ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO PARECER Nº 14.422



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Transcrição:

PARECER Nº 14.422 Servidor do IPERGS. Anistia. Efeitos pecuniários. Readmissão levada a efeito. Pedido de enquadramento em cargo pertencente ao Poder Judiciário. Requerimento de aposentadoria. Paulo Alberto Canani requereu ao Governador do Estado reintegração ao serviço público, pois que sua exoneração havia decorrido de perseguição política durante o período de regime militar. Narrou que era efetivo no cargo de Auxiliar Administrativo padrão 7-0 do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul IPERGS, mas que à época das perseguições estava cedido ao Tribunal de Justiça do Estado TJRS, exercendo as funções de Oficial Judiciário às quais encontrava-se plenamente adaptado, tendo requerido, em maio de 1968, a diferença remuneratória relativa aos cargos mencionados, bem como seu enquadramento naquela

Corte, o que, segundo informa, teria sido deferido e encaminhado ao Pleno para fim de assento regimental. Relatou que, iniciada a perseguição política, foi convocado a se apresentar no IPERGS, tendo sido aconselhado por Diretor da autarquia a requerer licença para tratamento de interesse particular uma vez que não estando incluído no rol de despesas poderia cair em esquecimento com maior facilidade. Após sua soltura, foi chamado ao IPERGS para regularizar sua situação funcional tendo assinado documentos cujo conteúdo não analisou devido às circunstâncias, vindo a constatar, posteriormente, sua exoneração do cargo. Aduziu, ainda, que em 1999 foi indenizado por danos físicos em virtude de prisão por motivo político e requereu fosse restabelecido o status quo ante, com a conseqüente invalidação dos atos de concessão de licença para tratamento de interesse particular e exoneração, e sua reintegração ao serviço público na condição em que se encontrava no início das perseguições políticas. A Casa Civil, após analisar as informações prestadas pela Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos SARH, indeferiu o pedido. Inconformado, o requerente apresentou recurso administrativo, tendo sido remetidos os expedientes à Procuradoria-Geral do Estado PGE, para análise da aplicabilidade do disposto na Lei Federal nº 10.559/02 aos servidores anistiados vinculados ao serviço público estadual. Paralelamente à tramitação da consulta nesta Casa, o interessado protocolou nova petição no TJRS, buscando fosse encaminhada, 2

por aquela Corte, cópia do processo administrativo que se encontrava sob consulta, à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, face ao vencimento do prazo previsto na legislação federal (L. 10.559/02). Solicitou, ainda, que por ocasião da remessa dos documentos, o TJRS respondesse os questionamentos formulados no quesito 4 da petição inicial, reiterados no recurso, eis que o processo administrativo em análise não havia contado com a manifestação do Judiciário estadual para esclarecer informações acerca da existência de assentamentos funcionais do interessado e da situação do cargo/função de Oficial Judiciário. Daí resultou certidão emitida pela diretora do Departamento de Recursos Humanos do TJRS, da qual constou: a) inexistência de registro do conteúdo do Memorando nº 2/69 que trataria de seu retorno ao órgão de origem; b) nada consta nos assentamentos do servidor sobre o cancelamento da Portaria nº 855 IPERGS que colocara o interessado à disposição do TJRS; e c) não há registro do Processo nº 308/68 referente ao pagamento de diferenças de vencimentos entre o cargo de origem e o de Oficial Judiciário. Em resposta à consulta da Casa Civil foi aprovado o Parecer nº 13.794/03, do Procurador do Estado Jose Luis Bolzan de Morais, do qual se extrai: No caso em análise, a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, em consonância com a norma federal, previu o regime de anistia política a ser aplicado nos limites de suas competências, bem como estabeleceu os critérios e limites para a reparação dos mesmos. Tal significa que as implicações provenientes de atos praticados sob o manto do regime autoritário que projetem suas 3

