DESEMPENHO DE FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO COM DESENVOLVIMENTO TÍPICO NO T EST OF NARRATIVE LANGUAGE

Documentos relacionados
Desempenho em prova de Memória de Trabalho Fonológica no adulto, no idoso e na criança Palavras Chaves: Introdução

RASTREIO DE ESCOLARES COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DO 3 AO 5 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Marina Emília Pereira Andrade

Interferências de Estímulos Visuais na Produção Escrita de Surdos Sinalizadores com Queixas de Alterações na Escrita

Desempenho de crianças com transtorno fonológico no Test of Language Development Primary 3 adaptado para o Português Brasileiro.

Compreensão de sentenças em crianças com desenvolvimento normal de linguagem e com Distúrbio Específico de Linguagem

A complexidade da narrativa interfere no uso de conjunções em crianças com distúrbio específico de linguagem

EFICÁCIA DE UM PROGRAMA DE INTERVENÇÃO FONOLÓGICA INTENSIVA EM ESCOLARES COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Relação entre o desenvolvimento cognitivo e a produção de atos comunicativos com função instrumental em crianças com síndrome de Down.

Desempenho de escolares com dificuldades de aprendizagem em um programa computadorizado de avaliação e intervenção metafonológica e leitura

INTERVENÇÕES CLÍNICAS E EDUCACIONAIS VOLTADAS PARA AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: REVISÃO SISTEMATIZADA DA LITERATURA

Perfil comunicativo de crianças com alteração no desenvolvimento da linguagem: caracterização longitudinal

Perfil epidemiológico dos distúrbios da comunicação humana atendidos em um ambulatório de atenção primária à saúde

Fatores de risco em crianças disfluentes sem recorrência familial: comparação entre o gênero masculino e feminino

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE HABILIDADES AUDITIVAS E METALINGUISTICAS DE CRIANÇAS DE CINCO ANOS COM E SEM PRÁTICA MUSICAL INTRODUÇÃO

Um Estudo das Funções Executivas em Indivíduos Afásicos

DIFERENÇAS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE BEBÊS NASCIDOS PRÉ-TERMO E A TERMO

TIPOLOGIAS DE RUPTURAS DE FALA EM INDIVÍDUOS GAGOS E FLUENTES: DIFERENÇAS ENTRE FAIXAS ETÁRIAS

Variação sociolinguistica e aquisição semântica: um estudo sobre o perfil lexical pelo teste ABFW numa amostra de crianças em Salvador-BA

Processamento fonológico e habilidades iniciais. de leitura e escrita em pré-escolares: enfoque no. desenvolvimento fonológico

TÍTULO: ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DO QUESTIONÁRIO HOLANDES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR

ANÁLISE COMPARATIVA DO PERFIL DA FLUÊNCIA DA FALA DE INDIVÍDUOS COM SÍNDROME DE DOWN E COM A SÍNDROME DE WILLIAMS-BEUREN

EFICÁCIA DA INTERVENÇÃO DE LINGUAGEM EM CRIANÇAS AUTISTAS DE 1 A 4 ANOS DE IDADE

DISFLUÊNCIAS COMUNS E PAUSAS NA FALA DE INDIVÍDUOS COM A SÍNDROME DE WILLIAMS-BEUREN EM DUAS DIFERENTES SITUAÇÕES EXPERIMENTAIS

Palavras Chave: cognição, comunicação, crianças

DESEMPENHO NARRATIVO EM SUJEITOS COM DISTÚRBIO/ATRASO FONOLÓGICO

A EFICÁCIA DA INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA FONOAUDIOLÓGICA NOS DISTÚRBIOS DO ESPECTRO AUTÍSTICO

Adaptação cultural do Test of Narrative Language (TNL) para o Português Brasileiro

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Relação entre o uso de esquemas simbólicos e a produção de verbalizações e combinações de palavras em crianças com síndrome de Down

MODELO LINGUÍSTICO FUZZY PARA CLASSIFICAR A GRAVIDADE DO DESVIO FONOLÓGICO

PERFIL ORTOGRÁFICO DE ESCOLARES COM DISLEXIA, TRANSTORNOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: IMPLICAÇÕES PARA FONOAUDIOLOGIA

