INSERÇÃO, PRESENÇA E RELEVÂNCIA DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÂO INSERÇÃO SOCIAL Maria José Lima da Silva e Valquiria Linck Bassani A Pós-Graduação Brasileira apresenta 2.379 programas de pós-graduação (fonte CAPES/28/8/2006) distribuídos em, praticamente, todas as áreas do conhecimento, sendo 2.336 cursos de mestrados (2.150 acadêmicos e 186 profissionais) e 1.220 cursos de doutorados. Comparativamente à situação observada na avaliação do triênio 2001-2003, verifica-se um crescimento próximo a 24% no número de programas do sistema nacional brasileiro, detectando-se o maior crescimento percentual nos cursos de mestrado profissional (38%), seguidos dos mestrados acadêmicos (19,7%) e dos cursos de doutorado (16%). O número de alunos matriculados, nas 409 Instituições de Ensino Superior (IES), que oferecem esses cursos, no final de 2004, era de 112.936. Titularam-se, nesse ano, 38.688 mestres (36.788 no mestrado acadêmico e 1.900 no mestrado profissional) e 8.800 doutores. Apesar do crescimento do sistema nacional de pós-graduação, ainda permanece uma profunda assimetria no sistema, em que a região sudeste concentra 54,9% dos cursos de mestrado (M) e 66,6% de doutorado (D), seguida da região Sul (19,6% M e 17,1% D), Nordeste (15,6% M e 10,3% D), Centro-Oeste (6,4% M e 4,1% D) e Norte (3,5% M e 1,8% D). A análise das taxas de crescimento mostra que embora o crescimento tenha sido, no período de 1996 a 2004, maior na região Norte (15% ao ano), seguida das regiões Centro-Oeste (12%), Sul (12%), Nordeste (9,6%) e o Sudeste (6,3%), não foi ainda suficiente para superar as assimetrias existentes inter-regionais e intra-regionais. Embora tenha ocorrido um expressivo aumento de cursos em todas as grandes áreas do conhecimento, tanto em nível de mestrado quanto de doutorado, destaca-se o crescimento das grandes áreas Multidisciplinar e Ensino de Ciências e Ciências Sociais Aplicadas. Entre todas as grandes áreas do conhecimento, a
área de Ciências da Saúde, que possuía o maior número de cursos, tanto em nível de mestrado como de doutorado, foi a que menos cresceu nesse período. A pós-graduação, desde sua implantação, desenvolve-se com um componente intrínseco de pesquisa sendo responsável pela maior parte da produção científica brasileira e, por conseqüência, pelo seu crescimento qualitativo e quantitativo. Atualmente, o Brasil contribui com 1,6% da produção científica mundial e 45% da produção da América Latina. Os grandes avanços nos campos da pós-graduação e da pesquisa científica e tecnológica, hoje reconhecidos internacionalmente, devem-se, especialmente, ao fomento aportado pelas Agências do MCT e MEC, à utilização de instrumentos como a avaliação sistemática da pós-graduação, realizada desde 1976, pela CAPES, num contexto de planejamento governamental, tais como os planos nacionais de pós-graduação. O panorama brasileiro atual é bastante diferente daquele observado no momento da criação da pós-graduação, há 40 anos, ou daquele em que se implantou a avaliação sistemática dos programas pela CAPES. Nos últimos anos, têm sido definidas políticas públicas na área de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), que direcionam os investimentos e modulam a produção do conhecimento nos diversos setores estratégicos para o desenvolvimento nacional. Em 2005, foi realizada a 3 a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), um ano após o lançamento, pelo Governo Federal da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PTICE), que apresenta como opções estratégicas a pesquisa e desenvolvimento tecnológico de semicondutores, softwares, bens de capital, fármacos e medicamentos e, como atividades portadoras de futuro, a biotecnologia, nanotecnologia, biomassa e energias renováveis. A Lei de Inovação Tecnológica, regulamentada em outubro de 2005, apresenta-se como um instrumento relevante para reduzir a dependência tecnológica do país, reconhecendo que a formação de recursos humanos e a geração de conhecimento são, prioritariamente, atribuições da universidade, devendo a inovação tecnológica ocorrer no âmbito das empresas. O Plano Nacional de Pós-Graduação 2005-2010 (PNPG), aprovado pelo Conselho superior da CAPES, em dezembro de 2004, com base no papel estratégico da pósgraduação para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social do país, propõe o crescimento equânime do sistema nacional de pós-graduação, com o
