Responsabilidade Social: a percepção dos alunos deengenharia de Produção



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Transcrição:

Responsabilidade Social: a percepção dos alunos deengenharia de Produção Elaine Maria dos Santos (UNICENTRO/USP-SC) elaine-maria@uol.com.br José Dutra de Oliveira Neto (USP) Dutra@usp.br Vicente Toniolo Zander (UTFPR) vicente_2006@pg.cefetpr.br Resumo O presente estudo tem como objetivo identificar qual a percepção dos alunos de Engenharia de Produção em relação às práticas de responsabilidade social das empresas. Trata-se de uma pesquisa de natureza aplicada, quantitativa em função do problema, descritiva de acordo com seus objetivos e é um levantamento, considerando os procedimentos técnicos. Utilizou-se um modelo adaptado de questionário do Instituto Ethos (2004), o qual foi prétestado. Os resultados obtidos mostram que o debate sobre o comportamento ético e/ou social das empresas no ambiente da engenharia de produção é bastante presente. Observou-se ainda, grande interesse dos alunos pelo tema responsabilidade social, podendo concluir que este assunto tem espaço nas discussões acadêmicas da engenharia de produção, o que resultará provavelmente, numa geração de engenheiros atuantes e engajados nesta temática. Palavras-chave: Responsabilidade social; Ensino de Engenharia de Produção. 1. Introdução A integração de mercado e a queda de barreiras comerciais acirraram a competição entre as empresas, as quais procuram aproveitar as oportunidades advindas da ampliação de mercados potenciais, mas para que isso ocorra é necessário mudar as estratégias de negócio e incorporar questões como a qualidade, a marca, os serviços ao consumidor, a inovação em produtos, processos e/ou em serviços, além de outros atributos indispensáveis ao sucesso das empresas. No início, a responsabilidade social era vista como um diferencial adotado somente por empresas de grande porte para reconhecimento na comunidade, mas atualmente, diversas empresas têm se esforçado para serem reconhecidas como empresas socialmente responsáveis. Muitas empresas têm desenvolvido práticas de gestão socialmente responsável, mas o principal desafio é encontrar uma forma de gerenciar os negócios, não apenas atendendo às exigências da competitividade, mas também contemplando aspectos do desenvolvimento sustentável e atendendo às reivindicações da sociedade civil. A escolha do tema Responsabilidade Social das Empresas como objeto desta pesquisa justifica-se pela necessidade de conhecimento mais detalhado sobre assunto e sobre a maneira de como os futuros engenheiros de produção percebem estas práticas no contexto empresarial. Esta conscientização do futuro profissional permite elaborar estratégias de ensino que favoreçam o desenvolvimento sustentável. Segundo Castro (1978), É necessário quebrar a tradição de redigir documentos em jargão legal, onde se descreve aquilo que gostaríamos que fosse a realidade, sem qualquer respeito pelo que de fato é a realidade, pelo que é refratário à mudança e sem a astúcia de descobrir os 1

pontos onde o processo é manipulável. Isso demonstra que qualquer contribuição deve passar pela descrição e conhecimento da realidade. O presente artigo tem como objetivo identificar qual a percepção dos alunos de Engenharia de Produção em relação às práticas de responsabilidade social das empresas. A hipótese desta pesquisa é que os alunos de engenharia de produção valorizam as práticas de responsabilidade social das empresas. 2. Conceitos Responsabilidade Social Atualmente, existem diversas definições para responsabilidade social, sendo que cada autor direciona o foco da definição para uma área específica de atuação ou de abrangência, mas observa-se que todas se inter-relacionam no tocante a atitude e comportamento da empresa em face às exigências sociais. Segundo o Instituto Ethos (2005) a responsabilidade social empresarial é uma forma de conduzir os negócios que torna a empresa parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e consegue incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários. De acordo com Asheley (2002) A responsabilidade social pode ser o compromisso que a empresa tem com o desenvolvimento, bem-estar e melhoramento da qualidade de vida dos empregados, suas famílias e comunidade em geral. Para Lima (2001): Responsabilidade social pode ser entendida como opção dos empresários, conscientemente tomada, de investir estrategicamente no campo social. Nesse sentido, Ferrel (2001), complementa que o social não pode ser visto como um mero gasto, mas como um importante investimento. Isso principalmente quando estiver vinculado à promoção do desenvolvimento humano e social. Na concepção de Melo Neto e Froes (2001) Responsabilidade social é a decisão de participar mais diretamente das ações comunitárias na região em que a organização está presente e minorar possíveis danos ambientais decorrentes do tipo de atividade que exerce. 3. Evolução da Responsabilidade Social A responsabilidade social não é um assunto novo no contexto mundial, evoluiu de conceitos e aplicação, mas é uma prática bastante antiga, conforme Quadro 1. Ano/Local 1899 França 1919 Estados Unidos 1929 Alemanha Observações Estabelecia dois princípios às grandes empresas. O primeiro princípio era o da caridade, exigia que os membros mais afortunados da sociedade ajudassem os grupos de excluídos e o segundo era o da custódia, onde as empresas deveriam cuidar e multiplicar a riqueza da sociedade. Contraria um grupo de acionistas ao reverter parte dos lucros na capacidade produtiva, aumento de salários e constituição de fundo de reserva. A Justiça Americana posicionou-se contrária a atitude de Ford, alegando que os lucros deveriam favorecer aos acionistas. Passa a ser aceitável que as empresas, como pessoas jurídicas, assumam 2