Avaliação das habilidades comunicativas de crianças surdas: a influência do uso da língua de sinais e do Português pelo examinador bilíngüe

Percurso da Aquisição dos Encontros Consonantais e Fonemas em Crianças de 2:1 a 3:0 anos de idade

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS BLENDA STEPHANIE ALVES E CASTRO

DESEMPENHO NARRATIVO EM SUJEITOS COM DISTÚRBIO/ATRASO FONOLÓGICO

Narração de histórias por crianças com distúrbio específico de linguagem

Organização e narração de histórias por escolares em desenvolvimento típico de linguagem***

RELAÇÃO ENTRE FUNÇÃO PRAGMÁTICA DA LINGUAGEM E COMPREENSÃO DE TEXTOS

NIDI NÚCLEO INTERDISCIPLINAR DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL. Professora responsável pelo núcleo: Profa Dra. Ana Paula Ramos

Palavras-chave: Leitura; Compreensão; Memória

GABRIELA MELLO COSTA DESEMPENHO DE FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO COM DESENVOLVIMENTO TÍPICO DE LINGUAGEM NO TEST OF NARRATIVE LANGUAGE (TNL)

A análise do transtorno fonológico utilizando diferentes medidas acústicas Pagan-Neves, LO & Wertzner, HF

Confiabilidade das transcrições fonológicas de crianças com alteração específica de linguagem

A EFETIVIDADE DA REALIMENTAÇÃO NO TRATAMENTO DA GAGUEIRA DE DESENVOLVIMENTO: ESTUDOS COMPARATIVOS

Desenvolvimento cognitivo e de linguagem expressiva em bebês pré-termo muito baixo peso em seus estágios iniciais

O IMPACTO DOS DISTÚRBIOS DE DESENVOLVIMENTO DE LINGUAGEM NA APRENDIZAGEM NOEMI TAKIUCHI*

Adaptação transcultural do Preschool Language Assessment Instrument: Segunda Edição

Medidas de inteligibilidade da fala: influência da análise da transcrição e do estímulo de fala.

Comunicação Suplementar e/ou Alternativa e ganho lexical na criança com síndrome de Down: estudo piloto

AÇÕES DE SAÚDE VOCAL O QUE O PROFESSOR UTILIZA NA ROTINA PROFISSIONAL EM LONGO PRAZO?

Prevalência de alterações fonoaudiológicas em crianças de 5 a 9 anos de idade de escolas particulares

Análise da fluência de fala em Síndrome de Williams

AVALIAÇÃO DAS HABILIDADES PRAGMÁTICAS E SOCIAIS EM CRIANÇAS COM DISTÚRBIO ESPECÍFICO DE LINGUAGEM

Comparação entre aspectos fonológicos, histórico de otite e queixas escolares em crianças com transtorno fonológico

Palavras-chave: Educação Especial, Educação Infantil, Autismo, Interação. 1. Introdução

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA TÂMARA DE ANDRADE LINDAU

Estudos atuais Transtorno Fonológico

Olívia Cristina Fernandes Haeusler

ADAPTAÇÃO DO SUBTESTE DE VOCABULÁRIO ILUSTRADO DO STANDFORD-BINET IV

Caracterização dos Distúrbios da Comunicação em Jovens Infratores Institucionalizados.

Prevalência da gagueira em familiares de probandos com gagueira desenvolvimental persistente familial

Palavras-chaves: Qualidade da voz; Qualidade de vida, docente. (4). Um importante aspecto a ser avaliado em processos

AVALIAÇÃO DA FUNCIONALIDADE DE ADULTOS E IDOSOS COM SÍNDROME DE DOWN: DADOS DE UM ESTUDO PILOTO.

