Instalações recicláveis construções baratas e eficientes As instalações são parte importante da criação de ovinos e caprinos. A construção pode ser barata, mas tem que ser eficiente. Sua importância no processo de produção está na redução da mão de obra para as tarefas diárias, facilidade de manejo e controle de doenças. Resistência à verminose: como selecionar? A capacidade de resistir à ação das parasitoses gastrintestinais varia substancialmente entre grupos raciais, categorias e linhas genéticas dentro de uma mesma raça. Devido a essa variação, torna-se possível evitar prejuízos selecionando os animais resistentes dentro de um rebanho.
Instalações recicláveis www.cabraeovelha.com.br construções baratas e eficientes 46 A s instalações são parte importante da criação de ovinos e caprinos e são baseadas na funcionalidade, durabilidade e economia. A construção pode ser barata, mas tem que ser eficiente. Sua importância dentro de um processo de produção está na redução da mão de obra para as tarefas diárias, facilidade de manejo do rebanho e o controle de doenças, produção e segurança dos animais e dos trabalhadores, e armazenamento de alimentos, favorecendo, assim, maior eficiência produtiva. Uma vez que o uso de instalações recicláveis é o foco principal deste artigo, exemplificamos também a importância para o meio ambiente, buscando ótimos resultados ambientais, propiciando a mesma autonomia e garantia das condições ideais para o crescimento do rebanho em uma produção sustentável. Neste trabalho utilizamos como exemplo a Fazenda Cabanha Lenda, que adotou um método biodegradável ao utilizar materiais recicláveis, possibilitando melhoria no manejo de produção sustentável. A Fazenda Cabanha Lenda, localizada na zona rural do município de Santo Antônio do Leverger, próximo à vila Barreirinho, na região Centro-Sul de Mato Grosso, possui uma área total de aproximadamente 120 hectares. O clima predominante em toda a região é o tropical, sendo na maior parte seco e quente; seu solo arenoso suporta
INSTALAÇÕES Com o uso de instalações recicláveis é esperado bom retorno financeiro, pois o custo é quase nulo, devido ao reaproveitamento de alguns materiais recicláveis como: paletes de madeira, tambores plásticos e tubos de PVC, tornando a ovinocultura uma atividade mais rentável, além de sustentável, re- sultando em lucratividade para o produtor. As instalações utilizadas para abrigar os animais durante a noite e para o confinamento são construídas em um terreno firme e com paletes recicláveis para delimitação das baias, orientado no sentido nascente-poente (leste-oeste), evitando assim a incidência de raios solares no seu interior. O piso é de terra batida, o que apresenta boa drenagem. O local permite o monitoramento dos animais, conta com adequada disponibilidade de água e oferece facilidade na limpeza diária. A cobertura utilizada na propriedade é de telha de alumínio, e para melhor iluminação o proprietário optou pelo uso de telhas de fibra de vidro. Mas há outras opções disponíveis, podendo ser de telha de barro, bambu, cobertura vegetal (sapê, carnaúba). As coberturas vegetais são as opções mais sustentáveis, sendo que a principal preocupação deve ser o conforto térmico dos animais, levando em consideração o custo e a altura do pé-direito, visando maior passagem de corrente de ar. Outubro/Novembro 2015 pastagens nativas utilizadas para alimentação dos ovinos. O proprietário, Antenor Santos Alves Junior, possui uma criação de ovinos para melhoramento genético e corte, e a responsável pela fazenda é a zootecnista Nathalia Alves de Barros. Eles pretendem desenvolver na propriedade um projeto de frigorífico específico para ovinos, visando um empreendimento viável e rentável para abate de animais desse porte, instalação em carência na região. O sistema de criação da propriedade é em confinamento e semi-intensivo, com integração lavoura-pecuária-floresta, sendo utilizado o capim massai (Panicummaximum), pastoreio dos ovinos e eucalipto (Eucalyptus spp.). No ciclo de produção, as raças escolhidas foram Polldorset, White Dorper, Texel, Lacaune, Suffolk e Dorper, totalizando 4 mil animais, sendo que 650 são P.O. e 2 mil são fêmeas da raça Santa Inês destinadas ao cruzamento industrial. Os animais são divididos em duas categorias: corte e melhoramento genético para produção de carne. Os ovinos destinados à comercialização para o abate passam por uma fase chamada de terminação, na qual o ritmo de crescimento do animal é acelerado com a produção de músculo e deposição de gordura até o momento em que a carcaça alcance sua melhor qualidade. O ovino em ponto de abate deve ser o mais jovem possível, pesando entre 36 e 38 kg, esperando-se um rendimento de carcaça de no mínimo 52%. 47
