O JÚRI ELZA M. GATTI BOFF BRISOTTI, ALUNA DO 8º SEMESTRE DE DIREITO DO CEUNSP - SALTO/SP RESUMO: Este trabalho pretende demonstrar aspectos históricos do Júri e algumas transformações a que esta instituição sujeitou-se no aspecto normativo. PALAVRAS-CHAVE: Homicídio Júri - Processo JÚRI Quando os antigos acreditavam na morte da Fênix, transformada em cinza, esta águia mitológica renascia para outro período de vida. Da mesma forma, o tribunal do júri. Quando os inimigos acreditam na sua extinção, ele continua para oferecer ao povo uma justiça mais equânime e mais humana. Vitorino Prata Castelo Branco Quando o advogado, com as vestes talares e os autos do processo entre as mãos, se levanta para iniciar a defesa do réu no tribunal do júri, alcança ele o mais alto degrau de sua profissão. A emoção embarga-lhe a voz, breve temor aparece em seu corpo, os olhos brilham mais diante da imponência do ambiente e da responsabilidade de sua missão. Somente quem passou por esta experiência pode compreender a importância e a grandeza do advogado no tribunal do júri. Então diante do advogado a figura severa do acusador oficial, o promotor público; a presença do meritíssimo juiz de direito, presidente do tribunal; as
pessoas dos jurados, interessados e curiosos em seus respectivos lugares; os escrivães e os oficiais de justiça. No fundo da sala, estudantes de direito e populares acompanham o julgamento. Na parede atrás do presidente do tribunal, brilha a imagem de Cristo crucificado. O advogado está preparado para defender o réu, pessoa humana como qualquer outra do local, mas humilde e sucumbido, na sua miséria moral e na sua infelicidade. O advogado está preparado, por seu conhecimento do direito penal, por sua prática profissional, por seu estudo do processo, sem o qual não poderia erguer a sua voz, expor as suas razões, contradizer a acusação, apresentar a sua versão dos fatos. O advogado criminalista, atuante no júri, cônscio de sua responsabilidade profissional, conhece a psicologia social e a medicina legal, porque vai lidar com a pessoa humana e a criminologia, capaz de entender a personalidade do homem com as suas ações e reações, de analisar os laudos médicos, juntados aos autos do processo, onde muitas vezes, estão as chaves que abrirão para ele as portas da vitória forense. Sabe o advogado expor as suas idéias oralmente, de modo audível e compreensivo, aos jurados atentos ou desatentos, já que tem prática de falar em público, de persuadir e de convencer, como o bom professor ministrando uma aula. A eloqüência, se o advogado a tem é apenas para o final da defesa, especialmente na tréplica. A demonstração técnica, mostrando as provas existentes nos autos, é a melhor oratória do júri. O júri, para ser realmente o tribunal popular, democrático e livre, precisa ser soberano. As suas decisões podem ser reformadas por nulidades processuais e, até mesmo, por outros motivos, jamais pelo mérito. O júri sem
soberania de julgamento seria apenas uma figura decorativa no sistema de administração da justiça penal. A soberania do júri permite a adoção, pelo tribunal popular, das mais ousadas interpretações da lei, saindo do rigor dos métodos tradicionais. Entre muitas escolas jurídicas ensinando a interpretação e a aplicação do direito, algumas delas, destacando-se das clássicas, são inteiramente livres, isto é, não se prendem ao rigor e seguem um caminho mais equânime e mais justo. Portanto, júri é o tribunal em que cidadãos, previamente alistados, decidem em sua consciência e sob juramento, sobre a culpabilidade ou não dos acusados (réus), acerca de algumas infrações penais. HISTÓRIA O júri tem origem mítica, com características de cunho religioso, sendo que júri deriva de juramento que é tido como a invocação de Deus por testemunha. Nesse pensamento acreditava-se que quando da reunião de doze homens de consciência pura e sob invocação divina, a verdade infalivelmente surgiria. Sua origem se deu na Grécia através da Assembléia do Povo. No Brasil surgiu após a independência através da Lei 18 de junho de 1822 e limitava sua competência ao julgamento de crimes de imprensa. Somente a partir da Constituição Imperial de 1824 passou-se a considerar o júri como orgão do Poder judiciário tendo sua competência ampliada para julgar causas cíveis e criminais. Com o Código de Processo Criminal de 29 de novembro de 1832, o Brasil adotou um sistema misto, inglês e francês. Este dava aos jurados