Narrativas orais de crianças com desenvolvimento típico de linguagem*** Oral narratives of children with typical language development

Média dos valores da frase em crianças com desvio fonológico evolutivo. Average values of phrase in children with developmental phonological disorder

H - ÁREA PROFISSIONAL FONOAUDIOLOGIA FONOAUDIOLOGIA HOSPITALAR EM FUNÇÕES OROFACIAIS. Supervisora: Profª Drª Cláudia Regina Furquim de Andrade

Título do Trabalho: Correlação entre dois instrumentos para avaliação do desenvolvimento motor de prematuros

Escolares com distúrbio específico de linguagem utilizam mais rupturas de fala que seus pares

Relação Distúrbio Específico de Linguagem (oral verbal) e Dislexia

Variáveis lingüísticas e de narrativas no distúrbio de linguagem oral e escrita***

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE NARRATIVAS ORAIS: CONTRIBUIÇÕES PARA AS INVESTIGAÇÕES EM LINGUAGEM INFANTIL

Correlações entre idade, auto-avaliação, protocolos de qualidade de vida e diagnóstico otorrinolaringológico, em população com queixa vocal

Teste de verificação da inconsistência de fala

CORRELAÇÃO ENTRE VOCABULÁRIO EXPRESSIVO E EXTENSÃO MÉDIA DO ENUNCIADO EM CRIANÇAS COM ALTERAÇÃO ESPECÍFICA DE LINGUAGEM

Perfil familial da gagueira: estudo lingüístico, eletromiográfico e acústico

EMENTAS DAS DISCIPLINAS DO PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO E DOUTORADO (Resolução nº 182/2017-CI/CCH 31/10/2017)

Fonoaudióloga Mestranda Ana Paula Ritto Profa. Dra. Claudia Regina Furquim de Andrade

Análise do Reconhecimento Populacional das Figuras do Teste MT Beta 86 modificado

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ATENDIMENTO FONOAUDIOLÓGICO DE PACIENTES TRATADOS DO CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO

Universidade Estadual de Maringá Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Tradução e adaptação transcultural de instrumentos estrangeiros para o Português Brasileiro (PB)

Letras Língua Francesa

PROBLEMA NA LINGUAGEM ESCRITA: TRANSTORNOS OU DIFICULDADES?

Gagueira e qualidade de vida. Roberto Tadeu da Silva, CRB8 6797

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FONOAUDIOLOGIA SARA LOUREIRO DE SOUZA FERREIRA

O DESENVOLVIMENTO MOTOR E AS IMPLICAÇÕES DA DESNUTRIÇÃO: UM ESTUDO COMPARATIVO DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 4 A 5 ANOS

Aspectos da fluência da fala em crianças com Distúrbio Específico de Linguagem

4 Metodologia. 4.1 Metodologia naturalista: produção da fala espontânea

A ORDEM DE AQUISIÇÃO DOS PRONOMES SUJEITO E OBJETO: UM ESTUDO COMPARATIVO 10

Relação entre habilidades metafonológicas e a apropriação das regras ortográficas

AQUISIÇÃO FONOLÓGICA EM CRIANÇAS DE 3 A 8 ANOS: A INFLUÊNCIA DO NÍVEL SÓCIO ECONÔMICO

INSTRUMENTOS SISTEMÁTICOS E FORMAIS DE AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DE PRÉ-ESCOLARES NO BRASIL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS, RACIOCÍNIO INFERENCIAL E FLEXIBILIDADE COGNITIVA: estudo correlacional.

ES01-KA Guia de Aprendizagem. Módulo 4: Estratégias para Projetar e Avaliar Planos de Desenvolvimento Pessoal

DESENVOLVIMENTO DA ESTRUTURA SILÁBICA POR GÊMEOS DIZIGÓTICOS: ESTUDO DE CASO

Análise ultrassonográfica da produção de líquidas de crianças com e sem alteração fonológica

ESTUDO EXPLORATÓRIO COMPARANDO A MEMÓRIA AUDITIVA E VISUAL NO ESPECTRO AUTÍSTICO

ASSOCIAÇÃO ENTRE PRESSÃO ARTERIAL E CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS DE UM CENTRO DE ESPECIALIDADES MÉDICAS DE BELO HORIZONTE-MG

Transcrição:

