Senador Pedro Taques Discurso contas da Saúde MT (06/2013) Senhor presidente, Senhoras senadoras, senhores senadores, Amigos que nos acompanham pela Agência Senado A saúde de Mato Grosso pede socorro. O tratamento dado pelo governo estadual ao setor tem sido catastrófico, irresponsável, e causado inúmeros transtornos ao cidadão que depende exclusivamente da ação dos entes públicos para ter saúde de qualidade. Na semana passada, tivemos a triste notícia que ultrapassa os limites da incompetência e da corrupção: o Tribunal de Contas da União apontou que a Secretaria de estado de Saúde (SES) comprou medicamentos com sobrepreços para os pacientes da rede pública de saúde em Mato Grosso entre 2003 e 2010. Dez anos depois do início do que chamo de pilantragem, temos conhecimento de que os valores contratados pelo governo variavam entre 300 a 400% acima dos preços do mercado. A Teicoplamina, por exemplo, (um medicamento usado para tratamento de infecções graves) foi comprado pelo governo de Mato Grosso por R$ 109 enquanto o Hospital Júlio Muller comprou o mesmo remédio por R$ 84 a menos. Já outro medicamento usado no tratamento de Psoríase e problemas reumáticos, custou R$ 640 a mais aos cofres públicos. O próprio secretário de saúde afirmou que seus antecessores adquiriam medicamentos através de compras direcionadas e sem qualquer critério. A constatação fez com que o TCU notificasse o estado recomendando que se orientasse por uma tabela de preços mínimos oferecida pelo Ministério da Saúde. Uma tentativa de impedir novos casos de superfaturamento.
Mas, essa é só a ponta do iceberg. A imprensa local tem noticiado e tenho recebido dezenas de denúncias de pacientes que tiveram seus tratamentos interrompidos por falta de remédio. São cidadãos que padecem acometidos pelo HIV, câncer e outras doenças graves ou terminais, de tratamento caro e longo. Além do problema de sobrepreço, o TCU investiga a utilização de verba do Ministério da Saúde em Mato Grosso para aquisição dos remédios de alto custo cujos prazos de validade venceram dentro da farmácia do próprio governo. Somente neste esquema, o desperdício do dinheiro público pode chegar a R$ 3 milhões. A explicação para isso é que o fato ocorreu devido à compra de quantidades acima da necessidade de determinados rótulos, os quais acabaram sobrando em virtude da impossibilidade (ou falhas) em fazer permutas ou doações daqueles produtos com risco de vencimento. A sucessão de atos de incompetência resulta em centenas de casos como o do senhor João Acelino de Brito, aposentado, de Cuiabá, que espera há seis meses seu remédio para tratamento de câncer. Isso é muito grave! O problema aqui não é a falta de recursos e, sim, má gestão. É o dinheiro público escorrendo pelos ralos da corrupção. E quem paga a conta é o mesmo cidadão que morre nas filas dos hospitais por falta de atendimento ou que corre o risco de consumir medicamentos fora do prazo de validade. Amigos de Mato Grosso, O caso dos remédios superfaturados e do vencimento desses medicamentos antes mesmo de chegar aos pacientes ilustram bem como esse governo resiste, e tenta maquiar o que realmente vem acontecendo nos últimos anos. As tentativas de estabelecer números satisfatórios e construir cenários positivos, mediante o uso de procedimentos estatísticos e econométricos, sobretudo na análise da situação da saúde em Mato Grosso, estão sujeitas a restrições de lógica.
