RELATÓRIO DA NEGOCIAÇÃO COLECTIVA 4.º TRIMESTRE DE 29
CONVENÇÕES PUBLICADAS AO NÍVEL DOS TRIMESTRES HOMÓLOGOS Os resultados da negociação colectiva de trabalho, publicada no último trimestre de 29, podem marcar uma inversão do sentido seguido pelos dois últimos trimestres, porque apontam para o aumento do ritmo da publicação. Manda a prudência que aguardemos os resultados do próximos trimestres apesar do 4.º trimestre se ter aproximado do 1.º, em número, como é normal em anos anteriores e de ter ficado quase ao mesmo nível do trimestre homólogo de 28. Esta aparente normalidade contrasta um pouco com a forte queda no número de trabalhadores abrangidos, recuando para um valor inferior ao dos trimestres homólogos de 2 e 26. As convenções publicadas não são as mesmas dos anos anteriores, nem tão pouco pode ser afirmado, pelo menos por agora, que são o resultado da crise devido à destruição do emprego, porque os dados foram obtidos em situação anterior à crise. O que se assinala é uma quebra do número de trabalhadores abrangidos e consequentemente menor densidade de trabalhadores por instrumento de regulamentação colectiva publicado. A actualização salarial (variação nominal) proveniente da negociação colectiva, com algumas oscilações, mantém-se próxima dos valores do 1.º trimestre enquanto que a inflação que se prevê para o período de vigência das convenções vai entrar em terreno positivo e corroer os salários reais dos trabalhadores no activo. Para finalizar, destaca-se como um factor positivo o aumento das convenções publicadas na íntegra a suplantar, mais uma vez, os textos de actualização salarial e texto consolidado o que poderá ter várias conotações. A que nos interessa é a conotação ofensiva, isto é, a revisão, actualização e inovação do texto negociado de forma a garantir uma relação colectiva que esteja viva e actuante. 1.Redução no número de trabalhadores abrangidos Embora a comparação com os períodos homólogos anteriores seja a mais correcta ficará por compreender a diminuição de trabalhadores abrangidos neste período. Em número de convenções o 4.º trimestre é o segundo dos últimos cinco anos mas cai para o último lugar quando se trata do número de trabalhadores abrangidos (Gráficos 1 e 2). 2
Gráfico 1 Trabalhadores abrangidos 3. 2. 2. 29.149 213.32 1. 127.684 1.. 92.13 61.884 4.º trim 4.º trim 6 4.º trim 7 4.º trim 8 4.º trim 9 Fontes: DGERT No entanto, para lá da coincidência das convenções publicadas poderem ser de menor abrangência de trabalhadores e do anacronismo dos dados, a análise estatística ocorre numa conjuntura atípica que difere para o futuro a comparação de resultados homólogos. 2. Há menos convenções publicadas no 4.º trimestre Com foi afirmado no relatório anterior, desde a entrada em vigor, este ano, do Código do Trabalho, a negociação de 2/3 das convenções passou a publicar-se no 1.º semestre, passando para segundo plano o 3.º trimestre, que foi o período de maior publicação na vigência da anterior legislação. Mas no ano em curso também se assistiu a uma diminuição quantitativa das convenções publicadas no 2.º e 3.º, condicionada essencialmente pela crise económica, esperando-se que a tendência viesse a agravar-se no último trimestre do ano. Tal não aconteceu (Gráfico 2) quedando-se o 4.º trimestre em valores perfeitamente normais. 3
Gráfico 2 Convenções publicadas 4 4 3 3 2 2 1 1 4.º trim 4.º trim 6 4.º trim 7 4.º trim 8 4.º trim 9 Fontes: BTE/UGT Qualquer interpretação terá de ser confirmada no futuro pelo que não passará de especulação desnecessária. 2. Análise dos salários nominativos e reais Este trimestre também não foi diferente dos anteriores, quer no plano dos salários nominais, quer na manutenção do nível salários reais a beneficiarem de uma situação anormal da inflação mas que se alterará durante a vigência das convenções publicadas. Desta forma optou-se por se apresentar a evolução mensal do trimestre e a sua provável média (Gráfico 2) projectadas no período em que as convenções irão estar em vigor, segundo a previsão da inflação para 21. A variação do salário real, a que realmente interessa para o trabalhador, tem assim uma expressão pouco significativa. 4
Gráfico 3 Variação Salarial 3 2, 2 1, 1 IPC Variação Nominal Variação Real, Outubro Novembro Dezembro 4.º Fontes: INE, DGERT Previsão da UGT Para efeito do cálculo utilizam-se os valores médios apurados a partir das convenções publicadas. 4. Aumento dos Acordos de Empresa (AE). O 3.º trimestre não se enquadra no padrão anual. No caso da distribuição das convenções, segundo as suas formas de subscrição e dimensão, influem certamente outras variáveis, como a maior proximidade e disponibilidade das partes no quadro da relação colectiva de forma que a nossa atenção tem de se virar para fenómenos que, por qualquer razão, nos obrigam a reformular a estratégia. De facto detecta-se um crescimento dos AE (Gráfico ) durante o ano em curso com maior evidência no 3.º trimestre. Esta tendência, que não é propriamente uma novidade, ficou já assinalada em 28 e nos quartos trimestres homólogos dos últimos dois anos (Gráfico 4).
