Comportamento Estrutural de Pontes Esconsas Marcos Oliveira 1, Michèle Pfeil 2, Ronaldo Battista 3 1

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Transcrição:

Comportamento Estrutural de Pontes Esconsas Marcos Oliveira 1, Michèle Pfeil 2, Ronaldo Battista 3 1 marcosjoseoliveira@gmail.com; 2 POLI COPPE/UFRJ / mpfeil@coc.ufrj.br; 3 COPPE/UFRJ / Controllato Ltda / battista@coc.ufrj.br Resumo Os cruzamentos esconsos de rodovias e ferrovias sobre rios, canais e outras linhas viárias demandam pontes com tabuleiros esconsos, cujo comportamento estático e dinâmico é distinto do das pontes sobre linhas de apoio ortogonais ao eixo, em função de vários parâmetros geométricos e condições de contorno em termos de deslocamentos e forças. Este trabalho apresenta um estudo paramétrico sobre o comportamento estrutural de pontes rodoviárias esconsas elaborado por meio de análise estática de modelos numéricos de três tipos de seção transversal do tabuleiro: múltiplas vigas mistas aço-concreto, seção celular singela e seção Π, ambas em concreto armado. Dentre os parâmetros considerados destacam- do vão e a se o ângulo de esconsidade, a razão entre a largura do tabuleiro e o comprimento distribuição espacial do carregamento, além da ação de variação de temperatura. Os principais efeitos da esconsidade observados nos resultados foram a redução de momentos fletores e o acréscimo de esforços cortantes em relação aos correspondentes valores máximos encontrados na ponte sem esconsidade, além do movimento de rotação da ponte no plano do tabuleiro em torno de um eixo perpendicular a este plano. Palavras-chave Análise Estrutural; Pontes Rodoviárias Esconsas. Introdução A maior parte dos estudos realizados sobre pontes esconsas estão dedicados à análise do comportamento estático, distribuição de esforços internos e dimensionamento e disposição das armaduras de pontes em lajes maciças esconsas de um único vão, com extensões a casos de vãos múltiplos (LEONHARDT, 1979). Em parte, isso se deve à maior facilidade encontrada pelos projetistas no passado (até meados dos anos 1970) paraa o cálculo manual com base nos resultados disponíveis na literatura clássica) sobre a análise de deformações e de esforços em lajes maciças de variadas geometrias (inclusive esconsas) com diversas condições de apoio, submetidas a carregamentos estáticos distribuídos e concentrados. Os efeitos da esconsidade também ocorrem em pontes esconsas de seção transversal aberta (tabuleiro sobre vigas) ou fechada (celular), mas com intensidade menor que em pontes em lajes maciças esconsas. No caso de pontes esconsas de seção aberta, o efeito da esconsidade sobre a distribuição transversal das cargas nas vigas e, portanto, sobre as solicitações de flexão é bastante significativo (com relação a pontes ortogonais) e não pode ser desprezado no projeto dessas estruturas. Contrariamente às pontes em lajes maciças esconsas, cujas características principais e comportamento estrutural estático foram no passado bastante estudados e entendidos com clareza, as pontes com tabuleiros esconsos de seção aberta ou fechada requerem estudo específico, caso a caso, em face da grande diversidade de soluções estruturais possíveis. Deve-se observar, entretanto, que a literatura técnica sobre este assunto não oferece resultados de estudos do comportamento estrutural de pontes esconsas que englobem todas as

