VOZES DE ESTUDANTES EM FORMAÇÃO INCIAL DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS



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VOZES DE ESTUDANTES EM FORMAÇÃO INCIAL DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS Resumo Fernanda Deah Chichorro Baldin1 - UTFPR-CT Grupo de Trabalho Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Ofertam-se cursos de português para estrangeiros na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) há mais de dez anos. No entanto, a constituição da área como pesquisa em nossa universidade acontece com a criação do Grupo de Estudos em Português para Falantes de Outras Línguas, em 2009, que em 2013 tornou-se Grupo de Pesquisa. O presente relato concentra-se na última atividade do Grupo de Trabalho em Português para Falantes de Outras Línguas existente desde 2012 em nossa instituição, sendo um desdobramento do Grupo de Pesquisa - do primeiro semestre de 2015 para ilustrar a tônica das ações desenvolvidas pelo Grupo no referido semestre com o objetivo de realizar formação inicial docente de português para estrangeiros a estudantes de Letras da UTFPR. O termo Português para Falantes de Outras Línguas abrange relações de pesquisa teórica e aplicada a estrangeiros, indígenas, comunidades quilombolas e surdos, sendo, portanto, mais amplo que a denominação Português para estrangeiros. No entanto, o foco de nossas atividades centra-se no momento em estrangeiros. Começamos o relato mostrando e justificando parte do referencial teórico adotado, deixando clara à filiação ao pós-estruturalismo no ensino de línguas, a adesão ao trabalho de língua em uso e à conceptualização bakhtiniana de gêneros discursivos. Descrevemos o contexto do trabalho, exibimos informações sobre perfil dos alunos membros do Grupo de Trabalho em Português para falantes de Outras Línguas em 2015/1. Relatamos a atividade final do semestre, pontuando os objetivos de tal atividade e a preparação para ela. Em seguida, comentamos algumas falas dos alunos em suas apresentações, o que elas revelam e como podem ser tomadas para as ações futuras do Grupo. Palavras-chave: Formação de Professores. Português para Estrangeiros. Língua como discurso. 1 Mestre em Letras Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná. Professora Assistente da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Membro do Grupo de Pesquisa em Português para Falantes de Outras Línguas PFOL - UTFPR. Coordenadora do Grupo de Trabalho em Português para Falantes de Outras Línguas PFOL UTFPR. E-mail: fernanda.baldin@ utfpr.edu.br. ISSN 2176-1396

6622 Introdução O trabalho em formação inicial de professores de português para estrangeiros na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) do campus Curitiba (CT) começou a ser sistemático e contínuo a partir do início de 2013, a partir da criação do Grupo de Trabalho em PFOL (Português para Falantes de Outras Línguas), que é parte do Grupo de Pesquisa em PFOL (Português para Falantes de Outras Línguas), existente em nossa universidade desde 2009 (à época Grupo de Estudos, tendo adquirido estatuto de grupo de Pesquisa em 2013). A sistematização do trabalho foi possível graças a um aumento do interesse de estudantes do Curso de Letras (Português/Inglês) da UTFPR tanto em quantidade de estudantes de Letras como em disponibilidade para ações mais aprofundadas relacionadas diretamente à formação docente em sala de aula. Há mais de dez anos, a UTFPR- CT oferta aulas de português a estrangeiros da comunidade interna (estudantes da graduação e pós-graduação oriundas de instituições estrangeiras conveniadas com a UTFPR e professores estrangeiros visitantes) e da comunidade externa, cujo número aumentou consideravelmente devido à migração de estrangeiros para Curitiba e região metropolitana nos últimos anos, especialmente advindos do Haiti e da Síria, que se constitui um novo grupo de pessoas para quem a aprendizagem de português brasileiro é fundamental para sua inserção na comunidade, especialmente no mercado de trabalho. Muitas foram as ações que realizamos desde 2013: cursos e grupos de estudos sobre o que é ser professor de português como língua estrangeira (doravante PLE), sobre materiais didáticos de ensino/aprendizagem de PLE, sobre o que é a sala de aula; acerca de como podem ser aulas de PLE para diferentes públicos (falantes de diferentes línguas ou com diferentes propósitos, por exemplo), sobre características do português brasileiros e reflexão sobre elas para o ensino (como fazer), entre outras. O que focalizamos nesse relato é o evento final do primeiro semestre de 2015, acontecido em 11 de julho, que tinha por objetivo ouvir as vozes dos alunos acerca do que haviam construído durante o tempo em que fazem parte do Grupo de Trabalho em PFOL. O relato da atividade se organizará da seguinte maneira: primeiramente mostraremos nossa filiação teórica quanto ao trabalho desenvolvido. Depois disso, discorreremos sobre os participantes do Grupo de Trabalho em PFOL. Em seguida, exporemos os encaminhamentos prévios fornecidos para a atividade e realizaremos algumas análises das apresentações,

