Produtividade, Câmbio e Salários: Evolução da Competitividade na Indústria

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-0,9% +1,9% -1,9% -0,5% +0,1% 78,7% -0,2 p.p. -2,1% Março de 2017

Transcrição:

Produtividade, Câmbio e Salários: Evolução da Competitividade na Indústria Regis Bonelli (IBRE/FGV) 12º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas São Paulo, 15 de setembro de 2015

Motivação e Ponto de partida O crescimento insuficiente da produtividade é um dos principais obstáculos ao crescimento brasileiro Assim como para a economia como um todo, ele também é um dos obstáculos para a expansão da indústria de transformação Isso tem impacto relevante sobre a competitividade, dificultando crescimento da indústria mas outros fatores também atuam Círculo vicioso

Roteiro (apresentação inclui resultados de trabalho com A. Castelar Pinheiro) Produtividade industrial no Brasil não apresenta, no longo prazo, sinal de convergência com a fronteira tecnológica Muito pelo contrário Significativas diferenças de desempenho no tempo: valor adicionado e emprego Quanto é estrutural? Quanto é conjuntural/cíclico? Desaceleração e estagnação recente da produtividade industrial Ganhos e perdas de competitividade desde meados de 1990s Os custos unitários do trabalho (CUT) em US$ constantes; comparação internacional Idem, em relação a uma cesta de moedas, preços correntes Desempenho das exportações de produtos industriais Conclusão

Produtividade industrial: não convergência com a fronteira tecnológica mundial, representada pelos EUA (US$ constantes) 20% Produtividade industrial BRA-EUA 10 por Média Móvel (Produtividade industrial BRA-EUA) 18% 17% 15% 13% 12% 10% 1950 1952 1954 1956 1958 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

A perda de dinamismo industrial: desempenho por fases Indústria de Transformação: Crescimento real, emprego e produtividade por períodos (% a.a.) Taxas médias de crescimento anual (% a.a.) Períodos VA Indústria Emprego Produtividade 1949-61 9,6 3,1 6,3% 1961-67 (crise e ajuste) 3,5 3,8-0,3% 1967-73 13,3 5,7 7,2% 1973-85 3,6 2,8 0,8% 1985-90 (superinflação) 0,2 3,9-3,6% 1990-97 2,9-2,3 5,3% 1997-14 (fase de prosperidade + crise) 1,4 2,4-1,0% 1997-09 (queda produtividade) 1,3 2,8-1,5% 2009-14 (estagnação produtividade) 1,7 1,6 0,1% Total 1949-2014 4,6 2,6 1,9%

Ganhos e perdas: produtividade (pr. ctes de 2014; R$ mil) Desempenho no período desde meados dos anos 1990 até recentemente se destaca dos demais; por quê? Nas NCN taxa 1996-2013 = -0,7% a.a.

A que se deve o desempenho algo surpreendente da produtividade depois de 1997? Fases de queda ou estagnação da produtividade industrial sempre estiveram associadas a ajustes e/ou recessão Meados dos anos 1960 Segunda metade dos anos 1980: Planos de estabilização, hiperinflação e Plano Collor Mas no período mais recente, não Pelo contrário, bonança externa durante boa parte da 1ª década deste século sugeriria melhoria da produtividade Que, de fato, foi o que aconteceu com a PTF para a economia como um todo

Duas especulações [que não se excluem mutuamente] (1) Será que o desempenho ruim refletiu mudança estrutural no interior da Indústria, por atividades, beneficiando as menos produtivas? Ou foi essencialmente devido a ganhos/perdas internos às atividades? As PIAsde 1996 a 2013 ajudam a esclarecer A resposta é que não foi a mudança estrutural Que de fato puxou a produtividade para baixo, mas pouco O pouco ganho observado, quando houve, pode ser atribuído aos ganhos nas atividades

Ganhos e perdas de produtividade 1996-2013 (subdividido em dois subperíodos: 1996-2007 e 2007-13) Entre 1996 e 2007: efeito estrutural negativo, mas não muito forte (-2/51) Atividades com produtividade acima da média perderam participação relativa no emprego Todo o ganho foi por conta da produtividade nas, ou interno às atividades Líderes: Refino Petróleo (22%), Alimentos e Bebidas (15%), Metalurgia Básica (10%), Veículos Automotores (9%) e Produtos Químicos (9%) Entre 2007 e 2013: efeito estrutural também fracamente negativo (-3/36) Novamente, todo o ganho foi devido à produtividade das atividades Uma única atividade com contribuição negativa: Metalurgia Destaques: produtos alimentícios (produtividade abaixo da média, mas forte crescimento do emprego); derivados de petróleo (produtividade alta e crescente, queda no emprego); veículos automotores Mas efeitos pequenos para explicar a lenta/nula evolução da produtividade