possíveis combinações práticas das diversas tipologias de pontes. A instituição norte- (AASHTO) - americana American Association State Highway and Transportation Officials Load and Resistance Factor Design (LRFD) - Bridge Design Specifications, (2007) prevê através de métodos simplificados fatores de correção para momentos fletores no meio do vão e esforço cortante no canto obtuso das pontes esconsas obtidos por análise da ponte como se fosse ortogonal (ângulo de esconsidade α nulo). Estes fatores são definidos como funções de parâmetros de projeto, tais como a ângulo de esconsidade, comprimentoo do vão, etc, para certas tipologias de pontes; não sendo contemplados vários outros tipos de pontes. Por exemplo, para pontes em vigas mistas aço-concreto o fator de correção do momento fletor é dado por C 1 1( tgα ) 1, 5 M = c (1) sendo Kg S 1 0, 25 c = 3 Lts L 0,5 K g é o parâmetro de rigidez longitudinal; S (mm) é o espaçamento entre as vigas; t s (mm) a espessura da laje de concreto e L (mm) o comprimento do vão. A diversidade das características estruturais constitui a principal motivação para o estudo do comportamento estrutural de tipos específicos de pontes com tabuleiros esconsos com seção transversal abertaa ou fechada. Assim, o presente estudo (OLIVEIRA, 2015) apresenta tipos específicos de estruturas de pontes esconsas que foram selecionados em função da quantidade existentee nas rodovias brasileiras: (a) pontes de concreto armado com seção Π; (b) pontes de concreto protendido com seção monocelular; (c) ponte de seção aberta mista (tabuleiro em concreto e vigas de aço), um tipo encontrado em quantidade muito menor, mas por outro lado de emprego crescente. Casos de Estudo São desenvolvidos e analisados modelos numéricos de ponte esconsa com os três tipos de seção transversal citados, com o auxílio do software comercial SAP2000. Para cada um desses tipos estruturais é feito um estudo paramétrico variando o ângulo de esconsidade e outros parâmetros a partir da geometria de duas pontes de concreto existentes para as quais estão disponíveis resultados de medições experimentais da CONTROLLATO (2012a e 2012b) e uma ponte mista aço-concreto (TOLEDO, 2010, BELLEY e PINHO, 2007). Para esta última foi possível comparar os resultados numéricos em função do efeito do grau de esconsidade sobre os valores máximos de momento fletor e esforço cortante com as recomendações da AASHTO (2007). Neste estudo foram consideradas as ações das cargas permanentes (utilizando como referência as recomendações da norma NBR-7187), cargas móveis concentradas e distribuídas (definiu-se a posição do carregamento de modo a provocar as solicitações mais desfavoráveis nas vigas, utilizando o conceito de trem-tipo da norma NBR-7188), e efeitos da temperatura. Em termos de condições de contorno foram consideradas duas situaçõess de deslocamentos horizontais livres: uma em que alguns pontos de apoio vertical estavam livre ou impedidos e outra em que todos os pontos estavam elasticamente restringidos. Apresentam-se a seguir breves descrições das estruturas e os respectivos modelos numéricos que serviram de base ao estudo paramétrico.

Ponte em Vigas Mistas O exemplo adotado é uma ponte rodoviária em tabuleiro com quatro vigas de perfil mistas (adotado perfil em aço do tipo I de alma cheia), ortogonal ao eixo, de seção transversal conforme Fig. 1(a) e com vão biapoiado de 40 m de comprimento, extraído de (BELLEI e PINHO, 2007) e TOLEDO (2011). O presente trabalho utilizou um modelo simplificado do tipo grelha (elementos de pórtico são melhores para a obtenção de esforços) conforme Fig. 1(b). A validação deste modelo foi obtida através de comparação com os resultados de um modelo numérico mais refinado apresentado em TOLEDO (2011). Figuras 1 (a) Seção transversal no meio do vão da ponte em vigas mista (adaptado de BELLEI e PINHO, 2007). Dimensões em mm. (b) Modelo utilizado no trabalho. Ponte em Seção Celular Escolheu-se como modelo estrutural um viaduto esconso existente, o qual possui seção transversal em viga mono-celular de concreto armado, conforme Fig. 2(a), vão biapoiado com 36,0 m e dois balanços de extremidade, totalizando 52,0 m de comprimento. Objetivando uma análise simplificada e direta dos esforços seccionais a estrutura foi representada por um modeloo unifilar aporticado 3D formado, por elementos de pórtico espacial. A Fig. 2(b) ilustra o modelo estrutural na qual a viga mono-celular se apoia nas travessas rígidas representadas por dois pórticos simulando as condições cinemáticas e de rigidez oferecida pela meso-estrutura. Este modelo já estava validado com os resultados de medições obtidos durante provas de carga (CONTROLLATO, 2012a). Ponte com Tabuleiro de Seção Π Trata-se de um viaduto existente com esconsidade α= 34 o. A ponte rodoviária de concreto armado tem seção transversal do tipo Π e superestrutura com três vãos contínuos desiguais, comprimento total de 66,0 m, tendo o vão central 26,6 m e os vãos da extremidade 19,7 m. Esta ponte tem seção transversal conforme Fig. 3(a). Transversinass intermediárias nos vãos e nos apoios, existentes na estrutura original são representadas nos modelos desenvolvidos. Objetivando uma análise simplificada da estrutura, adotou-se o modelo do tipo grelha com elementos de pórtico espacial, representando as longarinas e transversinas. Para melhor distribuição das cargas do tabuleiro nas vigas principais foram acrescentados travejamentos horizontais. As Figs. 3(b) e 3(c) ilustram os modelos adotados para a ponte com vãos contínuos e vãos biapoiados, respectivamente. A validação do modelo foi feita por meio da correlação entre os resultados obtidos nas provas de carga (CONTROLLATO, 2012b).