Gráfico 4 Distribuição trimestral das convenções 3 2 2 1 1 ACT AE CCT 4.º trim 6 4.º trim 7 4.º trim 8 4.º trim 9 Embora haja um pequeno recuo no 4.º trimestre (Gráfico ), relativamente ao 3.º trimestre deste ano, o aumento dos acordos de empresa ainda é mais expressivo neste trimestre do que no período homólogo anterior. Gráfico Os Acordos de Empresa no contexto das convenções 1% 9% 8% 7% 6% % 4% 3% 2% 1% % 1.º trim 2.º trim. 3.º trim. 4.º trim ACT AE CCT 6
O crescimento deste tipo de convenção não é temporário porque já se verifica consecutivamente há dois anos. Embora contenha algumas características próprias parece derivar de uma alteração estratégica a considerar em alguns sectores de actividade e na negociação colectiva em geral. A distribuição das convenções e a dimensão da amostra do 4.º confirmam situações anteriores para que se procurem novos caminhos na negociação colectiva.. Renovação dos textos negociais Neste trimestre (Gráfico 6) e nos dois trimestres anteriores a publicação do texto global ultrapassa o texto consolidado, contrariando o resultado do 1.º trimestre, podendo corresponder a uma necessidade das partes, decorrente da entrada em vigor da nova legislação. Desde 2 que se passou a recorrer mais à publicação do texto global em consequência da adaptação dos textos negociais às novas realidades colocadas à relação colectiva de trabalho. O texto global tende a impor-se ao texto consolidado por oferecer mais segurança porque se trata de um texto renovado e adequado à legislação vigente. Gráfico 6 Conteúdo das convenções 3 2 24 26 24 2 1 1 13 7 4 9 2 1 12 2 2 Alt. Salarial Consolidado Global Novo 4.º trim 6 4.º trim 7 4.º trim 8 4.º trim 9 7
6. Distribuição dos IRCT negociais e não negociais: Convenções Colectivas e Portarias de Extensão (PE) Houve pelo menos uma vez (1.º trimestre de 28) que as PE ultrapassaram em número as convenções publicadas. A situação foi designada como atípica e, de facto, não voltou a verificar-se. O que pretendemos medir, neste caso, são os comportamentos da negociação colectiva e da Administração quanto à extensão administrativa das convenções (Gráfico 7). É uma situação estabilizada que compete às partes manter ou modificar. As convenções sectoriais equivalem a mais de 6% das convenções publicadas e são completadas normalmente por portarias de extensão, admitindo-se como regular o número de PE publicadas neste trimestre, apesar dos atrasos de publicação. Gráfico 7 Convenções e PE 4 4 3 Convenções PE 3 2 2 1 1 PE 4.º trim 6 4.º trim 7 4.º trim 8 4.º trim 9 Convenções Fontes: BTE/UGT 7. Outras situações decorrentes da relação colectiva de trabalho Neste trimestre foi publicado, pela primeira vez, um IRCT determinado por arbitragem obrigatória estando a decorrer outro processo com o mesmo objectivo. 8
