MINISTÉRIO DA FAZENDA CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS QUARTA TURMA



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Transcrição:

MINISTÉRIO DA FAZENDA CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS QUARTA TURMA Processo nº : 13808.001883/99-44 Recurso nº : 106-130719 Matéria : IRPF Recorrente : LAW KIN CHONG Recorrida : 6ª CÂMARA DO PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES Interessada : FAZENDA NACIONAL Sessão de : 14 de março de 2006 RECURSO ESPECIAL DE DIVERGÊNCIA A instância especial não se presta ao exame de novas provas. IRPF RENDIMENTOS RECEBIDOS DO EXTERIOR DOAÇÃO Não se comprovando nos autos a natureza de doação, consideram-se tributáveis os rendimentos recebidos do exterior. Recurso especial negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso interposto por LAW KIN CHONG, ACORDAM os Membros da Quarta Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, por unanimidade de votos, NEGAR provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. MANOEL ANTONIO GADELHA DIAS PRESIDENTE MARIA HELENA COTTA CARDOZO RELATORA FORMALIZADO EM: Participaram ainda, do presente julgamento, os conselheiros: LEILA MARIA SCHERRER LEITÃO, ROMEU BUENO DE CAMARGO, REMIS ALMEIDA ESTOL, JOSE RIBAMAR BARROS PENHA, WILFRIDO AUGUSTO MARQUES e MÁRIO JUNQUEIRA FRANCO JÚNIOR. Rr

MINISTÉRIO DA FAZENDA CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS QUARTA TURMA Recurso nº. : 106-130.719 Recorrente : LAW KIN CHONG Interessada : FAZENDA NACIONAL R E L A T Ó R I O Em sessão plenária de 28/01/2003, a Sexta Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes julgou o Recurso Voluntário nº 130.719, proferindo a decisão consubstanciada no Acórdão nº 106-13.145 (fls. 653 a 696 Volume 03), acatada pelo voto de qualidade. O julgado foi assim decidido e ementado: Pelo voto de qualidade, DAR provimento PARCIAL ao recurso, para: I - acolher parcialmente as doações em dinheiro, recebidas do exterior, devidamente comprovadas, são classificadas como rendimentos isentos e não tributáveis; por maioria de votos: II - acolher as sobras de recursos no final do ano, apuradas em procedimento fiscal, como origens para o exercício seguinte, nos anos de 1994, 1995; III - acolher a sobra de recursos no final do ano de 1996, apurada em procedimento fiscal, como origem para o exercício seguinte, no ano de 1997; IV - acolher como origens o valor de empréstimo de pessoa física; por unanimidade de votos: V - afastar a aplicação de multa isolada.vencidos, no item I, os Conselheiros Romeu Bueno de Camargo, Orlando José Gonçalves Bueno, Edison Carlos Fernandes e Wilfrido Augusto Marques; no item II, os Conselheiros Luiz Antonio de Paula (Relator), Thaisa Jansen Pereira e Zuelton Furtado; no item III, o Conselheiro Zuelton Furtado; no item IV, os Conselheiros Luiz Antonio de Paula (Relator) e Zuelton Furtado; e o Conselheiro Wilfrido Augusto Marques que dava provimento para excluir a cobrança de juros pela taxa SELIC. Designado para redigir o voto vencedor, nos Itens II e IV, o Conselheiro Wilfrido Augusto Marques. (grifei) DOAÇÕES EM DINHEIRO RECEBIDAS DO EXTERIOR - Somente são considerados como rendimentos isentos ou não tributáveis doações em dinheiro recebidas do exterior, quando devidamente declaradas e comprovadas mediante documentação hábil e idônea. EMPRÉSTIMO NÃO COMPROVADO - MÚTUO - A alegação da existência de empréstimos realizados com terceiros deve vir