Figuras 2 (a) Seção Transversal no meio do vão da ponte em seção celular (adaptado de CONTROLLATO, 2010a). Dimensões em cm. (b) Modelo unifilar aporticado 3D da ponte em seção mono-celular. (a) (b) (c) Figuras 3 (a) Seção transversal no meio do vão da ponte (adaptado de CONTROLLATO 2010b). Dimensões em cm. Modelo de grelha da ponte com tabuleiro de seção transversal Π, (a) com três vãos contínuos e (c) com vão central biapoiado. Resultados e Análise Nesta seção são apresentados os critérios de análise e alguns resultados para cada um dos três casos. Foram analisados os efeitos das ações sobre os modelos numéricos gerados a partir das pontes descritas nos casos de estudo. Analisaram-se os valores máximos de momento fletor no meio do vão das vigas principais, esforço cortante e deslocamentos horizontais. Os resultados em termos de esforços solicitantes são em geral apresentadoss através de fatores definidos pela razão entre o valor do esforço no modelo da ponte esconsa (M α e V α ), onde α é o ângulo de esconsidade e o esforço no modelo da ponte ortogonal, i.e., sem esconsidade (M 0 e V 0 ): Fator de Momento = M α ; M Fator de Cortante = V α (2) 0 V 0 onde M se refere a momento fletor e V a esforço cortante. Os resultados em termos de deslocamentos horizontais nos apoios são apresentados com valores absolutos já que para as pontes ortogonais, estes deslocamentos são praticamente nulos. Além disso, os valores absolutos dos deslocamentos são importantes para se avaliar o dano potencial aos aparelhos de apoio.

