Curso/Disciplina: Direito Constitucional Aula: Teoria da Constituição / Aula 04 Professor: Marcelo Tavares Monitora: Kelly Silva Aula 04

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Curso/Disciplina: Direito Constitucional Aula: Teoria da Constituição / Aula 04 Professor: Marcelo Tavares Monitora: Kelly Silva Aula 04 TEORIA DA CONSTITUIÇÃO O grande questionamento que se faz na aula de hoje é o que é de fato a Constituição? Para que serve uma Constituição? Qual o valor que uma Constituição tem para regular as relações do Estado, as relações entre o Estado e os indivíduos, e as relações entre os indivíduos na sociedade? Tradicionalmente, principalmente na primeira metade do século XX, a Constituição se destinava a organizar os órgãos do Estado e estabelecer a relação entre o indivíduo e o Estado, principalmente através das normas de direitos fundamentais. A partir da segunda metade do século XX a Constituição passa também a regular as relações entre os indivíduos dentro da sociedade. Isso porque a Constituição passa a ser entendida como o principal instrumento jurídico que serve de base também para o direito privado, ao que se chama de constitucionalização do direito privado. A Constituição passa a regular de forma mais incisiva as relações entre os indivíduos e entre a sociedade. No Brasil, esse fenômeno passa a se sentir, principalmente, na década de 90. Conceito de Constituição: Existem três aspectos para se analisar a Constituição: político, jurídico (normativo) e sociológico. Página1 Constituição sob o aspecto político é o conjunto de decisões políticas fundamentais adotadas pela sociedade na manifestação do poder constituinte originário. São decisões políticas fundamentais o tipo de Estado (unitário, composto), o tipo de Governo (monarquia, república), o sistema de Governo (presidencialista, parlamentarista, semi-presidencialista, diretorial). O conjunto de decisões políticas fundamentais vai significar a Constituição. Carl Schmitt trabalha bastante com o conceito da Constituição sob tal aspecto no início do século XX. Esse autor é importante para a distinção do que vai ser a principal diferença do conceito de normas material e formalmente constitucionais. Carl Schmitt fazia uma diferença entre normas constitucionais, que são as normas que tratam das decisões políticas fundamentais, e leis constitucionais, que seriam apenas aquelas que constariam no documento formal da Constituição, mas não integrariam o núcleo das decisões políticas fundamentais. Sob o aspecto político, pode-se afirmar que todo Estado tem Constituição, pois sempre são adotadas decisões políticas fundamentais, independentemente de formalizarem tais decisões em apenas um documento. A preocupação aqui é com o conteúdo da Constituição. Constituição sob o aspecto jurídico Constituição é o conjunto de normas fundamentais, ou seja, normas que vão servir de base para a organização de outras normas. São normas que estarão no topo de uma pirâmide

jurídica, servindo de base para a construção de todo o ordenamento jurídico. Aqui pode ser trabalhada a ideia da pirâmide kelseniana, em que as normas jurídicas não se estabelecem em um único plano e as normas inferiores encontram fundamento de validade nas normas imediatamente superiores. A Constituição é o elemento de validade de todas as normas jurídicas. Independentemente do conteúdo de ser uma decisão política fundamental, tudo aquilo que estiver escrito no documento aceito como Constituição será formalmente Constituição, uma vez que Constituição é essencialmente norma, essencialmente dispositivo, independentemente daquilo que de fato ela veicular. A preocupação aqui é com a forma daquilo que se venha aceitar como Constituição. Hans Kelsen é quem trabalha com tal aspecto da Constituição. Constituição sob o aspecto sociológico A Constituição é o conjunto de fatores reais de poder, isto é, como conjunto de instituições, pessoas, organizações que de fato mandam na sociedade. Não são, necessariamente, aquelas que se encontram no documento constitucional como órgãos que têm mais poder. A Sociologia se preocupa que em uma análise empírica com quem de fato manda na sociedade. Ferdinand Lassale é quem trabalha com tal aspecto da Constituição. As três concepções acima se complementam. A Constituição é o conjunto de normas fundamentais, que servem de fundamento de validade das demais normas no ordenamento nas quais são veiculadas as decisões políticas fundamentais. O termo fundamental no conceito dado tem dupla natureza: (I) jurídica, por formar o conjunto das normas que são mais importantes no ordenamento jurídico, aquelas que vão servir de paradigma para controlar a validade das demais norma do ordenamento jurídico; e (II) política, por trazer as decisões políticas mais importantes adotadas pela sociedade no seu ato de auto-organização. Assim, esse conceito mescla o caráter político e o caráter jurídico da Constituição. Normas Material e Formalmente Constitucionais: É a partir do conceito político de Constituição que podemos fazer uma distinção entre as normas materialmente constitucionais e normas formalmente constitucionais. Normas materialmente constitucionais são aquelas que, constando ou não no documento considerado como Constituição, tratam das decisões políticas fundamentais. Normas formalmente constitucionais são as normas que constam no documento entendido como Constituição. Podem existir normas que são somente materialmente constitucionais (são as que tratam de decisões políticas fundamentais, mas não estão na Constituição escrita), normas somente formalmente constitucionais (são as que constam no documento formal da Constituição, mas não tratam das decisões políticas fundamentais) e normas materialmente e formalmente constitucionais (são as que estão na Constituição e tratam das decisões políticas fundamentais). Página2 Cabe destacar que nem toda norma que é material e formalmente constitucional será cláusula pétrea. Assim, pode existir uma norma que é material e formalmente constitucional que possa ser alterada ou revogada. Para efeito de status constitucional, tanto a norma materialmente constitucional, quanto a norma formalmente constitucional tem o mesmo valor. Assim, uma determinada norma constitucional que preveja

