4 MODELOS PARA PREVISÃO DE REFLUXO DO MATERIAL DE SUSTENTAÇÃO DA FRATURA

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Transcrição:

4 MODELOS PARA PREVISÃO DE REFLUXO DO MATERIAL DE SUSTENTAÇÃO DA FRATURA Nas aplicações práticas, alguns modelos estão sendo atualmente empregados para a previsão do reluxo do material de sustentação de raturas hidráulicas (Andrews e Kjorholt, 1998; Asgian e Cundall, 1994; Sparlin e Hagen, 1995; Parker e Van Batenburg, 1999, entre outros). Tais modelos, descritos a seguir, podem ser classiicados em modelos empíricos e teóricos. 4.1. MODELOS EMPÍRICOS 4.1.1. Modelo do consórcio Stimlab Desde 1996 o consórcio Stimlab, undado e inanciado por várias companhias de petróleo, vem realizando ensaios de laboratório para investigar sob quais condições o reluxo do material de sustentação ocorre. Além de pesquisar os mecanismos responsáveis pelo enômeno, o consórcio propôs correlações empíricas para previsão do reluxo do propante com base nos resultados experimentais assim obtidos. De maneira a simular as condições no interior da ratura hidráulica, o Stimlab usa uma célula de reluxo que consiste de duas placas paralelas capazes de aplicar pressão sobre o propante contido entre elas. O luido circula através do pacote granular com velocidade crescente até que a produção de propante se inicia; neste instante, a velocidade do luido é registrada como a velocidade mínima de luidiicação. Como resultado das observações experimentais, o reluxo do material de sustentação ocorre em três dierentes regiões da ratura (Figura 4.1), a saber:

6 Figura 4.1 Seção longitudinal do pacote granular mostrando as zonas de reluxo (Stimlab, 1996-00). Zona I - chamada de zona do ângulo de repouso, inclui a peruração e um trecho próximo da ratura, cujo comprimento é deinido em unção do ângulo de repouso e da altura do propante no interior da ratura. O ângulo de repouso na condição submersa, medido para uma variedade de propantes, situa-se no intervalo de 30º a 39º, dependendo da densidade, esericidade e rugosidade dos grãos (Tabela 4.1). Se o comprimento da ratura é adequado para ormação da zona I, a produção espontânea de material de sustentação (sem luxo na ratura) deixará de acontecer quando o ângulo de repouso na zona I or atingido. Esta zona é a primeira a ser ormada no interior da ratura e pode ser inerido que sua criação ocorre durante a operação de limpeza de uma ratura real, em campo. O volume de propante produzido durante este período corresponde à produção de uma parcela esperada de grãos, acilmente transportados logo após o inal do raturamento. Uma análise mais detalhada desta região é, portanto, de pouco relevância e não será prosseguida neste trabalho. O inal da zona I no modelo Stimlab é marcado pelo ponto de descontinuidade, resultante da interseção da superície do talude de repouso com a base de um canal de luxo (Fig. 4.1) acima do pacote granular. Os grãos de propante na zona II se movem devido a tensões de cisalhamento geradas pelo luxo do luido em movimento neste canal. A velocidade de luxo mínima para mobilizar os grãos pode ser teoricamente prevista.

63 Tabela 4.1 Ângulo de repouso para dierentes propantes de acordo com o consórcio Stimlab (1996-00). A base do canal é erodida até que uma altura de equilíbrio seja atingida para determinada velocidade de luxo. Se a velocidade diminuir, o canal torna-se estável; caso contrário, a proundidade continua aumentando. Uma vez ormado o canal de luxo no topo do pacote granular, a maior parte do luxo é redirecionada do pacote granular para o canal da zona II. Grãos de propante erodidos da base do canal serão transportados na direção do poço. Finalmente, na zona III o pacote granular é assumido estável até que alguns grãos sejam mobilizados devido a velocidades de luxo excessivas ou ocorram esmagamentos de partículas. Quando a produção do material de sustentação é iniciada nesta região, a zona II é criada. Por esta razão, a estabilidade na região de luxo através da matriz porosa (pacote granular) é crítica. Pequenas variações nas taxas de luxo podem rapidamente causar instabilidades e o início da ormação do canal por erosão. Após a realização de vários ensaios e sugerir a existência de um processo envolvendo três zonas da ratura, descrevendo suas importâncias relativas no mecanismo de produção do agente de sustentação, o consórcio Stimlab propôs uma expressão empírica para explicar, de orma empírica e simples, o comportamento dos resultados obtidos experimentalmente. A expressão prevê a mínima velocidade de luxo para desestabilizar o pacote granular no interior da ratura, com base no processo descrito para a zona II. Esta abordagem desconsidera, entretanto, a inluência da tensão de echamento na previsão do reluxo. De maneira a parcialmente contornar esta diiculdade, o Stimlab optou por incluir um ator para consideração dos eeitos da tensão de echamento. Como visto anteriormente no capítulo, o aumento da tensão de coninamento majora a estabilidade do pacote granular até determinado valor, além do qual, devido ao esmagamento e produção de inos, tende a produzir eeitos não desejados. Entretanto, a correlação empírica proposta pelo Stimlab ignora este aspecto do comportamento do

