Sarah Aparecida Ribeiro Universidade do Vale do Sapucaí - UNIVÁS sarah_ribeiro_98@hotmail.com Luciana Pereira Rezende Universidade do Vale do Sapucaí - UNIVÁS luciana.univas@gmail.com Maria Lucia Pagliarini Saponara Universidade do Vale do Sapucaí - UNIVÁS talute@gmail.com Resumo - O presente trabalho analisa o funcionamento do discurso da arte dentro do discurso da propaganda. Tendo como amostra anúncios premiados do Clube de Criação de São Paulo, a esta pesquisa fornecerá subsídios para produção de análise dos discursos aqui propostos e produção de fonte de informações para aulas do curso de Publicidade e Propaganda. Palavras-chave Propaganda 1, Arte 2, Discurso 3. Abstract O presente trabalho analisa o funcionamento do discurso da arte dentro do discurso da propaganda. Tendo como amostra anúncios premiados do Clube de Criação de São Paulo, a esta pesquisa fornecerá subsídios para produção de análise dos discursos aqui propostos e produção de fonte de informações para aulas do curso de Publicidade e Propaganda. Palavras-chave Propaganda 1, Arte 2, Discurso 3. 1. Introdução: A escolha do tema que desenvolve uma análise sobre a arte na propaganda busca compreender um pouco mais do funcionamento dos discursos presentes em nossa sociedade. Num futuro, talvez possamos usufruir deste aprendizado. Também podemos abrir nossa mente, assim como a de nossos possíveis leitores, para ver de outro lado a criatividade que existe por trás das propagandas. O principal objetivo deste trabalho é verificar como as propagandas comerciais usam a obras de artes para seduzir o consumidor. Algumas vezes essa propaganda disfarça, quase que totalmente, a relação entre a obra de arte com o anúncio e só uma pessoa que tenha um conhecimento maior sobre esta, pode conseguir descobrir. Num primeiro momento apresentamos os conceitos trabalhados,
falamos sobre o funcionamento da arte na propaganda, apresentamos um histórico do desenvolvimento da propaganda no país e desenvolvemos a análise discursiva proposta. Propaganda e a Arte Para identificar os efeitos de sentidos produzidos por obras de arte dentro do discurso publicitário, inicialmente vamos entender os conceitos trabalhados aqui, para que futuramente professores e alunos dos cursos de comunicação da UNIVÁS disponham deste material para análise, discussão e compreensão dos discursos aqui estudados. A propaganda consiste em divulgar uma ideia e a publicidade que tem papel de divulgar o produto de maneira sedutora e conquistar, com isso, o consumidor levando-o à compra. Ambas muitas vezes usam da arte para fazer isso. É importante ressaltar que existem autores as consideram com o mesmo sentido. Para Corrêa, acho que o trabalho individual do vendedor não é uma ação de comunicação, mas, principalmente, uma ação de vendas (2002, p. 20). Independente do autor ou de sua definição, tanto propaganda quanto publicidade são uma ação de comunicação. Primeiro para lidar com isto precisamos saber: o que é arte? Não há uma maneira específica pra definir exatamente o que é arte, pois se você procurar no dicionário encontrará que a arte são algumas manifestações humanas, mas nem tudo que é manifestação humana pode ser arte. Para Coli a autoridade institucional do discurso competente é forte mas, inconstante e contraditória e não nos permite segurança no interior do universo das artes. (2000, p. 22) A manifestação da arte humana acontece há muito tempo, desde as pinturas rupestres aos dias atuais. E a arte foi tendo várias fases, diferentes obras foram sendo produzidas e agora são consideradas obras-primas. Alguns exemplos de como a publicidade se apropriou da arte:
Figura 1 Apropriação da obra David de Michelangelo Fonte: www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo.php?conteudo=344 (2012). Neste caso publicitário utilizou-se a obra David de Michelangelo, que virou Mc David caracterizado como Ronald McDonald. O autor relacionou a publicidade da comida saudável com a bela forma de David. De acordo com Marco Aurélio (2012) A arte,segundo Marco Aurélio Japiassú,pode sim interferir na propaganda,pois dela, os publicitários podem retirar ideias pra suas propagandas,e ate mesmo,utilizar algumas dessas obras em suas propagandas,já que utilizando obras famosas e conhecidas,podem dar credibilidade e atenção à propaganda que a usa,então,alguns publicitários utilizam de