DESENHO & PERCEPÇÃO: OS MAPAS MENTAIS NA APREENSÃO DO ESPAÇO PÚBLICO



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Transcrição:

DESENHO & PERCEPÇÃO: OS MAPAS MENTAIS NA APREENSÃO DO ESPAÇO PÚBLICO Luciana Guerra Santos Mota UFBA Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Arquitetura, Núcleo de Expresão Gráfica, Simulação, Projeto e Planejamento luciana.guerra@gmail.com Renata Inês Burlacchini Passos da Silva Pinto UFBA Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Arquitetura, Núcleo de Expresão Gráfica, Simulação, Projeto e Planejamento renata.burlacchini@gmail.com Solange de Souza Araújo UFBA Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Arquitetura, Núcleo de Tecnologia, Projeto e Planejamento arasolange@gmail.com Gisele Cristina Oliveira dos Santos UFBA Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Arquitetura, bolsista PIBIEX giselecristinaifba@gmail.com Lucas Guimarães Braga UFBA Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Arquitetura, bolsista PIBIEX lucasbraga92@live.com Resumo No presente artigo abordamos o uso de mapas mentais como instrumento de análise, facilitador da compreensão e percepção do espaço público, com o objetivo de estabelecer diretrizes para futuras intervenções com vistas a melhoria das áreas de convivência. Os mapas mentais são ferramentas eficazes na captação das mais diversas percepções sobre o ambiente. Eles consistem em desenhos baseados na memória, que refletem valores sensoriais adquiridos através do uso contínuo daquele espaço. Em nossa pesquisa, as imagens são resultantes de desenhos e colagens produzidas por estudantes de escolas localizadas no entorno das praças. Para as primeiras aplicações delimitou-se um trecho do Centro Antigo de Salvador, que abrange os bairros da Lapinha, Soledade e uma parte da Liberdade, onde localiza-se três áreas relevantes de convivência: o Largo da Soledade, o Largo da Lapinha e a Praça Raimundo Freixeiras. Após a confecção, análise e contabilização dos mapas, são produzidos gráficos e imagens, no qual podemos observar as semelhanças e variações nas percepções do espaço público. Palavras-chave: mapas mentais, espaço público, percepção.

Abstract / resumen / résumé In this article we discuss the use of mental maps as an analytical tool, facilitating the understanding and perception of public space, in order to establish guidelines for future interventions aimed at improving the living areas. The mental maps are effective tools in capturing from different perceptions of the environment. They consist of drawings based on memory, which reflect sensory values acquired through continuing use of the space. In our research, the images are the result of drawings and collages produced by students of schools located around the squares. For the first applications we delimited part of the Old Town of Salvador, including the districts of Lapinha, Soledad and part of Liberdade, where are located three important living areas: Soledade Square, Lapinha Square and Raimundo Freixeiras Square. After the preparation, analysis and accounting of the maps, charts and graphs are produced, in which we can see the similarities and variations in perceptions of public space. Keywords: mental maps, public space, percepcion. 1 Introdução Esta pesquisa faz parte do projeto de extensão Mapas Sensoriais e está atrelada ao projeto de pesquisa Releitura das praças e espaços de convívio no Centro Antigo de Salvador, vinculados à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. A pesquisa aborda a evolução histórica da Cidade do Salvador e o estudo da praça como elemento estruturante do espaço urbano, no período entre o final do século XIX até o início do século XXI. O objetivo principal é estabelecer diretrizes para futuras intervenções nos espaços públicos de convívio mais relevantes, localizados no Centro Antigo de Salvador, cuja delimitação tem como base o Plano de Reabilitação Participativo do Centro Antigo de Salvador (BAHIA, 2010). Considerando a reduzida área destinada ao convívio da população nessa densa região, encaminhase por melhor compreender esses espaços a partir da percepção do seu usuário, pois acredita-se que a participação social seja o real instrumento de embasamento para a intervenção no espaço público. Os mapas mentais apresentam-se como uma importante ferramenta nesse tipo de análise. São desenhos feitos baseados na memória, refletindo a percepção pessoal do ponto de vista de sua área de interação (GREGORY et al.; 2009, p. 455). Eles expressam valores visuais da cidade, conforme concebe quem desenha o mapa (KOHLSDORF, 1996, p.117-118). Os desenhos dos mapas não seguem nenhuma regra de representação gráfica, podendo ser feita por qualquer pessoa, independente da habilidade de 237

