Relação entre as CondiçõeS de abastecimento de água no interior



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Relação entre as CondiçõeS de abastecimento de água no interior dos domicílios e os hábitos de higiene BuCal de SeuS moradores Relationship between piped water supply in the home and their residents oral hygiene habits Érika Fernandes Soares 1, Tatiana Oliveira Novais 2, Maria do Carmo Matias Freire 3 resumo O objetivo deste estudo foi investigar a relação entre as condições de abastecimento de água no interior dos domicílios e os hábitos de higiene bucal de seus moradores adultos. Foram entrevistados 211 moradores de domicílios beneficiados pela Estratégia Saúde da Família no município de Bonfinópolis-GO, por meio de questionário estruturado. Aproximadamente a metade da amostra residia em domicílios com água canalizada interna (N = 106) e a outra metade em domicílios sem água canalizada interna (N = 105). Os dados foram analisados utilizando-se regressão logística simples e múltipla. Os resultados mostraram que não houve associação estatisticamente significante entre a condição de abastecimento de água e a frequência diária de escovação, satisfação com a limpeza dos dentes e dificuldade para escovar. Apenas a variável opinião sobre o local onde escovam apresentou associação estatisticamente significante (P = 0,000). Moradores residentes em domicílios sem água encanada na parte interna tiveram seis vezes mais chance de classificar seu local de escovação como ruim, ajustando-se por sexo e idade. Concluiu-se que a inexistência de água canalizada no interior dos domicílios não influenciou negativamente os hábitos de higiene bucal dos moradores, apesar de influenciar a sua percepção sobre o local de realização da escovação. palavras-chave Higiene bucal, adultos, abastecimento de água abstract This study aimed to evaluate the relationship between water supply conditions in homes and the oral hygiene habits of their adult residents. 211 subjects living in an area covered by the family health strategy in Bonfinópolis (Goiás state) were interviewed using a structured questionnaire. Approximately half of the sample lived in homes with internal water supply (N = 106) and half lived in homes without internal water supply (N = 105). Data analysis was carried out using simple and multiple logistic regression. Results showed that there was no significant association between water supply inside homes and daily toothbrushing frequency, self perceived dental cleanliness and difficulty to brush. Only the variable opinion about the toothbrushing 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás. Cirurgiãdentista da Prefeitura Municipal de Goiânia. End: Rua Comendador Negrão de Lima, n.151, apt. 102, Ed. Lago Azul, St. Negrão de Lima - Goiânia-GO, CEP: 74650-030 E-mail: doutoraerika@hotmail.com 2 Mestre em Clínica Odontológica. Cirurgiã-dentista da Prefeitura Municipal de Bonfinópolis. 3 Doutora em Dental Public Health pela University of London. Professora Associada da Universidade Federal de Goiás. C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009 641

f e R n a n d a m a C h i n e R, d o m i n g o S d e J e S u S R o d R i g u e S, e d n a l d o a n t ô n i o d e a n d R a d e place was significantly associated (P = 0.000). Individuals who lived in homes without internal water supply were six times more likely to classify their toothbrushing place as bad, after adjusting for gender and age. It was concluded that the absence of water supply inside home did not have negative influence on the oral hygiene habits of their residents, although it has influenced their perception on the toothbrushing place. KEy words Oral hygiene habits, adults, water supply 1. introdução A prática de higiene bucal é um fator de relevância comprovada cientificamente para a prevenção das principais doenças bucais: a doença periodontal e a cárie dentária, especialmente a primeira (Kay et al., 1998; Sutcliffe, 2004; Sheiham, 2004). Diversos estudos demonstram que a higiene bucal é