64 pacote de propantes, considerando que a velocidade crítica tende a ininito à medida que a tensão de echamento é continuamente majorada. Conseqüentemente, para valores da tensão de echamento da ratura superiores a 7.000 psi (48 MPa) a correlação é pouco coniável de acordo com alguns autores (Asgian e Cundall, 1994; Sparlin e Hagen, 1995). A igura 4. mostra as curvas que delimitam as regiões estáveis e instáveis de acordo com a correlação do consórcio Stimlab. Ressalta-se, neste ponto, que elas não concordam totalmente com algumas das recomendações da literatura (ver item..4 Critérios para Seleção de Propantes) que prevêem uma grande perda de estabilidade quando o número de camadas de grãos de propante or superior a 6 no interior da ratura. Do exame das curvas da Fig. 4., percebe-se que para raturas mais largas do que 6 camadas, a correlação empírica prevê ainda um aumento da estabilidade se os valores da tensão de echamento orem suicientemente elevados. Também é importante mencionar que a correlação oi proposta para propantes cerâmicos, incluindo um ator de escala para dierentes tamanhos de grão. De acordo com o Stimlab, podem ser utilizadas no caso de areias também. correlação; A velocidade crítica normalizada V s,c, em t/s, pode ser obtida da seguinte V 1 SG d C p p s, c =, 17 Co + C pµ 1 (4.1) onde d p indica o diâmetro médio da partícula em polegadas, Cp é a concentração do propante em lb/t, µ a viscosidade do luido em cp, SG p representa a densidade do propante, C o é um ator de coesão adimensional e C l o ator relacionado com a tensão de echamento e expresso por: 3 P, 0.131 c net 3.5 13W r C 1 = (4.) Na equação (4.) a pressão inal de echamento P c, net é incluída em psia e Wr representa a largura normalizada da ratura (largura da ratura dividida pelo diâmetro médio da partícula de propante).

65 O parâmetro de coesão C o não é claramente deinido. Segundo o consórcio Stimlab, varia de 1 a 3 dependendo do aditivo misturado no tratamento de propantes. Figura 4. Representação gráica do modelo Stimlab delimitando regiões de estabilidade para dierentes números de camadas de grãos de propante no interior da ratura (Stimlab, 1996-00). Combinando as equações 4.1 e 4., a velocidade crítica normalizada, representada graicamente na igura 4., pode ser escrita como: V c, s = 3 SG pd p Pc, net 1,17 Co + 0,131 3.5 C pµ 13W r (4.3) A velocidade V c,s representa um valor normalizado para uma ratura sustentada por 8,4 camadas de propante de tamanho 0/40. Para converter à velocidade real de interesse, é sugerido empregar-se a seguinte correlação: 8,4 5,4d p V = c Vc, s (4.4) Wr 0,7 onde ambas as velocidades são expressas em t/s e o diâmetro médio d p em polegadas.

66 4.1.. Modelo da cunha livre Este modelo oi desenvolvido por Andrews e Kjorholdt (1998) com base nos resultados de 50 ensaios de laboratório, sob condição de luxo monoásico, realizados pelo consórcio Stimlab até 1994. O modelo, representado graicamente na Figura 4.3, considera os eeitos da largura normalizada da ratura W r, das orças hidrodinâmicas ou de arraste através do termo F, deinido pela equação 4.5a, e da tensão de echamento da ratura, através do termo C da equação 4.6. 3 dp d p F = (4.5a) dx d re onde o gradiente de pressão dp/dx e o termo de arraste F são expressos em Psi/t e o ator de escala (d p /d re ) é adimensional com d re = 0,071 cm = 0,084 in, correspondente ao diâmetro médio do propante Carbolite 0/40. A normalização cúbica para o termo de arraste é proporcional à orça de corpo atuante sobre um grão esérico de diâmetro D gerada pelo movimento do luido (equação 4.5b). Assim, para as mesmas condições de luxo (gradiente hidráulico) propantes de maior diâmetro sorerão a ação das maiores orças desestabilizadoras. F p 4 D = π ( dp / dx) (4.5b) 3 Quanto ao termo do echamento da ratura, 1 d re C = (4.6a) P c, net d p C é expresso em Psia -1 visto que a pressão inal de echamento P c,net é escrita em termos de psia. Assumindo que quanto maior or o diâmetro do propante menor será o número de grãos em contato com as superícies da ratura e, conseqüentemente, maior será o valor da tensão normal no contato propante / superície da ratura. Considerando um pacote denso de eseras para representar o pacote granular, é possível provar que o eeito no termo de echamento pode ser quantiicado através de uma unção quadrática do diâmetro médio das eseras, o que justiica a normalização incluída na equação 4.6.