conseqüências em atividades próprias do ente federado devem ser tratadas sob o manto desta legislação, como de fato o foram no que diz com o requerente, posto que o mesmo recebeu, por parte do Tesouro do Estado, indenização fixada, como o próprio noticia. Por outro lado, no tocante aos eventuais reflexos funcionais deduzíveis das circunstâncias excepcionais em face da situação específica do requerente, que não são objeto de consulta, ficam estes sob o regime de competência local, uma vez que neste caso as repercussões financeiras dirigir-se-iam aos cofres públicos estaduais, sendo objeto de trato exclusivo por parte do ente estadual. Todavia, no que respeita com os estritos termos das previsões contidas na Lei Federal 10559/02, em particular nos benefícios que a mesma estabelece para o trato do regime de anistia política previsto em sede constitucional federal, tem-se que, se a pretensão do requerente dirige-se apenas a tais aspectos, muito embora tenha ele sido indenizado em face da legislação local, nada obsta que o mesmo pleiteie em sede da União Federal aquilo que entender como pertencente ao seu universo de pretensões decorrentes dos fatos alegados, o que deverá ser objeto de análise por parte dos organismos federais envolvidos, devendo o Estado do Rio Grande do Sul prestar as informações que lhe competirem, em particular no que diz com os valores pagos a título de indenização para evitar-se a duplicidade de benefícios. Assim sendo, em resposta à questão suscitada a fls. 08, opino no sentido de que o texto da Lei 10559/02, em seus aspectos materiais e procedimentais, se dirige aos órgãos e serviços próprios da administração federal, mesmo no caso do seu art. 11, antes transcrito, não se aplicando aos estados membros da Federação, devendo, então, o interessado pleitear junto ao Ministério da Justiça, através de expediente próprio, o que entender de direito como direito de petição, incumbindo à administração estadual apenas a disponibilização dos documentos necessários para cópia à fundamentação dos pleitos do requerente, bem como a prestação das informações referentes aos benefícios já concedidos ao mesmo com base na legislação local. Ciente, o interessado solicitou à Casa Civil que apreciasse o pedido de reintegração ao cargo que ocupava antes da perseguição política, pois tal não fora abrangido pela consulta formulada à PGE, o que restou atendido com o reencaminhamento do processo para nova análise jurídica. 4

Tal consulta originou o Parecer nº 13.951/04, também de lavra do Dr. Jose Luis Bolzan de Morais, aprovado pelo Governador do Estado e do qual destaco: De outra banda, no que diz com a repercussão financeira do reconhecimento do pleito, tal já restou, também, devidamente aclarado por esta Procuradoria-Geral do Estado quando, no Parecer 9015/91, definiu que esta somente produz efeitos a partir da data de protocolo do pedido de readmissão no serviço público fundado na garantia constitucional estadual. Ora, poder-se-ia objetar que o requerimento do autor não explicita tal pedido fundamentado no texto constitucional estadual (art. 8º do ADCT), sendo apenas alicerçado no art. 16 da Lei 10559/02. Todavia, tal formalidade não pode impedir a realização da Constituição, posto que o sentido da norma constitucional é o de reconhecer àqueles que sofreram as agruras do regime ditatorial possam, agora, ter reinstaurado o status que ocupavam à época. Ainda, no caso concreto, é necessário que se verifique a real situação funcional titulada pelo servidor para que o mesmo seja readmitido no cargo efetivo que ocupava naquele momento, o da exoneração. Portanto, entendo deva ser reconhecido o pedido do servidor, cuja repercussão financeira somente ocorrerá a contar da data de protocolo do pedido de readmissão, sendo que este deverá ser efetivado no cargo titulado à época da exoneração praticada sob a constrição do manto da ditadura. Em 3-set-2004, em vista da Portaria nº 098 (de 20-ago-1998, publicada no D.O.E. em 1-set-2004), que o readmitiu no cargo de Auxiliar Previdenciário, padrão III, grau A do Quadro de Pessoal do IPERGS, ex- Auxiliar de Administração, padrão 7-0, requereu ao IPERGS aposentadoria, solicitando, ainda, as promoções a que teria direito. 5

