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Transcrição:

REQUERIMENTO Nº, DE 2012 - CPMI Requer seja solicitada informações sobre movimentações financeiras/bancárias, inclusive protegidas por sigilo, da empresa Ocean Development II, que envolva a remessa ou recebimento de valores de brasileiros ou pessoas jurídicas sediadas no Brasil, ao Procurador-Geral ou pessoa por ele designada dos Estados Unidos da América, por meio do Ministério da Justiça. Senhor Presidente, Requeiro, nos termos do art. 58, 3º, da Constituição Federal e art. 2º da Lei 1.579/52 c.c. as disposições do Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal (MLAT) entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América (promulgado pelo Decreto n. 3.810/2001), seja solicitada ao Procurador-Geral ou pessoa por ele designada dos Estados Unidos da América, por meio do Ministério da Justiça, informações sobre movimentações financeiras/bancárias, inclusive protegidas por sigilo, da empresa Ocean Development II, que envolva a remessa ou recebimento de valores a/de brasileiros ou pessoas jurídicas sediadas no Brasil. A empresa Ocean Developmente II, com sede nos Estados Unidos, em Coral Gables, Florida, pertencente ao empresário argentino

Roberto Coppola, firmou contrato de prestação de serviço de assistência jurídica com o escritório de advocacia MORAIS, CASTILHO E BRINDEIRO SOCIEDADE DE ADVOGADOS, para elaboração de parecer jurídico relativamente à legalidade da reativação de loterias estaduais nos Estados de Santa Catarina e de Mato Grosso, posteriormente pago pelo Sr. Geovani Pereira da Silva, contador do Sr. Carlos Cachoeira, por transferência bancária no valor total de R$ 161.279,85 (cento e sessenta e um mil, duzentos e setenta e nove reais e oitenta e cinco centavos). JUSTIFICAÇÃO Em resposta ao Ofício n. 361/2012 CPMI-Vegas, de 18 de junho de 2012, foi informado pelo Subprocurador-Geral da República, Dr. Geraldo Brindeiro, por meio do Ofício GABSUB/GB n. 04/2012, que as transferências que totalizaram R$ 161.279,85, realizadas por Geovani Pereira da Silva, em favor do escritório MORAIS, CASTILHO E BRINDEIRO SOCIEDADE DE ADVOGADOS, foram motivadas por um contrato de prestação de serviço de assistência jurídica (não juntado) firmado com a empresa Ocean Development II, com sede nos Estados Unidos, em Coral Gables, Florida, cujo proprietário é o empresário argentino Roberto Coppola. Segundo afirma no expediente, o serviço de assistência jurídica consubstanciou-se na confecção de uma parecer jurídico relativamente à legalidade da reativação de loterias estaduais nos Estados de Santa Catarina e de Mato Grosso. Os vultosos valores transferidos para pagamento dos serviços prestados foram identificados pelo Laudo de Perícia Criminal Federal Contábil Financeiro n. 1833/2011 INC/DITEC/DPF (fls. 2583/2608) e pelo Relatório de Análise n. 01/2010-Operação Monte Carlo/SR/DPF/DF (fls. 1731/1735) da Polícia Federal, constantes do Inquérito Polícia n. 089/2011, tendo sido realizados nos meses de agosto e setembro de 2009 e junho e agosto de 2010.