Darei um exemplo: ao tratar dos repasses por área, o Governo atribui o sucesso ao mero cumprimento do seu dever constitucional de aplicar 12% em saúde. Mas, isso seria suficiente para garantir saúde pública de qualidade? Os dois casos citados anteriormente já respondem esta indagação. Passo agora a citar dados das contas anuais do exercício de 2012 do Governo do Estado para mostrar a falta de comprometimento com a saúde. Embora o Tribunal de Contas tenha emitido parecer prévio favorável à aprovação das contas, foram apresentadas 27 irregularidades e 38 recomendações. No ano passado, o Estado de Mato Grosso aplicou R$ 728,4 milhões em serviços e ações de saúde, valor esse que corresponde a 12,75% da receita de impostos e transferências constitucionais. Conforme já disse, foram cumpridos os limites constitucionais. No entanto, o governador não cumpriu a promessa eleitoral de investir 15% do orçamento em saúde. Na comparação da evolução da receita com a despesa, se verifica que o aumento da despesa com serviços e ações de saúde foi inferior ao aumento da receita base para aplicação. Enquanto a receita cresceu 35,36%, a despesa cresceu 26,92%. Ou seja: houve um decréscimo na proporção do gasto em relação à receita base. Senhoras senadoras, senhores senadores, O relatório do TCE MT também traz números reveladores sobre volume de recursos transferidos aos Fundos Municipais de Saúde durante o exercício de 2012. O Estado transferiu para os municípios apenas 32,15% do total programado, o equivalente a R$ 52 milhões. O montante não repassado chega a R$ 110 milhões. Dentro desse contexto, foi constatado que 83 municípios receberam menos de 50% do que foi programado e 27 municípios receberam mais do que o total programado. Na verdade, o governo cortou os repasses aos municípios sob a alegação de que os valores anteriores eram inexequíveis e que agora o Estado poderá honrar os compromissos. Isso após cidades ficaram mais de 10 meses sem receber a verba. Ressalte se que os municípios de Araguainha e Água Boa receberam menos de 1% do programado e os municípios de Várzea Grande e Cuiabá receberam mais de 1.000% do programado. Cidadão de Mato Grosso que nos acompanha pela TV Senado, E as outras promessas?
Na eleição, o nosso governador prometeu a construção de 120 UPAs em quatro anos. E o que saiu do papel? Infelizmente, menos da metade: apenas 11 delas estão em atividade. Prometeu também Levar o Samu s para os 141 municípios a informação da própria Secretaria de Saúde é que hoje o estado tem não mais que 56 veículos de SAMU, em apenas quatro regiões. Garantiu que iria Implantar o hospital estadual da criança Não fez absolutamente nada para isso. Assegurou aos mato grossenses que iria "Fortalecer a rede de hospitais regionais ao invés disso, privatizou os hospitais regionais entregando os nas mãos das OSS. Aqui, o governador realmente extrapolou: o Tribunal de Contas do Estado descobriu ainda que o governo pagou mais de R$ 10 milhões a essas organizações sociais valor muito maior que o que repassa aos municípios que ainda tentam manter públicos os seus respectivos hospitais regionais. E mesmo com tanto dinheiro, essas organizações pseudo sociais não prestaram os serviços hospitalares à população. Os dados constam do relatório do Tribunal de Contas do Estado que apontou o número inacreditável de 134 irregularidades no Fundo Estadual de Saúde, muitas delas consideradas gravíssimas. O problema da privatização, do jeitinho, por meio dessas ditas organizações sociais é tão grave que um novo relatório deve sair nos próximos dias, analisando exclusivamente esse caso de mau uso do dinheiro público. Mas o governador também disse que ia Colocar em funcionamento o hospital metropolitano de Várzea Grande Ao invés de ativar o hospital, resolveu privatizá lo por meio de uma dessas organizações sociais ; Isso mostra que governador não entrega aos prefeitos os recursos do SUS que devem, por lei, ser aplicados por eles na manutenção da saúde pública. Mas não tem qualquer dúvida na hora de pagar a entidades privadas valores muito acima dos que paga aos próprios Municípios e que sequer são aplicados na prestação do serviço público que foi contratado. Senhores senadores, senhoras senadoras,
Nesse quadro tão difícil, é muito triste constatar que os erros de gestão, as prioridades erradas, as promessas não cumpridas, a corrupção... Tudo isso vai minando os poucos recursos que o Estado de Mato Grosso investe na saúde da nossa gente, e vão trazendo desalento à população, que passa a desacreditar nas instituições. Se temos dinheiro para conceder generosos incentivos fiscais às grandes empresas; para o luxo de reconstruir um estádio para a Copa do Mundo... Se também temos dinheiro para encher Cuiabá de obras de transporte e pavimentação destinadas a melhor receber a Copa do Mundo (pelo último levantamento do Tribunal de Contas do Estado, o valor dessas obras era superior a um bilhão e oitocentos milhões de reais)... Por que o atendimento no posto de saúde, na emergência, nos hospitais, vai cada vez pior? Até quando continuaremos sendo cúmplices desse tratamento desigual na assistência de saúde do nosso povo? Até quando assistiremos a desumana condição a que está relegado o cidadão que necessita do amparo governamental? Senhor governador: Saúde pública se faz com boa gestão, com seriedade, não com jeitinho. Obrigado!