6623 inseridas em uma proposta de formação inicial que conecta essas ações visando à construção do ser professor com reflexão, em grupo e, ao mesmo tempo, respeitando crenças e desejos pessoais. Para finalizar, relacionarmos essa atividade pontual com outras já desenvolvidas, mostrando que o percurso do trabalho visa ao atendimento do tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão. Pressupostos teóricos Uma das questões mais caras a nosso Grupo de Trabalho é o desenvolvimento de professores conscientes de sua prática, reflexivos sobre suas ações e que considerem o aluno, no nosso caso estrangeiro - suas necessidades e desejos na hora de preparar o programa de curso. Se mostramos isso a nossos estudantes em Letras, não podemos agir de outra maneira em nossas formações no Grupo de Trabalho. Portanto, em nosso trabalho vemos dois públicos: um que é o de estudantes em Letras em formação docente e outro o de estrangeiros cujo objetivo é usar o português do Brasil, seja em suas interações cotidianas, seja para revalidação de seus diplomas, ou para estudar ou trabalhar no Brasil (muitas vezes o acesso ao trabalho é dependente da obtenção e proficiência em português do Brasil, validada pelas ações com a língua ou pela obtenção do Celpe-Bras Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros). Aderimos, portanto, à visão de sala de aula e mais precisamente à dinâmica da aula de língua como uma das apresentadas por Prahbu, no texto A dinâmica da aula de língua. Nesse artigo, o autor se refere a diferentes possibilidades (não excludentes) de olhar a aula de língua. São elas as seguintes: a aula como um estágio da implementação de um curso; a aula como implementação de um método; a aula como um evento social; e a aula como arena de interação humana. Quando Prahbu se refere à aula como estágio da implementação de um curso, considera que a aula é parte de um curso que contem um programa cujas atividades são encadeadas de forma a que os participantes do curso alunos tenham construído uma fração do que se propunham construir. Pela aula como implementação de um método é perpassada uma ideia de que a adesão a um conjunto de procedimentos (advindos de uma posição teórica que cria esses procedimentos) que funcionam para a obtenção dos objetivos desejados. A aula como evento social, ou seja, um momento em que diferentes pessoas se encontram em que já há expectativa sobre o papel (tradicional) de cada uma delas, ou seja, o que se espera dos(as) professores(as) e de aluno(a)(s).