uma atribuição ao Presidente da República e a norma que prevê a localização do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, caso venham a ser alteradas, deverão observar o mesmo procedimento. O que significa Decisão Política Fundamental? São, basicamente, dois aspectos: (I) a organização do Estado (tipos de Estado, de Governo e sistemas de Governo); e (II) direitos fundamentais (relação do indivíduo com o Estado e as relações dentro da sociedade). É isso que se considera como materialmente constitucional. Concepções de Constituição: Superado o questionamento sobre o que é a Constituição, a pergunta a ser respondida aqui é para que serve a Constituição. Página3 (I) Como garantia do status quo econômico e social (Ernst Forsthoff) aquele que tem o poder consegue traduzir esse poder através da norma para que essa consiga estabilizar a relação de poder entre aquele que manda social e economicamente e aquele que deve observar os dispositivos. É importante para a estabilidade das relações dentro da sociedade que o poder seja traduzido em norma. Para Ernst Forsthoff, a Constituição serve para garantir o status quo econômico e social, isto é, para implantar juridicamente o poder daqueles que são conhecidos como fatores reais de poder dentro da sociedade; (II) Constituição como instrumento de governo (Hennis) a Constituição vai formar o conjunto de normas que vai ser manuseado pelo Governo para estabelecer o seu poder na sociedade. A Constituição serviria como um instrumento de poder para o Governo; (III) Constituição como ordem fundamental e programa de ação (Bäulin) a Constituição é uma ordem fundamental da sociedade, é ela que vai estabelecer os principais cânones de relação dentro da sociedade, e também serve como um programa de ação para o Governo, em que o Governo projeta para o futuro um determinado programa de desenvolvimento daquela sociedade; (IV) Constituição como programa de integração e representação (Krüger) de integração da sociedade, ou seja, se a Constituição serve como um conjunto de decisões que serão acreditadas pelas pessoas como valores fundamentais do convívio dentro daquela comunidade, ou seja, se as pessoas vão compartilhar a concepção de que aqueles valores são os que devem ser integrados pelas pessoas da sociedade, a Constituição vai funcionar como programa de integração e de representação; (V) Constituição como legitimação do poder soberano (Burdeau) aquele que tem o poder no Estado é legitimado pela Constituição, ou seja, a Constituição serve para legitimar quem tem o poder soberano; (VI) Constituição como ordem jurídica fundamental, material e aberta (Hesse) é a concepção contemporânea que mais tem aceitação na comunidade jurídica, sendo a mais importante atualmente. A Constituição é uma ordem jurídica, ou seja, um conjunto de normas fundamentais, principalmente de natureza material. Ademais a Constituição deve ser aberta, ou seja, há uma comunidade aberta de intérpretes da Constituição. Dizer o que a Constituição de fato é não é um monopólio do Poder Judiciário. Todas as pessoas poderiam fazer uma interpretação válida da Constituição. É legitimo que qualquer ser humano interprete a Constituição. Naturalmente, havendo diversos intérpretes e existindo conflito na interpretação, o Estado será