obras artísticas para conseguir sua campanha,porém,a propaganda certamente ainda não interfere na arte. (p.1). Isso significa que entre a arte e a propaganda há uma diferença fundamental: A propaganda é criada com prazos de término, de entrega, criada exclusivamente para tal estilo de público, para tal estilo de cliente, para tal estilo de produto sempre se focalizando o resultado final e o que será alcançado com ela:a satisfação do cliente no produto entregue a ele. Enquanto que a arte é realizada sem nenhum tipo de foco financeiro,é feita com expressões emocionais, sentimentais com o que se está acontecendo no exato momento em que esta sendo criada. No final dela, o artista não estará pensando para qual tipo de pessoa ele irá vender, nem publicar sua obra. Se Leonardo fosse vivo hoje e pintasse a Mona Lisa para uma agência de publicidade, como fundo para uma propaganda para uma revista a Mona Lisa seria uma ilustração, mas, mesmo como ilustração ela poderia exercer influência sobre as pessoas. Neste caso essa ilustração continuaria sendo arte, mas nela a arte estaria fazendo parte de um todo em vez de estar só. O que se percebe hoje em dia, é que essa parceria entre publicidade e arte tornou-se usual e quanto mais se conhece a origem das ilustrações com obras de arte mais se aprecia e melhor se compreende o objetivo da propaganda. A verdade é que a fronteira do lugar da arte se diluiu e não é mais
possível determinar com exatidão, o que pertence ao mundo dos museus e que pertence ao mundo fora deles. No histórico da publicidade, observamos que os primeiros anúncios eram exclusivamente escritos, mas com o advento da técnica de reprodução de imagens no Século XIX com a litografia e a fotografia, a publicidade ganhou maior espaço na mídia e obteve maior êxito em suas funções. Assim devido à realidade do nosso cotidiano, intensamente valorizado pela imagem, sejam elas concebidas para mídia impressa, seja para mídia eletrônica que são hoje, basicamente constituídas de texto escrito e imagens, a utilização da obra de arte como artefato de ilustração fez com que a publicidade investisse num novo código de criatividade, pois não basta apenas a ilustração, mas a sua releitura e adaptação aos propósitos pretendidos. Em algumas vezes temos imagens apropriadas de diferentes períodos da Historia da Arte com pequenas alterações e em outras vezes temos a releitura das imagens com alterações mais significativas inserindo-as em novos contextos. Como por exemplo esses anúncios publicitários: Figura 2 Apropriação da obra Nascimento do Homem (Michelangelo) em propaganda http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mylinks/viewcat.php?cid=4&min=20&orderby=titlea&show=10 Nesse caso, o publicitário utilizou uma obra renascentista para mostrar ao futuro comprador como Nokia deixa a imagem tão ou mais perfeita que uma obra prima. Figura 3 Apropriação da obra Auto-retrato de Van Gogh http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mylinks/singlelink.php?cid=4&lid=17584
Aqui o publicitário utilizou a imagem do próprio artista, conhecido pelo caráter temperamental, para relacionar saúde mental com Prozac,conhecido antidepressivo. Figura 4 Apropriação da obra O quarto em Arles de Van Gogh em propaganda http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=310&evento=1 Nesta apropriação, o publicitário utilizou a imagem da obra O Quarto em Arles de Vincent Van Gogh. Foi espelhada a cadeira de frente para a mesa, iluminando o produto, para mostrar ao futuro comprador que, com o Notebook, ele acessará o mundo e deixará de ser só. Dependendo de sua utilização, a arte literária pode também se tornar uma propaganda, como por exemplo, em uma propaganda da Caixa. É um comercial televisivo em razão do aniversário de cento e cinquenta anos da Caixa,em que uma atriz segura um livro cuja capa nos mostra um cenário do século passado e, quando a personagem abre esse livro,aparece Machado de Assis, e nos informa um rápido trecho da biografia do literato e o início da Academia Brasileira de Letras e faz a homenagem à época contemporânea de Machado, com a sutil publicidade da instituição, e também o começo da atuação Caixa, nos seduzindo para usufruirmos dos privilégios e benefícios que a Caixa nos oferece. Essa utilização de imagens para reforçar uma mudança de atitude por parte de um público específico não é atual. A Igreja sempre utilizou no seu trabalho de convencimento dos fiéis para a procura da salvação. Assim na Idade Média a figura do diabo teve uma importante função servindo como principal referência para a propaganda da Igreja Católica. As terríveis torturas a que o homem mau seria submetido no inferno e a maravilhas do paraíso povoavam as imagens e conduziam o imaginário do período. A imagem grotesca e aterradora visava assustar as pessoas que desobedecessem as leis morais e se entregassem ao pecado. Como exemplo esta imagem da arte medieval:
O caminho do Inferno http://theoway.blogspot.com.br/2012/09/o-inferno-na-idade-media-como-igreja.html. Além da iconografia do Diabo, a distribuição espacial das figuras religiosas nas obras sacras da Idade Média também propagou essa ideia do medo do inferno. Na obra Juízo Final de Michelangelo, Jesus ao centro é cume de um triangulo cujas extremidades das bases revelam de um lado anjos buscando os homens salvos e de outro um ser demoníaco conduzindo os pecadores em um barco: Figura 5. O Juízo Final de Michelangelo http://www.infoescola.com/pintura/juizo-final-michelangelo/ O Renascimento, período em que a arte teve uma manifestação gloriosa com pintores magníficos que eternizaram, em suas obras,figuras que se tornaram ícones na civilização ocidental,fornece aos nossos atuais publicitários inúmeras possibilidades de releituras, ora como paráfrases ora como paródias, todas enriquecendo o universo da propaganda. A famosa Mona Lisa tem proporcionado, aos nossos anunciantes, propagandas muito engraçadas. A Bombril, a Coca-Cola, a Colgate e a Lego utilizaram-na como garota propaganda, para enfatizar que seus produtos também são verdadeiras obras primas.
Figura 6. Apropriações do quadro Mona Lisa de Leonardo da Vinci em propaganda http://pubproparte.zip.net/. A Unilever para fazer a propaganda de seu produto Ades utilizou, nada menos, que o famoso quadro de Michelangelo Caravaggio, Baco acrescentando que seu produto é bom porque foi aprovado pelo Deus do Vinho Figura 7. Propaganda ADES - Bacco - Michelangelo Caravaggio - Barroco http://quadroseretratos.wordpress.com/2012/02/16/quando-a-publicidade-encontra-a-arte/
Andando no tempo chegamos a La Belle Époque, mundo de Toulouse Lautrec, artista, amigo de Van Gogh, Gaugin, Oscar Wilde que imortalizou com seus cartazes o famoso Moulin Rouge. Foi Lautrec que deu início à distribuição de cartazes de propaganda pela cidade, no caso Paris, para propagar as maravilhas das dançarinas do cabaré que ele amava. Moulin Rouge é o nome de uma casa de espetáculos e dança inaugurada em Paris em 1889, que era frequentada pelos franceses e estrangeiros mais ricos que procuravam divertimento. Antes de Lautrec, os cartazes eram criados apenas com a finalidade informativa, com muitos textos e sem preocupação com as imagens. Com seus cartazes o pintor inaugurou uma nova forma de publicidade: a que procura conquistar o público por meio de imagens coloridas e atraentes e de textos curtos e criativos que fixam a informação principal na memória do público. É assim no cartaz abaixo em que anuncia a representação de La Goulue, dançarina conhecida na época. O cartaz chama a atenção do observador pela repetição de palavras, um recurso inovador para a época: Figura 8. Cartaz Moulin Rouge - Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901) http://artnouveaubrasil.wordpress.com/category/art-nouveau/ No Brasil, a história da publicidade e da propaganda tem inicio ainda no século XIX quando o desenvolvimento econômico, baseado agro-exportação, promove um crescimento urbano capaz de abrigar diferentes atividades profissionais e setores de negócios que necessitam comunicar sua existência ao mercado. Os primeiros anúncios aparecem principalmente nos jornais e se referem à venda de imóveis,de escravos,datas de leilões, ofertas de serviços de artesões e profissionais liberais.embora os jornais recebam a maioria dos anúncios também podemos encontrar no período, outros veículos, como os cartazes, painéis pintados e folhetos avulsos. No início do século XX, com a melhoria do parque gráfico e o aparecimento das revistas chamadas de semanários ilustrados - os anúncios ganham ilustrações e cores e seus textos se tornam mais objetivos. O presidente da República e seus ministros são as personagens preferidas dos desenhistas.