1953 Estados Unidos Década 60 Estados Unidos uma função social basicamente em ações de caráter filantrópico. Julga um caso semelhante ao da Ford, mas neste caso a decisão foi favorável à doação de recursos para a Universidade de Princeton, contrariando interesses de um grupo de acionistas, e estabelecendo uma brecha para o exercício da filantropia corporativa. A sociedade se manifesta contra a produção e uso de armamentos bélicos, principalmente armas químicas. As organizações não podiam mais vender o que desejassem. Década 70 Estados Unidos 1977 França 1985 Portugal 1992 Rio de Janeiro Os aumentos nos custos de energia e a necessidade de maiores investimentos para reduzir poluição e proteção de consumidores fazem as empresas buscarem ações para maximizar os lucros, deixando de lado as responsabilidades sociais. Foi aprovada a lei que obriga a realização de balanços sociais periódicos para todas as empresas com mais de 700 funcionários, posteriormente alterada para abarcar empresas com mais de 300 funcionários. Promulga a lei que torna obrigatória a apresentação de balanço social para empresas com mais de funcionários. A ECO 92 deu novo impulso às ações de empresas nos campos social e ambiental. 1993 Herbert de Souza, o Betinho fundou a Ação da Cidadania contra a Fome e Miséria. 1995 Surgiu o Programa Universidade Solidária. 1998 Regulamenta-se a prática do voluntariado. 1997 1998 1999 2000 2001 Foi criado o padrão SA8000 que visa aprimorar as condições de trabalho, adotando e uniformizando os relatórios sócio-ambientais apresentados pelas empresas. O empresário brasileiro Oded Grajew criou o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, entidade virtual sem fins lucrativos, maior referência em Responsabilidade Social no Brasil. Foi criada pelo Institute of Social and Ethical Accountability, nova norma, a AA0, que engloba o processo de levantamento de informações, auditoria e relato social e ético, com enfoque nas partes interessadas. Lançamento do Global Compact (Pacto Global), pelas Nações Unidas, visando promover e implementar nove princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho e meio ambiente. Lançamento do Livro Verde seguido pelo Livro Branco abordando sobre o tema responsabilidade social e incentivando as empresas cotadas na Bolsa a publicarem seus relatórios anuais, além de estimular a adoção de critérios comuns para elaboração de balanços sociais. Fonte: Adaptado de KARKOTLI (2004) e TEIXEIRA (2004). Quadro 1 - Evolução da Responsabilidade Social Mendonça (2002) confirma em sua pesquisa que as empresas já praticam ações sociais fazendo doações a entidades do Terceiro Setor ou estruturando suas próprias fundações 3