67 Figura. 4.3 - Representação gráica do modelo da cunha livre (Andrews e Kjorholt, 1998). As curvas da Fig. 4.3 delimitam os contornos de largura normalizada de ratura W r correspondentes ao início da produção do material de sustentação sob determinadas condições de echamento da ratura (1/C) e de luxo monoásico (F). Os valores experimentais (provenientes dos 50 resultados de ensaio) estão também marcados sobre este gráico. As equações das curvas oram expressas por Andrews e Kjorholdt (1998) através do seguinte polinômio W r 3 5 3 5, max = 3,+ 5,51 10 C 5,47 10 C + 0,17F + 1,61 10 CF 6,9 10 F 5,34 10 C F (4.7) onde a largura normalizada estável máxima W r,max é obtida como uma variável adimensional em unção dos termos de arraste F e da tensão de echamento C, deinidos anteriormente. As ormas das curvas sugerem duas regiões de comportamento dierentes. Na primeira, onde a tensão de echamento é baixa (C > 1,5 x 10-3 ), as orças de arraste tornam-se dominantes no processo de reluxo do material de sustentação; pode-se observar nesta região que raturas relativamente largas são ainda estáveis se as orças hidrodinâmicas atuantes orem de muito baixa intensidade. Um pequeno aumento da velocidade de luxo (logo do termo F) pode no entanto desestabilizar o pacote granular e iniciar a produção de propante. À medida que a tensão de echamento aumentar, a estabilidade do pacote é majorada devido ao aumento das orças de atrito interpartículas, até o ponto onde o termo de echamento atingir aproximadamente o valor

68 C~ 1,0 x 10-3, além do qual os eeitos da tensão de echamento começam a ser opostos, devido à ocorrência de esmagamentos, ormação de inos e perda de estabilidade. Isto signiica que as orças de contato entre grãos tornam-se tão grandes que um esmagamento parcial pode ocorrer e, conseqüentemente, produzir instabilidade do pacote granular. Na igura 4.4 a redução da estabilidade do pacote granular com a tensão de echamento é claramente evidenciada. A tendência das observações experimentais suporta a idéia da existência de cunhas que deinem regiões de estabilidade para qualquer valor da largura normalizada da ratura. Figura 4.4 Resultados experimentais de ensaios de laboratório (J.Canon, 003). A orma das curvas da Fig. 4.3 para seis ou menos camadas não é muito convincente, entretanto, porque pode-se concluir que determinada ratura é instável sob um valor baixo da orça hidrodinâmica porém estável para um valor alto desta mesma orça. Isto é uma limitação do modelo, baseado no ajuste dos dados de laboratório pelo polinômio da equação 4.7. Entretanto, apesar desta e de outras restrições (validade apenas para os intervalos de F e C representados na Fig. 4.3; aplicabilidade para dierentes tipos de propante ainda não extensivamente testada), o modelo de cunha livre tem o mérito de incorporar, de maneira consistente, a interação entre os atores mais importantes (largura de ratura, tensão de echamento, orças de arraste) que controlam o enômeno do reluxo do material de sustentação em raturas hidráulicas.