desenhar. Kohlsdorf (1996, p.117-118) constata que num mapa mental podem aparecer os seguintes elementos: projeções ortogonais no plano horizontal, perspectivas, elevações, diagramas, símbolos e anotações verbais. Sendo assim, eles têm a capacidade de refletir não só a estrutura do local, como também expressar sentimentos que os usuários sintam em relação ao espaço. A análise do conjunto dos mapas mentais pode fornecer a imagem pública de um determinado lugar, a partir de procedimentos estatísticos, verificando a incidência de diversos elementos, como: equipamentos urbanos, meios de transporte, vegetação, tipologia arquitetônica, estabelecimento comerciais, diversidade e relação entre pessoas, forma de utilização, entre outros. Uma das mais importantes contribuições dadas nesta área foram os estudos de Kevin Lynch, publicado em sua obra The Image of the City, em 1960. Ele se baseou na imagem mental para examinar a qualidade visual da cidade. Lynch afirma que vários indicadores podem ser usados para identificar um ambiente: [...] as sensações visuais de cor, forma, movimento ou polarização da luz, além de outros sentidos como o olfato, a audição, o tato, a cinestesia, o sentido da gravidade e, talvez, dos campos elétricos ou magnéticos (LYNCH, 1997, p.3-4). Em seus estudos sobre a construção da imagem, Lynch (1997, p.7-8) determina que as imagens ambientais são resultado de um processo bilateral entre o observador e seu ambiente, e que no processo de construção da imagem, o observador seleciona, organiza e confere significado àquilo que vê. E conclui que a imagem de uma determinada realidade pode variar significativamente entre observadores diferentes. Entretanto, o que realmente interessa aos planejadores urbanos são as imagens de grupo, consensuais a um número significativo de observadores, e para isso, Lynch lançou mão do uso de mapas mentais para determinar essa imagem. Em nossa pesquisa, os mapas mentais são utilizados na análise de espaços públicos de convívio no Centro Antigo de Salvador. Denominamos essa atividade de Imaginário Popular, pois a partir dela buscamos compreender o que se passa na mente das pessoas quando elas imaginam o local de estudo. A seguir, será apresentada a metodologia utilizada e de que forma é feita a análise dos dados obtidos. 238

2 Imaginário Popular: a aplicação dos mapas mentais Para as primeiras aplicações dos mapas mentais delimitou-se a área que abrange os bairros da Lapinha, Soledade e uma parte da Liberdade, onde estão localizados três espaços públicos de convívio de relevância: o Largo da Soledade, o Largo da Lapinha e a Praça Raimundo Freixeiras. Os dois primeiros possuem importância não só pelo fato de ser uma área de convívio, como também por fatos históricos ligados à independência do Estado da Bahia. O último apresenta uma característica diferenciada pelo fato de ser um dos poucos que apresenta quadra de esportes e uma grande arborização, favorecendo a concentração dos moradores das proximidades. Em etapa anterior à aplicação dos mapas mentais, a equipe de pesquisa realizou um estudo sobre a evolução histórico-cultural da área a partir de pesquisa bibliográfica, do levantamento fotográfico e de visitas a campo. Um diagnóstico sobre esses locais de estudo, destacando não só os aspectos socioculturais, como também as transformações físicas estruturais, desde questões de mobilidade urbana como a intervenção da Via Expressa para a Baía de Todos os Santos, às alterações volumétricas e de fachadas, pode ser visto em Mota et al. (2013). O público alvo é formado por estudantes com faixa etária de 13 a 17 anos - cursando entre o 8 e 9 ano do ensino fundamental ou o ensino médio -, das escolas próximas à praça, visto que normalmente residem nas proximidades, o que fortalece ainda mais o seu vínculo com o local. A aplicação das atividades numa sala de aula, neste primeiro momento, se apresentou mais apropriada do que nas ruas, pela facilidade do uso de diferentes materiais na construção dos mapas, além da possibilidade em envolver um grande número de estudantes e, consequentemente, ampliação do público alvo. Até o momento essa atividade foi realizada com alguns alunos de duas escolas particulares de maior porte da região. O próximo passo será a sua aplicação nas escolas públicas. Acredita-se que a análise do material produzido nas entrevistas possibilitará encontrar características comuns, permitindo traçar um perfil a respeito da percepção do público juvenil em relação aos espaços estudados. 2.1 Metodologia Denominamos a atividade que se baseia nos mapas mentais como Imaginário Popular, a qual consiste em elaborar uma imagem a partir de desenhos e colagens na 239

