FLORESTA ESTADUAL DE FARO RESUMO TÉCNICO



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Transcrição:

PROCESSO DE CONSULTA PÚBLICA PARA A CRIAÇÃO DA FLORESTA ESTADUAL DE FARO RESUMO TÉCNICO 1. APRESENTAÇÃO Este relatório resume os levantamentos técnicos realizados para orientar à criação da Floresta Estadual de Faro, Unidade de Conservação de Uso Sustentável, situada nos municípios de Faro e Oriximiná, Estado do Pará. A Floresta Estadual de Faro (Flota de Faro, como será referida nesse relatório) foi definida com base no Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Pará (MZEE). As principais análises realizadas para a elaboração do parecer técnico foram: (i) avaliação do potencial para uso florestal manejado (madeira, produtos não-madeireiros) com base na aptidão florestal; (i) tipos de vegetação; (ii) condições acesso considerando o alcance econômico da atividade madeireira; (iii) sinais de ocupação humana tais como pressão humana (focos de calor, proximidade de centros urbanos, assentamentos de reforma agrária etc), rede de estradas não-oficiais e desmatamento; (iv) potencial para mineração e turismo; (v) biodiversidade e (vi) situação fundiária de acordo com os dados fornecidos pelos órgãos fundiários Iterpa e Incra. A área destinada para a criação da Flota de Faro (691.153 hectares), está situada na margem esquerda (calha norte) do rio Amazonas no Estado do Pará. Da área total, cerca de 55% ocorre no município de Faro e 45% em Oriximiná. A Flota de Faro possui alto potencial para uso florestal manejado (madeira e produtos nãomadeireiros) por abrigar florestas de alto valor econômico. A Flota apresenta potencial para ecoturismo e serviços ambientais. A criação dessa Flota poderá amplia as oportunidades de renda e emprego para população local nos municípios de Faro e Oriximiná. Além disso, a criação da Flota Faro garantirá a conservação ambiental, pois o desmatamento será proibido, e assegurará os direitos das populações tradicionais, as quais podem continuar habitando e explorando, em bases manejadas, essa Unidade de Conservação. 2. JUSTITIFICATIVA A área foi selecionada de acordo com as diretrizes do Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Pará (Lei estadual nº 6.745/05) e está integralmente situada na zona destinada a criação de Unidades de Conservação de Uso Sustentável. Além disso, essa foi uma das áreas priorizadas no detalhamento do

Macrozonemento Ecológico Econômico do Pará para o setor florestal. Esse detalhamento em uma escala mais refinada (1:50.000) foi executado pelo Imazon (Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e concluído em março de 2006. O referido estudo encontra-se disponível na página da Secretaria do Estado de Produção (Seprod) (www.seprod.pa.gov.br) desde o dia 23 de março de 2006. Esse estudo foi apresentado em seminários para um público estimado em 500 pessoas. O primeiro seminário ocorreu no no dia 23 de março no auditório da Federação das Indústria do Estado do Pará (FIEPA) e o segundo no dia 28 de junho no auditório da SECTAM. O Estado do Pará possui aptidão para a atividade florestal com base no manejo florestal. Há abundância de florestas ricas em madeiras de valor comercial e produtos florestais não-madeireiros. Essas florestas têm grande importância para conservação da biodiversidade e regulação do clima (local, nacional e global). Além disso, essas florestas abrigam ricos depósitos minerais e possuem grande beleza cênica para o ecoturismo. Para assegurar o uso sustentável e a conservação desses amplos recursos naturais, o poder público (estadual e federal) priorizou os instrumentos de apoio ao manejo florestal sustentável, entre os quais se destacam: Macrozoneamento Ecológico Econômico do Estado do Pará, aprovado em 2005, é um instrumento central da política de ordenamento territorial do Pará. Os objetivos gerais do Macrozoneamento são incentivar o desenvolvimento das atividades econômicas em bases manejadas, a redução dos conflitos fundiários e a diminuição do desmatamento ilegal. De acordo com o Macrozoneamento Ecológico Econômico, a área territorial do Pará foi distribuída em quatro grandes zonas, a saber: (i) Terras Indígenas ocupando pelo menos 28% do Estado; (ii) Unidade de Conservação de Uso Sustentável existentes e sugeridas, ocupando pelo menos 27% do Estado; (iii) Unidades de Conservação de Proteção Integral existentes e propostas, ocupando no mínimo 10%. E, finalmente, uma zona para a consolidação de atividades produtivas (máximo) 35% do território estadual. Lei de Gestão de Florestas Públicas, sancionada pelo Presidente da República em março de 2006, a nova lei prevê a descentralização da gestão florestal para os Estados. Essa lei tem por objetivos: (i) regulamentar a gestão das florestas em áreas públicas (União, Estados e municípios); (ii) criar o Sistema Florestal Brasileiro (SFB) como órgão regulador da gestão das florestas públicas; e (iii) criar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal para promover o desenvolvimento tecnológico, assistência técnica e incentivos para o desenvolvimento do setor florestal.