Ponte em Vigas Mistas A partir da estrutura descrita nas Figs. 1 foram elaborados 39 modelos estruturais distintos, mantendo a seção transversal, porém variando parâmetros conforme Tabela 1. Além destes parâmetros, variações nos arranjos de transversinas (paralelas às linhas de apoio ou ortogonais ao eixo longitudinal da ponte) e nas condições de rigidez horizontal dos apoios foram consideradas em OLIVEIRA (2015); os resultados aqui apresentados referem-se à ponte mista com arranjo ortogonal das transversinas e apoios elásticos nas direções horizontais de acordo com a rigidez de aparelhos de apoio de neoprene fretado. A Fig. 4 mostra os pontos nos modelos de pontes em viga mista nos quais foram extraídos os resultados mostrados a seguir. A análise dos esforços foi feita para as vigas externas e internas da seção transversal, do lado carregado, visto que estas duas vigas são as mais solicitadas pelos carregamentos considerados. A Fig. 5 apresenta gráficos da variação do momento fletor devido à carga permanente no meio do vão das vigas externa e interna (pontos 1 e 2 da Fig. 4), em função do ângulo de esconsidade, paraa três comprimentos de vão: 20, 30 e 40m. Esta figura mostra que há redução dos esforços de momento fletor no meio do vão com o aumento do ângulo de esconsidade. Nota-se também que as vigas internas sofrem maior influência da esconsidade do que as vigas externas de uma mesma ponte. Comparando-se mais curtos sofrem maior influência da esconsidade. A Fig. 6 apresenta gráficos da variação do esforço cortante devido à carga permanente as respostas dos diferentes vãos vê-se que os vãos no apoio do canto obtuso (ponto 3 da Fig. 4), em função do grau de esconsidade, para três valores de comprimento de vão. Da mesma forma que para o momentoo fletor, esta figura mostra que os efeitos do ângulo de esconsidade no esforço cortante são mais intensos em pontes mais curtas: para o vão de 20m, o acréscimo no esforço cortante do canto obtuso foi de 70% em relação ao modelo ponte ortogonal. Figura 4 Posição dos resultados observados da ponte em vigas mistas. Tabela 1 Parâmetros do estudo com o exemplo de ponte em vigas mistas. Parâmetros Variação Ângulo de esconsidade α 0 o, 30º, 40º, 50º e 60º Comprimento do vão L 20m, 30m, 40m Carga Permanentee Distribuição espacial do Carga móvel concentrada sobre a viga externa (CCE) carregamento Carga móvel concentrada sobre a viga interna (CCI) Carga móvel distribuída em meia pista (Mult) Variação uniforme de temperatura

FATOR DE MOMENTO 1,00 0,90 0,80 0,70 0 30 40 50 60 20 m -ext 20 m -int 30 m -ext 30 m -int 40 m -ext 40 m -int Figura 5 Variação do fator de momento fletor no meio do vão das longarinas externa e interna devido à ação da carga permanente, em função do grau de esconsidade. FATOR DE F. CORTANTE 1,80 1,60 1,40 1,20 1,00 0 30 40 50 60 Figura 6 - Variação do fator de esforço cortante nos apoios da longarina externa devido à ação da carga permanente, em função do grau de esconsidade. A Fig. 7 apresenta a variação do fator de momento fletor obtida com os modelos numéricos em função do ângulo de esconsidade e os valores obtidos com a eq. (1) do fator de correção da AASHTO. Observa-se que o fator AASHTO segue a mesma tendência dos resultados numéricos, mas produz coeficientes de reduções menores do que os numéricos para a ponte de 40m. Para as pontes de 20m obteve-se uma correlação melhor (OLIVEIRA, 2015). Já para o fator de correção de esforço cortante, o estudo comparativo mostrou boa correlação para vão de 40m e conservadorismo da AASHTO para vão de 20m (OLIVEIRA, 2015). 20 m 30 m 40 m FATOR DE MOMENTO 1,00 0,90 0,80 0,70 0 30 40 50 60 AASHTO CCE + Mult (viga externa) CCI + Mult (viga interna) Figura 7 Variação do fator de momento fletor no meio do vão das vigas externa e interna obtida com os modelos numéricos e com o fator AASHTO, em função do grau de esconsidade.