associada a fatores demográficos, sociais, comportamentais e psicológicos, tais como sexo, idade, nível socioeconômico, autopercepção da saúde, estilo de vida e condições psicológicas (Abegg, 1997; Abegg et al., 1999; Al-Shammari et al., 2007; Christensen et al., 2003; Flores et al., 2006; Freire et al., 2007; Lisboa et al., 2006; Macgregor et al., 1991). O conhecimento das condições do meio ambiente que podem interferir no processo saúde-doença é importante no estabelecimento de medidas de promoção da saúde do indivíduo, famílias e comunidades. Um desses fatores é a condição de moradia e de saneamento, incluindo acesso à água canalizada, adequação de instalações sanitárias e pontos internos de água, os quais poderiam facilitar ou dificultar a prática de higiene bucal (Baldani et al., 1996). Para o Ministério da Saúde (Brasil, 2002, p. 6), Saneamento é o conjunto de ações socioeconômicas que têm como objetivo alcançar níveis crescentes de salubridade ambiental (...) com a finalidade de proteger e melhorar a condição de vida, tanto nos centros urbanos quanto nas comunidades rurais. As atividades de saneamento visam à promoção da saúde quando seguem os seguintes requisitos: água de boa qualidade para o consumo humano e seu fornecimento contínuo; coleta regular, acondicionamento e destino final do lixo; drenagem; esgotamento sanitário; melhorias sanitárias domiciliares e habitacionais. A influência das condições de habitação e saneamento na situação de saúde da população tem sido bem documentada (Caprara et al., 2009; Gerolomo et al., 2000; Monteiro et al., 2000; Ronir et al., 2003). Estas variáveis têm sido utilizadas também como indicadores socioeconômicos em estudos populacionais (Soares et al., 2002; Tomasi et al., 1996). Entretanto, na literatura publicada até o momento, são escassos os estudos 642 C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009

R e l a ç ã o e n t R e a S C o n d i ç õ e S d e a B a S t e C i m e n t o d e á g u a n o i n t e R i o R d o S d o m i C í l i o S e o S h á B i t o S d e h i g i e n e B u C a l d e S e u S m o R a d o R e S que incluem condições de saneamento e habitação como determinantes ambientais ou como indicadores de desenvolvimento em saúde bucal (Baldani et al., 1996; Tomita et al., 1996). No Brasil, a maioria dos estudos que relacionam abastecimento de água e saúde bucal se refere à fluoretação das águas e seus benefícios em termos de redução de cárie nas populações (Ramires et al., 2007). A possível influência destes fatores nos hábitos de higiene bucal não tem sido abordada. No município de Bonfinópolis, Estado de Goiás, a Estratégia Saúde da Família (ESF) está sendo operacionalizada desde março de 2001. Através de visitas domiciliares, a Equipe de Saúde Bucal (ESB) tem observado as precárias condições de moradia da população, dentre elas, a falta de abastecimento de água com canalização interna e/ou instalações sanitárias em muitos domicílios. O presente estudo objetivou conhecer a relação entre as condições de abastecimento de água no interior dos domicílios e os hábitos de higiene bucal da população adulta daquele município. A hipótese é que os indivíduos residentes em domicílios sem água canalizada interna apresentariam hábitos de higiene bucal menos adequados do que os residentes em domicílios com água canalizada interna ao domicílio. 2. material E métodos amostra A população de estudo foi composta por adultos residentes em domicílios urbanos beneficiados pela ESF no município de Bonfinópolis-GO. No ano da coleta dos dados (2003), este município possuía 5.337 habitantes, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) igual a 0,723 e água de abastecimento não fluoretada. No processo de amostragem, inicialmente foram consideradas duas áreas com diferentes situações em relação ao abastecimento de água. Para a seleção dos domicílios, se utilizou como critério os dados obtidos através do consolidado das famílias por microárea da ESF, divulgado pelo Sistema de Informação de Atenção Básica SIAB. O consolidado