O processamento da aposentadoria foi suspenso em virtude de requerimento do próprio interessado, datado de 4-out-2004, sob o argumento de que, em todo o trâmite administrativo, não fora observado o pedido de nº 4, formulado na primeira petição remetida à Casa Civil e que dizia respeito ao cargo cujas funções exercia junto ao TJRS no período em que iniciaram as perseguições políticas. Em 24-out-2004 a Casa Civil encaminhou o processo à PGE para manifestação sobre a ordem de readmissão do IPERGS, não observada pelo interessado, que teria se negado a entrar em exercício; o pedido de aposentadoria formulado, bem como o pleito de suspensão do pedido de aposentadoria; e, por fim, para apreciação do pedido de n. 4 da primeira petição do interessado. Em 3-nov- 2004 o processo foi remetido ao TJRS para que fossem prestadas informações e juntados os documentos que interessassem ao caso em tela, tendo o expediente retornado com manifestação da Diretoria de Departamento do TJRS informando as alterações legais que sofrera o cargo de Oficial Judiciário, hoje Oficial Superior Judiciário, bem como as atribuições legais referentes a ele. Tendo em vista a ausência de completa observância do solicitado no item 4 da petição inicial do interessado (fl. 10), o expediente foi novamente remetido ao TJRS para complementação das informações. Paralelamente, em 30-dez-2004, foi aberto novo expediente no IPERGS, no qual a Divisão de Recursos Humanos solicitou a manifestação da Assessoria Jurídica da autarquia quanto ao cabimento de sindicância 6

administrativa para apuração de abandono de cargo quando completados 30 dias sem que o interessado retornasse às suas atividades. Restou determinado que o interessado fosse notificado, via AR, sobre possível aplicação de pena por abandono de cargo face à determinação de reintegração fundamentada em Parecer da PGE. Em resposta à correspondência, o interessado protocolou petição informando que o processo administrativo não se encontrava terminado, sendo de conhecimento do IPERGS que questões relevantes à solução do caso haviam sido atendidas. Em função disso o processo estava pendente de manifestação para perfectibilizar sua reintegração. Ao final, solicitou que não fosse iniciada a sindicância por abandono de cargo, pois a tramitação do feito já estava bastante conturbada. O IPERGS, entretanto, encaminhou o expediente à PGE para manifestação acerca do cabimento de abertura de sindicância por abandono de cargo, uma vez que o servidor não entrara em exercício por discordar dos termos da Portaria que o readmitiu. Em abril de 2005, o interessado protocolou duas novas petições nesta PGE, apresentando irresignação à decisão do TJRS que negou seu pedido de enquadramento, contestando as alegações do expediente que tratava da sindicância por abandono de cargo e requerendo fosse-lhe concedido o cargo, já por aposentadoria, apresentando Certidão com tempo anterior. Os 11 (onze) expedientes que compõem o processado tiveram outras tantas manifestações e tramitações, culminando com o pedido 7

formulado pelo interessado ao Chefe da Casa Civil para que fosse atribuído caráter de urgência à consulta e, após o atendimento, a remessa imediata do processo pela PGE, para atendimento de solicitação da Comissão de Anistia DF, petição encaminhada pelo OF. CCC nº 2848/05, juntado aos expedientes em 18-out-2005. Observa-se a formulação de duas consultas, distintas e simultâneas: a primeira formulada pela Casa Civil versando sobre (a) a Portaria nº 98 do IPERGS e sua não-observância pelo interessado; (b) o pedido de aposentadoria formulado pelo interessado, bem como o pedido de suspensão; e (c) o pedido de nº 4 da primeira petição do interessado: retorno ao cargo do TJRS cujas funções exercia quando iniciada a perseguição política. Já a segunda é formulada pelo IPERGS, que solicita manifestação acerca do cabimento de abertura de sindicância por abandono de cargo, uma vez que o servidor não entrara em exercício por discordar dos termos da Portaria que o readmitiu e por entender que o processo não havia terminado. É o relatório. Pleiteia o servidor seu retorno ao cargo do TJRS cujas funções exercia, por cedência àquele Poder, quando iniciada a perseguição política. Esse ponto restou analisado pelo Tribunal de Justiça do Estado que concluiu pelo indeferimento do pedido de 8

reintegração/enquadramento do interessado no cargo hoje correspondente a Assessor Judiciário R conforme manifestação de fl. 352-63: (...) A cedência do ora requerente ao Tribunal de Justiça, por óbvio, estava submetida às normas legais sobreditas. Assim, considerando a data da portaria que pôs o servidor à disposição (12/10/67), sem que se tenha, ainda, notícia de alguma renovação, já em outubro de 1968 ao completar um ano da cedência, por força da legislação citada, deveria o servidor ter retornado ao órgão de origem. Não ocorrendo o retorno imediato, colou-se o servidor em desvio de função. (...) De forma que, sob o ângulo da legalidade, não tem razão o requerente ao afirmar que a sua cedência estava em vigor à época da exoneração, ocorrida em 30/05/72. Diga-se, aliás, que já ao tempo do seu retorno ao IPERGS (15/01/69) a cedência não subsistia, com o que perde sentido a pretensão de reingresso no Poder Judiciário com fulcro naquela investidura. Acertada a decisão, pois o retorno do interessado à origem (em 1969) não caracteriza perseguição política, uma vez que na situação de cedido seu retorno seria inevitável, fosse pelo término do prazo da cedência, fosse por requisição da autarquia (como de fato ocorreu). Assim, não poderia ter adquirido o direito de permanência no cargo almejado pertencente ao Poder Judiciário. Em decorrência da concessão da anistia e posterior readmissão ao serviço público, ficam invalidados os atos de concessão de licença para tratamento de interesses e de exoneração, praticados sob o manto da ditadura. 9