As primeiras agências de publicidade começam a aparecer a partir de 1914, começam como impressão de anúncios e evoluem para as agências como foi o caso da Eclética, sediada em São Paulo. Após a primeira Guerra Mundial, com o desenvolvimento industrial que se inicia no país,chegam as empresas americanas e com elas chegam também as agências de propaganda norte-americanas que imprimem uma nova estética e exigem a profissionalização das áreas envolvidas com a publicidade e propaganda, neste sentido,desenhistas,fotógrafos,áreas de criação e gráficas ganham um novo impulso técnico e profissional para atender as necessidades das novas agências. Na década de 20 tem início as primeiras grandes campanhas de empresas multinacionais que se instalam no pais. A Bayer é pioneira em campanhas para promover seus produtos, principalmente Cafiaspirina,Aspirina e Alka-Seltzer. Mesmo com a crise de 29, publicidade se desenvolve a passos largos, aparecem os painéis de estrada, o outdoor, os anúncios em revistas e jornais tornam-se mais sofisticados, slides coloridos em lâminas de vidro, são exibidos nos cinemas e programa e jingles para as rádios são criados dentro das agências. Com a Segunda Guerra Mundial, acontece um decréscimo no movimento de anúncios criando uma crise nos setor da publicidade que passa a se recuperar somente a partir de 1945. A consolidação da sociedade de consumo acontece a partir do pós-guerra e durante toda a década de 50, multiplicando produtos como veículos, eletrodomésticos, refrigerantes, vestuário, e fazendo surgir os crediários que facilitam as compras, promovem o crescimento da produção e do consumo e o mercado publicitário cresce, os profissionais da área sentem a necessidade de se organizarem e, para tanto, surge a Associação de Propaganda (ABA), o conselho nacional de imprensa (CNI) em 1949, e posteriormente a Associação Brasileira de Agência de Propaganda (ABAP). A televisão irá trazer um novo impulso para a já sofisticada publicidade brasileira, criando mais um veículos para a divulgação de produtos de campanhas. Os anúncios são principalmente de eletrodomésticos, produtos para as donas de casa, alimentos e automóveis. São Paulo é o principal centro de publicidade e propaganda, muitos profissionais do Rio de Janeiro - capital do país no período - migram para as agências paulistanas com a finalidade de atenderem os setores em crescimento, principalmente o automobilístico que promovem fortes campanhas e concorrências (Jeep, Volkswagen, Ford, GM, Chevrolet). A indústria cultural se consolida no país e a mídia cresce e aperfeiçoa rapidamente. E do ponto de vista de criação e originalidade, podemos dizer que as décadas de 70 e 80 representam a fase áurea da publicidade brasileira. As premiações em festivais internacionais se iniciam em 1972 com o primeiro Leão de Ouro em Cannes com a peça Homens com mais de 40 anos de Washington Olivetto (DPZ). As agências brasileiras se multiplicam e profissionais como Duailibi, Petit, Zaragosa,Washington Olivetto, Alex Periscionotto, Geraldo Alonso, Marcelo Serpa, Nizan Guanaes e Marcio Moreira ganham renome internacional. A publicidade brasileira passa a ser considerada uma das melhores do mundo sendo o seu maior reflexo o número de premiações que as agências brasileiras alcançam nos festivais internacionais.
Arte publicitária brasileira atingiu um grau de sofisticação tal que foi criado o Clube de Criação de São Paulo para abrigar os melhores trabalhos na área. Ele é uma associação cultural, sem fins lucrativos, de profissionais de criação publicitária. Tem como principal objetivo, ao editar o Anuário, contribuir para a cultura brasileira registrando anualmente em livro as ideias mais criativas dos profissionais de Propaganda, Material Promocional, Marketing Direto, Design e Internet de todo o país. O Anuário de Criação reúne os trabalhos mais criativos de propaganda brasileira, no julgamento de profissionais da criação. É um prêmio para o trabalho criativo e para todos os que contribuem para colocar esse trabalho nas ruas. Mas é acima de tudo, memória criativa, por constituir-se em importante documento histórico e fonte de consulta para profissionais e estudantes ligados aos setores da comunicação, e para todos aqueles que se interessem pela cultura geral. Para finalizar esta pesquisa neste trabalho sobre a Arte na Propaganda utilizamos aqui os anúncios premiados recentemente pelo Clube da Criação. Neles foram utilizadas partes de obras de arte, especificamente os olhos dos quadros Rosa e Azul (As Meninas Cahen d Anvers, de Renoir (1881), Retrato de Jovem Com Corrente de Ouro, de Rembrandt,(1635); e O Escolar ( O Filho do Carteiro-Gamin au Kepi de Vincent Van Gogh) 1888, todos pertencentes ao acervo do MASP, em que foram inseridos textos que falam com o espectador algo da vida de cada pintor, sua época e seu estilo, seguidos da afirmação de que esses olhos já viram muitas coisas, mas que no meio delas uma coisa ainda não vi: VOCÊ.VENHA.EU QUERO TE VER num convite explícito para que se vá ao MASP. A seguir apresentaremos as peças e os textos e então desenvolveremos uma análise descritiva e comparativa, elencando características próprias de cada discurso, procurando estabelecer relações entre arte e técnica publicitária..