Os comedouros e bebedouros são construções essenciais ao manejo e, de acordo com a Embrapa (2005), devem atender a recomendação de 0,25 m linear de cocho para cada animal adulto, ou seja, utilizar quatro animais para cada metro linear. O fundo do cocho deve estar a 20 cm do piso. Na Fazenda Cabanha Lenda há o uso de tambores de plástico cortados ao meio e tubos PVC. Os cochos são suspensos por ripas de paletes recicláveis, mantendo uma altura adequada aos animais em confinamento, favorecendo o bem-estar do animal e a qualidade do alimento fornecido. Também há algumas baias que possuem aberturas (canzis) para a passagem da cabeça do animal a fim de que tenham acesso aos comedouros localizados no chão. Os tambores de plástico cortados ao meio servem também como bebedouros e são dimensionados em função do número de animais a serem atendidos, considerando o consumo de água aproximadamente de 3 a 5 litros/animal/ dia. Devem estar instalados em locais que permitam a vistoria e higienização constante. Sua instalação possui sistema de encanamento nas baias de confinamento, com boias para manter o nível e garantir que a água esteja sempre disponível. O silo do tipo superfície, uma espécie de silo trincheira invertido, é utilizado na propriedade para armazenamento de alimento. Esta instalação se adequa bem para pequenas e médias propriedades. Pode armazenar até 40 toneladas de silagem. (Embrapa, 2005) No manejo nutricional, o sistema semi-intensivo, com integração de agricultura-pecuária-floresta, utilizando o eucalipto, possui vários objetivos e benefícios tais como: a otimização de recursos; maior rentabilidade por área de modo sustentável; preservação ambiental por meio de práticas adequadas de manejo; diversificação de atividades com intuito de amenizar riscos de mercado; aumento da produtividade devido a fatores interligados do sistema (sombra + conforto animal). O sombreamento promove melhorias no valor nutritivo dos capins e no bem-estar, possibilitando maiores rendimentos por animal. (HUDSON; GARCIA, 2009) Na propriedade há 100 hectares de forragem de capim massai para os animais que estão no pasto. A ração dos animais confinados é à base de milho, farelo de girassol, núcleo, silagem de milho e suplementação. O uso de instalações recicláveis e reutilizáveis é um investimento que se baseia na tríade de funcionalidade, durabilidade e economicidade, que atende aos requisitos básicos e proporciona efetivamente o retorno esperado. Esses requisitos dizem respeito à necessidade de as instalações servirem ao seu propósito: dar suporte à produtividade do sistema e garantir a qualidade dos produtos de modo econômico, fácil e sustentável. www.cabraeovelha.com.br REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EMBRAPA. Sistema de produção de Caprinos e Ovinos de corte no Nordeste Brasileiro. Biblioteca virtual da Embrapa. Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/fonteshtml/caprinoseovinosdecorte/caprinosovinoscortenebrasil/instalacoes. htm#titulo2>. Acesso em: 06/04/2014. HUDSON, L. S.; GARCIA, M. A. Sistema Agrossilvipastoril - Uma opção de rentabilidade e sustentabilidade. FarmPoint. Disponível em: <http://www.farmpoint.com.br/radares-tecnicos/sistemas-de-producao/sistema-agrossilvipastoril-uma-opcao-de-rentabilidade-e-sustentabilidade- 53772n.aspx> Acesso em: 07/04/2014. * Amanda Dalstriellem Silva Rocha, Awanne Elize Pinto Silva, Cristina Bessa de Jesus, Rayanne Araújo Fixina, Sidonio Olino Costa Moraes Graduandos de Medicina Veterinária pela Universidade de Cuiabá UNIC. Orientador: Fábio Schein Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998), especialização em Administração Hospitalar pela Universidade Federal de Mato Grosso (2003) e mestrado em Ciência Veterinária pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2006). Atualmente é professor na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Cuiabá e doutorando em Ciências Veterinárias do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso. Tem experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em doenças infecciosas dos animais de produção, equinocultura, produção e manejo de gado leiteiro e produção e manejo de bovinos de corte. 48
