ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções) ( ) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( X ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( ) SAÚDE ( ) TRABALHO ( ) TECNOLOGIA INDISSOCIABILIDADE ENTRE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO NO PROJETO ADOLESCENTES DE ESCOLA PÚBLICA E ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI: UMA RELAÇÃO POR MEIO DA ESCRITA FUCHS, Andrinelly Stacheski 1 GÜTHS, Taís Regina 2 CORREA, Djane Antonucci 3 FRAGA, Letícia 4 LEAL, Sandra do Rocio Ferreira 5 RESUMO Este trabalho apresenta reflexões trazidas de um projeto de extensão que discutiu a temática da escrita em 2010 e visa a relatar de que maneira se configurou neste a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. O projeto cujo título é Adolescentes de escola pública e adolescentes em conflito com a lei: uma relação por meio da escrita foi desenvolvido no Laboratório de Estudos de Texto (LET) e financiado pela Secretaria de Estado da Ciência Tecnologia e Ensino Superior (SETI) pelo programa Universidade Sem Fronteiras (USF). Esse projeto teve como objetivo propiciar a interação entre os participantes acadêmicos do curso de Letras, adolescentes de uma escola do município de Ponta Grossa e adolescentes em conflito com a lei, por meio de relatos escritos pelos participantes que resultaram em dois livros em fase de editoração. Todo o trabalho desenvolvido teve como eixo norteador a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. O ensino esteve presente, pois foram realizados encontros com os alunos, nos quais havia a troca de conhecimentos, ou seja, a construção do saber se dava tanto por parte dos acadêmicos envolvidos quanto dos participantes. A pesquisa também foi um elemento importante para entender melhor a realidade em que o projeto estava inserido e serviu de base para o desenvolvimento de trabalhos que buscaram refletir sobre assuntos relacionados ao projeto de extensão. PALAVRAS CHAVE Escrita; Interação; Sociedade. 1 Graduanda em Letras Português/Inglês,(USF - SETI), andrinellysfuchs@hotmail.com. 2 Graduanda em Letras Português/Inglês bolsista PROEX, tais_guths@hotmail.com. 3 Doutorado em Letras. Professora pesquisadora e extensionista da UEPG. djanecorrea@uol.com.br. 4 Doutorado em Linguística. Professora pesquisadora e extensionista da UEPG (USF - SETI), leticiafraga@gmail.com. 5 Mestrado em Educação. Professora pesquisadora e extensionista da UEPG. sandra_rfl@yahoo.com.br.
Introdução Com este trabalho pretende-se apresentar os resultados obtidos com o projeto de extensão Adolescentes de escola pública e adolescentes em conflito com a lei: uma relação por meio da escrita, mostrando de que forma se articulou o ensino, a pesquisa e a extensão durante a execução dos trabalhos e de que forma isso contribuiu para um melhor entendimento sobre questões relacionadas ao ensino. Sendo assim, para que os objetivos fossem atingidos de forma satisfatória, a equipe de acadêmicos envolvida com o projeto buscou aprimorar seus conhecimentos sobre o que vem a ser a extensão universitária e sobre qual a sua importância para a formação acadêmica. Nesse sentido, amparado em autores como Nogueira (2005), entende-se extensão como uma maneira de refletir sobre as práticas sociais e de contribuir para o aprimoramento do saber, tanto acadêmico quanto da sociedade nela envolvida, uma vez que a universidade retorna o conhecimento produzido por ela e também o avalia, pois a extensão dá ao estudante universitário a possibilidade de interagir em situações reais, não sendo o conhecimento originado apenas nos livros. Ainda de acordo com Nogueira (2005), A extensão é um processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a sociedade. (NOGUEIRA, 2005, p.119). Dessa forma, A extensão, ao ser compreendida como uma experiência vivenciada na realidade social e não como mera prestação de serviços, é também uma atividade de ensino, já que envolve estudantes e tem um caráter educativo junto à população com a qual o trabalho está sendo desenvolvido. Envolve também a produção de conhecimento, que é uma etapa deste processo, na qual se procura compreender a realidade com a qual se está lidando. (FORPROEX, 2006, p.66). Então, tendo em vista que a extensão é o meio pelo qual a universidade como instituição pública cumpre seu papel social, dando retorno à sociedade, principalmente às classes menos favorecidas, o projeto Adolescentes de escola pública e adolescentes em conflito com a