sociais. A novidade, segundo o autor, está na evolução da concepção de ação altruística da pessoa do empresário para a noção de filantropia como estratégia empresarial. 4. Indicadores de Responsabilidade Social Os indicadores de responsabilidade social são instrumentos que possibilitam à empresa conhecer o valor de investimento e reconhecer que as práticas socialmente corretas produzem efeitos positivos que valorizam a imagem, a performance e a sustentabilidade da empresa. Karkotli (2004) apresenta uma síntese dos principais indicadores de responsabilidade social, de forma a facilitar a compreensão e auxiliar na escolha do indicador, modelo ou padrão considerado mais adequado à realidade de uma organização facilitando sua implementação: Norma Social Accountability SA 8000: Preocupa-se de forma que a cadeia produtiva da empresa seja socialmente responsável. AccountAbility - AA0: visa auxiliar a organização na identificação, aperfeiçoamento e comunicação das práticas de responsabilidade social. Global Compact (pacto global): É uma plataforma baseada em valores que objetiva promover o aprendizado institucional e propor a utilização do diálogo e transparência em todos os atos da gestão. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social: Indicador que mostra um diagnóstico organizacional que permite que a empresa identifique sua performance em relação às práticas socialmente responsáveis. Balanço Social: Caracteriza a demonstração das práticas de responsabilidade social adotadas pela organização, tornando públicas suas ações sociais. O Indicador de Sustentabilidade Social ISS: tem por objetivo verificar as estratégias de desenvolvimento sustentáveis elaboradas e implementadas pelas organizações, a fim de prover que o lucro financeiro reverta-se em lucro social. A utilização de indicadores de responsabilidade social auxilia as empresas a compreender e incorporar o conceito de empresa socialmente correta no seu dia-a-dia além de valorizar as relações com a comunidade na qual está inserida. 5. O estado da arte da Responsabilidade Social no Brasil e no Mundo De acordo com o estudo feito pelo Instituto Ethos ( Responsabilidade Social Corporativa: Percepção do Consumidor Brasileiro, 2004), o Brasil está posicionado entre os países onde a população tem grande interesse no tema Responsabilidade Social (acima de 70), mas apesar deste interesse apenas 17 dos entrevistados alegaram ter efetivamente prestigiado uma organização socialmente responsável, isso mostra que a população precisa ser mais crítica e atuante no sentido de valorizar as ações de responsabilidade social. Dentre os países que mais prestigiam as empresas com boas práticas de responsabilidade social, o que obteve o maior índice foi a Austrália, com 53 seguida por Canadá e EUA com 44. O Brasil, com 17, situa-se numa posição mediana neste ranking. O menor índice foi o da Grécia, com 4. Gildea apud Peixoto (2006), em sua pesquisa, mostra que 47 dos consumidores americanos comprariam mais de uma empresa que é socialmente responsável se os produtos oferecidos pela concorrência fossem iguais. Os consumidores continuariam preocupados com o preço, qualidade e serviço, mas também baseariam suas decisões de compra nas práticas de negócio 4

da empresa, como ela trata seus empregados, se ela investe na comunidade, se preocupa com meio ambiente e se tem um histórico de estabilidade. Por outro lado, analisando a pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA (2005) sobre a evolução da ação social nas empresas privadas nas regiões sudeste e nordeste, verifica-se as empresas estão mais atuantes na área social, onde houve um aumento de 35 nas indústrias do nordeste e 6 nas do sudeste comparando os anos de 1998 e 2003. Verificou-se que entre empresários do nordeste e do sudeste, 79 e 64 respectivamente, relataram que as ações de responsabilidade social fazem parte da estratégia da empresa. Quando analisa-se a percepção do consumidor brasileiro na pesquisa realizada pelo Instituto Ethos, a mesma revela uma deficiência na comunicação, pois a grande maioria (72) declara nunca ter discutido sobre o comportamento ético ou social das empresas. Neste contexto, observa-se que esta postura dos consumidores brasileiros pode ser em função dos fatores culturais e até mesmo econômicos da sociedade, havendo necessidade premente de melhorar a formação dos indivíduos, despertando principalmente nos estudantes, a visão crítica e participativa nas ações de responsabilidade social. 6. Procedimentos Metodológicos Trata-se de uma pesquisa de natureza aplicada, quantitativa em função do problema, descritiva de acordo com seus objetivos e de acordo com os procedimentos técnicos é considerada levantamento. Utilizou-se um modelo adaptado de questionário do Instituto Ethos (2004), o qual foi prétestado em alunos de pós-graduação em engenharia de produção da Universidade de São Paulo - Escola de Engenharia de São Carlos. O instrumento consta de 18 questões e permite estimar a valorização da Responsabilidade Social pelos alunos de graduação. O ambiente da pesquisa foi uma universidade estadual, localizada no interior do Estado de São Paulo. O questionário foi aplicado em 105 alunos regularmente matriculados, distribuídos entre o 1º, 2º, 3º e 4º ano do curso de Graduação em Engenharia de Produção. Atualmente existem 177 alunos matriculados no curso em questão. A participação dos acadêmicos se deu de forma espontânea, onde foi exposto o objetivo da pesquisa e efetuado o convite a participarem, sendo que todos que estavam presentes naquele horário em questão, participaram da referida pesquisa. 7. Resultados, Análise e Discussão Observa-se que há predominância do sexo masculino. A idade com maior concentração está entre 19 a 21 anos, conforme (Tabela 1). Perfil Total () Sexo Feminino 22,9 Masculino 71,1 Até 18 anos 16,2 De 19 a 21 anos 63,8 Idade De 22 a 25 anos 18,1 De 26 a 29 anos 1,9 De 30 a 34 anos 0,0 Acima de 35 anos 0,0 Ano 1º Ano 26,7 5