MINISTÉRIO DA FAZENDA CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS QUARTA TURMA acompanhada de provas inequívocas da efetiva transferência dos numerários emprestados, não bastando a simples apresentação do contrato de mútuo e/ou a informação nas declarações de bens do credor e do devedor. ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO - APURAÇÃO - SOBRAS DE RECURSOS - No cálculo do acréscimo patrimonial, as sobras de recursos detectadas dentro do ano calendário, devem ser automaticamente transpostas mês a mês, por intermédio do "fluxo de caixa", até o mês de dezembro. No ano-calendário subseqüente, somente poderão ser utilizadas as sobras de recursos constantes na Declaração de Bens e Direitos e devidamente comprovados. ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO - TRIBUTAÇÃO - Não tendo o contribuinte logrado comprovar integralmente a origem dos recursos capazes de justificar o acréscimo patrimonial, através de rendimentos tributáveis, isentos ou tributáveis exclusivamente na fonte, é de se manter o lançamento de ofício. DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL INEXATA - MULTA ISOLADA - DUPLA INCIDÊNCIA - A omissão de rendimentos recebidos de pessoas físicas deve ser punida com multa isolada na forma prevista no art. 44, 1º, inciso III, da Lei nº 9.430, de 27/12/1996, mas incorreta sua exigência quando conjunta com a penalidade por declaração inexata. Dupla penalização para uma mesma base de incidência. MULTA DE OFÍCIO - O não cumprimento da obrigação tributária, verificado em procedimento fiscalizatório, acarreta a cobrança do imposto devido, com os acréscimos de multa de ofício de 75% (setenta e cinco por cento) sobre o valor deste. JUROS MORATÓRIOS - TAXA SELIC - O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta. O percentual de juros a ser aplicado no cálculo do montante devido é o fixado no diploma legal vigente à época do pagamento. INCONSTITUCIONALIDADE - Não cabe à autoridade administrativa apreciar matéria atinente à inconstitucionalidade de ato legal, ficando esta adstrita ao seu cumprimento, O foro próprio para discutir sobre esta matéria é o Poder Judiciário. IRPF - ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO - FORMA DE APURAÇÃO - A partir do ano-calendário de 1989, o acréscimo patrimonial não justificado deve ser apurado mensalmente, Rr

MINISTÉRIO DA FAZENDA CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS QUARTA TURMA confrontando-se os rendimentos do respectivo mês, com transporte para os períodos seguintes dos saldos positivos de recurso, conforme determina o artigo 2º da Lei nº 7.713/88. Em análise sistemática desta norma não se verifica qualquer óbice ao aproveitamento do saldo de recursos verificado ao final de um ano no ano seguinte. Outrossim, não existe disposição legal que autorize a presunção de consumo integral do saldo de recursos encontrado ao fim do ano. IRPF - EMPRÉSTIMO ENTRE PESSOA FÍSICAS - COMPROVAÇÃO - Para comprovação do empréstimo entre pessoas físicas é suficiente o registro pelo mutuário e mutuante em suas declarações de imposto de renda, aliado a contrato que demonstre a operação e seus termos. Recurso parcialmente provido. Inconformado, o sujeito passivo, com base no art. 5º, inciso II, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, interpõe tempestivamente o Recurso Especial de fls. 718 a 734 Volume 03. O Recurso Especial aborda dois pontos, a saber: - doações provenientes do exterior; - acréscimo patrimonial a descoberto. Quanto ao segundo ponto, não houve demonstração de divergência, razão pela qual o Recurso Especial só teve seguimento relativamente à matéria glosa de doações provenientes do exterior, conforme final do Despacho 106-191/2004 (fls. 789 a 794 Volume 03). No que tange à matéria que teve seguimento, o Recurso Especial traz os seguintes argumentos, em síntese:

