1.º TRIMESTRE: A NEGOCIAÇÃO COLECTIVA ESTABILIZA EM BAIXA Os resultados negociais são agora consequência directa da situação económica e social e um reflexo imediato das doses de austeridade aplicadas cegamente ao país, sem qualquer sensibilidade social. Não podemos deixar de relevar a ideia de que o Governo, por um lado, tem subscrito compromissos assumidos com os parceiros sociais, em especial com a UGT, sobre a importância e a necessidade de promover a negociação colectiva, e por outro, é parte activa da sua destruição no plano ideológico e na produção normativa. A ausência de negociações não pode ser explicada apenas pela não emissão de portarias de extensão, decretada pelo Governo a mando da Troika, porquanto há associações de empregadores e empregadores isolados que continuam a manter o diálogo com resultados, havendo outros que se aproveitam cada vez mais da situação para imporem a desregulamentação colectiva. O período de tempo em análise é em todo idêntico ao período homólogo de 1, quanto ao número de convenções publicadas, com duas variantes discretas: 1. O número de trabalhadores abrangidos pela negociação colectiva é insignificante e reduziu-se ainda mais neste trimestre, a que se junta a expectativa de saber se serão emitidas as portarias de extensão requeridas.. Em média, a actualização salarial aplicada aos salários decorrente da negociação colectiva publicada será idêntica à inflação prevista para 14. Não será suficiente para influenciar positivamente a actualização salarial mas é um sinal positivo a ter em conta. Por último, a administração pública e o sector empresarial do Estado, porque são da responsabilidade do Governo e estão paralisados. Os sindicatos só são chamados à negociação estratégica em situações de necessidade do Governo para promover mais cortes na despesa, nas condições de trabalho e nos efectivos, não promovendo nem resolvendo a negociação colectiva onde é desejável possível, de que é exemplo frustrante o resultado deste trimestre.
1. O número de trabalhadores abrangidos pela contratação colectiva e convenções publicadas Findo o primeiro trimestre, verifica-se que este se mantém em linha com o trimestre homólogo no que respeita ao número de convenções publicadas (Gráfico 1). Este paralelismo não se encontra espelhado no número de trabalhadores abrangidos. Gráfico 1 N.º de convenções publicadas no 1.º trimestre 16 14 1 1 8 6 7 7 7 7 4 1º Trm. 1 1º Trm. 13 AC AE CC Fontes: UGT/BTE No que concerne ao número de convenções negociais publicadas, o presente trimestre igualou o trimestre homólogo (16 convenções), mantendo-se em baixa, sendo que os Acordos de Empresa (AE) igualam o número das convenções sectoriais (CC). O número de trabalhadores abrangidos continua neste trimestre muito baixo (134.316), menos de metade do trimestre anterior e mesmo assim beneficiando da publicação, em Janeiro, da convenção sectorial para a indústria de metalurgia, que por si só abrange mais de 1. trabalhadores. Mesmo com este aumento pontual o número de trabalhadores abrangidos é muito inferior quando comparado ao trimestre homólogo (8.963), tendo em atenção que vai ser possível estender por via administrativa as convenções sectoriais publicadas. 3
É muito importante a dinamização da negociação sectorial por ser a via que abrange mais trabalhadores e estabelece as mesmas condições mínimas de concorrência entre as empresas. Gráfico N.º de Trabalhadores abrangidos no 1.º Trimestre 1º Trm. 13 134.316 1º Trm. 1 88.963 5. 1. 15.. 5. 3. 1º Trm. 1 1º Trm. 13 Fontes: UGT/DGERT Considerando a situação actual torna-se difícil - se não impossível - apontar uma perspectiva da evolução da negociação colectiva. As semelhanças com o trimestre anterior parecem indicar uma possível estabilização (em baixa) da negociação colectiva. Isto é, o final do ano de 13 poderá espelhar os níveis e a pobreza negocial de 1.. Valores salariais actualizados pelas convenções colectivas As actualizações salariais têm penalizado os trabalhadores. Dos 134.316 trabalhadores abrangidos por negociação colectiva no 1º trimestre, 15.5 tiveram revisões salariais com actualização média nominal ponderada de 1,1%. De acordo com dados da DGERT o IPC situou-se no trimestre em apreço em,7%, resultando assim numa variação real média do poder de compra de -1,6%. Com base em previsões do Banco de Portugal para a inflação (1,%), as actualizações deste trimestre irão traduzir-se em 14 numa ligeira retoma do poder de compra (,1%) para os trabalhadores abrangidos pela contratação colectiva. 4