Ademais, conforme notícias veiculadas pela imprensa 1, o Sr. Roberto Coppola, proprietário da empresa, possuía vários negócios com o Sr. Carlos Cachoeira. Dentre eles, pode-se citar a empresa Larami Diversões e Entretenimento Ltda. que, além de possuir como sócio a empresa Brazilian Gaming Partners (BGP, vinculada ao bicheiro), possuía nominalmente como administrador o Sr. Carlos Augusto Ramos. A empresa Larami administrava jogos online no Estado do Paraná e possuía máquinas semelhantes a caça-níqueis em diversos bingos de Curitiba. Com essas premissas, penso que existe fortes indícios de envolvimento da referida empresa Ocean Development II com o Grupo Organizado comandado pelo Sr. Carlos Cachoeira, cuja proporção permite que a presente Comissão Parlamentar Mista de Inquérito avance seus trabalhos com a solicitação de informações bancárias da citada pessoa jurídica. Ora, não é razoável que aceitemos a realização de uma transferência de mais de R$ 160 mil reais sem que haja um vinculo entre os envolvidos (Ocean Development II e Carlos Cachoeira). O presente requerimento encontra suporte no Art. I do Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal (MLAT) firmado entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América, promulgado pelo Decreto n. 3.810/2001, que permite como forma de assistência em investigações, inquéritos, ações penais e prevenções de crime, o fornecimento de documentos, registros e bens, dentre outras assistência, entre os Estados partes, ainda que o fato não seja punido nas leis de ambos os Estados. Segundo o art. II do Acordo, o envio e recebimento das solicitações serão executados pelas denominadas Autoridades Centrais de cada Estado, que no caso do Brasil é o Ministério da Justiça e no caso dos Estados Unidos da América é o Procurador-Geral ou pessoa por ele designada. Pondere-se que a Quinta Turma do Colendo Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar a legalidade de uma decisão da 5no julgamento do HC n. 147.375/RJ, já assentou que até mesmo a quebra de sigilo de conta 1 http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1246760. Acessado em 17/07/2012, às 12h28min.

bancária registrada no exterior, a despeito de sua base no referido Acordo de Assistência Jurídica em Matéria Penal (MLAT) não possui limitação de crimes (leves ou graves), não fere o princípio da igualdade entre as partes (vez que pode ser utilizado também pela defesa, desde que solicitado pelo juiz), não se submete a exclusividade de utilização de Carta Rogatória para execução (ante a existência de outros meios de cooperação entre os países) e não ofende o princípio da territorialidade, sendo possível a concessão pela Justiça brasileira quando a competência para processo e julgamento dos fatos criminosos caiba ao magistrado prolator da decisão (independentemente de ser sua execução feita no exterior). Senão vejamos a íntegra da emenda do acórdão: HABEAS CORPUS. EVASÃO DE DIVISAS (ARTIGO 22 DA LEI 7.492/1986). QUEBRA DE SIGILO DE CONTA BANCÁRIA NO EXTERIOR. ACORDO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA EM MATÉRIA PENAL CELEBRADO ENTRE OS GOVERNOS BRASILEIRO E DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA - MLAT. PROMULGAÇÃO PELO DECRETO 3.810/2001). ALEGADA INAPLICABILIDADE A CRIMES CONSIDERADOS LEVES. INEXISTÊNCIA DE RESTRIÇÃO NO MENCIONADO INSTRUMENTO JURÍDICO. ILEGALIDADE NÃO CARACTERIZADA. 1. Da leitura do item 4 do artigo 1º do Acordo de Assistência Jurídica em Matéria Penal - MLAT, percebe-se que os Governos do Brasil e dos Estados Unidos da América reconhecem a especial importância em combater os graves crimes ali listados, sem, contudo, excluir a apuração de outros ilícitos, já que não há limitação ao alcance da assistência mútua a ser prestada, de modo que a simples afirmação de que o delito de evasão de divisas não estaria previsto no mencionado dispositivo legal não é suficiente para afastar a sua incidência na hipótese, uma vez que, como visto, o rol dele constante não é taxativo, mas meramente exemplificativo. 2. Aliás, já na introdução do Acordo tem-se que o Brasil e os Estados Unidos pretendem "facilitar a execução das tarefas das autoridades responsáveis pelo cumprimento da lei de ambos os países, na investigação, inquérito, ação penal e prevenção do crime por meio de cooperação e assistência judiciária mútua em matéria penal", ou seja, por meio dele os Governos almejam o auxílio no combate aos delitos em geral, e não com relação a apenas algumas e determinadas infrações penais. 3. Por sua vez, no item 1 do artigo 3º do Acordo estão enumeradas as restrições à assistência, dentre as quais não se encontram crimes considerados leves, notadamente o de evasão de dividas. ALEGADA IMPRESTABILIDADE DO MLAT POR VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. APONTADA UTILIZAÇÃO DO ACORDO APENAS PARA O ATENDIMENTO DE PEDIDOS FORMULADOS NO INTERESSE DA ACUSAÇÃO. POSSIBILIDADE DE A DEFESA PLEITEAR A PRODUÇÃO DA PROVA AO JUÍZO, QUE A SOLICITARÁ AO