69 4.1.3. Modelo de Potência Este modelo oi também sugerido pelo consórcio StimLab (Barree e Conway, 00) com base na aparente existência de um diâmetro mínimo d, normalizado em relação à largura da ratura W, para o qual a produção do material de sustentação não seria produzido para qualquer valor da velocidade do luido monoásico. Matematicamente, esta condição oi convenientemente ormulada considerando o modelo reológico de potência 1 para viscosidade através da utilização das equações propostas por Richardson-Zaki et al.(1954), mostradas a seguir. d W = d W d d Wmax W + 1.5 R 1 + R t 3 (4.8a) d W max Rt = 79d = 0.01d + 0.165 (4.8b) onde o menor valor de (d/w ) é teoricamente zero, mas inicialmente oi escolhido igual a 0,001; o maior valor de (d/w max ) deve ser experimentalmente obtido. Nas equações acima R representa o número de Reynolds para as condições reais de luxo e R t indica o número de Reynolds crítico, para determinado valor de (d/w), no qual se inicia a produção do material de sustentação (velocidade suicientemente alta). O expoente 1,5 que controla a orma da curva intermediária (Figuras 4.4 a 4.6) mostrou-se constante para todas os resultados dos vários resultados de ensaios examinados, bem como o expoente 3 que representa a inclinação da tangente à curva (d/w) versus R no ponto de início da instabilidade do propante. A abordagem empírica deste modelo sugere que (d/w max ) seja uma unção do diâmetro da partícula e a posição do ponto de transição seja uma unção do quadrado do diâmetro da partícula. Naturalmente, ambos os valores também dependem da viscosidade do luido. 1 Modelo reológico de viscosidade para representação não-linear da relação entre tensão de cisalhamento e taxa de deormação do luido.

70 Como crítica principal do modelo, cita-se que à medida que o valor crítico de (d/w) é aproximado, a velocidade de luxo torna-se muito problemática e não é acilmente replicada em laboratório. Além disso, a inluência da tensão de echamento não é claramente incorporada no modelo. As iguras 4.5, 4.6 e 4.7 mostram curvas de previsão de instabilidade do pacote granular relacionando o número de Reynolds R com o valor crítico da razão (d/w). A igura 4.5 oi baseada em ensaios de laboratório executados em propantes de malha 16/30, incluindo propantes cerâmicos Carbolite (diâmetro médio 0,97mm) e areia Jordan (diâmetro médio 0,8mm). Amostras onde o luxo do material de sustentação não oi observado oram também destacadas na igura, bem como as duas curvas ajustadas para ambos os tipos de propantes. A igura 4.6 apresenta resultados similares para propantes da malha 1/0, constituídos por amostras de areia Jordan (diâmetro médio de 1,04 mm) e de areia Brady (diâmetro médio de 1,35 mm). A igura 4.7 sumariza os resultados, mostrando os eeitos empíricos do diâmetro nas curvas ajustadas para propantes 30/60, 0/40, 16/30, 1/0, bem como uma curva geral e média para todos os tamanhos de propante considerados.

71 Figura 4.5 Resultados experimentais de laboratório com luxo monoásico em propantes com abertura de malha 16/30 (Barree e Conway, 00. Figura 4.6 Resultados experimentais de laboratório com luxo monoásico em propantes com abertura de malha 1/0 (Barree e Conway, 00).

7 Figura 4.7 Sumário das curvas ajustadas pelo modelo de potência (Barree e Conway, 00 A Figura 4.8 mostra ainda como o modelo pode ser modiicado para incluir um limite inerior para a produção do material de sustentação, i.e, quer-se conhecer para determinado diâmetro de partícula o valor da velocidade mínima para início do luxo de propante, basicamente independente da concentração do propante e da viscosidade do luido. Neste caso escolheu-se para (d/w ) o valor 0,015 e dos ajustes dos dados experimentais com base na equação (4.9) veriicou-se que o expoente relacionado com a orma da curva intermediária mudou de 1,5 para 1,8 para todos os casos estudados. O expoente que representa a inclinação da tangente às curvas no ponto de início da instabilidade, também soreu leve variação de 3 para,9. d W = d W d d Wmax W + 1.8 R 1 + R t.9 (4.9)

73 Fig 4.8 - Sumário das curvas ajustadas pelo modelo de potência com a inclusão de um limite inerior para velocidade de luxo (Barree e Conway, 00). 4.1.4. Modelo da Correlação de Bi-Potência Um modelo mais genérico do que o proposto originalmente pelo consórcio StimLab oi também desenvolvido por Wang, Conway e Barree (001) com base na retroanálise dos resultados de ensaios experimentais. O problema do luxo de propante oi analisado com base na utilização de duas dierentes ormulações para o número de Reynolds. Na primeira, um número de Reynolds da partícula R G oi deinido em unção das massas especíicas do luido ρ e do propante ρ p, ambas expressas em lb m /t 3, da aceleração da gravidade g (3 t/s ), da viscosidade do luido µ (cp) e do diâmetro da partícula d p (em polegadas). R G 3 ρ g( ρ p ρ )( d p /1) = (4.10) ( µ /1488,16) Na segunda, o número de Reynolds do luido R oi baseado na largura do canal de luxo W (em polegadas), na massa especíica do luido ρ (lb m /t 3 ), viscosidade do luido µ (cp) e na vazão Q F (t 3 /dia).