A Fig. 8 apresenta gráficos da variação do deslocamento transversal no ponto de apoio vertical do canto obtuso (u y no ponto 3 da Fig. 4) com o aumento do ângulo de esconsidade para diferentes tipos de ação: variação de temperatura e carregamentos Perm, Mult e CCE (ver Tabela 1). Na ponte ortogonal (α=0 o ) os deslocamentos transversais devidos aos carregamentos são praticamente nulos enquanto que para a ação de variação de temperatura resultou valor próximo a 5mm. Este valor praticamente não sofre acréscimo para esconsidade até 30º e chega a 28mm para α igual a 60º. O deslocamento para ação de carga permanente é o que sofre maior acréscimo em função do aumento da esconsidade, mas esta influência dependerá da metodologia construtiva (o modelo numérico considera o carregamento aplicado inteiramente na ponte acabada). Os carregamentos móveis produzem deslocamentos de até 13mmm para a maior esconsidade considerada, apresentando uma variação praticamente linear. Dos gráficos da Fig. 8 se pode inferir que a combinação da ação de variação de temperatura e ação de cargas móveis pode causar nas pontes de grande esconsidade e vãos moderados deslocamentos transversais suficientemente grandes para causar danos aos aparelhos de apoio. DESLOCAMENTO (cm) 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10 0,00 0 30 40 50 60 Perm Mult CCE Temp Figura 8 Variação da componente transversal do deslocamento horizontal do apoio no canto obtuso (longarina externa) para diversas ações (ver Tabela 1). Ponte em Seção Celular A partir do projeto (CONTROLLATO, 2012a) de alargamento do tabuleiro e reforço estrutural da ponte com esconsidade de 35 mostrada nas Figs. 2 foram elaborados 14 modelos conforme parâmetros e sua faixa de variação indicados na Tabelaa 2. A Fig.9 mostra os pontos nos modelos de ponte em seção mono-celular nos quais foram extraídos os resultados: momento fletor no meio do vão, momento torsor na extremidade do vão apoiado e reações de apoio. Figura 9 Posição dos resultados observados da ponte em seção celular.

Tabela 2 Parâmetros do estudo com o exemplo de ponte em seção celular. Parâmetros Variação Ângulo de esconsidade α 0 o, 10º, 20º, 30º, 40º, 50º e 60º Carga Permanente (Perm) Distribuição espacial do Carga móvel concentrada (CC) carregamento Carga móvel distribuída em meia pista (Mult) Variação uniforme de temperatura Para a ponte em seção celular destacam-se os resultados obtidos em termos de acréscimo da reação vertical no apoio do canto obtuso (ponto 2 da Fig. 9) com o aumento do grau de esconsidade como mostrado na Fig. 10 para três tipos de distribuição espacial de carregamento. Esta figura mostra que a carga concentrada excêntrica produz um acréscimo da reação de apoio vertical muito maior do que os outros tipos de carga. Este comportamento se deve, sem dúvida, à presença do momento torsor que é progressivamentee mobilizado com o aumento da esconsidade. FATOR DE REAÇÃO VERTICAL 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 0 10 20 30 40 50 60 Perm Mult CC Figura 10 Variação do fator de reação de apoio vertical no canto obtuso para diversas ações (ver Tabela 3). Ponte com Tabuleiro de Seção Π A partir dos desenhos de projeto (CONTROLLATO, 2012b) de alargamento do tabuleiro e reforço estrutural da ponte, foram criados outros 14 modelos da estrutura com vãos contínuos para diversas esconsidades. Foram analisados também 5 modelos considerando o vão central do modelo contínuo bi-apoiado e mesma seção transversal (ver as Figs. 11). Ainda considerando o vão biapoiado, foram elaborados outros 9 modelos alterando o espaçamento entre as longarinas e comprimento dos vãos. Os objetivos destas duas últimas análises foram observar os efeitos devido a esconsidade, ao tipo de apoio, comprimentoo do vão e relação largura/comprimento, nos momentos fletores meio do vão, reações e deslocamentos laterais sobre os apoios das longarinas (OLIVEIRA, 2015). Os parâmetros utilizados neste casoexemplo estão apresentados na Tabela 3.