Os efeitos da readmissão relativamente ao tempo de serviço, vantagens temporais e pagamento de atrasados ficaram delimitados no já parcialmente transcrito Parecer nº 13.951/04, tendo o interessado direito à posição funcional que detinha no momento da exoneração (com as alterações ocorridas), que, de acordo com a documentação juntada ao processo, corresponde à readmissão ao Quadro do IPERGS no cargo de Auxiliar Previdenciário, Padrão III, com o grau correspondente ao tempo de serviço que teria se em atividade durante o período, consideradas somente as promoções por antigüidade. O mesmo tempo deverá ser computado para os avanços temporais. Os efeitos pecuniários decorrentes têm como marco inicial o dia 10 de setembro de 2002, data do recebimento do pedido no Gabinete do Governador (fl. 3), portanto, a partir de tal data faz jus o servidor aos vencimentos do seu cargo, incidentes as contribuições obrigatórias. Uma vez readmitido, deveria o servidor retornar ao trabalho, mas não o fez, seja por acreditar ter direito ao enquadramento no cargo de Assessor Judiciário R pertencente ao Poder Judiciário Estadual, seja por pretender aposentadoria no cargo de Auxiliar Previdenciário. Em qualquer hipótese, não vislumbro intenção de abandonar o cargo, até porque todo o processado gira em torno da almejada volta ao serviço público, mas não deverá haver pagamento do período não trabalhado, ou seja, faz jus o interessado aos vencimentos a contar de 10-set-2002 até a publicação da Portaria nº 098 (1º-set-04) quando deveria ter retornado ao trabalho. Como não se apresentou, vindo a requerer aposentadoria dias após 10

e suspender o processamento do pedido em 4-out-2004, o período não trabalhado não pode ser remunerado. Deve o servidor apresentar-se ao trabalho e requerer o prosseguimento da análise do seu requerimento de aposentadoria e se, após trinta dias não houver resposta da Administração, poderá afastar-se do serviço em gozo de licença especial para fins de aposentadoria na forma do art. 157 da LC nº 10.098/94. Em atendimento ao Of. CCC 2848/05, o processado deverá retornar à Casa Civil, razão pela qual entendo deva ser desanexado o expediente nº 59869-24.42/04-1 (consulta formulada pela SARH) para retorno à Secretaria consulente com cópia deste Parecer. Esclareço, por fim, que eventuais dúvidas de caráter pessoal ou administrativo do servidor anistiado deverão ser elucidadas junto aos departamentos competentes da Pasta da Administração, atendo-se esta Procuradoria-Geral do Estado ao cumprimento de sua competência constitucional, o que plenamente atendido, sendo este o terceiro parecer exarado no processo administrativo. É o parecer. Porto Alegre, 31 de outubro de 2005. KARLA LUIZ SCHIRMER, 11

PROCURADORA DO ESTADO. Processos 5704-08.01/02-4; 3316-24.00/02-7; 41180-10.00/02-6; 9289-10.00/04-8; 34811-24.42/04-1; 46201-24.42/04-1; 59869-24.42/04-1; 5596-24.42/05-1; 20920-10.00/05-5; 20921-10.00/05-8; e 59393-19.00/00-1 12

Processo nº 005704-08.01/02-4 e anexos Acolho as conclusões do PARECER nº 14.422, da Procuradoria de Pessoal, de autoria da Procuradora do Estado Doutora KARLA LUIZ SCHIRMER. Desapense-se o expediente administrativo nº 059869-24.42/04-1, encaminhando-se à Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos, com cópia do parecer, para as providências cabíveis. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Chefe da Casa Civil. Em 26 de dezembro de 2005. Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.