A lei define três formas de gestão: (i) Unidade de Conservação para produção florestal (por exemplo, Flonas/Flotas, RDS); (ii) uso comunitário (assentamentos florestais, Resex, PDS etc.); e (iii) concessões florestais fora de Unidade de Conservação. O processo de licitação considera não apenas o melhor preço ofertado pelo concessionário, mas também os benefícios sócio-econômicos a serem gerados pelo empreendimento no local, maior agregação de valor local e a melhor técnica de manejo florestal (menor impacto ambiental) apresentada. 3. O QUE SÃO FLORESTAS ESTADUAIS? As Florestas Estaduais (Flotas) são Unidades de Conservação de Uso Sustentável caracterizadas pela cobertura florestal de espécies nativas, cujo objetivo principal é o uso múltiplo dos seus recursos florestais com base em técnicas de manejo florestal (Artigo 17 do Sistema Nacional de Unidades de Conservação -SNUC). Além disso, as Flotas têm a função de garantir a proteção dos serviços ambientais, conservação da biodiversidade, propiciar as atividades de recreação e turismo, apoiar pesquisa científica e possibilitar o uso dos recursos naturais em bases sustentáveis. As Flotas permitem que a população residente e as empresas interessadas por meio de concessão utilizem os recursos naturais de acordo com o plano de manejo da Unidade. Nas Flotas as populações tradicionais podem permanecer residindo e explorando, em bases manejada, a Unidade. A definição das áreas de uso comunitário (além daquelas que as comunidades já utilizam atualmente) bem como aquelas destinadas para concessão de empresas (florestais, minerais, turismo etc) somente ocorrerá após a realização do plano de manejo da Unidade. A lei prevê que o plano de manejo seja executado no período máximo de cinco anos após a publicação do decreto de criação da Unidade. Entretanto, é possível elaborar o plano de manejo em um período mais rápido (até um ano) se houver investimento e decisão por parte do órgão gestor. Função Sócio-Econômica. A criação da Flota de Faro pode contribuir para o desenvolvimento de uma economia florestal manejada nos municípios de Faro e Oriximiná bem como para todo o Estado do Pará. Em termos específicos, a criação da Flota de Faro poderá atrair investimentos de empresas florestais comprometidas com práticas de manejo florestal e sócioambientalmente responsáveis. Além disso, a criação dessa Flota poderá dinamizar o manejo florestal comunitário com tem ocorrido em outras áreas da Amazônia como é o caso da Floresta Nacional do Tapajós.Adicionalmente, há potencial para o desenvolvimento do ecoturismo e o aproveitamento racional dos recursos minerais. Portanto, a criação da Floresta de Faro poderá ampliar as oportunidades de emprego, renda e tributos em base sustentáveis para as