6624 É a quarta perspectiva apontada pelo autor que nos interessa focalizar, a de aula como arena de interação humana. Para Prahbu: por trás dos papéis e rotinas convencionadas de uma aula estão um grupo de indivíduos um professor e muitos alunos com personalidades variadas, motivações, auto-imagens, medos e aspirações, níveis de tolerância e graus de maturidade, todos variáveis (PRAHBU, 2001, p. 7). Ou seja, quando estamos em contato, em aula, com alunos, estamos em interação com diferentes formas de ver o mundo, mesmo que todos eles façam parte do que queiramos chamar um conjunto relativamente homogêneo de pessoas. Em nosso contexto, todos são brasileiros, com idade média de aproximadamente 22 anos, todos na Licenciatura em Letras da mesma universidade. No entanto, sabemos que els não são iguais. Se tomarmos nosso segundo público os estrangeiros veremos que fica mais clara a heterogeneidade: são de países diferentes, portanto de culturas diversas; falam línguas variadas; têm muitas culturas de aprendizagem; entre tantos outros fatores. O que queremos pontuar aqui é que não desconsideramos as outras três dimensões apresentadas pelo autor. Pelo contrário, julgamos, sim, ser necessária a consciência dos objetivos a serem atendidos, da construção do programa para tal fim e do planejamento por etapas (aula e/ou sequências de aulas para atingir tais metas), porém o que nos parece mais produtivo em nosso trabalho com os estudantes em Letras é propor-lhes a reflexão sobre o encontro de várias identidades (HALL, 2003) produzido em (sala de) aula. A proposta de se pensar em construção, refacção e exibição de idendidades, nosso fazer no Grupo de Trabalho na construção da identidade de professor de PLE realiza-se a partir da noção de língua em uso (CLARK, 1996) e de gêneros do discurso (BAKHTIN, 2003). Clark apresenta seis proposições em seu texto Using Language (1996): 1) A linguagem é fundamentalmente usada com propósitos sociais; 2) A utilização da linguagem é uma ação conjunta; 3) O uso da linguagem sempre envolve a intenção do falante e o entendimento do interlocutor; 4) O cenário básico para o uso da linguagem é a interação facea-face; 5) O uso da linguagem tem com frequência mais de uma camada de atividade; 6) O uso da linguagem é tanto uma ciência cognitiva quanto social. afirmar que: Essas proposições têm relação com a visão de linguagem que Bakhtin postula ao

6625 todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana, o que, é claro, não contradiz a unidade nacional de uma língua. O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana (BAKHTIN, 2003, p. 261). Dessa maneira, gêneros discursivos são categorias (de texto) relativamente estáveis que diferem se referidas a campos de atividades humanas diversas, mas que encontram certa estabilidade nelas. Portanto, é necessário no trabalho com ensino/aprendizagem de línguas, que os textos sejam analisados em seus campos e em seus contextos e a partir daí o trabalho de língua enquanto código seja realizado. O que queremos evidenciar aqui é nossa preocupação com a formação de professores de PLE atentos e reflexivos para questões de ordem prática em sala de aula, mas também sobre crenças e construtos do que é ensino/aprendizagem de línguas no nosso caso português a estrangeiros - a partir de gêneros discursivos com o fim de agir adequadamente no mundo. Nosso contexto O Grupo de Trabalho em Português para Falantes de Outras Línguas foi criado em 2013 com o objetivo de proporcionar a estudantes em Letras Português/Inglês de nossa instituição reflexões sobre a sua língua materna português brasileiro visando à docência de português brasileiro para estrangeiros. Esse viés não é contemplado no curso de licenciatura em nossa Instituição embora se configure hoje em uma possibilidade de inserção no mercado de trabalho, além de criar conhecimento e de metodologias que constroem um novo olhar à prática docente seja de português como língua materna seja de línguas estrangeiras para brasileiros. No primeiro semestre de 2015, contamos com a participação de três docentes da UTFPR e catorze estudantes em Letras. A participação no Grupo implicou participação em cursos, encontros de discussão de textos e de aulas, preparação de aulas, acompanhamento individual de alunos estrangeiros (nos moldes de monitoria), orientações individuais dos estudantes, participação em projetos institucionais (Ações Afirmativas e Produção de Recursos Educacionais Abertos), participação em um congresso internacional com apresentação de comunicações, realização de atividades culturais com os estrangeiros e apresentação em um encontro final do Grupo de Trabalho.