F i g u r a 9. Campanha MASP Anuário do Clube de Criação de São Paulo do ano de 2010. Eu vi tinta sendo transformar em Impressionismo. Eu vi RENOIR me pintando. Eu vi a decepção do banqueiro que me encomendou. Vi seu descaso me jogar a um quarto empoeirado. Vi os anos se passando. Vi a Europa reconhecer meu valor. Vi o Brasil me recebendo.vi um lar em crescimento. Vi esse mesmo lar se transformar no museu mais visitado do país. Mas, em meio a tudo isso, uma coisa ainda não vi: VOCÊ. Venha, eu quero te ver.
Figura 10. Campanha MASP Anuário do Clube de Criação de São Paulo do ano de 2010. Eu vi fotógrafo antes da fotografia ser inventada. Eu vi REMBRANDT. Vi suas pinceladas me formando. Vi uma nova era começando. Vi REALISMO. Vi a Europa, vi o mundo, vi finalmente o BRASIL. Vi um museu em formação. Vi o sonho de um homem virar o maior Museu América Latina. Mas, entre tudo isso, uma coisa ainda não vi: VOCÊ. Venha, eu quero te ver.
Figura 10. Campanha MASP Anuário do Clube de Criação de São Paulo do ano de 2010. Eu vi o fracasso de um gênio. Eu vi os últimos anos de VINCENT VAN GOGH. Vi franceses não reconhecendo meu valor. Vi um mestre morrer na miséria. Vi a Europa se arrependendo. Vi milionários me disputando em leilões. Vi um novo lar. Vi professores ensinando. Vi crianças aprendendo. Vi um jovem museu virar o museu mais visitado do país. Mas, no meio disso tudo.uma coisa ainda não vi: VOCÊ. Venha. eu quero te ver. Tais criações, cheias de estilo e de charme, evidenciam a nossa colocação inicial de que a Arte é uma manifestação humana que pode estar em qualquer lugar, mesmo numa propaganda, desde que quem a utilize saiba tirar dela aquilo que venha ao encontro não só da sua criatividade, mas principalmente que leve ao consumidor um novo olhar e um pouco mais de cultura. Para Gilmar a influência da publicidade sobre o comportamento das pessoas se dá mais no sentido de perpetuar valores já consolidados do que propagar valores novos (2005,p. 22)
Observando os anúncios propostos retomaremos a noção de formação discursiva, segundo Orlandi O discurso se constitui em seus sentidos porque aquilo que o sujeito diz se inscreve em uma formação discursiva e não outra para ter um sentido e não outro (2002, p. 43). Desta forma podemos considerar que temos duas formações discursivas funcionando no discurso apresentado. Segundo Payer (Aula inaugural) 1, o texto que vem adquirindo o valor de Texto fundamental na sociedade contemporânea é aquele que está na Mídia, e em um sentido amplo, no marketing, na publicidade. Ela introduz o que chama de enunciado de Mercado, que funciona hoje como lugar máximo de interpelação do sujeito, o sucesso. Acredita-se que essa formação discursiva capitalista faz parte desse discurso do sucesso. Ainda segundo Orlandi falamos a mesma língua mas falamos diferente. (2002, p.79-80). A formação discursiva da propaganda que segundo Payer faz parte do discurso de mercado e a formação discursiva que nos remete ao universo artístico. Enquanto o texto trabalha no universo artístico, ele trabalha a historicidade da obra apresentada, contando um pouco de seu autor e de seu percurso até chegar ao cliente anunciado: o MASP. Na sequência temos a formação discursiva publicitária que rompe o pré-estabelecido do universo artístico colocando a própria obra como observador e convidando o leitor do anúncio (futuro visitante) a conhecer o museu. Ambas as formações discursivas funcionam dentro do discurso de mercado citado. Observando a constituição dos processos discursivos responsáveis pelos efeitos de sentidos produzidos pelo material analisado, devemos considerar os mecanismos de antecipação e as posições