propósito de atender, com qualidade, as diversas demandas da sociedade, visando ao desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e social do país. Esse Plano tem ainda como objetivo subsidiar a formulação e a implementação de políticas públicas voltadas para as áreas de educação, ciência e tecnologia 1. O Plano indica que a expansão do sistema deve ter quatro vertentes: a capacitação do corpo docente para as instituições de Ensino Superior, a qualificação dos professores da educação básica, a especialização de profissionais para o mercado de trabalho público e privado e a formação de técnicos e pesquisadores para empresas públicas e privadas Com o reconhecimento da potencial contribuição da pós-graduação para desenvolvimento do País, a indução de respostas às metas governamentais apoiou-se, entre outras medidas, na valorização do empenho e capacidade dos programas de pós-graduação em responder à ampliação do sistema e demais demandas induzidas. Neste sentido, além da qualidade e excelência da produção científica e de formação, foi introduzido, na avaliação dos programas acadêmicos, pela CAPES, um item específico para a medida do impacto dos resultados na comunidade acadêmica, empresarial e na sociedade em geral. Tais indicadores visam a medir, em última análise, o nível de atendimento às demandas e interesses da sociedade brasileira, num contexto de planejamento de desenvolvimento, preservando os parâmetros de qualidade científica. A proposta da CAPES, para avaliação deste item específico é a seguinte:
QUESITO V INSERÇÃO SOCIAL (Peso Definido pelo CTC: 10%, a ser aplicado por todas as Áreas) a. Síntese da avaliação: Ítens 1) Pesos Avaliação 2) 1 Inserção e impacto regional e (ou) nacional do programa. (Orientação do CTC: Os subitens a seguir apresentados são exemplificativos. Não se de trata de esperar que os programas de todas as áreas e subáreas devam ou possam atender a todos eles. Busca-se sinalizar a importância de um tipo de contribuição relevante dos programas, não enfatizada pela Ficha anterior, e de definir o lócus para a valorização pela Capes de aspectos como: a) impacto educacional: contribuição para a melhoria do ensino fundamental, médio, graduação, técnico/profissional e para o desenvolvimento de propostas inovadoras de ensino. Um exemplo de contribuição nesse campo, passível de ocorrer em algumas áreas, seria no caso de geração pelo programa de livros-textos para a graduação e dos livros didáticos para o ensino fundamental e médio. A DAV tem recomendado que esses trabalhos sejam pontuados positivamente, mas apenas quando forem excelentes ou muito bons. Nossa sugestão é que se classificarmos os livros numa escala de 1 a 7 os didáticos e livros-textos que tiverem 6 e 7 mereceriam uma pontuação elevada; os que tiverem 5 mereceriam nota média; os que tiverem 4 ou menos não receberiam pontos. O objetivo desta idéia é estimular a produção de tais trabalhos só quando forem excelentes, uma vez que, se forem de qualidade média, eles não trarão nada de novo e, sempre, representam um esforço que afasta o professor de outras atividades prioritárias para o desempenho do programa, como a produção cientifica e orientação de alunos). b) impacto social formação de recursos humanos qualificados para a Administração Pública ou a sociedade civil que possam contribuir para o aprimoramento da gestão pública e a redução da dívida social, ou para a formação de um público que faça uso dos recursos da ciência e do conhecimento; c) impacto cultural formação de recursos humanos qualificados para o desenvolvimento cultural e artístico, formulando políticas culturais e ampliando o acesso à cultura e às artes e ao conhecimento nesse campo; d) impacto tecnológico/econômico contribuição para o desenvolvimento micro-regional, regional e/ou nacional destacando os avanços produtivos gerados; disseminação de
técnicas e conhecimentos... 2 Integração e cooperação com outros programas com vistas ao desenvolvimento da pesquisa e da pós-graduação participação em programas de cooperação e intercâmbio sistemáticos; participação em projetos de cooperação entre programas com níveis de consolidação diferentes, voltados para a inovação na pesquisa ou o desenvolvimento da pós-graduação em regiões ou sub-regiões geográficas menos aquinhoadas (atuação de professores visitantes; participação em programas como Casadinho, PQI, Dinter/Minter ou similares). 3 Visibilidade ou transparência dada pelo programa à sua atuação: (Orientação do CTC: indicadores passíveis de serem valorizados neste item: a) Manutenção de página Web para a divulgação, de forma atualizada, de seus dados internos, critérios de seleção de alunos, parte significativa de sua produção docente, financiamentos recebidos da Capes e de outras agências públicas e entidades privadas etc. b) Garantia de amplo acesso a Teses e Dissertações, pela Web, conforme a Portaria Capes 13/ 2006, que torna obrigatória essa providência. Em suma, no novo quesito INSERÇÃO SOCIAL, presente na ficha de avaliação, são considerados basicamente três itens: 1. Inserção e impacto regional e (ou) nacional do programa. Neste item sugere-se quatro subitens : impacto educacional, impacto social, impacto cultural e impacto tecnológico/econômico; 2. Integração e cooperação com outros programas com vistas ao desenvolvimento da pesquisa e da pós-graduação; 3. Visibilidade ou transparência dada pelo programa à sua atuação. Neste, com dois subitens: a) manutenção de página Web e b) garantia de amplo acesso a teses e dissertações. No quadro abaixo, apresentamos uma síntese das ponderações atribuídas pelas Grandes Áreas/Áreas aos itens supra referidos:
