QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DE POÇOS RESIDENCIAIS DO BAIRRO CENTRO EDUCACIONAL DA CIDADE DE FÁTIMA DO SUL-MS



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Transcrição:

29 QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DE POÇOS RESIDENCIAIS DO BAIRRO CENTRO EDUCACIONAL DA CIDADE DE FÁTIMA DO SUL-MS MICROBIOLOGICAL ANALYSIS OF WATER OF WELLS OF CENTRO EDUCACIONAL WARD OF THE CITY OF FÁTIMA DO SUL - MS JUNIOR, Pedro R.S. 1 ; MELO, Adriana M.M.F 2 ; CARVALHO, Emerson. 3 Resumo A água pode ser transmissora de várias patologias, principalmente nas regiões subdesenvolvidas como em alguns estados brasileiros. Assim, o objetivo deste estudo foi determinar a qualidade microbiológica das águas de poços residenciais do bairro Centro Educacional da cidade de Fátima do Sul - MS. A pesquisa foi realizada em 26 residências que possuem registro de poços residenciais e que autorizaram a realização da mesma. O ambiente também foi observado seguindo um formulário pré-estabelecido, que era preenchido a partir das observações in loco pelo próprio pesquisador. Após a retirada da amostra do poço, 100 ml da água foi acondicionada em frasco estéril e conservadas a temperatura de 8ºC durante o transporte. Os procedimentos de análises foram realizados no Laboratório do Centro Universitário da Grande Dourados pela técnica de Petrifilme com diluição da amostra 1:10 para quantificação de coliformes totais e fecais. Das 26 amostras, 3 (11,5%) apresentaram-se fora dos níveis de potabilidade apresentando coliformes totais e fecais acima do permitido; outras 5 (19,23%) estavam contaminadas apenas com coliformes totais em níveis considerados adequados para consumo humano e as outras 18 (69,2%) estavam isentas de contaminação pelo grupo coliformes. Curiosamente todas as amostras contaminadas foram provenientes de poços em condições precárias de conservação, como falta de profundidade, facilidade de escoamento de dejetos de animais com a ajuda da chuva, falha na vedação das tampas e a proximidade de fossas sanitárias. Dessa forma, foi observada correlação negativa entre a presença do grupo coliformes e a distância da fossa. Entretanto, o monitoramento da qualidade microbiológica de água de poços faz-se necessário devido às possibilidades de contaminação de várias ordens. Palavras-Chave: Microbiologia, Coliformes, Água. Abstract The objective of this study was to determine the microbiological quality of water from the wells of the homes of the Centro Educacional district of the city of Fátima do Sul MS. Water can transmit several pathologies, particularly in underdeveloped regions such as in some Brazilian states. Since the water from these wells is used for consumption and the personal hygiene of these families, research using quality indicators is extremely important. The study was conducted by taking samples from 26 households using water from the wells; samples were analyzed by the Petrifilm Method. Microbiological analysis demonstrated that 3 samples (11.5%) did not meet the levels required for drinking water since they were polluted by total and fecal coliforms; 5 samples (19.23%) were polluted just by total coliforms, but were still considered drinkable; and 18 samples (69.2%) did not demonstrate any contamination. Curiously, many of the contaminated samples were from wells that did not have an ideal depth for the natural filtration of the water to occur and were poorly conserved. Factors such as the drainage of dejections of animals with the help of the rain, and the bad use of the covers and the proximity of cisterns contributed to the contamination of the water. Thus, a negative correlation was observed between the presence of coliform groups and the distance of the cisterns. As such, the monitoring of the microbiological quality of water from wells is necessary due to the possibility of contamination of various types. Key-Words: Microbiological, Coliforms, Water. 1 Farmacêutico formado no Centro Universitário da Grande Dourados UNIGRAN/MS. 2 Farmacêutica docente do Centro Universitário da Grande Dourados UNIGRAN/MS. E-mail mestriner@unigran.br 3 Biólogo docente do Centro Universitário da Grande Dourados UNIGRAN/MS.