comunidades locais, os municípios diretamente beneficiados (Faro e Oriximiná) e o Estado do Pará como um todo. Função Ambiental. As Florestas Estaduais (Flotas) são um complemento essencial para a proteção ambiental dentro de uma estratégia nacional e estadual, o qual inclui Unidades de Conservação de Uso Sustentável como é o caso das Flotas com Unidades de Conservação de Proteção Integral. A Flota de Faro formará um amplo mosaico de áreas protegidas na calha norte do Pará estendendo-se da área dessa futura Flota (na fronteira com o Estado do Amazonas) passando Flona Saracá-Taquera, Reserva Biológica do Trombetas, Terras Indígenas, Flona Mulata e as futuras Flotas do Trombetas e Paru -essa última indo até a fronteira com o Estado do Amapá. A Flota de Faro assegurará a conservação dos recursos naturais (especialmente, os florestais), recursos hídricos, biodiversidade e, portanto, o potencial para geração de serviços ambientais. O que é Manejo Florestal? Consiste basicamente na extração seletiva de árvores (somente duas a cinco árvores por hectares); planejamento da exploração (estradas, pátios etc) e corte direcionado das árvores para evitar acidentes de trabalho e danos à floresta. Além disso, o manejo deve conter técnicas para estimular a regeneração natural e o crescimento das árvores de valor comercial após a exploração. Fundamental: o manejo requer que a área explorada fique em repouso por um período de 25 a 30 anos até que possa ser novamente explorada. Por fim, através do manejo, os impactos ambientais negativos são reduzidos substancialmente e os lucros da exploração madeireira aumentam. O manejo florestal pode contemplar produtos não-madeireiros (frutos, óleos, fibras, resinas, fármacos etc), ecoturismo e prover serviços ambientais. (Maiores informações sobre manejo florestal podem ser obtidas nos sites www.imazon.org.br, www.amazonia.org.br, www.imaflora.org, www.embrapa.gov.br Biodiversidade. A área destinada à criação da Floresta Estadual de Faro é uma área de alta importância para a conservação da biodiversidade. de acordo com o mapa elaborado no seminário de Macapá em 1999. Esse seminário contou com a presença de mais de 230 cientistas com larga experiência em biodiversidade, uso sustentável dos recursos naturais e ocupação humana. As áreas temáticas incluíram: aves, biota aquática, botânica, invertebrados, mamíferos, répteis e anfíbios, eixos e pólos de desenvolvimento, funções e serviços de ecossistemas, oportunidades econômicas, povos indígenas e populações tradicionais, pressões antrópicas e Unidades de Conservação (ISA et al. 2001).

4. LOCALIZAÇÃO DA FLOTA DE FARO A área proposta para a Flota do Faro (691.153 hectares) e abrangerá 32% do território de Faro e apenas 3% de Oriximiná. A grande maioria dos limites da Flota Faro é feito com outras Unidades de Conservação (existentes ou propostas) e com a Terra Indígena Nhamunda Mapuera. A exceção é uma pequena área no limite sul a ser limitada com futuras áreas de expansão e consolidação de acordo com o MZEE do Pará. Em termos específicos, Os limites dessa Flota são os seguintes. No sul limita-se com a Flona de Saracá-Taquera. No leste com Reserva Biológica do Trombetas e a futura Flota do Trombetas. No norte com a futura Flota do Trombetas e com a Terra Indígena Nhamundá-Mapuera. No oeste com a Terra Indígena Nhamundá-Mapuera e com o Estado do Amazonas (Figura 1). Figura 1. Área Proposta para Flota de Faro 5. FLOTA DE FARO E O MACROZONEAMENTO ECOLÓGICO- ECONÔMICO DO PARÁ (MZEE) A Flota de Faro está integralmente situada em uma zona destinada para à criação de Unidades de Conservação de Uso Sustentável pelo Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Pará (Figura 2).