Não foi assinalado qualquer recurso à arbitragem necessária embora se reconheça que há convenções que cessaram a sua vigência e reúnem os requisitos necessários para que se possa recorrer a esta figura jurídica introduzida pelo actual Código do Trabalho e pela qual a UGT tanto lutou. Ainda neste período cessaram a vigência 2 convenções colectivas de trabalho que não envolvem sindicatos da UGT porque têm contratação própria actualizada. CONCLUSÕES Quando se prevê uma retoma da actividade económica para 21 os resultados da negociação colectiva do 4.º trimestre de 29 contrariam, pela positiva, os recuos verificados nos dois trimestres anteriores. Devem ser considerados com alguma prudência, porquanto se prevê um ano difícil para a negociação colectiva ao nível da actualização salarial, que já contará com uma inflação positiva a contribuir para o depauperamento dos salários. A negociação colectiva vai encontrar obstáculos de natureza diferente deixando à iniciativa sindical o papel de poder conduzir uma estratégia, designadamente optando por matérias a que tradicionalmente não recorre. Ao longo do relatório, perante a análise dos resultados, foram sendo levantadas algumas questões de natureza conjuntural e estratégica que se repetem ou se vão repercutir no futuro. Entre outras preocupações, tais como definir cuidadosamente objectivos credíveis para a negociação colectiva, é fundamental aproveitar a negociação de proximidade para chegar aos trabalhadores e à sindicalização. Parece-nos não existir opção entre Acordo de Empresa (AE) e Contrato Colectivo de Trabalho (CCT) a não ser, em tese, pelos recursos disponíveis ou falta deles. Há uma preferência constatada pelo AE por aproximar a empresa dos trabalhadores em assuntos comuns e ajustáveis na relação colectiva de trabalho mas os sindicatos não podem descurar a negociação sectorial, determinante para a taxa de cobertura da negociação colectiva. Estabelecer prioritariamente contratação colectiva sectorial e dentro desta 9
procurar negociar o AE e o ACT parece ser o caminho a seguir. O Código do Trabalho aponta até para a articulação entre convenções colectivas de diferentes níveis. Em resumo, negociar e actualizar os valores salariais é prioritário, porque 21 traz de volta à inflação e com ela a erosão dos salários, mas é preciso criar vontade do lado do empregador. Parece-nos que a negociação colectiva vai ser em formato de pacote onde tem de caber a actualização salarial e outras matérias, que tal como a primeira geram controvérsias. ANEXO I Quadros Quadro 1 Convenções publicadas (ACT, AE, CCT) Anos 2 26 27 28 29 1.º 4 47 39 4 46 2.º 73 7 83 11 93 3.º 77 99 9 1 7 4.º 48 41 34 44 42 Quadro 2 Número de trabalhadores abrangidos Ano 2 26 27 28 29 1.º 191.781 142.391 93.23 174.4 73.188 2.º 477.138 442.216 721.217 833.787 32.437 3.º 277.426 741.664 49.733 482.973 36.943 4.º 127.684 92.13 29.149 213.32 13.* Fontes: DGERT/UGT * Previsão UGT 1
Quadro 3 Tipo de texto publicado Meses/Tipo Alterações Salariais Alterações Salariais e Texto Consolidado Revisão Global Alteração Novas Convenções Janeiro 6 2 1 Fevereiro 11 2 1 1 Março 11 1 1 1º 28 12 4 1 2 Abril 1 4 7 1 Maio 24 1 7 1 3 Junho 1 7 4 4 1 2º 44 21 18 1º 72 33 22 7 Semestre Julho 17 4 6 3 Agosto 13 4 9 1 Setembro 3 2 2 3º 3 12 17 6 Outubro 2 2 4 Novembro 1 3 Dezembro 6 6 6 2 4.º 13 9 1 Quadro Distribuição dos IRCT negociais e não negociais 28/IRCT Convenções Colectivas Arbitragem Voluntária Acordo de Adesão 1º 46 3 2º 93 2 3.º 7 4.º 42 Arbitragem Obrigatória PE PCM 29 1 1 2 4 1 26 11