74 ρ ~ v ( W /1) R = (4.11) ( µ /1488,16) onde ~ QF v = 8600 (4.1) ( W /1) O desenvolvimento deste modelo oi eito com base na consideração de que uma partícula sólida lutua num luido de Poiseuille sob certo número de Reynolds do luido e sob determinado número de Reynolds da partícula. Após a análise de uma série de dados experimentais, Wang, Conway e Barree (op.cit.) perceberam que este par crítico de números de Reynolds situa-se sobre retas num gráico em escalas log-log, o que evidencia um comportamento sob orma de unção de bi-potência. A unção para previsão da produção do material de sustentação dependerá de três parâmetros: a máxima largura da ratura estável, normalizada em relação ao diâmetro da partícula, W r,max e os dois números de Reynolds mencionados anteriormente. Resultados de ensaios de laboratório, para os quais a produção de propante não ocorreu, oram então utilizados para deinir os valores dos expoentes da lei de bi-potência, determinando-se então a Equação 4.13. W 0,416 0,148 1,3971 G, max 0, 146 R r RG R = (4.13) Novamente, uma limitação óbvia deste modelo é que as tensões de echamento atuantes sobre os grãos de propante não oram consideradas, de tal orma que este modelo também pode prever o reluxo de propante apenas sob condições muito especíicas (pequenos valores da tensão de echamento da ratura ou grandes valores da largura da ratura).

75 4.. MODELOS TEÓRICOS 4..1. Modelo da velocidade mínima de luidiicação Um conceito usado reqüentemente em processos de engenharia química e mecânica, chamado de velocidade mínima de luidiicação, oi usado na literatura em várias tentativas para descrever o mecanismo ísico que governa a produção de propantes (Sparlin e Hagen, 1995; Parker, Weaver e Van Batenburg, 1999; Stadalman, Novotn e Houchin, 1985). Em uma camada de partículas sólidas em repouso, a queda de pressão pode ser calculada por uma expressão conhecida como equação de Ergun. Se a velocidade do luido or constantemente aumentada, atinge-se um valor v no qual as partículas não mais permanecem em repouso mas se luidiicam sob a ação do luido (líquido ou gás). Neste momento, a porosidade do pacote de partículas sólidas também aumenta para um valor crítico chamado de porosidade mínima para luidiicação ε m,. ( McCabe e. Smith, 1976). A velocidade de luxo na qual a luidiicação das partículas se inicia pode ser estimada mediante a extrapolação da equação de Ergun para o caso de várias camadas de partículas, obtendo-se então a equação seguinte (Stadalman, Novotn e Houchin, 1985): (1 ε m ) (1488,16) v 1,75(1 ε m ) ρ v (1 ε m )( ρ p ρ ) g = 150 + 3 (4.14) ε m 3 [ φs( dp /1)] ε φs( dp /1) m onde g representa a aceleração da gravidade ( 3t/s ), d p é o diâmetro médio das partículas de propante em polegadas, µ a viscosidade do luido expressa em cp, v a velocidade de luidiicação, ρ p e ρ as massas especíicas do propante e do luido, respectivamente, em unidades lb m /t 3. Se a esericidade das partículas φ s (esericidade pereita φ s = 1.0) e a porosidade mínima para luidiicação ε m puderem ser estimadas, então a velocidade mínima de luidiicação v pode ser determinada pela equação (4.14) ou, mais acilmente, pelas

76 equações (4.15) abaixo. O propante é considerado estável se a velocidade de luxo or inerior ao valor de v assim calculado. v B ( B + = (4.15a) A 4A C ) A B C 1,75( d p /1) ρ = φ ε ( µ /1488,16) s 3 m 150( d p = 3 φ ε g = m /1) ρ (1 ε ( µ m /1488,16) 3 ρ ( d p /1) (6,48SG p ρ ( µ ) /1488,16) ) (4.15b) ε m = 1-0,356(logD p -1) (4.15c) onde D p representa o diâmetro da partícula em mícron. Os modelos propostos na literatura com base na velocidade mínima de luidiicação não consideram a inluência da tensão de echamento da ratura na estabilidade do pacote granular. Eles são suportados basicamente pela existência da zona II reerida no modelo empírico Stimlab. Conseqüentemente, estes modelos (Sparlin e Hagen, 1995; Parker, Weaver e Van Batenburg, 1999; Stadalman, Novotn e Houchin, 1985) são somente aplicáveis para situações de baixos valores da tensão de echamento da ratura ou grandes valores de largura da ratura. Neste último caso, de acordo com os modelos empíricos Stimlab e da Cunha Livre (seção precedente), a maioria das raturas tende a ser instável independentemente da tensão de echamento atuante.