DESEMPENHO DE FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO COM DESENVOLVIMENTO TÍPICO NO TEST OF NARRATIVE LANGUAGE Autores: GABRIELA MELLO COSTA, NATALIA FREITAS ROSSI, TAMARA LINDAU, CELIA MARIA GIACHETI, Palavras-chave: Teste de Linguagem; Narração; Linguagem infantil. INTRODUÇÃO A narração é uma tarefa complexa que envolve fatores linguísticos sintáticos, semânticos, pragmáticos e fonológicos, além de fatores cognitivos como: memória de trabalho, capacidade de monitoramento, inferências e capacidade de integrar as informações veiculadas no texto 1. A amostra da linguagem narrativa contém elementos macro-estruturais, que melhoram a organização geral da narrativa, e características linguísticas mais complexas (micro-estruturais), que aumentam ainda mais clareza narrativa 2. Dada a complexidade da linguagem necessária para narração, não é de estranhar que as crianças com déficits de linguagem e aprendizagem muitas vezes têm dificuldade em compreender e produzir narrativas. Essa dificuldade com narração pode afetar negativamente o progresso acadêmico 3,4. Posto isso, a narrativa fornece dados linguísticos excepcionalmente ricos para pesquisadores e profissionais que estão interessados em estudar as competências linguísticas de crianças no nível do discurso e, por isso, tem sido amplamente utilizada em pesquisas para identificação de subgrupos clínicos, pois é uma atividade sensível na identificação de problemas de linguagem 5,6. Como parte fundamental do processo de avaliação, temos a escolha dos instrumentos que permitirão a investigação de habilidades específicas que poderão auxiliar no diagnóstico e, mais tarde, no planejamento terapêutico 7. Essa busca pelo diagnóstico precoce e intervenção terapêutica imediata tem como objetivo minimizar o efeito do déficit da linguagem na vida social e, posteriormente, escolar da criança 8,9. Logo, ressalta-se a importância da avaliação quantitativa da linguagem, para o auxílio

ao diagnóstico precoce e início das intervenções terapêuticas, que podem ser baseadas na própria habilidade de narrativa 10-13. O Test of Narrative Language (TNL) é um instrumento internacionalmente reconhecido por investigar a aquisição de habilidades de linguagem narrativa (e.g. memória, coesão e organização textual e habilidade para formular múltiplas sentenças em torno de um tema comum), ou seja, o TNL permite mensurar a habilidade de crianças em reter informações e criar suas próprias histórias 14. Os principais usos do TNL são: (1) identificar crianças com alterações de linguagem; (2) determinar se há discrepância entre as habilidades de compreensão e produção oral da narrativa; (3) documentar o progresso da narrativa como resultado de intervenção da linguagem e (4) mensurar o nível da narrativa dos sujeitos em pesquisas 14. Dada à aplicabilidade deste instrumento no contexto de avaliação, acredita-se que a aplicação em falantes do Português Brasileiro com desenvolvimento típico de linguagem poderá oferecer importantes subsídios sobre a aplicabilidade da versão adaptada para a nossa cultura linguística, e também futura comparação com grupos de diferentes patologias. OBJETIVOS O objetivo deste estudo foi investigar o desempenho de crianças falantes do português brasileiro, com desenvolvimento típico de linguagem, na versão brasileira do Test of Narrative Language,. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, sendo parte da dissertação de mestrado em andamento do primeiro autor. Sujeitos

Participaram deste estudo 100 indivíduos com desenvolvimento típico de linguagem, de ambos os gêneros, com idade cronológica entre cinco anos e 11 anos e 11 meses, sendo divididos em cinco faixas etárias, a saber: Grupo I (GI): 20 sujeitos de 06 anos a 06 anos e 11 meses; Grupo II (GII): 20 sujeitos de 07 anos a 07 anos e 11 meses; Grupo III (GIII): 20 sujeitos de 08 anos a 08 anos e 11 meses; Grupo IV (GIV): 20 sujeitos de 09 anos a 09 anos e 11 meses e Grupo V (GV): 20 sujeitos de 10 anos a 10 anos e 11 meses. Ressalta-se que cada grupo foi formado por 10 meninos e 10 meninas. Os participantes foram selecionados nas Escolas Municipais e os critérios de inclusão para esta pesquisa foram: (a) autorização dos responsáveis mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e concordância da criança, (b) história negativa de alteração visual, auditiva, sensorial e/ou neuropsicomotora, (c) desenvolvimento normal de linguagem e aprendizagem, apontado pelos professores e confirmado pela avaliação fonoaudiológica que antecedeu a aplicação do teste. Procedimento O Test of Narrative Language foi traduzido e adaptado para o Português Brasileiro 15. O TNL é composto por seis tarefas: três de compreensão ( História da Lanchonete, História do Naufrágio e História do Dragão ) e três de produção da narrativa (Recontagem da História da Lanchonete, O Menino Atrasado e História dos Alienígenas ), sendo que as tarefas avaliam as habilidades de compreender e contar histórias em três formatos: (1) sem figuras, (2) com sequencia de cinco figuras e (3) com apenas uma figura. Para avaliação, toda a aplicação do teste foi filmada e, posteriormente, as narrativas orais foram integralmente transcritas para pontuação e registro na folha de resposta do teste. Para cada subteste existe uma pontuação, obtendo-se o escore bruto, que representa uma estimativa global do desenvolvimento da habilidade narrativa de compreensão e produção. As escalas de pontuações de compreensão e produção são somadas para formar a pontuação geral. Para análise do desempenho dos participantes foi utilizado os escores brutos totais de compreensão e de produção da narrativa oral.