chamado para dirimir o mesmo e dar a última palavra naquilo que se entende como a interpretação da Constituição. Quem faz a interpretação dinâmica da Constituição é a sociedade. Classificação das Constituições: Página4 (I) Quanto à forma: escrita e não escrita Constituição escrita é aquela que é consolidada em um único documento, é aquela em que o comando pegue a Constituição faz sentido. Se o comandado pegue a Constituição não faz sentido é porque as normas constitucionais estão espalhadas em diversos documentos e o costume e as decisões judiciais são fontes primárias do Direito Constitucional. Constituição não escrita não quer significar que não existem normas constitucionais escritas, o que quer significar é que as normas escritas e não escritas não estão consolidadas em um único documento; (II) Quanto à origem: promulgada e outorgada Esse critério se baseia na legitimação democrática da Constituição. Uma Constituição promulgada é aquela que tem legitimação democrática. A Constituição outorgada é aquela imposta por uma pessoa ou determinado grupo dentro da sociedade. No Brasil, as Constituições promulgadas foram as de 1891, 1934, 1946 e 1988. Elas foram elaboradas pela Assembleia Constituinte, houve um debate. As Constituições outorgadas no Brasil foram as de 1824, 1937, 1967 e a EC 1/69. A Constituição de 1967 é a manifestação do que se chama de poder legislativo não constituinte, de acordo com Paulo Bonavides. Não foi o Presidente da República quem impôs essa Constituição. Ela foi debatida por um Congresso ilegítimo para tal fim, que deveria legislar e não instituir uma nova Constituição. Ela foi uma Constituição legislada; (III) Quanto à elaboração: dogmática e histórica Constituições dogmáticas são aquelas que resumem o pensamento da sociedade em um determinado momento no tempo. As Constituições históricas trazem concepções de diversos momentos da história daquela sociedade (ex: Reino Unido). Pode ser feita uma aproximação dessa classificação com a colocada no item I. Cabe destacar que existem exceções, mas, em geral, a constituição escrita é dogmática e a constituição não-escrita é histórica; (IV) Quanto à estabilidade: imutáveis, superrígidas, rígidas, semirrígidas (semiflexíveis) e flexíveis os autores brasileiros, geralmente, classificam em constituições rígidas, semirrígidas e flexíveis. A constituição rígida é aquela que para ser alterada depende de um processo legislativo mais elaborado. Constituição flexível é aquela que pode ser alterada pelo mesmo rito da lei. A constituição semiflexível (semirrígida) é aquela em que parte de suas normas dependem de um rito mais elaborado para ser alterada, e parte pode ser alterada pelo rito comum. Alguns autores (ex: Alexandre de Morais) adicionam a constituição imutável e a constituição superrígida. A constituição imutável é aquela que não tem previsão para ser alterada. A constituição superrígida é aquela que tem um núcleo imutável, enquanto as outras normas podem ser modificadas por um rito mais difícil. Alexandre de Morais entende que a Constituição de 1988 é superrígida, em razão das cláusulas pétreas. O Prof. Marcelo entende que esse não é o melhor entendimento, uma vez que as cláusulas pétreas podem ser modificadas, o que elas não podem é ser reduzidas ao ponto de trazer a abolição; (V) Quanto ao conteúdo: material e formal constituição material é formada pelo conjunto de normas que tratam das decisões políticas fundamentais, estando ou não no documento chamado de Constituição. Constituição formal é o documento chamado de constituição; (VI) Quanto ao objeto (ideologia): liberal, social e socialista constituição liberal é aquela que protege quase que exclusivamente direitos individuais e políticos. Constituição social é aquela que prevê uma intervenção

na ordem econômica e também traz os direitos sociais para compor os direitos fundamentais. Constituição socialista é aquela que planifica a atuação do Estado, é aquela que, praticamente, abole a propriedade privada ou traz muitos impedimentos e dificuldades para o exercício do mesmo; (VII) Quanto à dogmática: ortodoxa e eclética constituição ortodoxa (comprometida) adota determinada linha ideológica muito clara e única. São constituições comprometidas ideologicamente. Constituição eclética (compromissórias) é aquela que trabalha com várias linhas ideológicas. Pode haver uma linha predominante, mas não exclusiva; (VIII) Quanto ao modelo: garantia, dirigente e balanço constituição garantia é aquela que, no que se refere aos direitos fundamentais, praticamente, protegem os direitos individuais. Elas garantem o indivíduo conta o Estado (ex: constituição norte-americana). Constituições dirigentes são aquelas que preveem a intervenção do Estado na ordem econômica e na ordem social (ex: constituições brasileira, espanhola e portuguesa). A constituição balanço é típica de países socialistas. Ela coloca um plano econômico de gestão de médio e longo prazo, procura cumprir e depois faz um balanço do estágio alcançado; (IX) Quanto ao sistema: principiológica e preceitual constituições principiológicas possuem um traço maior de princípios constitucionais. Constituições preceituais são aquelas em que os dispositivos são mais de regras constitucionais; (X) Quanto à extensão: sintética e analítica constituição sintética é aquela mais reduzida. Constituição analítica é aquela mais extensa; (XI) Quanto à efetividade: normativa, nominal e semântica constituição normativa é aquela em que a sociedade a cumpre. É a mais efetiva das três. Constituição nominal é aquela que, em regra, é respeitada, mas possui uma crise de efetividade em relação a alguns dispositivos. A constituição semântica é mera folha de papel. Ela diz algo, mas a sociedade funciona de maneira própria. Os fatores reais de poder não estão representados adequadamente na Constituição, não houve uma tradução jurídica dos fatores reais de poder. A Constituição Brasileira de 1988 se classifica quanto à forma em escrita, quanto à origem em promulgada, quanto à elaboração em dogmática, quanto à estabilidade em rígida, quanto ao conteúdo em formal, quanto ao objeto em social, quanto à dogmática em eclética (compromissória), quanto ao modelo em dirigente, quanto ao sistema em mista, quanto à extensão em analítica e quanto à efetividade em nominal. Página5