6626 Os estudantes que participaram do Grupo de Trabalho no primeiro semestre fazem parte como já referido do curso de Letras de nossa instituição, apesar de se encontrarem em estágios (períodos) diferentes do curso. A Tabela 1 mostra alguns dos dados dos estudantes que julgamos relevantes para o entendimento do perfil do grupo: Tabela 1 Dados dos estudantes Estudantes Idade (anos) Período do curso (o curso tem duração de 8 semestres) Tempo no GT (semestres) Participante 1 29 8º. 4 nenhum Participante 2 23 4º. 4 nenhuma Participante 3 22 3º 2 nenhuma Participante 4 20 3º. 2 nenhuma Participante 5 18 3º. 2 nenhuma Participante 6 21 1º. 1 nenhuma Participante 7 22 3º. 2 nenhuma Participante 8 20 1º. 1 nenhuma Participante 9 22 3º. 2 nenhuma Participante 10 21 4º. 1 nenhuma Participante 11 21 4º. 2 nenhuma Participante 12 22 º. 1 nenhuma Participante 13 21 5º. 1 nenhuma Participante 14 21 4º. 1 nenhuma Fonte a autora. Dados coletados em agosto/2015. Experiência prévia com PLE Podemos depreender dos dados que todos eles são bastante jovens, o que evidencia o pouco ou inexistente tempo de docência prévia. A experiência em sala de aula parece ser incipiente se consideramos a informação sobre o período do curso em que se encontram: 50% deles ainda não chegou à metade do curso, momento em que começam as práticas e os estágios. O Grupo de Trabalho, assim, mostra-se terreno fértil para a reflexão do ser professor a partir de leituras e discussões e também a partir das práticas realizadas com alunos estrangeiros em nossas turmas. É importante ressaltar que muitos dos participantes começaram as atividades em nosso Grupo no primeiro período do Curso, o que nos remete novamente à ideia do trabalho em sala de aula logo no início da licenciatura, e, ao mesmo tempo, denota ausência de familiaridade com conceitos da Linguística e da docência, o que não impede a realização de um bom trabalho, uma vez que nossos cursos e discussões em Grupo são contínuos e a existência de membros do Grupo que estão em estágio mais adiantado da Licenciatura propicia trocas bastante frutíferas. A falta de experiência com o trabalho de português para estrangeiros aponta para necessidades específicas de reflexão sobre o português para estrangeiros, uma vez que todos os participantes são brasileiros e o português é sua língua materna, ou seja, não passaram pela experiência de aprender essa língua como acontece com estrangeiros.

6627 A atividade de fechamento realizada A proposta do evento Experiências com o ensino de português a estrangeiros: relatos de alunos e professores em formação foi a de fazer com que alunos e professores apresentassem algumas de suas reflexões a partir do trabalho realizado durante o tempo em que haviam participado do Grupo de Trabalho em PFOL. Focamos aqui o caminho traçado como norte aos alunos objeto do presente relato. Cada um teria 15 minutos para sua exposição e ela deveria ser elaborada a partir de perguntas e orientações, enviadas duas semanas antes da data do encontro. As orientações enviadas para a organização das apresentações por correio eletrônico foram estas: a) expor em que período está; há quanto tempo faz parte do grupo; que atividades realizou/têm realizado; b) o que pensou/aprendeu/construiu sobre língua (português) que não tinha pensado antes de realizar esse trabalho; c) o que entendeu sobre sala de aula de português para estrangeiros - processos de ensino/aprendizagem e dinâmica da sala de aula; d) como se vê como professor(a) (mais preocupado(a) com as estruturas da língua; mais preocupado(a) com processos de interação; mais preocupado(a) com a dinâmica da sala de aula, etc.); e) de que maneira você acha que o trabalho com português para estrangeiros pode auxiliar sua prática como professor de português para brasileiros ou mesmo de inglês para brasileiros; f) inquietações, dúvidas, necessidades de formação - o que você quer aprender sobre português para estrangeiros g) o trabalho com português para estrangeiros tem que objetivos para você. Uma semana antes das apresentações (sexta-feira, 10 de julho) foi realizada uma reunião a fim de verificar se os estudantes haviam aderido à proposta de apresentação e se acreditavam que era válida essa maneira de enunciar de maneira mais sistemática o que haviam pensado durante o semestre. Houve adesão de boa parte do grupo, então resolvemos manter o evento. Alguns estudantes, especialmente os do primeiro período, mostraram-se um pouco reticentes com a apresentação, justificando o receio pelo fato de não haverem tido muito tempo para reflexão. Nossa ideia, entretanto, era justamente verificar o que eles haviam construído, contrastar suas reflexões e tentar relacioná-las com o tempo de pertencimento ao