é um relatório do cadastramento dos moradores realizado pelos Agentes Comunitários de Saúde, utilizando um formulário próprio (Ficha A), para se coletar dados como número de moradores, portadores de doenças sistêmicas e condição de moradia, entre outros, da população assistida pela ESF. Para compor o grupo 1, foram selecionados domicílios situados nas microáreas 1 (segmento 1), 7 e 8, as quais apresentavam os piores índices de abastecimento de água, com maior porcentagem de domicílios sem acesso à rede pública de abastecimento. No grupo 2 foram incluídos domicílios da microárea 8 que atendiam aos critérios deste grupo. Cada domicílio selecionado era visitado, com um dos residentes sendo convidado a participar do estudo até que fosse completado o número necessário para cada grupo. C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009 643

é R i k a f e R n a n d e S S o a R e S, t a t i a n a o l i v e i R a n o v a i S, m a R i a d o C a R m o f R e i R e Os dois grupos foram estabelecidos da seguinte forma: Grupo 1) indivíduos residentes em domicílios que não possuíam água canalizada dentro de casa. Grupo 2) indivíduos residentes em domicílios que possuíam água canalizada (pelo menos um ponto de água) dentro de casa, independente da fonte. O tamanho estimado para a amostra foi de 214 indivíduos, sendo 107 no Grupo 1 e 107 no Grupo 2. Este total foi calculado utilizando-se o Programa Epi Info Versão 6, por meio do método para comparação de duas proporções em estudos transversais (Fleiss, 1981), com base na variável frequência diária de escovação. A amostra teve um poder de 80% de demonstrar uma diferença estatisticamente significativa na frequência de escovação entre dois grupos de adultos (residentes em domicílios com ou sem água canalizada interna) ao nível de 5%, se uma odds ratio (OR) de 0,44 ou menos fosse observada. Foram incluídos indivíduos com idade a partir dos 19 anos, que se encontravam nos domicílios no momento da coleta dos dados e que concordaram em participar do estudo. Foram excluídos os portadores de doenças incapacitantes (como acamados, deficientes mentais ou físicos com tetraplegia), devido à dificuldade destes em realizar higiene bucal. Em cada domicílio, apenas um residente adulto era convidado a participar. instrumentos de ColEta dos dados E variáveis investigadas A técnica de pesquisa foi a entrevista e o instrumento de coleta consistiu um formulário estruturado baseado em estudos anteriores sobre saúde bucal (Abegg, 1997; Freire, 1999). Este instrumento foi pré-testado em um grupo da população estudada. As variáveis incluídas no presente estudo foram: dados sociodemográficos (sexo, idade, escolaridade e ocupação), condição de abastecimento de água dos domicílios, local de realização da escovação e hábitos de higiene bucal. ColEta dos dados As entrevistas foram realizadas nos meses de maio a setembro de 2003, durante visitas domiciliares realizadas por uma das pesquisadoras, cirurgiã-dentista da ESF, e por duas Agentes Comunitárias de Saúde também da ESF de Bonfinópolis, previamente treinadas. 644 C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009

R e l a ç ã o e n t R e a S C o n d i ç õ e S d e a B a S t e C i m e n t o d e á g u a n o i n t e R i o R d o S d o m i C í l i o S e o S h á B i t o S d e h i g i e n e B u C a l d e S e u S m o R a d o R e S aspectos ÉtiCoS Antes do início da coleta de dados, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás. Todos os que aceitaram participar assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. análise EStatíStiCa Os dados foram analisados utilizando-se o programa SPSS versão 10.0. Inicialmente foi realizada análise descritiva. Para se testar a associação entre as variáveis do estudo, foi realizada análise de regressão logística. A variável independente (explicativa) foi existência de água canalizada interna no domicílio e as variáveis dependentes foram quatro: frequência diária da escovação, satisfação com a limpeza dos dentes, dificuldade para escovar e opinião sobre o local