MINISTÉRIO DA FAZENDA CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS QUARTA TURMA - conforme o relator do acórdão recorrido, os documentos destinados a comprovar o ingresso dos recursos financeiros no Brasil não evidenciam a natureza da operação (doação), nem identificam o nome do doador (Sr. Law Chung); - das onze remessas, sete não registravam, por mero lapso, a natureza da operação, bem como o nome do doador, omissão essa superada com a juntada da documentação retificadora, obtida junto ao Banco do Brasil; - as remessas qualificadas como rendimentos entraram no país em cumprimento do contrato de doação autenticado e traduzido, elaborado na cidade de Assunção, na República do Paraguai, celebrado em 16/12/1994 e 12/04/1995, nos valores de US$ 300.000,00 e US$ 700.000,00, respectivamente, resgatados parcialmente em datas posteriores, conforme demonstrativo; - quanto à argumentação de que o doador Sr. Law Chung não apresentou as declarações de rendimentos a que se obrigava como residente no Brasil, observa-se que este, naturalizado paraguaio, tem residência fixa no Paraguai, conforme atestado juntado aos autos. Cientificada do Recurso Especial em 20/05/2005, a Fazenda Nacional apresentou, em 03/06/2005, tempestivamente, as contra-razões de fls. 795 a 797 Volume 03. Volume 03. O processo foi distribuído a esta Conselheira, numerado até as fls. 799 É o relatório. Rr

VOTO Conselheira MARIA HELENA COTTA CARDOZO, Relatora. Trata o presente Recurso Especial, interposto tempestivamente pelo sujeito passivo, da exigência de Imposto de Renda Pessoa Física dos exercícios de 1996 a 1998, anos-calendário de 1995 a 1997, tendo em vista a omissão de rendimentos recebidos de fontes no exterior e acréscimo patrimonial a descoberto. O Recurso Especial só teve seguimento quanto à primeira matéria, cuja autuação decorreu da descaracterização, como doações efetuadas pelo genitor do contribuinte (Sr. Law Chung), de valores recebidos do exterior, considerando-se que não houve a comprovação por meio de documentação hábil e idônea. Das onze remessas recebidas pelo sujeito passivo, no acórdão recorrido se considerou como doações recebidas de seu genitor apenas quatro delas. Nesse passo, o contribuinte apresenta os documentos de fls. 741 a 751, relativos às sete remessas restantes. Preliminarmente, releva notar que o Recurso Especial de Divergência não se presta ao exame de novas provas, mas sim à discussão acerca da questão de direito envolvida, examinando-se nessa oportunidade as diferentes interpretações conferidas à lei que deu suporte à exigência. Assim, a interpretação do acórdão recorrido é no sentido de que, para efeito de isenção, a comprovação de doação recebida do exterior requer a constatação do efetivo ingresso dos valores, e não a simples apresentação do contrato de doação (fls. 678 Volume 3), bem como o registro dos valores na declaração do beneficiário. No caso em apreço, apenas parte das remessas foi considerada comprovada. 6

Quanto aos paradigmas trazidos à colação pelo contribuinte, o primeiro deles pontifica que apenas o contrato é suficiente (102-43.161, fls. 725 Volume 3); o segundo, tal como o acórdão recorrido, entende ser indispensável a comprovação da entrada dos valores no território nacional (104-16.187, fls. 726 Volume 3); o terceiro, sem indicação da respectiva numeração, foi proferido pela mesma Câmara que exarou o recorrido, portanto não pode ser considerado (fls. 727 Volume 3); o último vaza o entendimento no sentido de que, tratando-se de doação em família, bastaria a confirmação do doador, desde que a disponibilidade para comportar a liberalidade não seja contestada pelo fisco (104-15.979, fls. 728, Volume 3). Como se vê, o assunto comporta as mais diversas teses, uma vez que se trata da análise de provas, o que requer a formação de convicção por parte do julgador, a teor do art. Do Decreto nº 70.235, de 1972, a seguir transcrito: Art. 29. Na apreciação da prova, a autoridade julgadora formará livremente sua convicção, podendo determinar as diligências que entender necessárias. Destarte, relativamente à matéria ora tratada, concordo com o entendimento esposado na decisão de primeira instância, que aqui adoto e reitero: 32.Segundo o item 5 do Termo de Verificação Fiscal (fls. 255/257), a Fiscalização desconsiderou como doações as remessas efetuadas do exterior, declaradas como Rendimentos Isentos e Não Tributáveis nas declarações de ajuste anual relativas aos anos-calendário de 1995 (R$ 169.951,98), 1996 (R$ 94.910,18) e 1997 (R$ 558.125,39), tributandoas como rendimentos recebidos do exterior, justificando que: a) O contribuinte apresentou para fins de comprovação das referidas doações, cópias de remessas financeiras feitas no exterior (fls. 168/175), tendo como instituição financeira o Banco do Brasil SA. De um total de onze remessas efetuadas, abaixo relacionadas, seu pai, Sr. Law Chung, apareceu como remetente em sete delas, não havendo menção do remetente nas demais. Em quatro destes comprovantes constou que o motivo da remessa é doação. (...) 7