lei: uma relação por meio da escrita trabalhou durante o ano de 2010 com adolescentes em regime fechado e com alunos de 6ª e 8ª série de uma escola de periferia. Desse modo, com o trabalho norteado pelo tripé universitário, várias reflexões surgiram da relação entre ensino e pesquisa, entre elas destacam-se a discussão sobre como se trabalhar com a escrita e com os gêneros textuais em sala de aula, sendo que, a partir destas, desenvolveram-se dois projetos de pesquisa. Objetivos O objetivo do projeto de extensão consistiu em trabalhar a escrita com os participantes, a fim de propiciar um momento de interação por meio dos relatos escritos produzidos por eles, já que desses relatos resultaram dois livros (em fase de editoração) que contêm textos produzidos por alunos de 6ª e 8ª série de uma escola pública e textos de alunos em conflito com a lei. Para que a escrita dos textos fosse realizada na escola, buscou-se também trabalhar com a leitura, a fim de que houvesse embasamento sobre os temas a serem escritos. Nesse ponto, diferencia-se o trabalho realizado na escola do realizado com os alunos em conflito com a lei, pois com estes o trabalho era realizado de forma individualizada, justamente porque as dificuldades de leitura e escrita eram mais acentuadas. Nesse sentido, buscou-se trabalhar com a escrita e leitura com o intuito de contribuir para a ampliação do letramento e das possibilidades de leitura dos participantes. Além disso, buscou-se delinear subsídios para que os professores em formação envolvidos com o projeto refletissem sobre como atuar diante das situações encontradas durante o projeto. Isso ocorreu por meio de grupo de estudos sobre temas como identidade (HALL, 2006), letramento (BATISTA, 2007); (BORTONI, 2005); (KLEIMAN, 2005), bem como a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (FORPROEX, 2006); (NOGUEIRA, 2005); (SEVERINO, 2004). Este tema, norteador do trabalho, teve grande relevância, uma vez que, envolvidos em um projeto de extensão, todos precisam ter claro o real papel da extensão, para
entender como o projeto pode ser realizado considerando as relações entre o tripé universitário e não como um modo de levar conhecimento à comunidade, desconsiderando o saber produzido por ela. Metodologia Para o desenvolvimento do projeto, foram realizadas reuniões semanais antes e durante as atividades na escola e na unidade de socioeducação. Assim, os participantes puderam se preparar por meio de leituras e discussões de temas que serviram de base para o trabalho. O andamento do trabalho na escola e na unidade se deu de forma diferenciada, considerando as especificidades de cada local. Antes de explicitar de que maneira o trabalho foi conduzido, é necessário refletir sobre essas diferenças que, talvez para quem os desconhece, possam parecer grandes. Nesse ponto, também se enfatiza a visão tida pelos acadêmicos antes e depois do trabalho. Quando se pensa em realizar um trabalho na escola, as expectativas limitam-se à aceitação do grupo e ao andamento das atividades, visto todos já terem um contato com esse ambiente. Porém, em se tratando de um trabalho em uma unidade de socioeducação com adolescentes em conflito com a lei, surgem vários questionamentos. A esses questionamentos soma-se o entendimento equivocado por parte de pessoas não envolvidas no projeto, os quais, muitas vezes, acreditam que o projeto teve como intuito discutir criminalidade, buscando transformar a vida dos adolescentes. Nesse sentido, o trabalho com os dois grupos apresentou dificuldades diferentes, porém relacionadas, como adequação de material, já que a faixa etária era diferenciada, mas não com relação à interação entre acadêmicos e alunos. Esse é um fato que chama a atenção, pois quando os acadêmicos pensavam em adolescentes em conflito com a lei tinham uma visão que não corresponde à realidade, pensando que talvez estes não colaborariam com as atividades. Porém é importante chamar atenção para o fato de que eles sempre tiveram respeito em relação aos acadêmicos e professoras, demonstrando que estavam agradecidos pela execução do projeto e pela oportunidade de escrita do livro. Sobre o desenvolvimento do projeto na escola de bairro, salienta-se que este foi realizado com alunos de 6ª série e de 8ª série. Para tal, foram realizados dois encontros semanais com cada grupo, a fim de ler textos de diversos gêneros e os discutir, para que, então, os alunos se sentissem preparados para escreverem sobre diversos temas. No início