Figura 2. Área Proposta para Flota do Faro de acordo MZEE. 6. VEGETAÇÃO NA FLOTA DE FARO A classificação da vegetação foi realizada em uma escala bem detalhada (1:50.000) por meio técnicas de sensoriamento remoto que utilizam imagens de satélite das faixas do visível, infravermelho, radar e dados de topografia SRTM/NASA. Para isso, combinou-se esse mapeamento detalhado (1:50.000) com o mapa de cobertura vegetal disponível pelo IBGE/SIVAM (2005) na escala menos detalhada (1:250.000). Além disso, utilizou-se os relatórios de campo sobre os levantamentos das formações florestais do Projeto RadamBrasil (IBGE 1996). No processamento das imagens, inicialmente eliminou-se os sinais de neblina e fumaça das imagens Landsat para reduzir possíveis erros na classificação. Em seguida, georreferenciou-se as imagens Landsat com as imagens do mosaico da Nasa, Projeto ZULU. As imagens de RADAR (Jers estação úmida e seca) e SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission 2000) foram registradas com base nas imagens Landsat, prevalecendo à resolução espacial das imagens Landsat (30 metros). O passo seguinte foi fundir as imagens de satélite Landsat (bandas 1-7) e as de radar e sobrepor o mapa de vegetação do IBGE/Radam com as imagens fundidas (cobertura do solo mais topografia) para a coleta visual de 2.000 amostras de treinamento por classe de formação florestal na imagem. Essa amostragem foi aplicada na classificação automática por árvore de decisão, método de classificação automático de rápido processamento e pouca interferência do analista, que separa classes com características espectrais distintas (i.e., água, solos, florestas). O produto da classificação automática foi combinado com a classificação de desmatamento 2004, tornando possível

distinguir o desmatamento das formações não-florestais. Os ruídos gerados na classificação foram eliminados com filtros espaciais baseados em segmentação de imagens que consideram as semelhanças espaciais dos pixels. Após a aplicação dos filtros foi realizada a edição matricial da classificação final por meio do programa ClassEdit (ENVI 3.2) na escala de 1:50.000 para corrigir eventuais erros de classificação. O mapa final foi sobreposto às regiões de Floresta Ombrófila Densa e Floresta Ombrófila Aberta contidas no mapa IBGE e Sivam (1997) na escala de 1:250.000. Isso foi feito para extrair informações das formações de floresta densa e aberta, dado que o classificador automático utilizado não conseguiu separar essas classes de vegetação. Além do mapa de tipologia florestal, foi possível identificar as formações não-florestais, desmatamento e corpos d água A Flota de Faro possui uma exuberante floresta densa (98% da cobertura vegetal), cujo potencial para manejo florestal múltiplo é extremamente significativo. A vegetação não-florestal representa uma fração mínima (0,1%). Por sua vez, o desmatamento é muito reduzido (0,17%) enquanto Rios, igarapés totalizam 1,17%. O restante (0,13%) representam áreas não analisadas por apresentarem cobertura de nuvem (Tabela 1). Tabela 1. Vegetação na área proposta para Flota de Faro 2005 Vegetação Categorias Área (hectares) % Densa Aluvial 24.428 3,53 Densa Terras Baixas 308.030 44,57 Densa Submontana 347.828 50,33 Não-Floresta 667 0,10 Desmatamento 1.167 0,17 Nuvem/Sombra 923 0,13 Água 8.108 1,17 Total 691.153 100,00

Figura 3. Vegetação na área proposta para Flota de Faro, 2005. 7. PRESSÃO HUMANA NA FLOTA DO FARO Essa análise revela as áreas com sinais de ocupação humana, consolidada e incipiente, identificadas a partir de focos de calor, desmatamento, estradas oficiais, centros urbanos, assentamentos de reforma agrária e áreas de mineração. Para efeito dessa análise, consideramos o termo pressão humana consolidada como alta pressão e as áreas com pressão humana incipiente como média pressão. A análise foi feita com base no livro Pressão Humana na Floresta Amazônica Brasileira publicado pelo Imazon no inicio de 2006 e disponível no site do Instituto (www.imazon.org.br). Tabela 2. Pressão Humana na área proposta para Flota do Faro, 2005. Classes Área (hectares) % Sem Pressão 646.652 93,6 Alta Pressão 1.000 0,1 Médio/Baixa Pressão 37.100 5,4 Água 6.400 0,9 Total 691.152 100