tentativa de reprodução de um determinado espaço público, que pertença à realidade do grupo ao qual está participando. Antes de iniciar a atividade, são colocadas algumas questões: De que forma vocês sentem e imaginam o espaço público analisado (praça, largo, rua, etc.)? ; Vocês gostam? Por quê? ; Como é? ; O que você faz lá? ; O que você sente quando vai ou passa neste espaço?. O objetivo dos questionamentos é despertar sensações guardadas na memória enquanto as pessoas elaboram um percurso imaginário pelo espaço objeto do trabalho. Em seguida, os adolescentes produzem uma imagem, a partir de desenhos e colagens, utilizando diversos tipos de materiais (Figuras 01 e 02). Vale ressaltar a necessidade de coordenação prévia para que o material (cola, tesoura, revistas variadas/jornais, giz de cera, etc.) seja solicitado com antecedência ou que sejam disponibilizados pela equipe que aplica a atividade. Figura 1: Os alunos do Colégio Nossa Senhora da Soledade executando os mapas mentais. Fonte: Acervo da equipe de pesquisa (2013). 240

Figura 2: Detalhe dos alunos executando os mapas mentais, no Colégio Nossa Senhora da Soledade. Notar o uso de diversos materiais. Fonte: Acervo da equipe de pesquisa (2013). a. Análise dos Resultados Os mapas mentais produzidos pelos estudantes através de colagens e desenhos passam por um processo de quantificação e análise. Nessa fase, o objetivo é extrair o máximo de informações inseridas no material coletado, a fim de obter a caracterização dos espaços públicos, na visão dos observadores, neste caso, os estudantes. Primeiramente é contabilizada a quantidade de vezes que cada informação se repete. Por exemplo, se em sete mapas aparecem desenhos ou outro tipo de simbologia que indique o uso de drogas em determinada praça, essa informação é quantificada, gerando um gráfico de barras correspondente. No exemplo do Gráfico 1, nota-se que o perfil da Praça da Soledade na visão dos estudantes consultados é traçado pela presença do monumento em homenagem a Maria Quitéria, das árvores presentes no local, das pessoas que ocupam o espaço público e do conjunto arquitetônico do entorno, como as residências e os colégios. 241

