Em Julho, empresários da Construção Revelam-se mais pessimistas
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- Raul Bento Carreira
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1 Associações Filiadas: AECOPS Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas e Serviços AICCOPN Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas ANEOP Associação Nacional dos Empreiteiros de Obras Públicas Conjuntura da Construção n.º 43 Agosto / 2010 Em Julho, empresários da Construção Revelam-se mais pessimistas Com a produção da Construção em queda e o número de desempregados oriundos do sector em forte ascensão, a crise que vem dominando o sector da Construção prolonga-se há já demasiado tempo e os seus efeitos indesejáveis ameaçam tornar-se duradouros. A confiança dos empresários continua a sofrer uma intensa deterioração, confrontados com um forte abrandamento dos níveis de actividade das suas empresas, em resposta a níveis insustentavelmente baixos de procura que lhes é dirigida. É o caso da procura de edifícios residenciais, onde o licenciamento mantém quebras acentuadas face a 2009, ano que registou a redução mais significativa da série analisada pela FEPICOP (-36%). Já no primeiro semestre do ano corrente, a área residencial licenciada sofreu uma nova quebra, em redor dos 10,5%. Mas também o licenciamento de edifícios não residenciais revela quedas muito intensas face a 2009 (-27,5%, em termos de área licenciada, até finais de Junho), ano em que a redução já havia sido de 24%, relativamente ao ano precedente. Por seu turno, o mercado das obras de engenharia civil confronta-se com uma redução de adjudicações de obras de promoção pública, que, segundo os dados disponíveis, se reduziram mais de 58%, em valor, durante os primeiros sete meses do ano. Face a esta realidade, o número de desempregados oriundos da construção continua a aumentar, em termos homólogos, se bem que a um ritmo menos intenso do que nos meses iniciais do ano, tendo atingido os 75 mil, em média, durante o 2º trimestre de 2010, com o seu peso no desemprego total a crescer (14,4% no 2º trimestre de 2010, face a 13,5% no período homólogo). Em termos médios europeus, assiste-se a um retomar da confiança dos empresários da construção, favorecidos, ao contrário dos portugueses, por uma expansão, pelo 4º mês consecutivo, das carteiras de encomendas detidas pelas suas empresas.
2 1. Nível de Actividade da Construção volta a diminuir em Julho Segundo as opiniões dos empresários, o nível de actividade global das empresas de construção voltou a registar, no trimestre terminado em Julho, um retrocesso, verificando-se uma variação homóloga de -1,1% no índice apurado com base nas respostas ao Inquérito Mensal à Actividade FEPICOP/UE. Em simultâneo e não obstante a ligeira tendência positiva observada desde o mês de Junho, o indicador de confiança obtido através das respostas ao mesmo Inquérito mantém-se a um nível inferior ao apurado no mês homólogo de 2009 (variação homóloga, do trimestre terminado em Julho, de -11,7%). Fonte: FEPICOP/UE Para esta deterioração das expectativas dos empresários, contribui, de forma expressiva, a forte redução sofrida pela carteira de encomendas, a qual, de acordo com a evolução apurada para o respectivo índice FEPICOP, apresentou, até Julho, uma quebra de 16%, face a igual período de No que concerne às perspectivas de evolução do emprego, as opiniões revelam, de igual modo, um acentuado pessimismo, reflectido numa variação trimestral homóloga de -9% no correspondente índice FEPICOP.
3 2. Peso do desemprego da Construção no total permanece acima dos 14% Segundo os valores disponibilizados pelo IEFP, o número de desempregados oriundos da construção tem vindo a crescer ininterruptamente desde o 3º trimestre de 2008, quando o seu número ascendia, em termos médios mensais, a 35,7 mil pessoas. No último trimestre disponível, o segundo de 2010, essa média aproximou-se dos 75 mil, ou seja, mais do dobro do valor de há apenas 7 trimestres atrás. De assinalar que, mesmo com o desemprego da Construção a registar, nos últimos meses, crescimentos mais moderados do que no início de 2010, o seu peso no total do desemprego mantém-se elevado, em redor dos 14,5%. Fontes: INE (Inquérito ao Emprego); IEFP (inscrições nos Centros de Emprego) De forma inversa, o número de trabalhadores do sector da Construção tem vindo a perder peso no total do emprego e, segundo a opinião expressa pelos empresários, assim deverá continuar, durante os próximos três meses. De facto, as opiniões relativas à evolução esperada para o emprego do Sector deram lugar a uma das variações mais negativas de toda a série, iniciada em Janeiro de 2000 (variação homóloga de -8,6% no trimestre terminado em Julho) do respectivo índice FEPICOP.