30 Introdução As águas subterrâneas oriundas de poços rasos ainda constituem-se importantes fontes de suprimento de água para consumo humano e animal. Tradicionalmente, esse tipo de fonte de abastecimento é considerado seguro in natura, pois dependendo da capacidade filtrante do solo as águas subterrâneas podem apresentar-se livres de contaminação. Por outro lado, lençóis aquáticos de pouca profundidade são influenciados pela água que percola da superfície e, portanto, sujeitos à contaminação (AMARAL et al., 1994). Entretanto, nos locais onde essa filtração está comprometida, a qualidade da água pode estar prejudicada, colocando a saúde da população que a utiliza em risco. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 15,6% das famílias brasileiras, no ano de 2000, utilizavam os poços ou nascentes como fonte de água para consumo, enquanto que na região Centro- Oeste este percentual chegou a 24% (IBGE, 2000). Apesar da cloração dos poços serem utilizada como forma de minimizar esse risco, trata-se de uma prática que merece atenção, por se tratar da adição de um agente que pode ser tóxico devendo, dessa forma, ser realizada por pessoas capacitadas (CASTRO, 2002). Assim como a dosagem elevada de cloração pode apresentar risco de toxicidade, a baixa concentração também pode oferecer risco de desenvolvimento de microorganismos patogênicos. Dessa forma, a determinação da concentração de coliformes (totais e fecais) assume pronunciada importância por constituir um parâmetro indicador da presença de microorganismos entéricos patogênicos (CHAGAS et al., 2001). Silva e Araújo (2003) avaliaram a qualidade bacteriológica da água subterrânea utilizada para consumo humano, proveniente de 120 poços, em duas áreas urbanas de Feira de Santana (BA) pela técnica de membrana filtrante. Das amostras analisadas cerca de 90% encontravam-se contaminadas com coliformes totais e 65% faziam parte do grupo de coliformes fecais. Dados como estes demonstram a precariedade da qualidade da água consumida pela população, mesmo com inúmeros avanços científicos. Nogueira et al. (2003) pesquisaram a qualidade de 3.073 amostras de água (tratadas e não tratadas) pela técnica tradicional de Número Mais Provável (NMP), tanto em ambiente urbano quanto rural na região de Maringá, no período de 1996 a 1999. Dentre as 350 amostras de poços residenciais (água não tratada), 83% apresentaram contaminação por coliformes totais e destas 48% eram do grupo de coliforme fecal. A água tratada também apresentou certa contaminação, provavelmente por tratamento insuficiente ou por recrescimento, sendo encontrado 171 amostras com coliformes totais do total de 1033 amostras de água tratada. Os autores ainda observaram que tanto nas amostras tratadas quanto nas não tratadas a sazonalidade e a temperatura da água parece interferir no desenvolvimento destes microorganismos. Devido às diferentes metodologias comumente citadas para águas de abastecimento, torna-se necessário decidir entre uma ou outra técnica que se adeque às necessidades locais e que, ao mesmo tempo, possa oferecer um diagnóstico seguro. Beloti et al. (2003) compararam a validade da técnica de Petrifilm à técnica tradicional de NMP para a determinação de coliformes totais e fecais em 145 amostras de águas, sendo 76 in natura e 69 de abastecimento. Dentre os resultados obtidos para a enumeração de coliformes (totais e fecal) foram correspondentes, validando a técnica de petrifilme como alternativa segura e prática para determinação da qualidade microbiológica da água, especialmente para as contaminações superiores a 20/100mL. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi pesquisar a qualidade microbiológica da água de poços residenciais no bairro do Centro Educacional da cidade de Fátima do