competência sobre a matéria de fato enquanto que aquele, sobre a matéria de direito. O Decreto-Lei 261/ 1841 que afastou os sistemas inglês e francês foi ratificado pela lei 2.033, de 1891, limitando a competência do Júri. As constituições de 1891 e a de 1934 mantiveram a soberania deste tribunal com algumas alterações. A Constituição de 1937 silenciou a respeito, o que fez com que o Decreto nº. 167, de 5 de janeiro de 1938, suprimisse essa soberania, permitindo aos tribunais de apelação a reforma de seus julgamentos pelo mérito. Já a Carta de 1946 restabeleceu a soberania desta instituição, estabelecendo as seguintes características: - número ímpar de seus membros; - o sigilo da votação; - a plenitude da defesa do réu; - a soberania dos veredictos; - exclusividade quanto à competência para julgar crimes dolosos contra a vida. Por fim, a Carta de 1967 e a emenda constitucional nº 01 de 1969 e a Constituição de 1988 mantiveram a instituição com as características que foram estabelecidas na carta de 1946. O júri na atual Constituição está disciplinado no art. 5º, XXXVIII, sendo direito e garantia individual, portanto não pode ser suprimido nem por emenda constitucional por se tratar de cláusula pétrea. Importante se faz mencionar seus princípios, a saber, plenitude da defesa, o sigilo nas votações, a soberania do veredicto e a competência mínima para julgamento dos crimes dolosos contra a vida (WIKIPEDIA). A CONFORMAÇÃO ATUAL DO JÚRI Em 2008 (09/08/2008) entrou em vigor a Lei 11.689/2008. Esta traz em seu bojo significativas
alterações no processo judicial dos crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados, cujo julgamento é realizado pelo conselho de sentença, constituído de Juízes leigos, escolhidos dentre os cidadãos comuns, pessoas do povo, para julgar os seus pares, sendo esta bela instituição chamada Tribunal do Júri. A referida lei fora instituída com a finalidade de retirar o caráter burocrático e agilizar os processos criminais de competência do Tribunal do Júri. Doutrina e jurisprudência haverão de aclarar a efetividade das regras contidas. Pode-se apontar os tópicos mais relevantes das mudanças ofertadas: 1) A resposta da acusação, que deverá ser apresentada no prazo de 10 (dez) dias, a contar do cumprimento do mandado de citação, caso o réu seja citado por edital, como a lei não prevê expressamente, por analogia, conta-se do dia em que o réu deveria comparecer em juízo. A grande inovação neste tópico diz respeito à antecipação de toda defesa, ou seja, já nesse primeiro momento o Defensor constituído ou nomeado (dativo), deverá apresentar preliminares, exceções, juntar eventuais documentos, especificar as provas a serem produzidas e arrolar testemunhas até o número máximo de 08 (oito). Essa resposta, pois, é um direito/dever do réu, e, por isso, peça obrigatória, indispensável e o seu formato muito se assemelham com a contestação que se faz no processo civil. 2) Refere-se à audiência de instrução para colheitas de provas quando da formação da culpa. Copiando o sistema utilizado na Justiça do Trabalho, o legislador transformou
esse primoroso momento probatório em uma audiência una ou única, devendo nesta audiência ser ouvidas todas as testemunhas de acusação e defesa, cujo número poderá chegar a 16 (dezesseis), além de peritos, com o interrogatório do acusado, também encerrando-se, assim, a instrução probatória, oportunidade em que a acusação e a defesa terão prazo de 20 (vinte) minutos para os debates orais, respectivamente, prorrogáveis por mais 10 (dez) minutos para ambas as partes, podendo o juiz proferir a sentença nesta mesma ocasião. Ainda em relação à audiência una, foi suprimido o sistema triangular para as reperguntas formuladas pela acusação e defesa, pois, agora, utiliza-se do sistema de perguntas diretas, feitas pelas partes, sem o intermédio do Juiz. Outro importante momento desta audiência una é o interrogatório do réu, que se dará por último, o que nos parece muito sensato. Relativamente aos debates orais, nesse primeiro momento, entende-se ser muito positivo, pois está em consonância com o Princípio Oralidade, norteador da plenária do Júri, que realça o direito das partes se manifestarem, argumentando, sendo certo que, aquele que melhor elucidar os fatos e as razões de forma clara e convincente em plenário, terá, por sua vez, a possibilidade de sair vencedor. 3) A sentença de pronúncia agora deverá ser bastante sucinta, versando apenas quanto à materialidade e os indícios suficientes de autoria, de forma pontual e não aprofundada. Com a nova sentença de pronúncia, delimitadora da acusação em plenário, será dado o prazo de 05 (cinco) dias