b) Segundo o documento de doação devidamente autenticado e traduzido, feito em Assunção/Paraguai, apresentado pelo contribuinte em 13/12/99 (fls. 177/187), o Sr. Law Chung teria doado ao seu filho Law Kin Chong: b.1) em 16/12/94, a importância de US$ 300.000,00; não lançada pelo beneficiário da doação na declaração de ajuste anual correspondente ao ano-calendário 1994; b.2) em 12/04/95, a quantia de US$ 700.000,00; tendo o beneficiário lançado nas declarações de ajuste anual relativas aos anos-calendário de 1995, pelo valor de R$ 169.951,98, 1996 por R$ 94.910,18 e 1997 por R$ 558.125,39. c) As remessas feitas no exterior não coincidem em data e valor com os instrumentos de doação acima citados. O contribuinte não fez constar em sua declaração de bens o crédito relativo ao montante ainda não remetido, ficando assim prejudicada a sua intenção de vincular tais remessas como doações. e) O Sr. Law Chung, titular do CPF nº 239.852.918-53, atua como responsável pela empresa atualmente omissa contumaz, conforme pesquisa às fls. 160/164, encontrando-se na condição de omisso de entrega de Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física. f) De acordo com as informações fornecidas pelo Departamento de Polícia Federal/Setor de Registro de Estrangeiros, o Sr. Law Chung entrou no país em 10/11/1963, na condição de Visto Permanente, não existindo informações de que o mesmo tenha se ausentado do país por mais de 12 meses ou em caráter temporário, sendo recadastrado em 1997. g) O doador encontra-se na condição de residente no país, sujeitandose às normas do Imposto de Renda Pessoa Física. Por se encontrar omisso, a Fiscalização não pode comprovar o suporte financeiro e o lançamento em declarações dessas supostas operações. 33. A análise da documentação anexada nos autos (fls. 03/17, 168/175, 177/188, 331/342, 343/355, 356/360 e 440/455) revela não assistir razão ao impugnante. Senão vejamos. 34. Segundo o art. 1.165 do Código Civil, considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra, que os aceita. 35. A doação, no caso, está sujeita à exigência determinada no art. 1.168 do Código Civil, abaixo transcrito. 8