do projeto, percebeu-se que os alunos apresentavam a visão de que a escrita é apenas centrada na ortografia, na maneira correta de se escrever, sendo essa a maior preocupação deles nos primeiros encontros. No entanto, as discussões realizadas pelo grupo de estudo que subsidiou o projeto mostraram que no ensino da escrita outros fatores devem ser considerados, assim como afirmam as Diretrizes Curriculares Estaduais (PR 2009), ao dizer que o processo de ensino-aprendizagem na disciplina de língua deve buscar desenvolver o uso da língua escrita em situações discursivas por meio de práticas sociais que considerem os interlocutores, seus objetivos, o assunto tratado, além do contexto de produção (2009; p. 54). Dessa forma, no trabalho com eles, buscou-se desenvolver essa visão de escrita, sempre lembrando os alunos de que os textos precisavam ter coerência e ser claros, para que seus interlocutores pudessem entender o que eles quiseram escrever. Também se buscou partir das preferências dos alunos, e, desse modo, o trabalho se iniciou com a escrita de textos mais ficcionais, por se perceber que gostavam dessa temática. No decorrer do projeto outros temas foram abordados, passando a temas mais locais, com as lendas do Paraná. Com isso, conseguiram-se bons resultados, pois os alunos, ao serem convidados a escrever sobre esses temas, fizeram pesquisas e buscaram informações com parentes e vizinhos, sendo uma forma de planejarem o seu próprio texto. Esses são apenas alguns exemplos das temáticas trabalhadas, já que também foram abordadas questões como futuro, variação linguística, adequação, bullying, entre outros. Para o andamento do trabalho, selecionavam-se textos que subsidiaram as discussões com os alunos, isso por se considerar necessário o embasamento antes da escrita. Porém, as discussões não ficavam restritas aos textos levados, pois os alunos contribuíam com as suas visões, trazendo sempre a discussão para a realidade vivida por eles. Desse modo, o conhecimento não era apenas transmitido pelos acadêmicos, mas era construído em conjunto. Por outro lado, na unidade de socioeducação, o trabalho se deu com dois grupos de alunos, sendo realizadas duas reuniões semanais com cada grupo.
Como diferença entre o trabalho na escola e na unidade, tem-se o atendimento individualizado, já que estes apresentavam diferenças em termos de letramento, considerando que alguns não tinham concluído o Ensino Fundamental e outros estavam concluindo o Ensino Médio. Desse modo, não foram levados textos para discussão. Outro ponto a ser considerado era a vontade de escrever expressa por eles, fato esse que se devia à privação de material. No início do projeto, os adolescentes não tinham um caderno a sua disposição, e, por isso, durante o desenvolvimento do projeto, escreveram bastante e também ilustraram seus textos. Há também diferença entre as temáticas, pois estes escreviam mais textos de cunho autobiográfico. Com eles também se buscou partir da realidade, já que, ao perceber a preferência por algumas músicas, foram levados o áudio e as letras, fato esse que os incentivou a escreverem novas letras de música, as quais até eram cantadas por eles. Outro trabalho realizado foi com filmes, considerando que os alunos tinham acesso restrito a eles. Essa foi uma atividade que despertou a atenção deles. Resultados Os resultados obtidos estão primeiramente ligados às produções realizadas pelos alunos, as quais tratam de temas que se relacionam com as suas realidades. Sendo assim, os textos trazem um retrato do modo como os participantes veem várias questões que os cercam, dando para o público leitor uma ideia mais clara de um contexto com o qual talvez não venham a ter contato. Além disso, pode-se considerar o conhecimento gerado a partir das reuniões com os alunos, pois, conforme já mencionado, não era um momento de transmissão de conhecimento, mas sim um momento de interação em que todos tinham voz para opinar sobre diversos temas, mostrando aos professores em formação que o conhecimento não é apenas originado nos livros. Como resultado também se podem citar as reflexões obtidas com o grupo de discussão formado pelos acadêmicos e professores envolvidos, pois, por meio dele, pode-se ter uma visão mais clara e coerente sobre o que seja extensão, sobre como trabalhar considerando o tripé universitário e sobre temas como letramento, identidade e ensino. Pensando em todo o processo de trabalho com os alunos na escola, percebe-se que estes passaram