes cadeias produtivas que articuladas a produção agrícola com a produção industrial e com os setores de comércio e serviço faz com que a competitividade alcance o centro das atenções na relação com o desenvolvimento econômico. Adiante, os mecanismos de flexibilidade no processo trabalhista surgem com elementos contraditórios, pois envolvem a reprodução da vida cotidiana bem como revigorando os impactos nas estruturas sociais rurais, atingindo diretamente os pequenos produtores do campo. Em outras palavras, a mesma balança comercial que pesa a transação das commodities, tem dois pesos e duas medidas para as populações locais. O que se percebe é que, estimulado pelo decurso da desregulação/re-regulação do espaço rural, o conflito entre capital e trabalho acirra-se no bojo das relações de expropriação territorial. Na prática, resta aos sujeitos marginalizados neste processo a ação coletiva, organizada por setores específicos da sociedade para a defesa ou promoção de territorialidades, em foco, a territorialidade

camponesa. Esta lógica excludente faz parte da agenda política do Estado, que por meio de iniciativas jurídicas e incentivos econômicos especificamente direcionados tendem a beneficiar grandes produtores nesta relação de disputa, ligada aos interesses mercantins múltiplos pelo território. Por fim, entendemos que o conceito de Questão Agrária coloca-se como alicerce essencial para explicar estes fenômenos numa perspectiva crítica de análise. Referências BORRÁS, M.A.A. e TOLEDO, J.C. A Coordenação de Cadeias Agroindustriais: Garantindo a Qualidade e Competitividade no Agronegócio. Agronegócios: Gestão e Inovação. Soares e Queiroz (Orgs.), São Paulo: Saraiva, 2006, p. 21-55. COSTA, W.M. O Estado e as políticas territoriais do Brasil. São Paulo: Contexto, 2000. DELGADO, G.C. Capital Financeiro e Agricultura no Brasil: 1965-1985. São Paulo: Campinas: Ícone Editora: Editora da Unicamp, 1985, 240 p. FEITOSA, A.M.A.; ZUBA, J.A.G.; JOÃO; C.J (orgs). Debaixo da lona: tendências e desafios regionais da luta pela posse da terra e da reforma agrária no Brasil. Goiânia: UCG, 2006. FELICIANO, C.A. O movimento camponês rebelde: a reforma agrária no Brasil. São Paulo: Contexto, 2006. Capital financeiro e agricultura no desenvolvimento recente da economia brasileira. Campinas: UFRGS, 2012. GOODMAN, D. E., SORJ, B. E WILKINSON, J. Agroindústria, Políticas Públicas e Estruturas Sociais Rurais: Análises Recentes sobre a Agricultura Brasileira. Revista de Economia Política, v. 5, no. 4, out/dez. 1985, p. 31-56. Da Lavoura às Biotecnologias: Agricultura e Indústria no Sistema Internacional. Rio de Janeiro: Campus, 1990, 192 p. GRAZIANO DA SILVA, J.. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas: UNICAMP, 1996. GUIMARÃES, A. P. O complexo agroindustrial. Revista Abra, Brasília, 1.304, 2-12, janeiro, 1976. HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios à multiterritorialidade. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2004. KAUTSKY, K. A questão agrária. Rio de Janeiro: Proposta editorial, 3 ed. 1980, 329 p. MÜLLER, G. Complexo Agroindustrial e Modernização Agrária. São Paulo: HUCITEC: EDUC, 1989, (Estudos Rurais; 10), 149 p.

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