Art. 1.168. A doação far-se-á por escritura pública, ou instrumento particular (art. 134). Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir, incontinenti a tradição. 36. Tratando-se, ainda, de documento de doação produzido no exterior, está sujeito, também, ao cumprimento do disposto no art. 129, item 6º, da Lei nº 6.015, de 31/12/1973. Lei nº 6.015/1973: Art. 129. Estão sujeitos a registro, no Registro de Títulos e Documentos, para surtir efeitos em relação a terceiros: (...) 6º) todos os documentos de procedência estrangeira, acompanhados das respectivas traduções, para produzirem efeitos em repartições da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios ou em qualquer instância, juízo ou tribunal; 37. Examinando, pois, os documentos de doação de dinheiro lavrados em Assunção/Paraguai, em 16/12/1994 (fls. 177/179) e 12/04/1995 (fls. 182/184), respectivamente, nos valores de US$ 300.000,00 e US$ 700.000,00, em que figuram como doador o Sr. Law Chung e como donatário, o Sr. Law Kin Chong, verifica-se que, ainda que vertidos em nosso vernáculo (fls. 180/181 e 185/187), não se revestem das formalidades essenciais prescritas no art. 129 da Lei nº 6.015/1973 acima reportado. 38. Eis que os aludidos documentos não surtem os efeitos legais pretendidos pelo interessado perante o Fisco brasileiro. Em outras palavras, não se prestam para dar suporte legal às quantias lançadas a título de rendimentos isentos e não tributáveis (doações), nas declarações de ajuste anual relativas aos anos-calendário de 1995, 1996 e 1997 (fls. 03/17). 39. Além disso, o contribuinte não fez constar nas respectivas declarações de bens e direitos os valores das alegadas doações existentes em 31 de dezembro do ano-calendário, conforme obriga o art. 848 do RIR aprovado pelo Decreto 1.041, de 11/01/1994, in verbis: Art. 848. A pessoa física deverá apresentar relação pormenorizada dos bens imóveis e móveis, que, no País ou no exterior, constituíam separadamente seu patrimônio e de seus dependentes, em 31 de dezembro do ano-calendário (Lei nº4.069/62, art. 51). 9

1º É obrigatória a inclusão de todos e quaisquer bens e direitos, inclusive títulos e valores mobiliários, na declaração de bens da pessoa física (Lei nº 8.383, art. 96, 4º). 40. Como se nota, a obrigatoriedade da declaração alcança, inclusive, os bens e direitos existentes no exterior em 31 de dezembro do anocalendário. Independem, para fins de declaração do imposto de renda, de transferência ou não para o Brasil dos rendimentos auferidos no exterior. Vige no Brasil o chamado princípio da universalidade da renda. 41. Deveria, pois, o interessado ter declarado as supostas doações de dinheiro outorgadas por seu pai, em 16/12/1994 (US$ 300.000,00) e 12/04/1995 (US$ 700.000,00), nas declarações de ajuste anual correspondentes aos anos-calendário de 1994 e 1995. 42. Diz o Manual da Declaração de Ajuste Anual relativo ao anocalendário 1994, em seu Quadro 7 Declaração de Bens e Direitos, sob subtítulos Doação em dinheiro e Bens situados no exterior, que: Doação em dinheiro As doações recebidas em dinheiro em 1994 devem ser relacionadas na coluna discriminação, de forma destacada e pormenorizada, com indicação da espécie, nome, CPF e endereço de quem efetuou a doação. Na coluna ano de 1994, indique o saldo porventura existente em 31/12/94 dividido pela UFIR do mês de dezembro/94. O doador deve informar em sua declaração, na Relação de Doações e Pagamentos Efetuados, quadro 6, pág. 2, o nome, o CPF do beneficiário e o valor doado. Bens situados no exterior Os bens existentes no exterior, adquiridos em 1994, devem ser relacionados na coluna discriminação pelos valores de aquisição constantes dos respectivos instrumentos de transferência de propriedade, segundo a moeda do país em que estiverem situados. Na coluna ano de 1994, informe o valor correspondente em cruzeiros reais ou Reais pela cotação cambial de venda do dia da transmissão da propriedade, convertido em UFIR pelo valor desta mo mesmo mês. 43. Semelhante indicação consta, também, no Manual para Preenchimento da Declaração de Ajuste Anual relativo ao anocalendário 1995 e seguintes. 10