31 Sul (MS), Brasil, utilizando a técnica de Petrifilm. Materiais e Métodos As amostras de água foram coletadas em poços residenciais do bairro Centro Educacional da cidade de Fátima do Sul MS, no ano de 2007. As amostras foram obtidas por amostragem não-probabilística com reposição (ANGELINI; 1993). A escolha do bairro foi intencional por se tratar de uma região desprovida de rede de esgoto e pelo alto número de fossas sanitárias, bem como de poços nas residências, portanto a amostra possui um caráter nãoprobabilístico. Segundo a Vigilância Sanitária do município de Fátima do Sul MS, o bairro Centro Educacional continha uma média de 40 residências com poços destinados ao consumo humano. Pretendia-se coletar amostras dos 40 poços, porém, pela não autorização dos proprietários, isto não foi possível. Assim, analisaram-se 26 amostras provenientes de poços de água para consumo humano, de diferentes residências do bairro Centro Educacional, na cidade de Fátima do Sul MS. A não autorização de quase metade das residências pode ter sido o resultado de campanhas da Prefeitura Municipal de Fátima do Sul com intuito de interditar a utilização desses poços pela comunidade para que fosse implantada água canalizada fornecida pela Empresa de Saneamento do Estado de Mato Grosso do Sul (SANESUL). Desta forma, alguns proprietários negaramse em participar da pesquisa, desconfiados de que o pesquisador fosse um funcionário disfarçado da Prefeitura. Mesmo com a apresentação do termo de autorização da coleta, o qual em momento algum relata algum vínculo com a Prefeitura Municipal, a coleta não foi autorizada. Uma vez que grande parte destes proprietários possui baixa renda, eles alegaram que não teriam condições de arcar com as taxas mensais pelo fornecimento de água, caso viessem a ser proibidos de utilizar a água de seus poços. A coleta das amostras foi realizada em frasco estéril, próprio para a coleta, colocando diretamente o frasco dentro do poço com o auxílio de uma corda, evitando assim a contaminação externa de baldes e mangueiras utilizadas pelos proprietários para a retirada da água. O pesquisador também teve acesso ao ambiente anexo ao poço registrando aspectos do ambiente como proximidade de fossas sanitárias, canis, condições do poço, presença de cobertura, dentre outros parâmetros de conservação e manutenção. Após a coleta da amostra, 100ml da água foi transferida para recipiente estéril e identificada com o nome do local, data e hora da coleta, sendo conservada numa temperatura de 8ºC até seu processamento no Laboratório de Microbiologia do Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran). Antes da inoculação fez-se uma diluição de 1:10 da amostra de água e depois da homogeneização aplicou-se alíquota de 0,1mL com micropipeta posicionada verticalmente na superfície da placa de Petrifilm levantando o filme superior. Em seguida abaixou-se o filme superior com cuidado, evitando a entrada de bolhas de ar. Depois, posicionou-se o difusor em cima do filme superior com o lado liso para baixo, pressionando-o com cuidado de forma a distribuir o inóculo uniformemente pela área circular, não o girando nem o deslizando. Após gelificação do meio de cultura as placas foram incubadas com a face transparente voltada para cima, a 35ºC por 24 horas. Após incubação as colônias vermelhas associadas a bolhas de gás enquadradas como coliformes. Já para a identificação de E.coli, bastava contar as colônias azuis associadas às bolhas de gás conforme recomendação de Santa Ana et al. (2002). O teste de correlação de Spearman foi efetuado a partir dos dados microbiológicos de contaminação por coliformes totais e fecais e as caracterizações do ambiente foram processadas por meio de software Statistica (versão 5.0, StatSoft).