Resistência à verminose A capacidade de resistir à ação das parasitoses varia entre grupos raciais, categorias e linhas genéticas dentro de uma mesma raça. Devido a essa variabilidade de expressão frente à ação dos parasitos, torna-se possível selecionar animais dentro de um rebanho. Existem várias metodologias para estimar o grau de resistência, porém em nível fenotípico, a mais aplicada é a contagem de ovos por grama de fezes (OPG), que consiste na avaliação dos animais do desmame até cerca dos 15 meses de idade. Neste período ocorre a maior diferença entre linhas resistentes e suscetíveis, pois animais com tendência à resistência apresentam um sistema imunológico mais ativo, com menores cargas parasitárias. Essa fenotipagem é feita logo após o desmame, quando o animal sofre desafio ambiental frente às parasitoses; depois entre os 8 e 10 meses, e finalmente entre os 13 e 15 meses de idade. O intuito é expor os animais a diferentes ciclos de parasitismo. Na primeira fenotipagem, os animais estão desenvolvendo seu sistema imunológico devido aos desafios do ambiente. Uma vez que após o desmame é proporcionado o estresse, que é imunossupressor. Junto a isso, a dependência de 100% da alimentação ser colhida no ambiente é grande fonte de infecção para estes animais. Na segunda fenotipagem, ocorre a maior diferença entre a carga parasitária dos animais resistentes contrapondo-se a animais suscetíveis. O sistema imunológico dos resistentes desenvolve-se mais rápido. A diferença entre a carga parasitária na terceira fenotipagem apresenta-se menor que na segunda, pois os animais com tendência à resistência estão próximos do desenvolvimento máximo do sistema imunológico. Também pode-se aplicar a seleção por resistência com a eliminação dos animais problemas. Porém, esse método impossibilita verificar o progresso genético para característica de resistência, e a diminuição da carga parasitária no ambiente, pois retém os animais resilientes, que mesmo parasitados, não apresentam quadros clínicos. Estes animais são grande fonte de contaminação ambiental. Quando se trabalha com categorias de extrema suscetibilidade, como cordeiros e ovelhas no periparto, provocam aumento dos custos com tratamentos e até mesmo perdas produtivas no rebanho. O emprego da metodologia por fenotipagem permite diminuir a carga do ambiente ao longo dos anos de seleção, reduzindo custos e perdas produtivas. No desmame, os cordeiros são desverminados. Depois de 10 a 14 dias deve ser aferido se a OPG amostral do lote em avaliação apresentou-se abaixo de 100. A cada 15 dias verificar a carga parasitária do lote em avaliação, coletando uma amostra aleatória de 20 animais. Quando a carga parasitária extrapola o OPG de 500, com uma porcentagem de OPG 0 menor que 20 %, faz-se a primeira fenotipagem. Os animais são desverminados e ao transcorrer 10 a 14 dias avalia-se a carga de uma amostra do lote para avaliar se o OPG reduziu abaixo de 100. Depois se repete o procedimento quinzenal até chegar a valores para a segunda e terceira fenotipagem. Assim é possível identificar, nesta geração, os animais que se apresentam tendenciosos à suscetibilidade e fazer a seleção pelo descarte dos mais suscetíveis. Importante ter bem definido que o conceito de resistência não se refere à erradicação dos parasitos. Em rebanhos selecionados encontram-se alguns problemas de picos de parasitismo. Porém, o prejuízo seria maior se não houvesse essa seleção. Fernando Amarilho Silveira Zootecnista do projeto AS Melhoramento Ovino, pela empresa SAFRA Empreendimentos e Zootecnista da Brasão do Pampa Outubro/Novembro 2015 49