onde escovam os dentes. No caso da variável frequência diária de escovação que apresentou mais de uma categoria de resposta, estas foram dicotomizadas em: três vezes ou mais e duas vezes ou mais. Para todas as variáveis, a categoria de resposta não sei foi desconsiderada para a análise de regressão logística. Na primeira etapa foi realizada análise bivariada entre a variável independente e cada uma das variáveis dependentes, utilizando-se regressão logística simples. Posteriormente, a variável dependente que apresentou associação estatisticamente significante com a existência de água encanada no interior do domicílio foi analisada utilizando-se um modelo de regressão logística múltipla, incluindo-se como prováveis variáveis de confusão os dados sociodemográficos. O critério para inclusão destes foi o valor de P < 0,05, com exceção da idade e sexo, que foram mantidas no modelo final independente destes valores. Em todos os testes estatísticos o nível de significância foi de 5% (P < 0,05). Os valores de P foram obtidos do teste de Wald, e os valores das Odds Ratio (OR) e seus intervalos de confiança (IC) de 95% foram estimados. 3. resultados Dos 214 indivíduos entrevistados, três foram excluídos devido ao elevado número de questões em branco no questionário. A amostra final foi composta por 211 moradores de 19 a 36 anos, sendo a maior parte composta por mulheres, indivíduos com tempo de escolaridade de no máximo oito anos e aqueles que relataram como ocupação atual, do lar, desempregada ou aposentada (Tabela 1). A condição de abastecimento de água dos domicílios e o local de escovação dental do morador entrevistado encontram-se na Tabela 2. Aproximadamente a metade dos entrevistados (n = 105; 49,8%) residia em domicílios sem água canalizada interna (Grupo 1) e 106 (50,2%) residiam em domicílios com este benefício C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009 645

é R i k a f e R n a n d e S S o a R e S, t a t i a n a o l i v e i R a n o v a i S, m a R i a d o C a R m o f R e i R e (Grupo 2). A maioria dos domicílios recebia água da rede pública de abastecimento. Pias e/ou torneiras na parte interna (cozinha ou banheiro) estavam presentes na grande maioria dos domicílios do grupo 2. No grupo 1, a maioria apresentava esta comodidade na parte externa coberta (banheiro ou área de serviço) ou descoberta. O local de escovação relatado por todos os entrevistados do grupo 1 foi a parte externa do domicílio, incluindo o banheiro de fora e outras áreas externas com ou sem cobertura. No grupo 2, a maioria (74,3%) citou a parte interna (banheiro de dentro) (Tabela 2). Tabela 1 Características sociodemográficas dos moradores entrevistados. Município de Bonfinópolis- GO, 2003. Grupo 1- Domicílios sem água Grupo 2- Domicílios com água Características canalizada canalizada interna interna (n= 105) (n= 106) Sexo Masculino Feminino Escolaridade (anos) Ocupação > 8 anos = ou < 8 anos Nenhuma n % n % 34 32,4 24 22,6 71 67,6 82 77,4 16 15,2 11 10,4 63 60,0 80 75,5 26 24,8 15 14,1 Empregado ou autônomo 37 35,2 25 23,6 Do lar 41 39,1 59 55,7 Desempregado 14 13,3 14 13,2 Aposentado 13 12,4 8 7,5 Idade (anos) 19 36 37 81 (p< 0,001) mesmo após a inclusão da idade e sexo. 47 44,8 59 55,7 58 55,2 47 44,3 As informações referentes aos hábitos de higiene bucal dos moradores entrevistados estão na Tabela 3. Apenas um entrevistado respondeu que não realiza higiene bucal e o motivo relatado foi o fato de ser desdentado total e sem prótese. 646 C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009