6628 grupo e o período em que estavam no Curso de Letras, a fim de observar se havia essa correlação. Solicitamos, ainda, que eles não compartilhassem suas reflexões antes da apresentação, de modo a evitar que houvesse interferência direta nas reflexões de cada um deles. Dos catorze participantes, dez foram ao encontro e apresentaram seus trabalhos. Houve outra apresentação de um integrante do Grupo de Trabalho durante três semestres, mas que não havia participado das atividades em 2015/1 (não aparecendo, então, na tabela dos participantes). Apresentação de falas recorrentes dos estudantes Das apresentações dos estudantes, ficam patentes as seguintes questões: há um encantamento pelo trabalho, muito disso decorrente do contato com estrangeiros de diferentes lugares do mundo, diversas línguas maternas e oficiais, diferentes modos de ser e, sobretudo, com muita vontade de aprender. O fato de estarem em imersão no contexto de uso da língua que estão aprendendo (o português do Brasil), contribui para que a aula aconteça muito em função das necessidades apresentadas por eles essencialmente de uso da língua para interação (daí a opção por um viés bakhtiniano de linguagem); a maior parte das apresentações mostrou que houve reflexões acerca do funcionamento da língua que não havia antes das atividades do Grupo de Trabalho. Não se pensava sobre os porquês de determinadas escolhas, por exemplo, usos de tratamento como você, o senhor ou a senhora o pouco uso do imperativo em português em contraposição ao uso recorrente em espanhol a diferença temporal entre tenho feito e I have done, por vezes apagada em uma tradução literal; o entendimento de que a sala de aula é uma arena de conflitos (BAKHTIN, 2003) em que diferentes identidades manifestam suas visões de mundo; e a necessidade de formação sobre língua, seja das gramáticas normativas (escolares), seja de gramáticas descritivas. Das diferenças entre as falas dos mais novos e dos mais antigos no grupo É interessante observar que quanto mais tempo no Grupo de Trabalho, mais os alunos mostram-se familiarizados com os pressupostos teóricos que orientam nossas ações. Vale ressaltar que é evidente que os que se mantém no grupo encontram sentido em tal trabalho, o que evidentemente não é uma unanimidade por todos que passaram pelo Grupo. Estudantes de Letras que possuem um viés estruturalista, que aprenderam a olhar para a língua como código,