GRANDES ÁREAS E ÁREAS DE AVALIAÇÃO Ciências Exatas e da Terra Ciências Humanas Quesito/Itens Engenha rias C. Agrárias C. da Saúde Matemática /Física Química Geociências. C. Compu tação. Sociologia. Antropologia Educação Filosofia Geografia Psico logia História C. Política Letras/ Lingüísti ca 5 - INSERÇÃO SOCIAL CTC 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 5.1 - Inserção e impacto regional e (ou) nacional do programa. 40 60 40 30 25 40 60 60 60 60 60 60 5.1a - Impactos educacional e social 30 5.1b - Impactos tecnologico econômico 40 5.2 - Integração e cooperação com outros programas com vistas ao desenvolvimento da pesquisa e da pós-graduação. 30 30 40 30 30 35 30 30 30 30 30 30 30 5.3 - Visibilidade ou transparência dada pelo programa à sua atuação: 30 10 20 40 40 30 10 10 10 10 10 10 5.4 - Destino dos egressos ** Quesito/Itens Artes Economia Admin./ Turismo Ciências Sociais e Aplicadas Arquitetura e Urbanismo CSA I Planejam Urbano e Regional Direito Serviço Social Multidisciplinar Ens. C. e Mate mática Ciências Biologicas I e II Ecologia 5 - INSERÇÃO SOCIAL CTC 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 5.1 - Inserção e impacto regional e (ou) nacional do programa. 60 40 0 50 35 40 35 5.1a - Impactos educacional e social 5.1b - Impactos tecnologico econômico 5.2 - Integração e cooperação com outros programas com vistas ao desenvolvimento da pesquisa e da pós-graduação. 30 40 50 25 35 30 20 5.3 - Visibilidade ou transparência dada pelo programa à sua atuação: 10 20 50 25 30 30 10 5.4 - Destino dos egressos ** 35
De acordo com este quadro, verifica-se: - Nas duas grandes áreas de Ciências Exatas e da Terra e Ciências Sociais Aplicadas, existem diferenças em relação aos pesos atribuídos às diferentes áreas que as compõem, em relação aos vários subitens do quesito Inserção Social. Nas demais grandes áreas, os mesmos pesos são atribuídos a todos os itens para todas as suas áreas - Todas as grandes áreas valorizam o item 5.1, com exceção de algumas da grande área Ciências Sociais e Aplicadas. - Com exceção da área de Química, as demais áreas e grandes áreas atribuem pesos ao item 5.3. - As áreas de Ciências Biológicas I e II e Ecologia acrescentam um quarto subitem que diz respeito ao Destino dos Egressos, atribuindo-lhe peso 35. - Quando se faz uma comparação horizontal de cada item, entre as grandes áreas e áreas, observa-se: No item 1, a área de Química é a que mais valoriza este item (70), seguida pelas grandes áreas de Ciências Agrárias, Ciências Humanas, Lingüística, Letras e Artes (60) e a Área de Direito com peso 50; No item 2, a grande área de Ciências Sociais Aplicadas é a que atribui maior peso (50), seguida pela grande área de Ciências da Saúde e a área de Economia com 40; Em relação ao item 3, a área de Ciências Sociais e Aplicadas é a que mais valoriza este item (50), seguida da área de Química e Matemática com peso igual a 40. Questões para reflexão: 1 Como estabelecer um diferencial na avaliação deste quesito em programas consolidados e programas recentemente implantados? 2 - Como avaliar a inserção social (item 1) de programas cujo impacto só pode ser medido a longo prazo, como, por exemplo áreas de pesquisa básica, ou áreas teóricas como física e matemática teóricas, ou mesmo em algumas subáreas das Ciências Sociais e Aplicadas (como Comunicação ou Ciência da Informação)?
3 -A pontuação definida pelas diferentes áreas contemplou adequadamente estas diferenças (item 2 e 3)? 4- Levando em consideração a relevância do para que são formados e para onde estão indo os egressos da pós-graduação, sugerimos que o quesito Destino dos Egressos seja pontuado por todas as áreas, a exemplo da C. Biológicas I, C. Biológicas II e Ecologia. A valorização deste indicador poderia ter a mesma dimensão do quesito Garantia de amplo acesso a Teses e Dissertações, pela Web, tornado obrigatório pela Portaria Capes 13/ 2006. 1. COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR. Plano Nacional de Pós-Graduação 2005-2010 Disponível em: http://www.capes.gov.br/capes/portal/.htm. Acesso em 03 de setembro de2006.