Figura 4. Pressão Humana na área proposta para Flota de Faro, 2005. 7. ACESSIBILIDADE ECONÔMICA NA FLOTA DO TROMBETAS Utilizou-se modelos de alcance econômico da atividade madeireira desenvolvidos por Souza Jr. et al. (1997) e Veríssimo et al. (1998). Esses modelos estimam a distância máxima dos atuais pólos madeireiros economicamente viáveis para explorar madeira ao considerar os custos da extração, transporte e processamento de madeira. Os dados de custo de produção e de transporte utilizados nessa modelagem são oriundos de levantamentos feitos pelo Imazon em 1998 e 2004 nos pólos madeireiros do Pará (Lentini et al. 2005). O alcance econômico foi estimado por meio da modelagem de custo de superfície na escala refinada (1:50.000). Esse método determina o custo de transporte cumulativo para transportar toras de madeira da floresta para o pátio das serrarias dos pólos madeireiros, considerando-se os diferentes tipos de superfície. O modelo de alcance utiliza informações de estradas (IBGE 1999), localização de centros de produção de madeira serrada (Lentini et al. 2005), navegabilidade dos rios e dados socioeconômicos da atividade madeireira. O resultado dessa análise indica as áreas com alta, média e baixa acessibilidade para a atividade madeireira, bem como as áreas inaccessíveis. A Flota de Faro possui a melhor acessibilidade econômica para uso sustentável entre as Flotas propostas na Calha Norte. Isso decorre da boa condição de navegabilidade rio Nhamundá e de sua proximidade com a calha do rio Amazonas. De fato, apenas 20% da área é inacessível enquanto na maior parte (79%) é possível extrair madeiras de alto e ou médio valor. Não é ainda viável explorar espécies de baixo valor.

Figura 5. Acessibilidade econômica da atividade madeira na área proposta para Flota de Faro. Tabela 3. Acessibilidade econômica da atividade madeira na área proposta para Flota de Faro Classes Acessibilidade Econômica % Média Acessibilidade 08% Baixa Acessibilidade 71% Inacessível 20% Não-Classificado 01% Total 100%. 8. SITUAÇÃO DO ENTORNO Por meio da sobreposição de mapas, analisou-se a presença de áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas) e de assentamentos rurais no entorno da área destinada à criação da Flota do Faro. Considerou-se importante o conhecimento da situação de entorno dessas áreas, uma vez que é possível localizar tanto as futuras pressões (no caso de assentamentos) como os corredores ecológicos potenciais (no caso de Áreas Protegidas). No caso da área proposta para a Flota de Faro, a sua criação permitirá formar um amplo mosaico de áreas protegidas na calha norte paraense. De fato, a

futura Flota de Faro estará conectada com a Flona de Saracá-Taquera (sudeste) e as futuras Flotas do Trombetas (leste), a qual por sua vez está conectada com a Flota do Paru formando o maior complexo de florestas de produção daamazônia ( totalizando mais de 8 milhões de hectares). Adicionalmente, a Flota de Faro limita-se com as Terras Indígenas no norte e com a Reserva Biológica do Trombetas no leste. È muito reduzida a pressão antrópica para atividades agropecuárias. A localização estratégica da Flota do Faro e a perspectiva de uso sustentável (geração de renda, emprego e tributos) pode conciliar desenvolvimento e conservação nos municípios de Faro e Oriximiná. Quilombolas. Foi identificada a presença de populações quilombolas na porção leste da Flota de Faro. Em muitos casos essas comunidades quilombolas já detém titulo de suas terras emitido pelo Incra e Iterpa. A área das populações quilombolas será excluída da configuração final da Flota de Faro de maneira a respeitar integralmente o direito constitucional dessas populações.