Análise dos dados Foi realizada a análise estatística descritiva para estabelecer a média e desvio padrão dos escores obtidos nas tarefas de compreensão e produção da narrativa e dos respectivos escores brutos. A análise estatística inferencial para fins de comparação dos grupos etários foi realizada por meio do teste de Análise de Variância Simples (One Way ANOVA). O valor de significância adotado foi de p<5% ou p<0,05. As análises foram realizadas utilizando o teste estatístico Minitab 16. RESULTADOS Como resultado tem-se que o tempo médio de aplicação do teste foi de 25 minutos e observou-se que, no geral, o tempo de avaliação das crianças mais novas foi maior, pois, em alguns momentos, faziam interferências durante a aplicação para relatar experiências pessoais relacionadas à história. Em relação à compreensão de histórias foi observado que o subteste de maior dificuldade foi a História do Dragão, por ser uma história mais extensa e complexa. Quanto à produção, foi observado que o subteste de maior dificuldade foi a História dos Alienígenas, no qual a criança deveria produzir a história com o apoio de apenas uma figura. A Tabela 1 apresenta o desempenho de cada grupo etário nos subtestes de compreensão e produção da narrativa oral. Nota-se que foi encontrada diferença estatisticamente significante para todos os subtestes de compreensão e produção da versão adaptada do TNL, na comparação dos grupos etários. <TABELA 1> DISCUSSÃO

Nesse estudo, propôs-se investigar o desempenho de falantes do português brasileiro com desenvolvimento típico de linguagem no Test of Narrative Language. Na literatura é possível identificar diferentes métodos de eliciação de narrativa nos estudos com crianças, com desenvolvimento típico e também atípico de linguagem 16-18, porém, ainda há significativa escassez de instrumentos sistemáticos para fins de investigação do desempenho na narrativa oral, principalmente no Brasil. Nessa direção, o TNL é um instrumento formal de avaliação na narrativa oral e que permite não somente estabelecer parâmetros da habilidade de narrar, como também o olhar para essa habilidade tanto pela compreensão quanto pela produção, o que justifica os esforços dispendidos para obtermos dados sobre o desempenho de falantes do Português Brasileiro nesse teste. Os resultados da comparação entre os grupos etários de seis a 10 anos apontaram para diferenças com significância estatística entre os mesmos, quando avaliados por meio da versão adaptada para o português brasileiro do teste TNL (Tabela 1), o que sugere que o teste pode vir a ser um importante instrumento formal a ser utilizado nos estudos com narrativa oral no Brasil. Nota-se pelas médias dos escores brutos apresentados que quanto maior a idade do grupo etário melhor o desempenho deste, dados que corroboram com achados da literatura que consideram a narrativa uma habilidade adquirida gradualmente 19-24. Isto é, com o passar dos anos a criança passa a produzir histórias mais complexas e elaboradas por ter maior domínio das convenções da língua e da estrutura própria do esquema narrativo de história 19-24. Observa-se, ainda, pelas médias dos escores brutos apresentadas pelos grupos etários (Tabela 1) que as diferenças entre as faixas etárias fronteiriças foram relativamente sutis, o que pode ser resultado da variabilidade do desempenho nas tarefas de narrativa apresentadas pelas crianças dentro dos mesmos grupos etários. Essa variabilidade é esperada, uma vez que é sabido que a habilidade de narrar é influenciada pelo contato que a criança tem com o modelo de narrativa de histórias no contexto familiar 25-29 e escolar.