sujeito. O redator do anúncio coloca-se na posição do sujeito retratado na obra para discorrer sobre o autor de cada uma delas e sobre seu percurso histórico. Trabalhando com os mecanismos de antecipação ele coloca-se no lugar em que seu interlocutor ouve suas palavras. Ele antecipa-se e regula a argumentação,dizendo de um modo e não de outro, segundo o efeito que pensa produzir em seu ouvinte. Temos na formação discursiva do universo artístico, a cultura de frequentação e observação das obras de arte, e na formação discursiva publicitária temos a cultura de ruptura de sentidos préestabelecidos para chamar a atenção do leitor do anúncio,mas especificamente de um público alvo2 determinado. Aqui o redator rompe com a posição sujeito pré-estabelecida, ele coloca a obra de arte no lugar do observador, na posição sujeito do observador. Assim ele atinge o seu objetivo de impactar seu receptor, potencializando o discurso de seu texto utilizando as formações discursivas apresentadas. Ele amplia a significação do discurso publicitário alterando os lugares presentes na memória de frequentação do discurso artístico. 1 - Aula inaugural do Mestrado em Lingüística da UNIVÁS, Pouso Alegre (MG), em 03.09.2004. 2 - A definição do público-alvo significa identificar um segmento particular ou segmentos da população que você deseja servir.
2. Conclusão Apresentamos o trabalho de um publicitário que tem a função de seduzir o consumidor e levá-lo a comprar seu produto. E a propaganda sempre usa muito das obras de arte para conquistar os consumidores. Segundo Carrascozza, É sabido que todo discurso procede de alguém, dirige-se para alguém e procura convencer em maior ou menor grau (1999, p. 17 ). Observando os dois discursos juntos, podemos afirmar que a publicidade utiliza o discurso artístico para ampliar a significação e o impacto de sua criação. Conseguimos identificar e analisar algumas das especificidades de cada formação discursiva, observando como se complementam e significam. A fala de uma na outra, funcionando com suas especificidades, cada qual permeada pela ideologia que as constitui, cada qual complementando novos sentidos que se apresentam, que se constroem. Um futuro estudo poderá identificar outros funcionamentos possíveis, novos sentidos, novos questionamentos. São os questionamentos que movem o mundo. 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLOG DE PROPAGANDAPUBLICIDADE. Comentários sobre arte e publicidade. Disponível em: http://pubproparte.zip.net/. Acesso em: 04/07/12 CARRASCOZA, João A. A evolução do texto publicitário: associação de palavras como elemento de sedução na publicidade.8ª Ed.São Paulo: Futura,1999. COLI, Jorge. O que é arte. 15ª Ed. São Paulo:Brasiliense,2000. CÔRREA, Roberto. Planejamento de propaganda. 10ª Ed. São Paulo: Global,2002. DIREITO SOB A PERSPECTIVA INFORMAL DA POPULAÇÃO BRASILEIRA. Bombril e Mona Lisa. Disponível em: http://direitobemfeito.wordpress.com/2010/11/17/bombril-e-mona-lisa/. Acesso em: 21 de Nov. 2012. INFOESCOLA. Artes Pintura Juízo Final (Michelangelo). Disponível em: http://www.infoescola.com/pintura/juizo-final-michelangelo/. Acesso em 21 de nov. 2012. MONOGRAFIA BRASIL ESCOLA. Definição, propaganda é arte? Disponível em: http://monografias.brasilescola.com/administracao-financas/definicao-propaganda-arte.htm. Acesso em: 14 de Nov. 2012. O CAMINHO THEOWAY.BLOGSPOT.COM.O inferno na idade média. Disponível em: http://theoway.blogspot.com.br/2012/09/o-inferno-na-idade-media-como-igreja.html. Acesso em: 26/09/12 ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 9ª. ed. Campinas,SP:Pontes, 2002.
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