4 3. Quebra significativa da produção da Construção durante 2010 A avaliar pelo andamento, ao longo de 2010, dos diversos indicadores FEPICOP de produção, a actividade do Sector tem vindo a desacelerar, de forma expressiva, face ao ano anterior. Esta tendência, sendo comum aos diversos segmentos, é particularmente notória no que concerne ao segmento da engenharia civil, fortemente penalizado pela adopção de medidas de contenção orçamental. Assim, à luz dos indicadores FEPICOP, o nível de actividade das empresas que se dedicam a obras de engenharia civil deverá estar próxima do mínimo da série, que teve o seu início em Janeiro de Fonte: FEPICOP Na base deste comportamento tão desfavorável está a forte quebra registada pelas adjudicações de obras públicas (-58,5% em valor, durante os primeiros sete meses do ano) que tem conduzido a uma evidente redução das carteiras de encomendas das empresas e, consequentemente, no seu ritmo de actividade. Em termos de lançamento de novas obras, a situação é menos insatisfatória, dado que, em valor, a promoção de novas obras registou um aumento, até Julho, de 17,5%. No que diz respeito à produção de edifícios não residenciais, a evolução é agora bem mais desfavorável, com o acréscimo cada vez menos intenso do ritmo de produção da componente pública, associado a uma quebra significativa no ritmo de produção da componente privada.
5 Assim, em termos agregados, a quebra da produção poderá ter ultrapassado os 13%, no trimestre terminado em Julho, com uma redução superior a 23%, na componente privada. Fonte: FEPICOP De acordo com a informação disponível, a maior quebra na produção de edifícios não residenciais privados é devida à forte retracção das áreas destinadas a fins comerciais. Na verdade, tendo sido responsável, durante o primeiro semestre de 2009, por cerca de 36% da produção deste segmento, este destino apenas respondeu por cerca de 25% da produção realizada durante os primeiros seis meses do ano corrente, estimando-se que, em termos homólogos, tenha sido registada uma quebra próxima dos 50% na produção deste tipo de edifício. Também ao nível do licenciamento se verifica esta tendência, com a quebra mais significativa no número de m2 licenciados a ser observada nos edifícios destinados a comércio: -46%, com um total de apenas 266 mil m2 a serem licenciados no 1º semestre de 2010 (496 mil m2 no período homólogo). Como consequência desta evolução, os edifícios destinados à indústria tornaram-se o principal destino do licenciamento não residencial, apresentando um declínio de 33% do primeiro semestre de 2009 para igual período de Nestes últimos meses foram emitidas licenças de construção para cerca de 282 mil m2 de novos espaços industriais. Relativamente à construção residencial, o índice de produção FEPICOP aponta para a manutenção, a um nível muito reduzido, da actividade deste segmento (variação homóloga de -15% no trimestre terminado em Julho). Com uma quebra, durante o 1º semestre do ano corrente, de 10% no número de novos fogos habitacionais licenciados, a evolução da produção deste segmento deverá manter, num horizonte temporal alargado, a actual tendência desfavorável, tanto mais que não se prevê, para
6 breve, qualquer alteração nos diversos factores que tanto têm condicionado a actividade deste mercado. Fonte: FEPICOP Na verdade, o actual ciclo económico recessivo tem sido fortemente penalizador da actividade da construção residencial, seja por via da forte deterioração das condições económico/financeiras das famílias e do agravamento dos seus níveis de confiança, seja pelas maiores restrições impostas pelo sistema financeiro à concessão de crédito. Este último aspecto, que tem vindo a tomar proporções cada vez mais preocupantes, ameaça transformar-se num factor chave, não só para a sobrevivência de muitas empresas de construção, mas principalmente para a resolução da procura de habitação por parte de muitas famílias. E isto é tão mais importante quanto a realidade mostra que não estão criadas as condições necessárias para que o mercado de arrendamento funcione de forma plena, transformando-se numa verdadeira alternativa à procura de habitação, por parte das famílias.