77 4... Modelo Semi-Mecânico Espera-se que neste ponto esteja claro ao leitor que existem diiculdades e limitações com os vários modelos até aqui apresentados. Todavia, tem-se também e certamente, neste mesmo ponto, o conhecimento necessário para reunir as dierentes características destes modelos em uma única ormulação, com o objetivo de evitar as restrições identiicadas anteriormente e expandir os limites de aplicabilidade do modelo. Este modelo, por combinar um modelo teórico (mínima velocidade de luidiicação) com um modelo empírico (cunha livre), oi denominado de modelo semimecânico (Canon et al., 003), apresentando as seguintes características básicas: a interação entre a tensão de echamento da ratura, as orças de arraste e a largura da ratura, relete-se na orma do modelo de cunha livre. Por esta razão, o modelo semi-mecânico será baseado nos mesmos conceitos de regiões de estabilidade; porque a inluência da largura normalizada da ratura é altamente relevante, o modelo semi-mecânico incorpora também os resultados determinados em estudos experimentais (Milton-Tayler et al., 199) e teóricos (Asgian e Cundall, 1994) para os quais raturas de grande largura tendem a ser instáveis; porque sempre há uma velocidade mínima necessária para mobilizar os grãos de propante, torna-se claro que as curvas do modelo de cunha livre (Figura 4.3) não podem cruzar o eixo das abscissas. Na realidade, elas tendem a se tornar assintóticas sob um valor de gradiente de pressão que pode ser calculado através da equação de Ergun (Eq. 4.14). As propriedades do propante também podem ser incluídas no novo modelo. A região de desestabilização mecânica, descrita pelo modelo de cunha livre, será relacionada com a resistência do material que constitui o propante. No modelo semi-mecânico os cálculos relacionados com o critério de estabilidade iniciam com a determinação da orça de arraste através da equação (4.16).

78 ln( Pc net a, ) ' F sta = WT exp 0,5 + FFV S (4.16) T onde F sta representa o máximo gradiente de pressão que uma ratura estável pode suportar, sob determinadas condições de tensão de echamento, largura da ratura e resistência do propante. O gradiente de pressão é expresso em unidades psi/t, enquanto que a pressão inal de echamento P c,net é escrita em unidades psia. O termo a é considerado constante e igual a 7,717, enquanto que F FV representa o mínimo gradiente de pressão suiciente para desestabilizar grãos do propante (psi/t), valor dependente da mínima velocidade de luidiicação do pacote granular. As variáveis restantes da equação 4.16 correspondem aos termos de largura da ratura W T (equação 4.17a) e da resistência do propante S T (equação 4.17b). W T = 14,5 exp( 1,0483W r ) (4. 17a) 5 S = 3 10 + 0,368 (4.17b) T S MAX onde W r é a largura normalizada da ratura em relação do diâmetro médio do propante e S MAX representa a resistência nominal do propante em unidades psia, normalmente ornecido pelo abricante do propante. A tabela 4. lista valores típicos de S MAX para vários tipos de propantes, assim como os valores de tamanho e densidade dos grãos (SG p ), coeicientes de permeabilidade nominal e reduzida. Estes valores de resistência nominal de S MAX oram obtidos experimentalmente aplicando-se tensões de coninamento que causaram a redução do coeiciente de permeabilidade do pacote granular em 15% do valor nominal. Considerando-se que há já esmagamento de algumas partículas de propante. Tabela 4. Valores típicos da resistência nominal do propante S MAx (Canon, 003)

79 Como pode ser percebido na equação (4.16), o termo W T é proporcional à F sta, de tal modo que com o crescimento de W T o pacote granular tende a se tornar mais estável. O termo W T também sore um signiicativo decréscimo quando W r varia de para 7, tornando-se pequeno e praticamente constante para valores da largura normalizada da ratura W r superiores a 7. O termo F FV da equação (4.18) depende da velocidade mínima de luidiicação v que pode ser calculado, conorme já mencionado, pela equação de Ergun. Uma vez determinada, o mínimo gradiente de pressão suiciente pra desestabilizar os grãos pode ser calculado pela lei de Darcy como: F FV v u 7 = 1,365 10 (4.18) k (md). onde µ é a viscosidade do luido (cp) e k a permeabilidade do pacote granular Calculada o máximo gradiente de pressão F sta pela equação (4.16), este valor é comparado com o gradiente de pressão real na ratura. Caso este seja inerior a F sta então a ratura é estável; caso contrário, instável. As iguras 4.8 e 4.9 mostram as envoltórias que representam dierentes regiões de estabilidade para dois tipos de propante. Cada curva corresponde à determinada largura normalizada de ratura (ou número de camadas de propante). A maneira de utilização destas curvas é a seguinte: a) a tensão de echamento da ratura é estimada e o gradiente de pressão do luido na ratura é calculado;