9. SITUAÇÃO FUNDIÁRIA A situação fundiária do área destinada a criação da Flota de Faro foi classificada de acordo com dados fornecidos pelo Incra e pelo Iterpa. O Incra disponibilizou informações cartográficas para o Estado por meio dos polígonos das áreas arrecadadas (resultantes de arrecadação sumária), discriminadas (resultantes de ações discriminatórias) e dos imóveis rurais. O Iterpa disponibilizou informações cartográficas por meio das linhas (contornos) das áreas requeridas para titulação. Os dados de requerimentos fornecidos pelo Iterpa foram considerados como indicativo de pressão, embora não haja informação sobre ocupação. Mesmo que essas áreas não estejam desmatadas, há um presumível interesse de ocupação. As áreas não identificadas como federais, imóveis rurais e assentamentos de reforma agrária foram classificadas como potencialmente devoluta. Na área proposta para Flota de Faro não foram identificados imóveis rurais. Trata-se de terras devolutas apesar de ter sido registrado alguns requerimentos (não áreas tituladas) junto ao ITERPA na porção central daflota (Figura 6) Figura 6. Situação fundiária na área proposta para Flota de Faro.

Nota: onde há Flota Nhamunda-Mapuera leia-se Flota de Faro. O que é Consulta Pública A consulta pública é uma exigência legal (Decreto no 4320/02 que regulamenta a lei do SNUC) para assegurar que as populações locais, ambientalistas, pesquisadores, profissionais liberais, empresários, organizações da sociedade civil sejam informados e opinem sobre as propostas de criar e de ampliar unidades de conservação e de mudar a categoria delas. No caso Consultas Públicas são conduzidas pelo governo federal (Ibama), no caso das unidades federais ou pelo governo estadual (Oemas), no caso das Unidades de Conservação Estaduais do Pará, a consulta é conduzida pela SECTAM (Secretária de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente). 9. RELEVO NA FLOTA DE FARO Classe de Relevo % < 100 metros 51,7 100-200 metros 38.9 >200 metros-300 metros 09% >300 metros -400 metros 04% Total 100%

10. REFERÊNCIAS Amaral, P., Veríssimo, A., Barreto, P. & Vidal, E. 1998. Floresta para sempre: um manual para a produção de madeira na Amazônia. Belém, Imazon, WWF e Usaid. 137 p. Barreto, B.; Souza Jr., C.; Anderson, A.; Salomão, R. & Wiles, J. 2005. Pressão Humana no Bioma Amazônia. O Estado da Amazônia n. 3, Maio de 2005. http://www.imazon.org.br/. Brandão Jr., A. & Souza Jr., C. No prelo. Mapping unofficial roads with Landsat images: a new tool to improve the monitoring of the Brazilian Amazon rainforest. International Journal of Remote Sensing. ISA. 2001. Avaliação e Identificação de Ações Prioritárias para Conservação, Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade da Amazônia Brasileira. MMA Ministério do Meio Ambiente, Instituto Socioambiental - ISA, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia- Ipam, Grupo de Trabalho Amazônico - GTA, Instituto Sociedade, População e Natureza ISPN, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - Imazon e Conservation Internacional. Brasília: MMA/SBF, 2001. ISA. 2004. Terras Indígenas e Unidades de Conservação da Natureza: o desafio das sobreposições. São Paulo: Instituto Socioambiental. 687 p. IBGE. 1996. Recursos naturais e meio ambiente: uma visão do Brasil. 2ª Edição. Rio de Janeiro: IBGE IBGE. 1997. Diagnóstico ambiental da Amazônia Legal. Rio de Janeiro: IBGE/ DGC/ Derna - Degeo-Decar. IBGE, 1999. Base Cartográfica Integral Digital do Brasil ao Milionésimo. <www2.ibge.gov.br/pub/cartas_e_mapas/carta_internacional_ao_milionesimo/sh ape>. Acesso em 16/03/05. IBGE. 2005. Censo Demográfico. <www.ibge.gov.br>. Acesso em 10/2/2006.