32 Resultados e Discussão Dentre as 26 amostras analisadas quanto a qualidade microbiológica, 03 (11,5%) estavam fora dos padrões de potabilidade exigidos pela regulamentação Federal (BRASIL, 2000), sendo encontrado presença de coliformes totais e fecais (Tabela 1). No entanto, das 23 amostras consideradas potáveis, cerca de 5 amostras (19,23%) estavam contaminadas por coliformes totais. Tabela 1: Quantificação de colônias de coliformes fecais e/ou totais nas amostras de águas de poços residenciais do Bairro Centro Educacional, Fátima do Sul, Ms, 2007. Amostra Nº de coliformes Nº de coliformes Nº de coliformes Nº de coliformes totais por 1ml fecais por 1ml totais por 100ml fecais por 100ml 01 7 6 700 600 02 1 0 100 0 03 0 0 0 0 04 0 0 0 0 05 0 0 0 0 06 2 0 200 0 07 0 0 0 0 08 0 0 0 0 09 7 1 700 100 10 4 1 400 100 11 0 0 0 0 12 1 0 100 0 13 0 0 0 0 14 0 0 0 0 15 0 0 0 0 16 1 0 100 0 17 0 0 0 0 18 0 0 0 0 19 1 0 100 0 20 0 0 0 0 21 0 0 0 0 22 0 0 0 0 23 0 0 0 0 24 0 0 0 0 25 0 0 0 0 26 0 0 0 0 A portaria nº 1.469/00 estabelece que impróprias e precárias nestes poços (Tabela as águas para consumo humano, incluindo 2). O poço de uma das amostras com fontes individuais como poços, com a contaminação de coliformes fecais presença de coliformes fecais ou localizava-se a apenas 10 metros da fossa, termotolerantes em 100ml da água, são podendo ser a fonte da contaminação do consideradas não potáveis (Art.11). Em lençol aqüífero, e ainda com possibilidade de relação a coliformes totais existe um limite contaminação externa proveniente de um de tolerância, devendo ser investigada a canil situado a apenas 1 metro, uma vez que origem da ocorrência e tomadas providências o local não possuía calçada e as fezes dos imediatas de caráter corretivo, preventivo e animais poderiam ser escoadas facilmente realizada nova análise (BRASIL, 2000). em época de chuvas. O mesmo ocorreu com É importante mencionar que durante a as outras duas amostras com coliformes coleta foi mensurada a profundidade do fecais onde a distância era ainda menor, poço, o tipo de revestimento, a distância cerca de 7,5 metros de distância entre a fossa entre o poço e a fossa e proximidade com o e o poço. canil, sendo observadas condições

33 Tabela 2 Caracterização da localização e estrutura física dos poços residenciais do Bairro Centro Educacional, Fátima do Sul, MS, 2007. Amostras Profundida-de do Tipo de Distância da fossa Proximida-de do poço (m) revestimen-to (m) canil (m) 1 12 Tampa de concreto 10 1 2 11 Lacre 11 2 3 15 Lacre 22 10 4 11 Lacre 25 9 5 12 Lacre 22 8 6 10 Lacre 8 não 7 11 Lacre 23 10 8 13 Lacre 25 Não 9 13 Lacre 8 Não 10 17 Lacre 7 Não 11 12 Lacre 24 Não 12 13 Lacre 10 Não 13 10 Lacre 20 Não 14 14 Lacre 21 Não 15 15 Lacre 24 Não 16 12 Lacre 12 Não 17 10 Lacre 22 Não 18 11 Lacre 21 Não 19 15 Lacre 10 2m 20 13 Lacre 26 Não 21 15 Lacre 20 Não 22 17 Lacre 25 Não 23 18,5 Lacre 18 Não 24 17 Lacre 35 Não 25 22 Lacre 21 Não 26 25 Lacre 23,5 Não De qualquer forma, foi observada uma correlação entre os coliformes (totais e fecais) e a distância entre o poço e a fossa (Tabela 3). Quanto menor a distância do poço com a fossa, maiores foram as chances de contaminação por coliformes. Dessa forma, a contaminação do aqüífero através das fossas oferece um risco muito grande à comunidade local que utiliza água dos poços muito próximos destas fontes de contaminação. Já os parâmetros como profundidade do poço, tipo de revestimento e proximidade com o canil não apresentaram correlação com a ocorrência dos coliformes uma vez que estas variáveis, provavelmente, dependam de outros fatores para promover tal contaminação, como a chuva e a declividade associada à estrutura física do poço. Tabela 3 Teste de correlação de Spearman para os valores do grupo dos coliformes e os valores da localização e profundidade dos poços pesquisados. Valores da correlação de Spearman (R) significativos (p) em α = 0,05 Coliformes totais Coliformes fecais p R p R Profundidade do poço 0,47-0,15 0,76 0,06 Distância da fossa < 0,001-0,81 < 0,001-0,51 Proximidade de canil 0,80 0,05 0,98 0.01