80 b) com a inormação acima, um ponto é localizado nos gráicos das Figs. 4.8 ou 4.9. Se o ponto estiver situado no interior da envoltória correspondente à largura normalizada da ratura, então esta pode ser considerada estável. Caso contrário, a produção de material de sustentação é esperada acontecer. Figura. 4.9 - Envoltórias para areia na malha 0/40. Figura. 4.10 Envoltórias para propante cerâmico de alta resistência na malha 0/40.

81 4..3. Método dos Elementos Discretos Asgian e Cundall (1994) aplicaram o método dos elementos discretos no problema do reluxo de material de sustentação. Esta técnica numérica oi proposta por Cundall em meados da década de 1970 e tem sido desde então usada em vários problemas envolvendo a interação de partículas em sistemas granulares. O método dos elementos discretos é baseado em algoritmos de dierenças initas no tempo para resolver a equação do movimento de cada partícula, considerando uma sucessão de pequenos intervalos de tempo. Em cada intervalo, as orças atuantes são admitidas constantes, a aceleração da partícula é determinada via segunda lei de Newton e as correspondentes velocidades e deslocamentos obtidas por duas integrações seqüenciais no tempo. No início do novo incremento de tempo, as orças são atualizadas com base nos deslocamentos assim computados e considerando-se leis de contato apropriadas. A característica mais importante desta aplicação (Asgian e Cundall, op.cit.) oi mostrar a habilidade do método em simular o mecanismo de produção do propante, evidenciado pela ormação de um arco na boca da ratura devido à ação de tensões de compressão. O arco tornou-se instável para larguras de ratura superiores a 5,5 diâmetros da partícula, conirmando, portanto, as primeiras observações experimentais de Milton-Tayler et al (199). As colunas de propante em rente do arco lambam e as partículas são acilmente transportadas pelo luido para o interior do poço. Apesar de sua grande potencialidade, aparentemente não há registros da aplicação do método dos elementos discretos para situações de campo, prevalecendo ainda a utilização de métodos empíricos como erramenta de projeto e acompanhamento do tratamento de poços por raturamento hidráulico. 4.3. CASO HISTÓRICO - ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS MODELOS EMPÍRICOS Canon et al. (003) analisaram o comportamento de 4 raturas produzidas em poços de petróleo no sul do Texas (EUA), caracterizados por baixas permeabilidades do reservatório (0,5 0,05 md) e altas temperaturas (10º C 180º C). Nestas raturas ocorreu produção do material de sustentação com intensidades variáveis em relação ao volume de propante injetado.

8 As retroanálises para determinação das condições de estabilidade do pacote granular oram eitas com o objetivo de veriicar se é possível prever a produção de propante e quais seus eeitos no projeto do tratamento do poço. Propriedades gerais dos propantes utilizados e as dimensões das raturas podem ser obtidas em Canon et al (op.cit.). As análises de estabilidade oram executadas com os modelos empíricos de Stimlab, de cunha livre e o semi-mecânico, e seus resultados oram expressos em unção de um número de estabilidade deinido pela razão da largura da ratura real pela máxima largura de uma ratura ainda estável de acordo com os modelos empíricos. Valores do número de estabilidade superiores a 1 correspondem a conigurações instáveis, conorme mostram os gráicos em linha cheia das iguras 4.10 a 4.1; as proporções entre volumes de propante produzido e injetado são mostradas em linha tracejada. Figura 4.11 Retroanálise da estabilidade das raturas com o modelo Stimlab (Canon et al., 003)

83 Figura 4.1 Retroanálise da estabilidade das raturas com o modelo semi-mecânico (Canon et al., 003) Figura 4.13 Retroanálise da estabilidade das raturas com o modelo de cunha livre (Canon et al., 003) Da análise destes resultados, Canon et al. (003) concluíram que: a) algumas completações (poço 4 estágio, poço 5 estágio ) oram consideradas muito instáveis pelos 3 modelos de previsão e produziram, em campo, os maiores valores percentuais de reluxo do material de sustentação; outras conigurações (poço 9 estágio 4, poço 6 estágio 1) oram previstas estáveis e produziram os menores valores relativos de reluxo;