R e l a ç ã o e n t R e a S C o n d i ç õ e S d e a B a S t e C i m e n t o d e á g u a n o i n t e R i o R d o S d o m i C í l i o S e o S h á B i t o S d e h i g i e n e B u C a l d e S e u S m o R a d o R e S Tabela 2 Condição de abastecimento de água e local de escovação dental nos domicílios. Município de Bonfinópolis-GO, 2003. Grupo 1- Domicílios sem água Grupo 2- Domicílios com água canalizada Variáveis canalizada interna interna (n= 105) (n= 106) Procedência da água de abastecimento n % n % Rede Pública 56 53,3 72 67,9 Poço ou Nascente 37 35,2 26 24,5 Rede Pública e Poço ou Nascente 9 8,6 7 6,6 Outros (represa, córrego) 2 1,9 1 1,0 Nenhuma 1 1,0 0 Locais com pias e/ou torneiras Parte interna (cozinha ou banheiro) 0 0,0 37 34,9 Parte externa coberta (banheiro ou área de serviço) 48 45,7 7 6,6 Parte externa descoberta (área descoberta ou torneira ao ar livre) 35 33,3 4 3,8 Parte interna e externa coberta 0 0,0 34 32,0 Parte interna e externa descoberta 0 0,0 20 18,9 Parte externa coberta e descoberta 19 18,1 1 1,0 Parte interna e externa coberta e descoberta 0 0,0 3 2,8 Não possui pia e/ou torneira 3 2,9 0 0 Local de escovação bucal do morador entrevistado Parte interna do domicílio (banheiro de dentro) 0 0 78 74,3 Parte externa do domicílio (banheiro de fora, tanque ou pia da área externa, torneira externa, copo no terreiro, casa do vizinho) 105 100 27 25,7 C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009 647

é R i k a f e R n a n d e S S o a R e S, t a t i a n a o l i v e i R a n o v a i S, m a R i a d o C a R m o f R e i R e Tabela 3 Hábitos de higiene bucal dos moradores entrevistados. Município de Bonfinópolis-GO, 2003. Variáveis Realização da escovação dental Grupo 1- Domicílios Grupo 2- Domicílios sem água canalizada com água canalizada interna interna ( n= 105) (n= 106) n % n % Sim 105 100,0 105 99,1 Não 0 0,0 1 0,9 Freqüência diária de escovação Menos de uma vez 5 4,8 12 11,3 Uma vez 7 6,7 1 0,9 Duas vezes 51 48,6 41 38,7 Três vezes 39 37,1 44 41,5 Quatro vezes ou mais 3 2,8 7 6,6 Dificuldade em escovar os dentes no domicílio Não 88 83,8 97 91,5 Sim 17 16,2 08 7,5 Satisfação com a limpeza dos dentes Satisfeito 64 61,0 71 66,9 Não satisfeito 16 15,2 23 21,7 Não sei 25 23,8 11 10,3 Opinião sobre o local onde escova Bom 45 42,9 85 80,2 Ruim 58 55,2 17 16,0 Não sei 02 1,9 03 2,8 A frequência mais comum de escovação foi duas vezes ou menos ao dia nos dois grupos. A maioria relatou não ter dificuldade para escovar no domicílio e estar satisfeito com a própria limpeza dos dentes. O percentual de indivíduos que consideraram bom o local onde escovam foi mais alto no grupo 2. Os resultados da análise de regressão logística simples da associação de cada uma das quatro variáveis dependentes com a existência de água encanada no interior do domicílio encontram-se na Tabela 4. Apenas a variável opinião sobre o local onde escovam apresentou associação estatisticamente significante (P < 0,001). Moradores residentes em domicílios sem água encanada na parte interna (Grupo 648 C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009

R e l a ç ã o e n t R e a S C o n d i ç õ e S d e a B a S t e C i m e n t o d e á g u a n o i n t e R i o R d o S d o m i C í l i o S e o S h á B i t o S d e h i g i e n e B u C a l d e S e u S m o R a d o R e S Tabela 4 Resultados da análise de regressão logística simples entre as variáveis dependentes e a existência de água encanada no interior do domicílio. Município de Bonfinópolis-GO, 2003. Água encanada no interior do domicílio Variáveis Sim (Grupo 2) Não (Grupo 1) dependentes OR P Freqüência diária de escovação n % n % Três vezes ou mais 51 48,6 41 39,0 1 Duas vezes ou menos 54 51,4 64 61,0 1,47 0,165 Satisfação com a limpeza dos dentes Satisfeito 71 75,5 64 80,0 1 Não satisfeito 23 24,5 16 20,0 0,77 0,482 Dificuldade para escovar no domicílio Não 97 92,4 88 83,8 1 Sim 8 7,6 17 16,2 2,34 0,061 Opinião sobre o local onde escova Bom 85 83,3 45 43,7 1 Ruim 17 16,7 58 56,3 6,44 < 0,001 1), tiveram seis vezes mais chance de classificar seu local de escovação como ruim. Os resultados da análise de regressão simples entre a variável opinião sobre o local onde escova e cada uma das possíveis variáveis de confusão (sexo, idade, escolaridade e ocupação) mostraram valores não significantes. Devido à conhecida influência do sexo e idade nos hábitos de higiene bucal, estas duas variáveis foram incluídas no modelo de regressão logística múltipla, buscando verificar seu efeito sobre a associação encontrada entre a opinião do morador sobre o local onde escovam e a existência de água encanada no interior do domicílio (Tabela 5). O modelo final mostrou que a associação entre essas duas variáveis permaneceu altamente significante. 