ESTADO REQUERIDO. INCONSTITUCIONALIDADE NÃO EVIDENCIADA. 1. Muito embora o Ministério da Justiça tenha informado aos impetrantes, via e-mail, que "segundo a Autoridade Central estadunidense, pedidos de cooperação que solicitam diligências requeridas pela defesa não estão abrangidas pelo Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América (Decreto nº 3.810, de 21/02/2001)", o certo é que nada impede que o acusado, por seus advogados, pleiteie ao Juízo a produção de determinada prova, e que este a solicite ao Estado requerido por meio do MLAT. 2. Mesmo que os Estados Unidos da América não aceitem pedidos de prova requeridos pela defesa em face das peculiaridades do sistema da common law lá adotado, não há dúvidas de que inexistem impedimentos no direito pátrio a que o juiz solicite, por meio do acordo, as providências desejadas pelo acusado. 3. Em arrremate, deve-se destacar que o Acordo de Cooperação Mútua Internacional - MLAT entre os Governos brasileiro e estadounidense foi promulgado em maio de 2001, por meio do Decreto 3.810, jamais tendo sido alvo de declaração de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, que inclusive já o examinou em diversas ocasiões, o que reforça a improcedência da arguição de sua imprestabilidade por ofensa ao princípio da isonomia previsto na Constituição Federal. INDIGITADA VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 368 E 783 DO CÓDIGO PENAL. AVENTADA EXCLUSIVIDADE DA CARTA ROGATÓRIA PARA A OBTENÇÃO DE DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES NO EXTERIOR. EXISTÊNCIA DE OUTROS MEIOS DE COOPERAÇÃO ENTRE OS PAÍSES ADMITIDOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO. EIVA INOCORRENTE. 1. A carta rogatória não constitui o único e exclusivo meio de solicitação de providências pelo juízo nacional ao estrangeiro, prevendo o direito processual internacional outras formas de auxílio como as convenções e acordos internacionais. 2. O entendimento atual é o de que os acordos bilaterais, tal como o ora questionado, são preferíveis às cartas rogatórias, uma vez que visam a eliminar a via diplomática como meio de cooperação entre os países, possibilitando o auxílio direto e a agilização das medidas requeridas. 3. Como se sabe, o ordenamento jurídico deve ser interpretado de forma sistêmica, não se podendo excluir, notadamente em se tratando de direito internacional, outros diplomas legais necessários à correta compreensão e interpretação dos temas postos em discussão, mostrando-se, assim, totalmente incabível e despropositado, ignorar-se a existência de Acordo de Assistência Judiciária celebrado entre o Brasil e os Estados Unidos da América, regularmente introduzido no direito pátrio mediante o Decreto 3.810/2001, e que permite a obtenção de diligências diretamente por meio das Autoridades Centrais designadas. ALEGADA INCOMPETÊNCIA DE MAGISTRADO BRASILEIRO PARA AUTORIZAR A QUEBRA DE SIGILO DE CONTA BANCÁRIA SITUADA NO EXTERIOR. PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE. POSSIBILIDADE DE AUTORIZAÇÃO DA MEDIDA PELA JUSTIÇA BRASILEIRA. EXECUÇÃO