para a acusação e a defesa apresentarem o rol de testemunhas que irão depor em plenário, cujo número máximo é de 05 (cinco), podendo as partes, nesta oportunidade, juntar documentos e requerer diligências. 4) Exigibilidade da presença de advogado indicado pela seção local da Ordem dos Advogados do Brasil, para acompanhar e fiscalizar o correto preenchimento das fichas com a indicação da profissão dos jurados. Com muita sapiência, o legislador acabou com a figura do jurado profissional ou de carreira, como conhecido, vez que aquele que integrou o conselho de sentença nos 12 (doze) meses que antecedem a publicação da lista geral, fica dela excluído. Ou seja, serviu em uma lista não poderá servir em outro, passando por um lapso temporal mínimo de 12 (doze) meses, o que nos parece muito correto. 5) Ainda com relação aos jurados, o legislador inovou positivamente ao ampliar o número de jurados para 25 (vinte e cinco). Isso contribuirá para o menor número de adiamentos da Seção Plenária por falta de quórum. Quanto aos adiamentos das seções plenárias por falta de quórum dos jurados quando convocados, levando-o a impor multa àquele faltoso, que pode variar entre 01 (um) e 10 (dez) salários mínimos. Por outro lado caso seja jurado um servidor público, terá preferência em casos de promoção e remoção voluntária, preferência para fins de concurso público. Acrescenta, ainda, o legislador, que o jurado deverá ser de idônea notoriedade. Entretanto, devese tomar por base o Magistrado Togado, que tem o dever de fundamentar suas decisões, e que, legalmente, não poderá ingressar na carreira antes dos 25 (vinte e cinco) anos de idade. Assim, não será contra-senso aceitar que um jurado (Magistrado Leigo) com apenas 18 (dezoito) anos de idade, possa julgar seu semelhante, sem o compromisso de fundamentar? (COSTA, 2008).
6) Também com a nova regra, se uma das partes quiser que seja lida alguma das provas ou peças repetíveis, deverá fazê-lo dentro do seu tempo em plenário. 7) A nova legislação dificultou a cisão ou separação dos julgamentos pelo Tribunal do Júri, forçando, assim, a realização do julgamento de co-réus, em uma única seção plenária, proferindo-se um único veredicto. Caso o Magistrado entenda que em razão da complexidade, ou de pedido de defesa, deva ser cindido o julgamento com dois réus, então, o autor do fato é que será julgado primeiro. 8) A Súmula Vinculante no. 11 e o uso de algemas: Quanto às algemas não se permitirá o uso no acusado durante o período em que permanecer no plenário do júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes. A nova lei sugere grande mudança de comportamento do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Advogados de uma forma geral, haja vista a alteração da função real dos Magistrados, que, agora, deverão cuidar mais do processo, não renegando-o ao abandono, pois, neste caso, terão grande problemas com a pauta das audiências, e, em vez da celeridade, terão atrasos e postergações processuais por falta de cumprimento dos despachos e das determinações judiciais. Quanto aos Advogados, a mudança no comportamento é algo crucial, pois com este momento tecnicista que vive o processo penal brasileiro, o Advogado, como um estrategista por excelência, terá a responsabilidade de ser o mais técnico possível no processo, devendo manter-se consciente e preparado em relação aos fatos, tendo sempre que adequar bem à sua tese de defesa à realidade processual, atendo-se à prova técnica, à prova pericial (COSTA, 2008).
De acordo ainda com Costa (2008) todas as mudanças representam um momento inovador para a Advocacia brasileira, e este momento deverá ser encarado como desafio a transferir nova postura ao advogado, com estratégia de defesa de forma técnica, sólida e consciente. Certo é que a evolução da sociedade sempre exigirá o acompanhamento das inovações no Direito, novas leis devem vir a compor melhores formas de soluções dos problemas legais. Em se tratando de promover julgamentos mais céleres e mais técnicos, esta legislação trouxe notórias transformações. A aplicabilidade será demonstrada com o tempo, promovendo o aperfeiçoamento do sistema jurídico. REFERÊNCIAS CASTELO BRANCO, Vitorino Prata. O advogado no tribunal do júri: o exercício da advocacia, o tribunal do júri, o direito de defesa, a teoria e a prática, a atuação do advogado, o segredo das grandes vitórias. São Paulo: Saraiva, 1989. COSTA, Antonio Aleixo da. Considerações acerca do procedimento do novo tribunal do júri. In Jus2uol.com.br, 2008, disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12642>. Acesso em: 19 maio 2009. BRASIL. LEI 11689/08. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil/_ato2007-2010/2008/lei/l11689.htm