34 Portanto, nos locais onde a água foi considerada adequada para consumo humano pode-se destacar que a maioria mantinha condições ambientais adjacentes ao poço adequadas, como revestimento interno com tijolos, cobertura externa e lacre de concreto impedindo contaminação externa; presença de calçada com distância significativa em sua volta, que impedia que dejetos pudessem ser escoados com a água da chuva e por fim, a distância entre a fossa sanitária e o poço atendia a recomendação de estar a pelo menos 20 metros. Destaca-se que medidas simples e de baixo custo devem ser empregadas com intuito de evitar contaminações, como a cloração do poço, com o auxílio de um técnico, o qual fará o cálculo da quantidade de reagente necessária; a fervura e posterior filtração da água, como forma de minimizar os perigos advindos de uma contaminação da água por microorganismos patogênicos. Isso porque os recipientes de onde a água é coletada não foram alvo da pesquisa, podendo também ser objeto de estudo e preocupação. Conclusões A maior parte das amostras de água de poços analisadas do bairro Centro Educacional de Fátima do Sul MS estavam dentro dos padrões de potabilidade quanto ao quesito microbiológico previsto na legislação pertinente, embora haja de se ressaltar, que além desse parâmetro existem outros como ph, nitrogênio, turbidez, temperatura, demanda bioquímica de oxigênio e oxigênio dissolvido. Assim, o monitoramento da qualidade microbiológica de água de poços faz-se necessário devido às possibilidades de contaminação de várias ordens. Referências Bibliográficas fecal. Revista de Saúde Pública, v.28, n.5, p.345-348, out. 1994. ANGELINE; Milone. Estatística geral, amostragem e distribuições amostrais. São Paulo: Atlas, 1993. BELOTI, V. et al. Evaluation of Petrifilm TM EC and HS for total coliforms and Escherichia coli enumeration in water. Brazillian Journal of Microbiology, v. 34, p. 301-304, nov. 2003. BRASIL. Ministério de Saúde. Portaria nº 1.469, de 29 de dezembro de 2000. Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Anexo: Norma de Qualidade da Água para Consumo Humano; Das Definições. Ministério da Saúde. CASTRO, O. Microbiologia nas águas de consumo na microbacia hidrográfica Arroio Passo Fundo do Pilão. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, 2002. CHAGAS, S.D.; IARIA, S.T. CARVALHO, J.P.P. Bactérias indicadoras de poluição fecal em águas de irrigação de hortas que abastecem o município de Natal - Estado do Rio Grande do Norte (Brasil). Revista de Saúde Pública, v.15, n.6, p.629-642, dez. 2001. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Domicílios com abastecimento de água por poço ou nascente e outra forma 2000. Atlas de Saneamento, Rio de Janeiro, p.19, 2000. NOGUEIRA, G. et al. Microbiological quality of drinking water of urban and rural communities, Brazil. Revista de Saúde Pública, v. 37, n.2, p. 232-236, 2003. 2003 SANT ANA, A.S.; CONCEIÇÃO, C. da; AZEVEDO, D.R.P. Comparação entre os métodos rápidos Simplate TPC-CI e Petrifilm AC e os métodos convencionais de contagem em placas para a enumeração de aeróbios mesófilos em sorvetes. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.22, n.1, p.60-64, jan. 2002. SILVA, R.C.A. da; ARAÚJO, T.M. de. Qualidade da água do manancial subterrâneo em áreas urbanas de Feira de Santana (BA). Ciência e Saúde coletiva, v.8, n.4, p.1019-1028, 2003. AMARAL, L. A. et al. Avaliação da qualidade higiênico-sanitária da água de poços rasos localizados em uma área urbana: utilização de colifagos em comparação com indicadores bacterianos de poluição