4. discussão Os resultados do presente estudo não confirmaram a hipótese de que a falta de água canalizada interna no domicílio dificultaria a prática de higiene bucal dos moradores. Todos os moradores dos domicílios nesta condição afirmaram realizar a higiene bucal, e a maioria o faz com frequência regular e sem dificuldades, mesmo em condições adversas, além de ter uma percepção positiva da sua higiene. Por outro lado, a percepção sobre o local de higienização foi diferente entre os dois grupos. A inexistência de estudos publicados sobre essa questão C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009 649

é R i k a f e R n a n d e S S o a R e S, t a t i a n a o l i v e i R a n o v a i S, m a R i a d o C a R m o f R e i R e Tabela 5 Resultados da análise de regressão logística múltipla entre a variável opinião sobre o local onde escova os dentes e a existência de água encanada no interior do domicílio. Município de Bonfinópolis-GO, 2003. Opinião sobre o local onde escova os dentes OR OR Variáveis dependentes Bom Ruim P bruto ajustado n % n % P Água encanada no interior do domicílio Sim (Grupo 2) 85 83,3 45 43,7 1 1 Não (Grupo 1) 17 16,7 58 56,3 6,44 <0,001 7,12 <0,001 Sexo Masculino 36 27,7 18 24,0 1 1 Feminino 94 72,3 57 76,0 1,21 0,564 1,63 0,196 Idade (anos) 19 36 67 51,5 39 52,0 1 1 37 81 63 48,5 36 48,0 0,98 0,949 0,84 0,591 impossibilita comparação destes com resultados de outros estudos. Os achados sugerem que a prática de higiene bucal está presente no cotidiano dos moradores entrevistados, refletindo provavelmente aspectos da cultura brasileira que valorizam a higiene corporal. Diversos estudos mostram que os hábitos de higiene bucal são influenciados pelas condições sociais, econômicas, psicológicas e educacionais (Abegg, 1997; Abegg et al., 1999; Al-Shammari et al., 2007; Christensen et al., 2003; Flores et al., 2006; Freire et al., 2007; Lisboa et al., 2006; Macgregor et al., 1991). Mesmo na inexistência de banheiros com pias e torneiras, que são os locais convencionais para a higiene bucal, os indivíduos entrevistados, e provavelmente as famílias, procuram alternativas para manter o hábito, sem perder a noção da precariedade das condições existentes e utilizadas. A grande maioria dos entrevistados relatou que escova os dentes mais de duas vezes ao dia, uma frequência considerada satisfatória (Honkala, 1993). Este achado coincide com o verificado em trabalhadores porto-alegrenses (Abegg et al., 1997). O fato de a população estudada ser beneficiada pela Estratégia Saúde da Família poderia explicar em parte este achado, considerando-se o provável efeito das ações educativas realizadas pela equipe de saúde bucal, especialmente pela grande ênfase geralmente dada à higiene como método de prevenção das doenças bucais. Entretanto, a alta frequência de escovação é comum no Brasil, mesmo em 650 C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009

R e l a ç ã o e n t R e a S C o n d i ç õ e S d e a B a S t e C i m e n t o d e á g u a n o i n t e R i o R d o S d o m i C í l i o S e o S h á B i t o S d e h i g i e n e B u C a l d e S e u S m o R a d o R e S populações não beneficiadas pela referida estratégia (Abegg et al., 2000; Freire et al., 2007), e não se dispõe de estudos até o momento sobre a efetividade da ESF na saúde bucal. As condições climáticas favoráveis do local e o acesso constante à água no município onde os dados foram coletados podem influenciar a utilização inclusive de áreas descobertas para a realização da escovação. Desta forma, a desigualdade social na saúde parece estar parcialmente reduzida neste caso, pelo menos no que diz respeito à higiene bucal. Diferenças mais substanciais entre os dois grupos poderiam também ser verificadas comparando-se situações mais distintas, por exemplo, domicílios com abastecimento interno de água