84 b) a maioria das raturas consideradas instáveis não atingiria a condição de estabilidade com a redução da vazão de produção do poço (e dos gradientes de pressão) apenas. Em tais casos, a estabilidade somente poderia ser alcançada por critérios de projeto, como a redução da largura da ratura, e não por medidas operacionais, como a redução da vazão de produção do poço. c) apesar das previsões dos modelos semi-mecânico e Stimlab terem se revelado um pouco mais precisas, elas apenas conirmam que as raturas instáveis apresentam larguras superiores a 6 vezes o diâmetro médio do propante, ratiicando resultados de laboratório (Milton-Tayler et al., 199). A preocupação de se aplicar o melhor modelo de previsão de estabilidade do pacote granular é portanto secundária ace a incertezas quanto às dimensões das raturas. Canon et al. (003), além da análise da estabilidade do pacote granular pelos métodos empíricos, também estimaram os eeitos do reluxo do material de sustentação na produção do poço. Um destes eeitos é o surgimento, junto ao poço, de um trecho de ratura com comprimento x ck e largura reduzida w ck ( chokedracture skin ), conorme mostra a igura 4.13, que resulta numa diminuição na condutividade da ratura e, conseqüentemente, no decréscimo da produtividade geral do poço. Este eeito pode ser quantiicado pelo ator de estrangulamento ( skin actor ) calculado por (Romero et al., 003): s ck π x W ck p, avg = 1 x Wstable (4.19) onde x representa metade do comprimento médio da ratura (em pés), W stable a largura inal da ratura estável (em polegadas), W p,avg a largura média da ratura em polegadas e x ck o comprimento do trecho estrangulado (em pés) em cada asa da ratura. VPFB x ck = (4.0) h ( W W ) 0,0833 p p, max stable

85 sendo h p a espessura, em pés, da zona de contribuição ( net pay thickness ), W p,max a largura máxima da ratura em polegadas e V PFB o volume de propante produzido (t 3 ) e determinado por V PFB M PFB = 6,75 (1 φ ) SG p p (4.1) onde M PFB é a massa de propante produzido, em libras-massa, φ p a porosidade do pacote granular e SG p a densidade do grão de propante. Figura 4.14 Ilustração de do estrangulamento da ratura junto ao poço ( choked-racture skin ) devido ao reluxo do material de sustentação, (Diego J. Romero, 003). Alternativamente, o estrangulamento da ratura pode ser quantiicado pelo índice de produtividade J d,ck deinido como J d, ck 1 = 1 + s J d, id ck (4.) onde J d,id denota um índice de produtividade ideal, assumindo inexistência de reluxo do material de sustentação e dimensões ótimas da ratura. Nas iguras 4.14 a 4.16, para cada um dos modelos empíricos considerados, oram comparados os valores de J d,id (índice de produtividade ideal), J d,ck (índice de produtividade com estrangulamento da ratura) e J d,sta, este correspondente à melhor produtividade obtida para uma raturada projetada para evitar o reluxo do material de sustentação (metodologia na igura 4.17). Os resultados demonstram que, apesar das dierenças entre os métodos, na maioria dos casos uma quantidade menor de propante poderia ter criado uma ratura estável e um poço mais produtivo do que o atualmente existente. O reluxo do material

86 de sustentação no poço 5, estágios 1 e, por exemplo, reduziu signiicativamente a produtividade do mesmo. Seria portanto benéico introduzir um critério de estabilidade no projeto do raturamento hidráulico, conorme metodologia sugerida na igura 4.17, modiicando-se a quantidade de propante injetado quando o modelo prevê reluxo do material. Esta proposta (Canon et al, 003) não exclui a necessidade da aplicação de outras medidas, como emprego do tratamento de propantes, imposição de limites nos valores da vazão de produção do poço, etc. A desconsideração da estabilidade do propante no projeto do raturamento hidráulico pode resultar em tratamentos sub-ótimos, com aumento dos custos operacionais e decréscimo na produtividade do poço. Um projeto racional deve ter uma preocupação undamental com a estabilidade do pacote granular, mesmo que isto implique na modiicação do tamanho das raturas inicialmente pretendidas; o objetivo é evitar o reluxo do material de sustentação e assegurar a produtividade do poço assim tratado. Figura 4.15 Comparações dos índices de produtividade considerando o modelo da cunha livre (Canon et. al, 003).

87 Figura 4.16 Comparações dos índices de produtividade considerando o modelo de Stimlab (Canon et. al, 003). Figura 4.17 Comparações dos índices de produtividade considerando o modelo semimecânico (Canon et. al, 003).

88 Figura 4.18 Metodologia para incorporar um critério de estabilidade no projeto do raturamento hidráulico (Canon et. al, 003).