Figuras 11 Posições dos resultados observados da ponte com três vãos contínuos (a) e da ponte de vão único biapoiado (b). Tabela 3 Parâmetros do estudo do caso-exemplo de ponte com seção Π. Parâmetros Variação Ângulo de esconsidade α 0 o, 10º, 20º, 30º, 40º, 50º e 60º Vãos contínuos: 19,7m; 26,6m; 19,7m; Comprimento do vão L Vão biapoiado: 26,6m; Para este exemplo destaca-se o resultado comparativo das respostas das pontes contínua e biapoiada mostrados na Fig. 12 em termos do momento fletor no ponto 1 das Figs. 11. Verifica-se que a esconsidade afetou apenas a resposta da viga biapoiada. FATOR DE MOMENTO 1,00 0,90 0,80 0,70 0 30 40 50 60 Biapoiado 3 vãos contínuos Figura 12 Variação do fator de momento fletor no ponto 1 das Figs. 11. Conclusões Esta seção resume os aspectos relevantes do comportamento estático de duas pontes esconsas de vão único (múltiplas vigas mistas e seção monocelular de concreto armado) e uma de vãos múltiplos (seção Π de concreto armado). As principais conclusões relacionadas aos efeitos da esconsidade observados nos resultados dos modelos biapioados foram a redução de momentos fletores no meio do vão e o acréscimo de esforços cortantes nos apoios do canto obtuso, em relação aos correspondentes valores máximos encontrados na ponte sem esconsidade, além do movimento de rotação da ponte no plano do tabuleiro em torno de um eixo perpendicular a estee plano produzindo deslocamentos horizontais dos pontos de apoio na direção transversal ao eixo da ponte. Sob a combinação da ação de variação de temperatura e ação de cargas móveis as pontes de grande esconsidade e vãos moderados podem apresentar deslocamentos transversais suficientemente grandes para causar danos aos aparelhos de apoio.

A análise dos efeitos do comprimento do vão mostrou que as pontes esconsas com múltiplas vigas mistas mais curtas sofrem maior influência da esconsidade, i.e., quanto maior a relação largura/vão maior é o efeito do ângulo de esconsidade na redução do momento fletor e no aumento das reações no apoio do canto obtuso. Com base nos resultados obtidos da análise do modelo numérico de pontes esconsas com múltiplas vigas mistas, pode-se concluir que os fatores de correçãoo estimados com as expressões analíticas da AASHTO, a serem aplicados a esforços calculados com a ponte sem esconsidade, conduzem a projetos por vezes conservadores e por vezes, não conservadores, implicando em dimensionamento estrutural contra a segurança. Deve-see enfatizar que este tipo de estrutura pode ser melhor projetada com auxílio de modelagem numérica tridimensional em elementos finitos da estrutura. Para a ponte de seção celular destaca-se a grande influência da esconsidade na resposta da estrutura em função da presença do momento torsor que é progressivamente mobilizado com o aumento do ângulo de esconsidade. No modelo de ponte com tabuleiro de seção Π e três vãos contínuos, o ângulo de esconsidade teve pouca influência nos resultados dos esforços de momentoo fletor no meio do vão. Contudo, no modelo de mesma seção transversal com vão único biapoiado, a influência da esconsidade foi mais significativa, semelhante ao que ocorreu nos outros modelos biapoiados. Referências AASHTO LRFD Bridge Design Specifications, 4th Edition, 2007 ABNT NBR 7188 Carga Móvel em Ponte Rodoviária e Passarela de Pedestre, 1982 ABNT NBR 7187 Carga Móvel em Ponte Rodoviária e Passarela de Pedestre, 2003 ABNT NBR8800 Projeto de Estruturas de Aço e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto de Edifícios, ABNT, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2008. BELLEI, I.H., PINHO, F.O., Pontes e Viadutos em Vigas Mistas Série Manual de Construção em Aço, Vol. 6, IBS/CBCA, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Editora Interciência, 2007. CONTROLLATO - Projeto de alargamento de tabuleiro e reforço de estrutura para classe 45 - "Relatório técnico OAE Nº16_CL650A-RT10", 2012a. CONTROLLATO - Projeto de alargamento de tabuleiro e reforço de estrutura para classe 45 - "Relatório técnico OAE nº19 CL650A-RT05", 2012b. LEONHARDT, F.; Princípios Básicos da Construção de Pontes de Concreto, CONSTRUÇÕES DE CONCRETO Vol. 6, Ed. Interciência, Rio de Janeiro, 1979 (original em Alemão, edição Springer Verlag, 1979). OLIVEIRA, M.J.S., Comportamento Estrutural de Pontes Esconsas. Dissertação de mestrado COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2015. TOLEDO, R. L. S., Avaliação de Vida Útil à Fadiga em Ponte Mista Aço-Concreto Considerando o Espectro de Veículos Reais. Projeto de Graduação ao Curso de Engenhariaa civil, UFRJ/Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2011.