Gráfico 3 Variação Média Nominal por mês 1,5 1,8 1,5 1,9 1 1,1,9 1,1,5 Jan Fev Mar 1 Var. Nominal 13 Var. Nominal Fontes: DGERT 3. O IRCT negocial e a sua extensão administrativa A publicação de portarias de extensão continua paralisada. O Governo mantém um forte controlo nesta matéria com base na resolução do conselho de ministros e nas condições que esta resolução impõe. No entanto, foram publicados no presente trimestre em BTE 9 avisos de portarias (projectos de portaria, sujeitos a dedução de oposição) referentes a convenções negociais de 11 e 1, que apesar do atraso, foram dadas a conhecer no Diário da República de 8 de Março de 13. Apenas houve oposição a uma das portarias de extensão por parte de um sindicato alegando a existência de regulamentação colectiva específica com a mesma associação. A publicação em BTE ficou adiada possivelmente para o próximo trimestre. 4. Situação Negocial na Administração Pública O presente trimestre representou também a publicação de 3 Acordos Colectivos com Entidade Empregadora Pública (ACEEP) subscritos pela mesma entidade empregadora (a qual abrange 5 trabalhadores) e 3 entidades sindicais diferentes. Tal apresenta-se como a retoma em 13, dado que no total de 1 apenas foram publicados 5 ACEEP ao longo do ano (abrangem apenas 719 trabalhadores). Há sempre a esperança de publicação de dezenas de acordos colectivos que se encontram pendentes por inépcia das entidades empregadoras públicas ou do Governo. 5
Gráfico 4 Acordos na Administração Pública (ACEEP e AC) 1 1 8 1 1 6 4 5 3 9 1 11 1 1º trm 13 ACEEP AC Fonte: DGAEP Vamos acreditar, como já demos nota noutros relatórios, que as entidades empregadoras não continuem a aplicar disposições de âmbito de acordo colectivo sem a participação dos sindicatos, isto é, matérias que deveriam ser negociadas com os sindicatos. 5. Cessação de vigência de convenções e arbitragens obrigatórias Neste período apenas foi publicado um aviso de cessação de um Acordo de Empresa do sector dos transportes rodoviários. Também não se conhece a existência de qualquer recurso com o objectivo de estabelecer uma arbitragem obrigatória, nem a tentativa para repor regulamentação colectiva de trabalho, através arbitragem necessária. CONCLUSÕES A promoção da negociação colectiva parece ser indiscutível para que se retomem os valores de há 3 anos para que os trabalhadores portugueses, em geral, tenham acesso a melhores condições de trabalho e concorram para uma maior produtividade das empresas. 6
É uma tarefa para o ano em curso a ser desenvolvida a nível estratégico, na concertação social, com o concurso das confederações patronais e especificamente do Governo que terá de encarar os recursos humanos das empresas como um desígnio a ter em conta a par do seu financiamento. Ao nível da contratação colectiva tem que se aproveitar o que é possível servindo de exemplo o que foi feito, porque está demonstrado que é possível fazer contratação colectiva. Entre o que é possível relembra-se e insiste-se apenas em dois ou três aspectos a curto e médio prazo. 1. Antes que seja tarde (como aconteceu com a negociação do tempo de trabalho) é fundamental utilizar o pequeno número de convenções colectivas sectoriais como o motor para o predomínio desta negociação e dos parceiros sociais envolvidos. É importante para as associações patronais como é importante para os sindicatos articularem o nível sectorial com o nível de empresa, estabelecendo em convenção colectiva sectorial o que pode ser negociado ao nível das empresas e por quem.. É indispensável, para além das actualizações que se possam fazer nas retribuições fixas mensais e nos vários complementos salariais da retribuição, negociar a reposição de valores e de outras condições de trabalho condicionadas pela legislação, para aplicar no período pós-troika. Se não se fizer agora continuam a vigorar as condições reduzidas e impostas pela alteração legislativa de 1. 3. Parece não ser descabido, no patamar da administração pública, utilizar a via processual escolhendo alguns acordos entre os que estão paralisados. O conflito contratual pode ser dirimido através de fases processuais previstas na legislação aplicável. 7