CONCLUSÃO Para uma discussão mais robusta sobre a aplicabilidade desse instrumento no contexto de avaliação da narrativa oral de falantes do Português do Brasil, com desenvolvimento típico e atípico, ainda é necessária a realização de estudos adicionais e complementares a esse. No entanto, os dados aqui reportados mostraram que o TNL é um instrumento interessante para fins de avaliação da narrativa, pois permite informar o desempenho narrativo tanto pela recepção quanto pela expressão e que pode contribuir para o preenchimento de uma lacuna relacionada à falta de procedimentos formais e sistemáticos para avaliação da narrativa no Brasil. REFERÊNCIAS 1 Brandão ACP, Spinillo AG. Produção e compreensão de textos em uma perspectiva de desenvolvimento. Estud Psicol. 2001. 6(1)51-56. 2 Spinillo AG.; Martins, ERA. Uma análise da produção de histórias coerentes por crianças. Psicol Refl Crít. 1997. 10(2):219-248 3 Gillam RB, Johnston, JR. Spoken and written language relationships in language/ learning impairment and normally achieving school-age children. J. Speech Hear. Res. dez 1992. 35(6):1303-15,

4 Newman RM, Mcgregor KK. Teachers and Laypersons Discern Quality Differences Between Narratives Produced by Children With or Without SLI. J Speech Lang Hear Res. 2006. 49(5):1022-36. 5 Muñoz ML, Gillam RB, Peña ED, Gulley-Faehnle A. Measures of Language Development in Fictional Narratives of Latino Children. Lang Speech Hear Serv Sch, 2003. 34(4):332-342. 6 Justice LM, Bowles RP, Kaderavek JN, Ukrainetz TA, Eisenberg SL, Gillam RB. The index of narrative microstructure: a clinical tool for analyzing school-age children's narrative performances. Am J Speech Lang Pathol. 2006. 15(2):177-91. 7 Giacheti CM, Rossi NF. Diagnóstico fonoaudiológico dos distúrbios da comunicação [resumo 2]. Pró-Fono Revista de Atualização Científica [Internet]. 2008 [citado 2008 out 13]; 20(Supl):4-6. [Apresentado no II Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia e Genética dos Distúrbios da Comunicação; 2008; Fortaleza, Ceará]. Disponível em: www.revistaprofono.com.br. 8 Bishop DVM, Adams C. A Prospective Study of the Relationship Between Specific Language Impairment,Phonological Disorders and Reading Retardation. J Child Psychol Psychiat. 1990. 31(7):1027-50. 9 Snowling M, Bishop DVM, Stothard SE. Is Preschool Language Impairment a Risk Factor for Dyslexia in Adolescence? J. Child Psychol. Psychiat. 2000. 41(5):587-600. 10 Schoenbrodt L, Kerins M, Gesell J. Using Narrative Language Intervention as a Tool to Increase Communicative Competence in Spanish-Speaking Children. Lang Cult Curric. 2003. 16(1):48-59. 11 Petersen DB, Gillam SL, Gillam RB. Emerging procedures in narrative assessment: The index of narrative complexity. Top Lang Disord. 2008. 28(2):111 26. 12 Giusti E, Befi-Lopes, DM. Tradução e adaptação transcultural de instrumentos estrangeiros para o Português Brasileiro (PB). Pró-Fono. 2008. 20(3):207-10. 13 Lindau TA. Adaptação transcultural do Preschool Language Assessment Instrument (PLAI-2) em falantes do português brasileiro com desenvolvimento típico de linguagem [Dissertação de Mestrado]. Marília: Universidade Estadual Paulista, Pós-Graduação em Fonoaudiologia; 2014. 14 Gillam RB, Pearson NA. Test of narrative language: Examiner s Manual. Austin, TX: Pro-Ed. (2004).