Gráfico 1: Quantificação dos mapas mentais Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos mapas mentais dos estudantes do Colégio Nossa Senhora da Soledade. Ainda nos desenhos coletados, é interessante destacar que, não só a visão, mas outros indicadores usados na identificação, como olfato e a audição, são representados. Os desenhos demonstram: odor do lixo, fumaça de cigarro, fumaça do escapamento do ônibus, luz da lanterna do ônibus, luz do poste, luz do semáforo, música (notas musicais), barulhos de buzina de carro, barulho do disparo de armas. Outro fato a ser notado são os elementos usados para caracterizar os diferentes tipos de pessoas: bengalas, bolsas, carrinhos de bebê e corações são usados para representar idoso, mulheres, bêbes e casal de namorados, respectivamente. Após a quantificação e elaboração dos gráficos, faz-se a análise separando esse material por turma, o que possibilitará comparações futuras entre uma mesma série de diferentes escolas, de redes públicas e privadas. Desta forma, pretende-se visualizar as variações por faixa etária e entender melhor as visões e usos variados de cada grupo em relação a cada espaço: o Largo da Soledade, o Largo da Lapinha e a Praça Raimundo Freixeiras. Porém, o resultado final, que é uma montagem gráfica das imagens de cada praça, a partir dos desenhos dos entrevistados, inicialmente está sendo apresentado por escola. As montagens são produzidas com os itens mais frequentes nos mapas mentais, representando a ideia geral do que cada escola observa e vivencia no espaço 242

público (Figura 3). Nelas estão contidas as mesmas informações dos gráficos de barras, porém apresentada numa linguagem diferente. O gráfico de barras representa uma ilustração de um resultado numérico utilizando barras, enquanto as montagens utilizam desenhos dos próprios estudantes para demonstrar o mesmo resultado. Figura 3: Montagem feita a partir da quantificação dos mapas mentais, demonstrando a percepção dos alunos do Colégio Nossa Senhora da Soledade em relação ao Largo da Soledade. Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos mapas mentais dos estudantes do Colégio Nossa Senhora da Soledade. 3 Conclusão A partir da análise dos mapas mentais procura-se compreender os símbolos de referência de cada local, os principais usos percebidos, as coisas boas e ruins que acontecem no dia-a-dia da área de estudo. Entretanto, considerando o caráter predominantemente descritivo dos mapas mentais e buscando uma análise mais completa não só da percepção do usuário, como também das suas expectativas em 243

relação a futuras intervenções, o Projeto de Extensão propõem outras duas atividades: uma que tem como resultado uma Nuvem de Palavras e outra baseada numa tabela que reflete as sensações dos usuários em relação ao espaço público, em diferentes aspectos, além de um questionário. Acredita-se que, com esses dados e a devida análise do produto, se terá condições de elaborar um projeto de intervenção nas praças com um maior entendimento dos usos que devem ser valorizados em detrimento dos usos que deverão ser coibidos, os elementos que devem ser preservador e aqueles que podem ser subtraídos, ou seja, criar um projeto com uma certeza maior de que este terá uma boa probabilidade de aceitação do público, contribuindo para a valorização do espaço. Os próximos passos da equipe de pesquisa será ampliar o universo de entrevistados aplicando as atividades em mais três outras escolas da região. Num segundo momento, as atividades e o questionário também serão aplicados com os transeuntes das praças analisadas, no intuito de diversificar a amostra, quanto à faixa etária, classe e ocupação. Com isso, pretende-se obter resultados que reflitam o verdadeiro olhar da população sobre o local analisado. 4 Referências BAHIA. Secretaria de Cultura. Escritório de Referência do Centro Antigo. Centro Antigo de Salvador: Plano de Reabilitação Participativo. Salvador: Secretaria de Cultura, Fundação Pedro Calmon, 2010. 344p. GREGORY, D.; JOHNSTON, R.; PRATT, G.; WATTS, M.; WHATMORE, S. The Dictionary of Human Geography: Mental maps/cognitive Maps. Oxford: Blackwell, 2009. KOHLSDORF, M. E. A apreensão da forma da cidade. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996. 253p. LYNCH, K. A imagem da cidade. Tradução: Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins fontes, 1997. MOTA, L. G. S.; PINTO, R. I. B. P. S.; ARAUJO, S. S. A transformação do espaço público: o Largo da Soledade, o Largo da Lapinha e a Praça Raimundo Freixeira (Salvador/BA). In: ARQUIMEMÓRIA ENCONTRO INTERNACIONAL SOBRE 244

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EDIFICADO, 4., 2013, Salvador. Anais... Salvador: IAB-Ba, 2013. 1CD-ROM. 245