MONITORAMENTO DE ARBOVIROSES ANO 2019 N 02 28 de janeiro de 2019. Disponível em https://www.epigeo.com.br INTRODUÇÃO A dengue, a febre de chikungunya e a febre pelo zika são doenças classificadas como arboviroses de notificação compulsória e estão presentes na Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública. A negligência sobre estas doenças propiciando epidemias caracteriza-se como crime contra a saúde pública. Este é o segundo Boletim Epidemiológico publicado no município de Pato Branco referente a estas doenças veiculadas pelo mosquito Aedes aegypti. Publicamos todas as ocorrências registradas na história do município até o mês de dezembro de 2018, assim como, a situação ambiental e entomológica. Novos Boletins poderão ser publicados na frequência necessária que o Plano de Contingência exigir ou para compartilhar novos conhecimentos de interesse à saúde pública que cada profissional, cidadão ou cidadã tem ajudado a construir. No ano de 2018 com a implantação do sistema de informações EpiGeo foi possível conseguirmos trabalhar para a melhoria das interpretações dos diagnósticos coletivos, seja no contexto ambiental, seja no contexto entomológico ou da condição de saúde da população e contribuir para medidas de intervenção mais adequadas e otimizadas. CONTEXTUALIZAÇÃO Podemos observar a importância para o atendimento em saúde, o ato profissional de relacionar o sintoma da doença com o histórico de viagem do paciente, ao visualizarmos o Gráfico 1, que ilustra as fontes prováveis de contato das pessoas com vetores infectados pelo o vírus da dengue, assim como, a possibilidade para outras arboviroses. A nossa população contraiu Dengue em 28 locais diferentes e com distâncias diversas de Pato Branco. As divisas territoriais e as distâncias não são barreiras para o vírus da Dengue, onde vários focos de transmissão simultâneos levaram a maior epidemia no município no ano de 2016. Deixar de valorizar a anamnese na consulta é propiciar a introdução da doença em uma nova área. GRÁFICO 1
Os primeiros casos de Dengue em pessoas residentes de Pato Branco começaram a se manifestar no ano de 2010 quando confirmamos 3 ocorrências. A primeira ocorreu no mês de fevereiro quando uma pessoa (33anos) do sexo feminino viajou ao município de Francisco Beltrão. A segunda ocorreu no mês de abril em uma pessoa (21anos) do sexo feminino que também havia viajado para Francisco Beltrão. A terceira ocorreu em julho em uma pessoa (44anos) do sexo feminino e que havia viajado para Foz do Iguaçu. Destaca-se as proporções de casos importados com procedência de Paranaguá, Paraguai, Foz do Iguaçu, Maringá, Cuiabá, Sorriso, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos, sendo um trânsito comum de trabalhadores residentes de Pato Branco para estas regiões. Quanto ao Zika e a febre de chikungunya relata-se a ocorrência de 1 caso de Zika no ano de 2016, registrado no mês de março quando uma pessoa do sexo feminino residente no bairro Fraron com 56 anos manifestou-se com sintomatologia e exames clínicos e laboratoriais compatíveis com a doença. Sem histórico de viagem marcou como caso autóctone. O Gráfico 2 apresenta a evolução da incidência dos casos importados (fonte provável de infecção outro município) iniciando-se em 2010 e seguindo em paralelo com a incidência de casos autóctones (fonte provável de infecção Pato Branco) até os últimos casos em 2016. GRÁFICO 2 Na história do município foi registrado 130 ocorrências de Dengue. A Tabela 1 apresenta os casos segundo o ano e a fonte provável de infecção, que totalizou 84 autóctones e 46 importados. TABELA 1
No Gráfico 3 observamos que a dengue teve uma distribuição de infecção na população masculina nas mesmas proporções que na feminina. GRÁFICO 3 Observa-se que a maior taxa de ataque segundo a faixa etária ocorreu na população adulta de 20 a 59 anos e na sequência a terceira idade conforme visualizamos no Gráfico 4. GRÁFICO 4
A população que se apresentou mais vulnerável reside na região sul do município conforme expressa o Gráfico 5 com a maior taxa de ataque e na sequência a região do Centro. GRAFICO 5 Na Tabela 2 podemos visualizar as ruas que se apresentaram com maior risco de transmissão, como por exemplo a Rua Jaciretã entre o número 240 e 535. TABELA 2 Este conhecimento do risco por trechos de ruas, bairros ou localidades traz a possibilidade da precisão e agilidade nas ações de bloqueio do ciclo de vida do Aedes ou da transmissão de arboviroses. A Figura 1 traz nosso flyer de alerta para mobilização da população em ação juntamente com a Secretaria do Meio Ambiente para limpeza do imóvel.