7 4. Confiança dos empresários portugueses continua a cair, com deterioração da carteira de encomendas Em Julho continuou a agravar-se o diferencial entre os níveis de confiança dos empresários europeus da construção, em termos médios, e o dos seus congéneres portugueses, com os respectivos índices a evoluir de forma contrária. Na verdade, enquanto o índice de confiança europeu apresenta variações homólogas trimestrais positivas desde o mês de Janeiro de 2010, o índice representativo da confiança dos empresários da construção portugueses varia de forma negativa há 26 meses consecutivos. A explicação desta divergência reside nas evoluções contrárias registadas pelas carteiras de encomendas, pois, se em termos médios europeus se assiste, desde Março último, a um aumento das encomendas detidas pelas empresas, em Portugal assiste-se, desde Janeiro de 2009, a uma constante deterioração das mesmas. Como consequência dessa situação, geram-se, desde há 9 meses e de forma ininterrupta, perspectivas positivas de criação de emprego no Sector, a nível da UE27, enquanto, segundo as opiniões dos empresários portugueses, a tendência do emprego neste Sector continuará a ser, no futuro próximo, de redução.
8 INDICADORES DE ACOMPANHAMENTO DA ANÁLISE DA CONJUNTURA DO SECTOR DA CONSTRUÇÃO E OBRAS PÚBLICAS Indicador Unidade º T/10 2.º T/10 Fev.10 Mar.10 Abr.10 Mai.10 Jun.10 Jul.10 var. anual var. hom. trimestral var. hom. acumulada Indicadores Macroeconómicos PIB (INE - CNT) v. real (%) 2,4% 0,0% -2,6% 1,8% FBCF - Total (INE - CNT) v. real (%) 2,6% -1,8% -11,9% -2,3% FBCF - Construção (INE - CNT) v. real (%) -0,4% -5,9% -11,7% -6,8% VAB - Construção (INE - CNT) v. real (%) 1,3% -5,6% -9,3% -5,0% Tecido Empresarial Índice Empresas Activas (FEPICOP)(Jan 2000=100) % -2,5% -5,7% -10,8% -12,4% -9,4% -12,4% -12,4% -11,6% -11,2% -10,9% -10,5% Indicador Confiança (FEPICOP/UE)(Jan_00 = 100)(1) % 2,0% -0,8% -7,3% -4,7% -12,5% -2,8% -4,7% -6,0% -7,6% -8,8% -8,6% Carteira Encomendas (FEPICOP/UE)(Jan_00 = 100)(1) % -3,8% 5,1% -13,7% -15,2% -17,1% -11,3% -15,2% -16,9% -14,5% -16,2% -16,2% Situação Financeira Empresas (FEPICOP/UE)(1) % 0,9% -6,2% -7,9% 5,1% 7,2% 5,4% 5,1% 6,6% 5,8% 6,1% 5,7% Emprego e Desemprego na Construção Nº Trabalhadores COP (INE - IE) (2) milhares 570,8 555,1 505,6 478,6 Nº Desempregados da COP (IEFP) milhares 34,3 44,1 61,3 75,9 75,0 75,7 77,1 76,4 75,1 73,4 Nº Trabalhadores COP (INE - IE) (2) % 3,2% -2,8% 8,9% -7,0% Nº Desempregados da COP (IEFP) % -15,1% -0,2% 67,1% 38,8% 22,0% 42,6% 38,8% 35,5% 32,6% 29,9% Taxa Desemprego na COP (FEPICOP) % 5,4% 7,0% 12,0% Perspectivas de Emprego (FEPICOP/UE)(1) % 3,1% -2,2% -3,6% -0,1% -8,8% 0,9% -0,1% -1,1% -3,9% -4,6% -4,5% Produção da COP por Segmentos de Actividade Engenharia Civil Índice Produção Obras