DEPENDENTE DA AQUIESCÊNCIA DO ESTADO ESTRANGEIRO. EXISTÊNCIA DE ACORDO ENTRE OS GOVERNOS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO DEMONSTRADO. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. A competência internacional é regulada ou pelo direito internacional ou pelas regras internas de determinado país acerca do direito internacional, tendo por fontes os costumes, os tratados normativos e outras regras de direito internacional. 2. Em matéria penal deve-se adotar, a princípio, o princípio da territorialidade, desenvolvendo-se na justiça pátria o processo e os respectivos incidentes, não se podendo olvidar, outrossim, de eventuais tratados ou outras normas internacionais a que o país tenha aderido, nos termos dos artigos 1º do Código de Processo Penal e 5º, caput, do Código Penal. Doutrina. 3. Na hipótese em apreço, imputa-se ao paciente o delito de evasão de divisas, cujo processo e julgamento, bem como os eventuais incidentes, compete à Justiça Brasileira, de modo que a quebra de seu sigilo bancário encontra-se inserida na jurisdição pátria, não se podendo acoimar de incompetente a magistrada da 5ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro simplesmente porque a conta pertencente ao acusado estaria localizada fora do território nacional. 4. Apenas a execução da medida, por depender de providências a serem tomadas em outro país, dependerá da aquiescência do Estado estrangeiro, que a realizará ou não a depender da observância das normas internas e de direito internacional a que se sujeita, sendo que, in casu, como visto, existe Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal a respaldar o envio da documentação e das informações requeridas pelo Ministério Público Federal e autorizadas judicialmente. 5. Ordem denegada. (Superior Tribunal de Justiça, Quinta Turma, HC 147.375-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe 19/12/2011, vol. 73, p. 128) Na hipótese em apreço, em que está sendo investigada as práticas criminosas do senhor Carlos Augusto Ramos e seus envolvimentos com agentes públicos e privados, cuja competência para processo e julgamento cabe a Justiça brasileira, a solicitação de informações bancárias também compete a Justiça interna, neste caso exercida pela presente CPMI, não havendo o que se acoimar de incompetente uma possível decisão favorável do presente Requerimento apenas porque a conta bancária está localizada fora do território nacional. Por lógica, que a sua execução, por depender de providências a serem tomadas em outro país, necessitará da aquiescência do Estado estrangeiro, mas essa condição não deve ser entendida como um embaraço a concessão da medida. Pelo contrário, por caracterizar obrigações de acordo internacional, o descumprimento pelo Estado estrangeiro alcança

normas próprias do Direito Internacional a ser questionada na instância competente. Nessa conjuntura, havendo fortes indícios de envolvimento da empresa Ocean Development II, e seu proprietário, com o Grupo Criminoso comandado pelo Sr. Carlos Cachoeira e havendo Acordo de Assistência Jurídica em Matéria Penal (MLAT) entre a República Federativa do Brasil e os Estados Unidos da América, além de precedente do STJ, parece-me necessária e viável a solicitação de informações bancárias aqui requeridas. Note-se que as informações de movimentações bancárias da referida empresa que envolvam brasileiros ou pessoas jurídicas com sede no Brasil nos permitirá aquilatar documentalmente a extensão das ramificações e atividades do Grupo Criminoso, objeto da presente Comissão, em âmbito internacional, possibilitando inclusive sopesar possíveis transações financeiras tendentes a esconder ou diluir o proveito dos crimes em ambiente estrangeiro. Por fim, cabe ressaltar que não há Ação Direita de Inconstitucionalidade em desfavor do MLAT em tramite no Supremo Tribunal Federal, que inclusive já o examinou em diversas ocasiões (como no Inq.2245), conforme ressaltado no julgado do STJ acima colacionado, o que esvazia possíveis críticas em desfavor da constitucionalidade do presente Requerimento pelos ilustres Pares. Em suma, considerando a finalidade precípua desta Comissão de investigar as práticas criminosas do senhor Carlos Augusto Ramos e agentes públicos e privados, desvendadas pelas operações "Vegas" e "Monte Carlo" da Polícia Federal, bem como o seu dever constitucional de busca da verdade real, é imprescindível seja procedida a solicitação de informações bancárias da empresa Ocean Development II limitadas no presente Requerimento. Sala de Reuniões, PEDRO TAQUES Senador da República