6629 ou que se preocupam essencialmente com formas tendem a deixar nosso Grupo ou a aceitar o convite de olhar para a linguagem de uma forma menos estrutural e abandonar conceitos de certo e errado, para ajustar-se a noções de adequação e inadequação, pensando sempre a linguagem em contextos específicos de interação e nas suas inúmeras situações. Os mais novos mostram-se receosos enquanto os mais antigos, por mais que não se sintam seguros com relação à língua algo curioso de observar, uma vez que todos são universitários, estudantes em Letras no seu aspecto descritivo (mas não uma descrição formal, uma descrição para a produção de tecnologia de ensino dessa língua para usuários) reconhecem-se como parte de um grupo que entende as etapas de um curso identificação do público; planejamento; análise, seleção e produção de materiais; realização das aulas; constante avaliação de sua prática e do aprendizado dos alunos; redirecionamento do programa e das opções metodológicas (sempre que necessário). Alguns alunos também apresentam rigidez bastante grande com relação a pensar as variedades da língua como igualmente válidas do ponto de vista da Linguística. Evidentemente, no âmbito social se elegem variedades de maior ou menor prestígio e com certeza isso deve ser revelado e discutido em sala mas nosso olhar para a língua como professores não pode carregar esses preconceitos, ou em outras palavras: ouvido de professor não dói. Esse é um dos desafios de formadores de línguas. Do que a comparação nos leva a pensar Expusemos algumas falas entre as que os estudantes apresentaram nesse pequeno evento foco do nosso relato. A comparação entre os mais antigos e os mais novos no grupo nos leva a algumas reflexões: há que se continuar o trabalho de conscientização de que as aulas são mais produtivas para os alunos na medida em que somos professores mais preparados. A seleção e produção de materiais e a organização das aulas como uma sequência de atividades que constituem o caminho para os objetivos de ensino/aprendizagem são importantes, mas não podem ser vistas como mais relevantes do que a preparação do professor e sua sensibilidade para as relações de interação estabelecidas em aula. Outro ponto pacífico entre as falas dos alunos é a necessidade de estudo sistemático sobre língua como, por exemplo, formas e usos dos modos e tempos verbais sem deixar de considerar aspectos dos verbos, perífrases; formas e usos dos pronomes; estabelecimento de coesão e coerência; adequação de registro (também chamado estilo), entre outros.

6630 Considerações finais Nesse relato tratamos de mostrar uma das atividades realizadas no contexto de nossas ações no Grupo de Trabalho em Português para Falantes de Outras Línguas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Curitiba. Mostramos primeiramente a adesão à língua como discurso, ao trabalho com gêneros discursivos - tanto da fala, como da escrita filiando-nos à perspectiva bakhtiniana. Isso significa, mais uma vez, que o código linguístico é sempre trabalhado em contextos com os alunos estrangeiros e mostram-se na prática as variedades da língua por meio de atividades e exercícios que têm como ponto de partida textos autênticos aqueles não programados para funcionar em contextos de ensino/aprendizagem de línguas veiculados em meios de comunicação diversos. Em seguida, situamos o perfil dos estudantes em Letras, que compuseram o Grupo de Trabalho no primeiro semestre de 2015 e como esse perfil aponta para algumas características do Grupo. Logo, descrevemos como se deu a ação relatada no presente trabalho, sua motivação e o objetivo de perceber como estava sendo entendida a perspectiva adotada por nós. Mostramos alguns dos resultados de suas falas, que ainda que poucos, dada a extensão do relato, apontam para resultados que evidenciam formação reflexiva e encaminham futuras ações para situações mais pontuais de código linguístico estudo sobre questões pontuais do português do Brasil visando ao ensino sem descuidar o trabalho que vem sendo realizado de construção do ser professor de português a estrangeiros. Não podemos deixar de ratificar a consciência do tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão, afirmando que entendemos que o ensino se realiza na medida em que ofertamos cursos aos estudantes em Letras, os orientamos, fazemos encontros no Grupo de Trabalho; que a pesquisa é fomentada nas próprias atividades de ensino nos cursos e orientações, por exemplo - bem como nas atividades de docência supervisionada realizadas pelos estudantes e na monitoria. A extensão refere-se à oferta semestral de turmas de português para estrangeiros nas quais se inserem esses estudantes de Letras e em que realizam parte de seu trabalho. Visto dessa forma, ensino, pesquisa e extensão estão tão relacionados a ponto de ser difícil pensar limites rígidos para eles. REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

6631 CLARK, Herbert. Using Language. 1. ed. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1996. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 8. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. PRABHU, Nagore. A dinâmica da aula de língua. Contexturas, São Paulo, v. 5, n. 5, p. 79-96, 2001.