25% 20% 15% 10% 5% 0% Contribuições % para os aumentos de produtividade (soma dos dois efeitos; vários casos de líderes comuns aos dois períodos) 1996-2007 2007-2013 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% -5% Metalurgia Refino de petróleo Produtos aliment. e bebidas Metalurgia básica Veículos automotores Produtos químicos Máquinas&Equipamentos Produtos de metal Celulose, papel, prod. papel Minerais não-metálicos Outros equip. transporte Máq., apar. e mat. elétricos Outros (12) Produtos alimentícios Refino de petróleo Veículos automotores Máquinas & equip. Minerais não metálicos Produtos químicos Borracha&Mat Plást. Produtos de metal Vestuário Máq. & Mat. Elétricos Bebidas Outros (12)

Especulação (2) Outra resposta para o medíocre desempenho industrial vem da perda de competitividade Competitividade custo Uma medida: custo unitário do trabalho (CUT) Folha salarial medida em moeda estrangeira por unidade de produto Igual à relação entre o salário médio em moeda estrangeira e a produtividade

Rendimento real, câmbio e produtividade na indústria: o CUT em comparações internacionais (gráfico a seguir) CUT em dólares do Brasil aumentou significativamente entre 1995 e 2011 Parte se deveu à apreciação do real Outros países tiveram o mesmo desempenho (embora mais suavemente) Forte alta do rendimento real no Brasil Só superado pela Coreia Brasil teve produtividade decrescente Único caso, no gráfico seguinte Depois de 2011, adiante

Custo Unitário do Trabalho da Indústria de Transformação, 1995-2011 (variação média anual em USD constantes) 8% 6% 4% Taxa Câmbio Real Rendimento real Produtividade CUT USD 8% 6% 4% 2% 2% 0% -2% -4% -6% -8% 0% -2% -4% -6% -8% Alemanha Austrália Bélgica Canadá Cingapura Coreia Dinamarca Espanha Estados Unidos Finlândia França Itália Japão Noruega Países Baixos Reino Unido República Checa Suécia Taiwan Brasil -10% -10% -12% -12%

CUT cesta de moedas Brasil 1996-2014 (variações nominais, exceto produtividade) 20% Variação anual do custo unitário do trabalho (cesta de moedas) 10% 0% 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014-10% -20% -30% Produtividade VA/PO (pr. 2010) Taxa de câmbio efetiva nominal Salário médio nominal PIAs Custo unitário do trabalho (cesta de moedas)

Idem, por subperíodos: desempenho da produtividade foi o oposto do desejável; câmbio efetivo nominal ajudou em subperíodos 15% Variação média anual do custo unitário do trabalho (cesta de moedas) 10% 5% 0% -5% -10% -15% 1997-99 2000-04 2005-11 2012-14 Produtividade VA/PO (pr. 2010) Taxa de câmbio efetiva nominal Salário médio PIAs Custo unitário trabalho (cesta de moedas)

Em que medida a elevação do custo se deveu aos salários? 7 Salário mínimo (1996=1) 6 5 PIB per capita (mensal) PIA Salário médio nominal (mensal) (1996=1) 4 3 2 1 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Aparentemente, não muito (exceto 2012-14): salário médio cresceu menos do que mínimo e PIB pc (Cresc. médio anual) 16% 14% Salário mínimo PIB pc Salário médio nominal (PIA) 12% 10% 8% 6% 4% 2% 0% 1997-99 2000-04 2005-11 2012-14

CUT e desempenho comercial (Exp. e Imp. 2006=100) Quantum Exportações Indústria Quantum Importações Indústria 220 Import. Média 1996-2004 190 160 130 100 X aumentaram 10% a.a. e CUT +2% a.a. 1996-2005 70 X caíram -0,7% a.a e CUT +11% a.a. 2005-14 40 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Conclusão (1/2) Desde a segunda metade dos anos 1990 a perda de dinamismo da indústria parece mais endógena, como refletido em uma retração ou estagnação da produtividade A partir de 2004-05 retrocesso é combinado com forte alta dos rendimentos reais do trabalho e apreciação do câmbio para gerar uma elevação significativa do custo unitário do trabalho (CUT) da indústria de transformação Combinação de queda/estagnação da produtividade, alta pronunciada do rendimento real do trabalho e apreciação cambial (até 2011)

Conclusão (2/2) Desvalorização cambial observada em 2012-2014 deu algum alívio à indústria Logo, perda de competitividade esteve mais concentrada no período 2004/05-11 Perda de dinamismo da indústria de transformação brasileira esteve associada a uma perda prolongada de competitividade, como refletido no CUT relativo a outros países Mas que esse resultado parece ter sido mais a consequência de problemas internos do país, em especial o fraco desempenho da produtividade, do que de uma abertura comercial exagerada, ou táticas desleais de nossos parceiros comerciais. Se é assim, e para o futuro? Qual é agenda para a retomada da produtividade?

Obrigado pela atenção