2º Ano 32,4 3º Ano 14,3 4º Ano 26,7 Tabela 1 - Perfil do Grupo Através da Tabela 2, verifica-se que há significativa parcela de alunos (81,0) que concordam em parte com a afirmativa de as empresas estão mudando de postura frente às práticas de responsabilidade social. Pode-se afirmar que isso se dá em função do contato destes alunos com diferentes tipos de empresas ao longo do curso, seja através de estágios e/ou parcerias da Universidade, possibilitando uma avaliação mais palpável. Alunos () Concordo totalmente 15,2 Concordo em parte 81,0 Discordo 1,0 Não concordo, nem discordo 2,9 Tabela 2 - Percepção dos alunos sobre a mudança de postura das empresas em relação às práticas de Responsabilidade Social Ao se tratar do assunto freqüência das discussões sobre o comportamento ético e social das empresas, constata-se que os alunos, não estão aquém do assunto, porque 90,5 demonstraram interesse pelo tema. Com isso pressupõe-se que serão futuros profissionais engajados nesta temática (Tabela 3). Discussões () Diversas vezes 19,0 Algumas vezes 44,8 Pelo menos uma vez 26,7 Nenhuma vez 9,5 Tabela 3 - Freqüência de discussões sobre o comportamento ético e social das empresas Através da Tabela 4, verifica-se que os alunos gostariam que as empresas atuassem de forma a ajudar a melhorar a comunidade, nas áreas: Todas, Educação e Treinamento e Outras com respectivamente, 21,2, 20,2 e 39,4. Para a opção Outra foi sugerido meio ambiente, educação e treinamento, arte e cultura, pobreza e saúde. Todas 21,2 Meio Ambiente 3,8 Arte e Cultura 2,9 Crime e Segurança 5,8 Pobreza 2,9 Saúde Humana 2,9 Educação e Treinamento 20,2 Esporte e Lazer 1,0 Outra 39,4 6

Tabela 4 - Áreas em que as empresas deveriam atuar para ajudar a melhorar a comunidade Atualmente diversas empresas possuem relatório social ou ambiental, mas infelizmente, observa-se que esta ação não atinge os estudantes de engenharia de produção, uma vez que 74,3 não leram nem ouviram falar destes relatórios (Tabela 5). Leitura () Sim, eu li um desses relatórios. 6,7 Sim, eu dei uma breve olhada em um desses relatórios. 9,5 Sim, eu vi, mas não li nenhum desses relatórios. 9,5 Não li, mas ouvi uma pessoa que leu falar a respeito. 25,8 Não li nem ouvi falar de nenhum relatório. 29,5 Não ouvi falar de nenhum relatório. 19,0 Tabela 5 - Leitura de relatórios empresariais na área social ou meio ambiente Dentre os que já leram ou viram um relatório empresarial na área social ou meio ambiente, 48 mudaram sua opinião para melhor sobre a empresa e 28 passaram a falar bem da mesma para outras pessoas (Tabela 6). Mudar sua opinião sobre a empresa para melhor 48,0 Falar bem da empresa para outras pessoas 28,0 Comprar os produtos ou serviços da empresa 8,0 Não fez nada 16,0 Tabela 6 - Atitudes frente à leitura de relatórios empresariais Os alunos expressam ter consciência do seu papel como agentes modificadores do mercado, uma vez que 83,8 concordam totalmente e/ou parcialmente que, podem interferir na maneira como uma empresa atua de forma responsável (Tabela 7). Concordo totalmente 31,4 Concordo em parte 52,4 Discordo 12,4 Não concordo, nem discordo 3,8 Tabela 7 - Interferência na atuação da empresa Quando os alunos foram perguntados se têm interesse em conhecer mais os meios que algumas empresas adotam para ser socialmente responsáveis, 88,6 responderam afirmativamente (Tabela 8). 7