canalizada com aqueles sem qualquer abastecimento de água canalizada, o que não foi possível realizar no município pesquisado devido à quase inexistência de domicílios em situação muito precária com relação a esta variável. No entanto, estudo realizado sobre a comunidade Kalunga do Estado de Goiás, constituída por descendentes de quilombos vivendo em locais de difícil acesso e sem condições de saneamento básico, revelou que todos os entrevistados realizavam higiene bucal (Soares et al., 2002). Resultados semelhantes foram encontrados por Tassinari et al. (2007) em seu estudo sobre os efeitos de variáveis socioeconômicas contextuais na autoavaliação da saúde bucal em uma população adulta do município do Rio de Janeiro. A maioria da amostra classificou sua saúde bucal como boa e as maiores prevalências de saúde bucal ruim foram encontradas em moradores de setores censitários que tinham menos de 99% de domicílios providos com água encanada em comparação com aqueles de setores que tinham 99% ou mais domicílios nesta situação. Contudo, a diferença não foi estatisticamente significante e, segundo os autores, a influência dessa variável contextual pode não ter sido detectada por não ter havido contraste suficiente entre as áreas de residência dos participantes do estudo, já que a população estudada tinha acesso quase universal à água encanada. Outro ponto de discussão refere-se às variáveis investigadas. O presente estudo não incluiu dados sobre a condição de saúde bucal dos moradores entrevistados e pode haver diferenças entre os dois grupos em relação a esta variável. Por exemplo, pode-se considerar a hipótese de que os moradores dos domicílios sem água canalizada interna apresentem índice de biofilme dental e/ou doenças periodontais mais elevado do que aqueles com água canalizada. Isto poderia significar que, apesar de escovarem, os primeiros não a realizam de forma eficaz pelas condições físicas do local. Os resultados do presente estudo revelam aspectos positivos em relação à higiene bucal da população investigada, apesar das condições precárias de acesso à água no interior do domicílio. Contudo, considerando-se que o acesso à água de abastecimento tratada interfere positivamente na C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009 651

é R i k a f e R n a n d e S S o a R e S, t a t i a n a o l i v e i R a n o v a i S, m a R i a d o C a R m o f R e i R e condição geral de saúde e que a oferta de água fluoretada é fundamental para controle da doença cárie na população, a extensão deste benefício a todos os moradores do município investigado é necessária. Sabe-se que a existência de rede púbica de água no Brasil não garante que os domicílios e seus moradores tenham acesso à mesma, devido ao seu alto custo. Assim, medidas mais amplas são necessárias para se reduzir desigualdades sociais existentes e melhorar o acesso aos meios para promover saúde, tornando as opções saudáveis (como locais apropriados para a higiene bucal) mais fáceis. As limitações deste estudo devem ser consideradas ao se interpretar seus resultados. Além dos aspectos já mencionados, acrescenta-se a amostragem limitada a algumas áreas beneficiadas pela ESF. Estudos mais abrangentes e em diferentes populações são necessários para melhor elucidar esta questão e ampliar a possibilidade de generalização dos resultados obtidos. Todas as autoras participaram da pesquisa, análise e interpretação dos dados e da redação do artigo. Coube a MCM Freire a revisão crítica. RefeRênCiaS abegg, C.; CroUChEr, r.; marcenes, S. w. S.; ShEiham, a. How do routines of daily activities and flexibility of daily activities affect toothcleaning behavior. Journal of Public Health Dentistry. v. 60, n. 3, p. 154-158, 2000. abegg, C.; marcenes, w.; CroUChEr, r.; ShEiham, a. The relationship between tooth cleaning behavior and flexibility of working time schedule. Journal of Clinical Periodontology. v. 26, n. 7, p. 4448-4452, 1999. abegg, C. Hábitos de higiene bucal de adultos porto-alegrenses. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 31, n. 6, p. 586-593, 1997. al-shammari, K. f.; al-ansari, J. m.; al-khabbaz, a. K.; dashti, a.; honkala, E. J. Self-reported oral hygiene habits and oral health problems of Kuwaiti adults. Medical Principles and Practices. v. 16 n. 1, p. 15-21, 2007. baldani, m. h.; narvai, p. C.; antunes, J. l. f. Cárie dentária e condições sócio-econômicas no estado do Paraná, Brasil, 1996. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 18, n. 3, p. 755-763, 2002. 652 C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009

