RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE PORTUGAL 5º CICLO CRIMINALIDADE FINANCEIRA E INVESTIGAÇÕES FINANCEIRAS



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Transcrição:

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE PORTUGAL 5º CICLO CRIMINALIDADE FINANCEIRA E INVESTIGAÇÕES FINANCEIRAS Muito obrigado Senhor Presidente. E muito bom dia a todos os colegas! Considerando que esta é a minha primeira intervenção quero desejarlhe, Senhor Presidente, o maior sucesso na presidência deste grupo de trabalho e também para a Presidência da Polónia. Senhor Presidente, Antes de mais, gostaria de apresentar a delegação de Portugal, aqui presente, composta pelo, - Dr Jorge Rosário Teixeira, Procurador da República, em exercício de funções no DCIAP; - Dr Jaime Fernandes, Director da Unidade de Cooperação Internacional, Polícia Judiciária; - Dra Fátima Russo, Jurista da DGPJ/GRI; e - Eu mesmo, António Folgado, da Unidade de Justiça Penal-GRI/DGPJ. Relativamente ao projecto de relatório de Portugal no âmbito deste 5º Ciclo de Avaliações Mútuas, quero deixar expressos os agradecimentos das autoridades portuguesas a todos os elementos da equipa de avaliação, liderada pelo Sr Peter Nath.

O empenho e o profissionalismo de todos, bem como a grande energia colocada ao serviço da avaliação energia renovada por um feriado público em Lisboa a meio da semana, e sentimos isso na manhã do dia imediato contribuiu de forma positiva para a elaboração deste projecto de relatório. Além da leitura da muita legislação, não é fácil, em 4 dias, entender a estrutura e o funcionamento de um sistema nacional e digerir toda a informação recolhida nas várias reuniões de trabalho mantidas com os diferentes actores nacionais. E a experiência profissional, também como avaliador, revela que não é fácil elaborar, depois, um relatório completo e detalhado, que descreva exaustivamente o stato quo do país avaliado. Nessa medida, o excelente ambiente de trabalho, o clima de confiança recíproca, a total abertura e transparência de todas as entidades nacionais e pessoas envolvidas e foram muitas, como atesta a lista em anexo contribuiu também, estamos certos, para estarmos aqui hoje perante um projecto de relatório de avaliação que pode ser aceite sem particulares dificuldades por Portugal. Efectivamente, foi com esse espírito, e convictos de que as avaliações mútuas permitem identificar as insuficiências e lacunas na aplicação de instrumentos jurídicos comunitários, corrigir deficiências e, por essa via, aumentar a eficácia e eficiência, bem como a cooperação entre os Estados membros, que Portugal embarcou em mais esta avaliação. De novo, o nosso obrigado à equipa de avaliadores.

O projecto de relatório fala por si mesmo mas permita-me, Senhor Presidente, referir-me de forma breve a alguns desenvolvimentos ocorridos desde a visita da equipa de avaliação em Dezembro 2010. (a) Uma primeira para a criação de uma base de dados centralizada no Banco de Portugal, que todas as instituições financeiras devem alimentar com a informação sobre todos os tipos de contas existentes nessas instituições (identificação das contas e respectivos titulares, bem como pessoas autorizadas a movimentar essas contas). A previsão da aplicação de sanções de natureza monetária (multas) para quem não cumprir com esta obrigação, que podem ir dos 7.500 Euros aos 750.000 Euros, conforme resulta do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, também conhecido como «Lei bancária», e a que se refere o Regulamento de Base de Dados de Contas do Sistema Bancário, aprovado pela Instrução do Banco de Portugal nº 7/2011. De acordo com a informação prestada pelo Banco de Portugal, desde a entrada em vigor desta base de dados centralizada, já foram recebidos mais de 90 pedidos remetidos pelas autoridades judiciárias e, no dia 6 de Julho, já se encontravam registadas 52 milhões, 703 mil 561 contas (52.703.651). A entrada em vigor desta base de dados é recente (3/Março) e, não existindo sistemas perfeitos, mas que podem ser aperfeiçoados tendo em vista melhorar a respectiva eficácia, a aplicação desta Lei 36/2010 encontra-se sob monitorização para verificar se, num futuro próximo, se torna necessário introduzir alguns ajustamentos.

(b) De referir também a aprovação da Lei nº 45/2011, em 24 de Junho passado, através da qual é criado o Gabinete de Recuperação de Activos, na dependência da Polícia Judiciária, com competências de investigação semelhantes ás dos órgãos de polícia criminal. O GRA tem, assim, como missão proceder às investigações financeiras e patrimoniais, nomeadamente realizar a identificação, localização e apreensão de bens ou de produtos relacionados com crimes, a nível interno ou internacional, assegurar a cooperação com os GRA de outros Estados, bem como recolher, analisar e tratar os dados estatísticos sobre apreensão, perda e destino dos bens ou produtos relacionados com crimes. É ainda competente, por determinação do Ministério Público, quando se trate de instrumentos, bens ou produtos relacionados com crimes puníveis com pena de prisão igual ou superior a 3 anos e quando o valor estimado dos mesmos seja superior a 102.000 Euros. Mediante prévia autorização do Procurador-Geral da República ou, por delegação dos PG Distritais, o GRA pode proceder a investigações financeiras ou patrimoniais além dos casos referidos anteriormente considerando o estimado valor económico, científico, artístico ou histórico dos bens a recuperar e a complexidade da investigação. O GRA tem acesso à informação detida por organismos nacionais e internacionais, nos mesmos moldes dos órgãos de polícia encarregues da investigação criminal. Esse acesso pode ser directo ou obtido através de autorização da autoridade judiciária competente.

Coopera com os GRAs de outros Estados e procede à troca de informações, de dados e de boas práticas. Esta Lei nº 45/2011 cria também o Gabinete de Administração de Bens, cuja competência é a de proteger, conservar e gerir os bens apreendidos ou recuperados à guarda do Estado, assim como determinar a venda, a afectação ao serviço público ou a destruição desses bens (IGFPJ). A administração dos bens apreendidos ou recuperados, no âmbito de processos nacionais ou de actos de cooperação judiciária internacional tem como possibilidade o aumento do seu valor patrimonial através de uma gestão racional e eficiente. Encontra-se também prevista a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou desvalorizáveis ou a sua afectação a finalidade pública ou socialmente útil. Senhor Presidente, A criação do Gabinete de Recuperação de Activos, do Gabinete de Administração de Bens e da Base de Dados Centralizada de contas bancárias, juntamente com a aprovação, revisão e actualização da legislação interna em vários domínios, nomeadamente no quadro da prevenção e luta contra a criminalidade económica e financeira, e com o investimento efectuado no aumento dos recursos humanos das autoridades de investigação criminal e dos meios ao seu dispor representam o esforço e o compromisso do Estado Português nesta prevenção e combate à criminalidade, em todas as suas diferentes manifestações, compromisso esse reafirmado pelo novo Governo da República no seu Programa.

Nessa medida e em conclusão, Senhor Presidente, Portugal reafirma o seu empenho em lutar contra a criminalidade económica e financeira, e está em condições de aceitar as recomendações vertidas no projecto de relatório de avaliação partindo, agora, para uma nova etapa, que é a da implementação dessas recomendações. Muito obrigado Senhor Presidente.