Eng. Civil (FEPICOP) v. média anual -4,5% 3,9% 17,5% -16,4% -28,0% -11,3% -16,4% -19,6% -21,0% -22,6% -23,7% Nível Actividade Obras Eng. Civil (FEPICOP/UE)(1) v. média anual 5,7% -3,1% -3,6% -1,8% -13,3% 3,3% -1,8% -4,5% -7,3% -7,9% -9,8% Valor Obras Públicas Promovido (FEPICOP) % -10,1% 35,4% -31,2% -15,6% 90,5% 20,9% -15,6% -14,8% 32,9% 22,2% 17,5% Habitação Índice Prod. Edif. Habitação (FEPICOP) % -5,3% -9,9% -21,7% -21,1% -14,5% -21,0% -21,1% -21,1% -18,8% -17,8% -17,2% Nível Actividade Edif. Habitação (FEPICOP/UE)(1) % 6,7% -1,5% -11,8% 8,3% 10,8% 3,9% 8,3% 7,2% 10,5% 9,7% 10,5% Área Licenciada Edif. Habitação (INE-nº) % -5,9% -25,9% -36,5% -17,4% -3,1% -14,7% -17,4% -13,6% -12,7% -10,5% Edifícios Não Residenciais Índice Produção Edif. N/ Residenciais (FEPICOP) % 8,9% 2,0% 15,4% -5,8% -13,6% -4,3% -5,8% -8,2% -9,8% -10,2% -11,3% Nível Actividade Edif. N/ Residenciais (FEPICOP/UE)(1) % 8,8% 2,0% -4,3% 7,0% -1,8% 4,8% 7,0% 4,2% 3,6% 2,4% 0,8% Área Licenciada Edif. N/ Residenciais (INE-nº) % 13,4% 2,7% -28,0% -18,3% -35,4% -10,9% -18,3% -27,6% -23,9% -27,5% Produção Global Nível Actividade Global (FEPICOP/UE)(1) % 6,8% -1,1% -7,1% 3,5% -0,9% 2,0% 3,5% 1,7% 1,9% 1,2% 0,4% Consumo de Cimento (Cimpor, Secil, outros) % 0,9% -6,5% -15,4% -9,2% -8,6% -7,7% -9,2% -10,4% -9,2% -8,9% -9,1% A Construção Europeia FBCF Total (UE - Zona Euro) v. real (%) 4,8% 0,0% Indicador Confiança Construção (UE - 27 países) % 0,5% -16,6% -21,8% 7,7% 8,7% 6,3% 7,7% 9,3% 9,3% 8,2% 7,5% Indicador Confiança Construção (UE - Portugal) % 1,6% -1,2% -10,2% -7,3% -9,9% -7,7% -7,3% -9,2% -8,6% -8,7% -9,0% Carteira de Encomendas COP (UE - 27 países) % -1,1% -17,4% -28,3% -1,1% 4,6% -2,8% -1,1% 1,3% 2,6% 1,7% 0,9% Carteira de Encomendas COP (UE - Portugal) % -8,7% 8,6% -17,0% -20,3% -14,0% -21,4% -20,3% -22,0% -18,5% -17,1% -16,7% Perspectivas Emprego COP (UE - 27 países) % 2,0% -15,9% -16,4% 14,6% 11,4% 13,3% 14,6% 15,3% 14,2% 12,9% 12,2% Perspectivas Emprego COP (UE - Portugal) % 7,6% -6,0% -6,4% -0,1% -7,7% 0,5% -0,1% -2,1% -3,3% -4,2% -4,8% Nota: Quadro construído com informação disponibilizada até 10 de Agosto de 2010 (1) Indicador que resulta das opiniões dos empresários expressas no Inquérito Mensal á Actividade realizado pela FEPICOP / UE (2) A partir do 1º trimestre de 2008 os resultados do emprego da construção são divulgados segundo a CAE Ver As variações homólogas de 2008 resultam da comparação entre resultados de 2007 (CAE Rev. 2.1) e os de 2008 (CAE Rev. 3.1) var. hom. trimestral = [trimestre n / trimestre n-4] var. hom. acumulada = [índice (n) + índice (n+1) índice (n+12)] / [índice (n-12) + índice (n-11) +...índice (n-1)]
Redução Menos Intensa da Actividade Não evita Quebra no Nível de Confiança da Construção
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