Concordo totalmente 47,6 Concordo em parte 41,0 Discordo 4,8 Não concordo, nem discordo 6,7 Tabela 8 - Interesse em conhecer as práticas das empresas socialmente responsáveis Através da Tabela 9, observa-se que 64,8 não pensaram em premiar uma empresa socialmente responsável, enquanto, 35,2 efetivamente fizeram isso. Não pensou em fazer isso 36,2 Pensou, mas acabou não fazendo 28,6 Efetivamente fez isso 35,2 Tabela 9 - Comportamento do aluno: premiação às empresas socialmente responsáveis Enquanto 35,2 efetivamente prestigiaram empresas que tenham comportamento socialmente responsável, 42,9 efetivamente puniram as irresponsáveis (Tabela 10). Não pensou em fazer isso 27,6 Pensou, mas acabou não fazendo 29,5 Efetivamente fez isso 42,9 Tabela 10 - Comportamento do aluno: punição às que não são empresas socialmente responsáveis Neste contexto, estudante de engenharia de produção valoriza os atributos de responsabilidade social das empresas e boicota as que não possuem atitudes socialmente responsáveis. 8. Considerações Finais Diante da hipótese de que os alunos de engenharia de produção valorizam as práticas de responsabilidade social das empresas, os resultados obtidos mostram que os alunos de engenharia de produção acreditam na mudança de postura das empresas em busca de uma atuação socialmente responsável. Observa-se que o debate sobre o comportamento ético ou social das empresas no ambiente da engenharia de produção é bastante presente. Sabe-se que as discussões sobre responsabilidade social no Brasil ainda não é um tema amplamente difundido, mas observou-se grande interesse dos alunos por esta temática, podendo concluir que este assunto tem espaço nas discussões acadêmicas da engenharia de 8

produção, o que resultará provavelmente, numa geração de engenheiros atuantes e engajados nesta temática. Verifica-se que o fato da universidade incitar discussões e aplicações acerca da responsabilidade social, certamente motiva os alunos a desenvolverem concepções mais embasadas e voltadas para uma atuação mais participativa nas questões sociais. 9. Referências Bibliográficas ASHLEY, P.A. et al. (2002) - Ética e Responsabilidade Social nos negócios. São Paulo: Saraiva. CASTRO, C.M. (1978) - A prática da pesquisa, McGraw-Hill do Brasil, São Paulo, Brasil, 1978 FERREL, O C. (2001) - Ética empresarial: dilemas, tomadas de decisões e casos. Tradução Cecília Arruda. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores. INSTITUTO ETHOS. (2005) - Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. São Paulo, 2005. Disponível em: <www.uniethos.org.br/_uniethos/documents/2005_06_07/indicadores_ethos_2005.pdf> Acesso em: 15/03/2006. KARKOTLI, G.R. (2004) - RESPONSABILIDADE SOCIAL: uma estratégia empreendedora. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Pós Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis. LIMA, P.R.S. (2001) - Responsabilidade Social: A experiência do selo empresa cidadã na cidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. MELO NETO, F.P.; FROES, C. (2001) - Gestão da Responsabilidade Social Corporativa: O Caso Brasileiro. Rio de Janeiro: Qualitymark. MENDONÇA, P. (2002) - O marketing e sua relação com o social: dimensões conceituais e estratégicas. In Responsabilidade social das empresas: a contribuição das universidades. São Paulo: Petrópolis, p. 147-169. PEIXOTO, M.C.C. (2006) -... Responsabilidade social e impacto no comportamento do Consumidor: estudo de caso da indústria de refrigerantes. Disponível em: <www.valoronline.com.br/ethos/pdf/2004/m_peixoto.pdf > Acesso em: 20/03/2006. TEIXEIRA, L.S. (2004) - Responsabilidade Social Empresarial. Brasília: Consultoria Legislativa. Câmara dos Deputados. 9