R e l a ç ã o e n t R e a S C o n d i ç õ e S d e a B a S t e C i m e n t o d e á g u a n o i n t e R i o R d o S d o m i C í l i o S e o S h á B i t o S d e h i g i e n e B u C a l d e S e u S m o R a d o R e S brasil. Ministério da Saúde. Programa Saneamento Básico. Brasília, Série C. Projetos, Programas e Relatórios, n. 57, 2002. Caprara, a.; lima, J. w. o.; marinho, a. C. p.; CalvaSina, p. g.; landim, l. p.; SommErfEld, J. Irregular water supply, household usage and dengue: a bio-social study in the Brazilian Northeast. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 25, Sup 1, p. 125-136, 2009. ChriStEnSEn, l. b.; petersen, p. E.; KrUStrUp, U.; KJollEr, m. Self-reported oral hygiene practices among adults in Denmark. Community of Dental Health. v. 20, n. 4, p. 229-235, 2003. flores, E. m. t. l.; drehmer, t. m. Conhecimentos, percepções, comportamentos e representações de saúde e doença bucal dos adolescentes de escolas públicas de dois bairros de Porto Alegre. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 743-752, 2003. freire, m. C. m.; ShEiham, a.; bino, y. a. Hábitos de higiene bucal e fatores sociodemográficos em adolescentes. Revista Brasileira de Epidemiologia. v. 10, n. 4, p. 606-614, 2007. freire, m. C. m. Oral health and sense of coherence a study of Brazilian adolescents and their mothers. 1999. 268p. Tese (Doutorado em Filosofia) - University College London. University of London, London. gerolomo, m.; penna, m. l. f. Cólera e condições de vida da população. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 34, n. 4, p. 342-347, 2000. honkala, E. Oral health promotion with children and adolescents. In: Schou L.; Blinkhorn A. Oral health promotion. Oxford: Oxford University, 1993. p. 169-185. Kay, E.; locker, d. A systematic review of the effectiveness of health promotion aimed at improving oral health. Community Dental Health. v. 15, n. 3, p. 122-144, 1998. lisboa, i. C.; abegg C. Hábitos de higiene bucal e uso de serviços odontológicos por adolescentes e adultos do município de Canoas, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde. v. 15, n. 4, p. 29-39, 2006. C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009 653

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R e l a ç ã o e n t R e a S C o n d i ç õ e S d e a B a S t e C i m e n t o d e á g u a n o i n t e R i o R d o S d o m i C í l i o S e o S h á B i t o S d e h i g i e n e B u C a l d e S e u S m o R a d o R e S tassinari, w. S.; leon, a. p.; werneck, g. l.; faerstein, E.; lopes, C. S.; Chor, d.; nadanovsky, p. Contexto sócio-econômico e percepção da saúde bucal em uma população de adultos no Rio de Janeiro, Brasil: uma análise multinível. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 127-136, 2007. tomasi, E.; barros, f. C.; victora, C. g. Situação sócio-econômica e condições de vida: comparação de duas coortes de base populacional no sul do Brasil. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 12, supl. 1, p. 15-19, 1996. tomita, n. E.; bijela, v. t.; lopes, E. S.; franco, l. J. Prevalência de cárie dentária em crianças da faixa etária de 0 a 6 anos matriculadas em creches: importância de fatores socioeconômicos. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 30, n. 5, p. 413-420, 1996. zleiss, J. l. Statistical methods for rates and proportions. 2. ed., New York: Wiley, 1981. 800p. Recebido em: 26/04/2009 Aprovado em: 09/09/2009 C a d. S a ú d e C o l e t., R i o d e J a n e i R o, 17 (3): 641-656, 2009 655