a se preocupar com o leitor, pois sempre se perguntavam se este conseguiria entender as suas ideias. Assim, percebeu-se que eles deixaram de se preocupar apenas com a ortografia e passaram a dar suas opiniões, sendo cada vez mais críticos. Isso pôde ser comprovado por meio do relato de um aluno que no final do projeto afirmou que nunca imaginou ser capaz de escrever tais textos. Com relação aos adolescentes em conflito com a lei, também se chegou a bons resultados, tanto com relação ao trabalho relacionado à ampliação do letramento, devido ao atendimento individualizado, quanto com relação aos próprios textos, pois estes revelam suas realidades, mostrando talvez questões que, quando se pensa em adolescentes em conflito com a lei, sejam difíceis de pensar sem tem contato com eles. Conclusões A partir das reflexões sobre o que seja extensão e sobre a maneira que ocorre a indissociablidade, a conclusão deste trabalho se situa em explicar de que modo o ensino, a pesquisa e a extensão se relacionaram no projeto. Como já dito, entende-se extensão como uma atividade que pode resultar em ensino, pois os acadêmicos, envolvidos com a comunidade, aprendem à medida que interagem com situações reais. Além disso, ensinam, pois a extensão também é um momento em que o conhecimento acadêmico pode ser dividido com a sociedade, uma forma de democratização. Assim como explicado na metodologia, os momentos de ensino ocorreram nas reuniões de discussões com os alunos, pois foram momentos em que todos puderam amenizar dúvidas, dar opiniões e confrontá-las com as dos demais, a fim de enriquecer o entendimento sobre os temas propostos. Sobre a pesquisa, percebeu-se que foi um meio de os acadêmicos entenderem melhor
as práticas vistas durante as atividades de extensão, pois, analisando a realidade com que se depararam e comparando com o que se lê sobre o ensino, passaram a ter uma visão mais crítica sobre diversas questões inerentes às práticas de ensino. Torna-se importante esclarecer que, apesar de o objetivo principal do projeto ser o trabalho com os alunos, dessa interação surgiram projetos de pesquisa, dentre os quais dois serão explicados neste trabalho. O projeto Um estudo sobre linguagem: a escrita na sala de aula objetiva refletir sobre a importância da escrita no processo de ensino/aprendizagem da língua materna, analisando se o trabalho com ela se dá de maneira contextualizada. É importante esclarecer que esse trabalho de pesquisa surge a partir de indagações feitas com relação a como trabalhar com a escrita no projeto de extensão, e, assim, um trabalho subsidia o outro. O segundo projeto Uma abordagem sobre os gêneros textuais na 5ª série do Ensino Fundamental tem por objetivo refletir sobre o trabalho com os Gêneros Textuais e o trabalho com a Norma Culta e as demais variedades linguísticas. Dessa forma, esse projeto toma por base a questão da indissociabilidade supramencionada, por meio da flexibilização curricular, viabilizando a autonomia da formação docente, contribuindo, assim, para a formação do professor pesquisador (BORTONI-RICARDO, 2008). Com isso, percebe-se que quando um projeto de extensão é entendido de uma maneira coerente, considerando o tripé universitário, bons resultados são alcançados, a fim de formar professores mais comprometidos com a realidade social e que estão sempre repensando a sua prática. Referências BATISTA, A. Pró-Letramento: Alfabetização e linguagem. Brasília: UFMG, 2007. BORTONI, S. M. Variação Linguística e Atividade de Letramento em Sala de Aula. In: KLEIMAN, Angela. (org.) Os significados do Letramento. São Paulo: Mercado das Letras, 2005. BORTONI-RICARDO, S. M. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. FORPROEX. Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão e a Flexibilização Curricular: uma Visão da Extensão. Porto Alegre: UFRGS; Brasília: MEC/SESU. 2006. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. KLEIMAN, A. B (org.) Os significados do Letramento. São Paulo: Mercado das Letras, 2005. MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gênero e compreensão. Ed.3. São Paulo: Parábola, 2009. NOGUEIRA, M. D.P. Políticas de Extensão Universitária Brasileira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. PARANÁ. Governo do Estado. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a educação básica. Curitiba: Base, 2009. SEVERINO, A. J. A produção do conhecimento na universidade: Ensino, Pesquisa e Extensão. EDUCAÇÃO E LINGUAGEM, ano 7, nº10; 2004.