Sem 1 Sem 2 Sem 3 Sem 4 Sem 5 Sem 6 Sem 7 Sem 8 Sem 9 Sem 10 Sem 11 Sem 12 Sem 13 Sem 14 Sem 15 Sem 16 Sem 17 Sem 18 Sem 19 Sem 20 Sem 21 Sem 22 Sem 23 Sem 24 Sem 25 Sem 26 Sem 27 Sem 28 Sem 29 Sem 30 Sem 31 Sem 32 Sem 33 Sem 34 Sem 35 Sem 36 Sem 37 Sem 38 Sem 39 Sem 40 Sem 41 Sem 42 Sem 43 Sem 44 Sem 45 Sem 46 Sem 47 Sem 48 Sem 49 Sem 50 Sem 51 Sem 52 Sem 53 I n c i d ê n c i a d e C a s o s FIGURA 1 O Gráfico 6 expressa o diagrama de controle no qual observamos a sazonalidade da incidência de dengue com elevação importante a partir de fevereiro e declínio a partir de abril ou da semana epidemiológica 5 até a 12. GRAFICO 6 7,00 6,00 5,00 DIAGRAMA DE CONTROLE PARA DENGUE - /PARANÁ. FONTE: Ficha de Notificação do SINAN - Casos confirmados autóctones Média Móvel Limite máximo ANO_2018 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 S e m a n a e p i d e m i o l ó g i c a
Na Figura 2 observamos o mapa urbano do município em que estão localizados os 4 casos que houveram no ano de 2015 entre os meses de novembro e dezembro, último ciclo do controle de endemias. A auréola em vermelho no entorno do ponto indica o raio (300 mts) potencial de transmissão destes casos e consequentemente o alerta para o risco de surto. FIGURA 2 Na Figura 3 abaixo refere-se aos meses de janeiro e fevereiro de 2016 dos 12 casos de dengue confirmados e observamos claramente a transmissão com o cruzamento de auréolas em vermelho e o princípio de uma epidemia. FIGURA 3
A Figura 4 refere-se aos meses de março e abril de 2016 demonstrando a complexidade de fazer uma intervenção bloqueio da transmissão no curso de uma epidemia. Neste mapa destacamos a atenção para a incidência ao longo da avenida tupi, principal via norte a sul do município. Observa-se que os casos se localizaram há aproximadamente 1.000 metros à direita e 1.000 metros à esquerda da avenida. FIGURA 4 A Tabela 3 demonstra o resultado das pesquisas entomológicas do ano de 2018. Observa-se que os índices de infestações em todas as pesquisas apresentaram-se abaixo de 1 %, que segundo parâmetros do Ministério da Saúde representam condições satisfatórias. Foram 38 larvas positivas encontradas no ano de 2018. TABELA 3
Destacamos a importância do aprofundamento na interpretação dos índices de infestação, pois ao acumularmos os resultados podemos antecipar possíveis riscos para repetição das informações históricas. Na Figura 5 cruzamos as informações dos casos de dengue que houveram no ano de 2016 nos meses de fevereiro e março quando houve o maior pico de incidência juntamente com o total de larvas positivas do ano de 2018. Observamos que há uma condição ambiental favorável para o Aedes aegypti no entorno da avenida tupi indicando a possibilidade de surtos com epidemias. Este nicho ambiental tornase o desafio para a construção de novos conhecimentos sobre os fatores desencadeantes de sobrevivência do Aedes aegypti. É inquestionável a vulnerabilidade da população do nosso município para surtos e epidemias por arboviroses. No último ciclo de 2018 formam identificados 1.673 criadouros nos 43.353 imóveis do município. A cada 2 meses o cadastro de criadouros é atualizado. Após o conhecimento ambiental representado pela Figura 6 em que os pontos verdes representam os potenciais criadouros de Aedes aegypti observamos a nossa fragilidade diante a esta realidade que propicia a sustentação ambiental favorável a esta população de mosquitos. Salientamos que esta imagem representou a impressão no momento em que nossa cobertura de agentes de endemias contava com 75% da necessidade do quadro de pessoal e sem dúvida há muito a ser investigado e apreendido. FIGURA 5 FIGURA 6
Esta condição ambiental traz o alerta para as pessoas VOCÊ SAIU OU VAI SAIR DE conforme Figura 7. Neste sentido precisamos estar atentos para as áreas de transmissão e a facilidade de transporte, inclusive com o transporte aéreo para novas rotas de transmissão. FIGURA 7 O Gráfico 7 apresenta a descrição dos criadouros com risco potencial. Os levantamentos destas informações são decorrentes das visitas domiciliares dos agentes nas atividades de tratamento e educação em saúde, quando a eliminação não é possível. GRÁFICO 7
Quando a eliminação não é possível o proprietário é orientado para a responsabilidade de manutenção sob o conhecimento das medidas necessárias de cuidados. O Flyer da Figura 8 é a nosso instrumento de educação em saúde utilizado nas visitas nos imóveis. FIGURA 8 CONCLUSÃO A informação pode transformar uma realidade epidemiológica quando traz conhecimento em tempo hábil para uma intervenção. Os ambientes dos nossos imóveis sofrem diariamente modificações por conta do nosso modo de vida gerando um desafio na construção do conhecimento e na educação em saúde. A cada dia o vetor adapta-se em novos meios que propiciam o acúmulo de água. A população não é escolhida pelo vetor, mas se coloca disposição dele. A concentração de pessoas e a proximidade com potenciais criadouros aumenta o risco da ocupação de mosquitos e consequentemente da transmissão. Trata-se da oferta mais próxima de sangue, um ambiente favorável para proliferação do Aedes e a introdução de um arbovírus não diagnosticado, ou não notificado para bloqueio, ou bloqueio sem identificação de foco para o desdobramento de um surto e uma epidemia. As consequências do impacto de uma epidemia sempre serão apresentadas com clareza e objetividade. No entanto, a atitude do ser humano que propiciou o mal comum é um desafio para ser descrito no estudo da causalidade.