15 Rossi NF, Lindau TA, Giacheti CM. Adaptação cultural do Test of Narrative Language. (submetido) 16 Eisenberg SL, Ukrainetz TA, Hsu JR, Kaderavek JN, Justice LM, Gillam RB. Noun Phrase Elaboration in Children s Spoken Stories. Lang Speech Hear Serv Sch. 2008. 39:145 157 17 Mäkinen L 1, Loukusa S, Laukkanen P, Leinonen E, Kunnari S. Clin Linguist Phon. Linguistic and pragmatic aspects of narration in Finnish typically developing children and children with specific language impairment. 2014 Jun;28(6):413-27. 18 Mills MT, Watkins RV, Washington JA. Structural and dialectal characteristics of the fictional and personal narratives of school-age African American children. Lang Speech Hear Serv Sch. 2013 Apr;44(2):211-23. 19 Gjersing L, Caplehorn JRM, Clausen T. Cross-cultural adaptation of research instruments: language, setting, time and statistical considerations. BMC Med Res Methodol. 2010. 10:10-13. 20 Bento ACP, Befi-Lopes DM. Organização e narração de histórias por escolares em desenvolvimento típico de linguagem. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2010 out-dez; 22(4):503-8. 21 Motta AB, Enumo SRF, Rodrigues MMP, Leite L. Contar histórias: uma proposta de avaliação assistida da narrativa infantil. Inter Psicol. 2006; 10(1):157-67. 7. 22 Price JR, Roberts JE, Jackson SC. Structural development of the fictional narratives of African American preschoolers. Lang Speech Hear Serv Schools. 2006; 37(3):178-90. 23 Smith VH, Sperb TM. The construction of the narrator subject: discoursive thought in the personalist stage. Psicol Estud. 2007; 12(3):553-62. 24 Perroni MC. Desenvolvimento do Discurso Narrativo. 1983. 213 f. Tese (Doutorado) - Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1983. 25 Spinillo AG. Era uma vez e foram felizes para sempre: Esquema narrativo e variações experimentais. Temas em Psicologia. 1993. 1(1):67-77. 26 Cavalcante PA, Mandrá PP. Narrativas orais de crianças com desenvolvimento típico de linguagem. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2010. 22(4):391-6.

27 Macedo LSR e Sperb TM; O desenvolvimento da habilidade da criança para narrar experiências pessoais: uma revisão da literatura. Estudos de Psicologia 2007, 12(3), 233-241. 4. 28 McCabe A, Peterson C. Getting the story: a longitudinal study of parental styles in eliciting narratives and developing narrative skill. In: McCabe A, Peterson C, organizador. Developing narrative structure. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates; 2001. p. 217-54. 29 Peterson C, McCabe A. Echoing our parents: parental influences on children's narration. In: Pratt MW, Fiese BE, organizador. Family stories and the lifecourse: across time and generations. Mahwah, NJ: Erlbaum: Allyn & Bacon; 2004. p. 27-54.

APOIO FAPESP Tabela 1 Estatística descritiva e comparativa do escore bruto nos subtestes do TNL e escore bruto total dos grupos etários. Grupo etário 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos p Compreensão Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP Lanchonete 10,3 2,3 11,2 1,8 11,7 1,6 12,8 1,7 11,8 2,2 0,021 Naufrágio 9,3 1,08 9,9 1,4 10,1 0,9 10,3 0,7 10,5 0,6 0,004 Dragão 9,2 2,0 8,9 1,7 10,4 0,9 10,8 1,7 10,2 1,8 0,002 Escore Bruto 29,0 4,8 29,5 4,8 32,2 2,0 33,9 3,4 33,6 4,1 0,000 Total Produção Lanchonete 10,2 3,4 11,9 3,9 12,1 4,9 13,4 3,5 13,9 2,2 0,021 Atrasado para a 11,5 2,4 12,8 2,3 14,0 2,3 16,1 4,0 16,3 3,2 0,000 Escola Alienígenas 12,7 2,9 13,9 4,2 18,2 5,9 22,6 10,0 20,8 5,1 0,000 Escore Bruto 34,5 5,9 38,6 8,0 44,8 11,7 48,9 8,1 51,0 7,5 0,000 Total Legenda: DP = desvio padrão; p<0,05