44. A respeito da matéria, registre-se, ainda, a Nota 1553 anexa ao art. 853 do RIR aprovado pelo Decreto nº 1.041/1994. Nota 1553 Bens e valores no exterior As pessoas físicas e jurídicas estão obrigadas, na forma, limites e condições estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, a declarar ao Banco Central do Brasil, ou a quem este determinar, os bens e valores que possuírem no exterior, podendo ser exigida a justificação dos recursos empregados em sua aquisição; esta declaração deverá ser atualizada sempre que houver aumento ou diminuição de bens, dinheiro ou valores, com a justificação do acréscimo ou redução (DL 1.060/69, art. 1º). No uso desta competência, o Banco Central do Brasil dispôs que o recebimento e o controle das declarações de bens e valores serão executados pelo Ministério da Fazenda que expedirá instruções complementares sobre a matéria (Res. BCB 139/70), sendo esta exigência suprida pela apresentação da declaração anual de bens e valores de que trata o artigo 848 (ADN 7/81). 45. Uma vez mais, restou claro que o contribuinte estava obrigado a informar os valores recebidos em doação nas declarações de bens e direitos. 46. Como bem frisou a Fiscalização, as remessas financeiras de fls. 168/175, acima relacionadas, não coincidem em data e valor com os instrumentos de doação retromencionados. Não há, em suma, nenhum elemento de prova vinculando tais remessas com os ditos instrumentos. 47. Tampouco o impugnante comprovou a situação patrimonial e fiscal do Sr. Law Chung para realizar doação de tal monta para o Sr. Law Kin Chong. Segundo informação colhida pela Fiscalização (fls. 255/257), o Sr. Law Chung responde por empresa atualmente omissa contumaz, conforme pesquisa de fls. 160/164, bem como está, também, omisso de entrega de Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física. 48. De acordo, ainda, com a informação fornecida pelo Departamento de Polícia Federal/Superintendência Regional em São Paulo/Delegacia de Polícia Marítima, Aeroportuária e de Fronteiras (fls. 158/159), o Sr. Law Chung entrou no Brasil em 10/11/1963, na condição de Visto Permanente, não existindo informações de que o mesmo tenha se ausentado do País por mais de doze meses ou em caráter temporário, sendo recadastrado em 1997. Também, não há notícias de que tenha havido cancelamento de seu Registro Nacional de Estrangeiro. 49. Convém, por oportuno, destacar que o estrangeiro terá o seu registro cancelado pelo Departamento de Polícia Federal se 11

permanecer ausente do Brasil, por prazo superior a dois anos, consoante o disposto no art. 85, inc. IV, do Decreto nº 86.715, de 10/12/1981. 50. Por outro, o documento de identidade paraguaia e o passaporte paraguaio, em nome do Sr. Law Chung, juntados às fls. 188, salientese, ambos com seus prazos de validade vencidos, respectivamente, em 03/05/1989 e 10/06/1994, não se prestam para comprovar nem a condição de residente no exterior, nem a situação patrimonial/fiscal do Sr. Law Chung no período fiscalizado. Sucedendo-se o mesmo com a cópia do Contrato de Compraventa de Inmueble (fls. 356/358), de 27/12/1989, em que o Sr. Curt Ernesto Tippach alienou à Srtª Law Yuk Wah imóvel sito na Zona Residencial de Ciudad Del Este/República do Paraguai, consistente no Lote nº 05, de la Manzana nº 068. 51. Em outras palavras, não se provou que os rendimentos e os bens do doador comportavam perfeitamente tal liberalidade na época, nem ficou tal fato consignado nas correspondentes declarações de rendimentos do doador, porque omisso de entrega de declaração. 52. De resto, as remessas financeiras efetuadas do exterior (fls. 168/175 e 440/455), por si só, não bastam para comprovar a alegada transferência patrimonial que diz que aconteceu a título de doação. Vale reiterar, os instrumentos de doação apresentados pelo impugnante (fls. 427/432 e 432/437) não têm força probante perante terceiros pelas razões já assinaladas, nem provam haver vínculo com tais remessas. 53. Sendo assim, acertado o procedimento fiscal que desqualificou tais remessas como doações, tributando-as como rendimentos recebidos do exterior. Diante do exposto, por comungar com o entendimento acima, NEGO provimento ao Recurso Especial, interposto pelo sujeito passivo. Sala das Sessões DF, em de 14 de março de 2006. MARIA HELENA COTTA CARDOZO 12