LEI Nº 11.441/07: SEPARAÇÃO, DIVÓRCIO, INVENTÁRIO E PARTILHA EXTRAJUDICIAIS. 1 Cíntia Cecília Pellegrini Graduanda do 9º semestre matutino do curso de Direito do CEUNSP Salto. Artigo elaborado no curso da disciplina de PAC RESUMO: A adoção da via administrativa para realização de inventário, partilha, separação e divórcio, sendo as partes maiores, capazes e concordes, recorrendo ao chamado foro extrajudicial, surgiu com o objetivo de descongestionar o Judiciário, bem como de proporcionar à sociedade a solução de seus problemas de uma forma célere e segura. PALAVRAS-CHAVE: Inventário partilha separação divórcio. INTRODUÇÃO O procedimento de promoção de inventário, partilha, separação e divórcio consensuais, pela via administrativa, recorrendo-se ao chamado foro extrajudicial, em que atuam tabeliães e notários, teve origem no ambiente de reforma do Poder Judiciário, muito embora seu projeto fosse mais antigo. Trata-se de sistema antigo no direito europeu. (THEODORO JÚNIOR). Segundo respeitável ponderação do mestre CAHALI, entusiasta da lei e otimista no que diz respeito a sua aplicação, a finalidade da referida lei foi tornar mais ágeis e menos onerosos os atos a que se refere e, ao mesmo tempo, desafogar o Judiciário, bem como ajudar a sociedade a resolver seus problemas. Com o advento da Lei nº 11.441, de 04/01/2007 e sua aplicação disciplinada pela Resolução nº 35, de 24/04/2007, que alterou o artigo
2 982 do Código de Processo Civil, há permissão de que o inventário, partilha, separação e divórcio consensuais, sejam realizados extrajudicialmente, desde que todos os interessados sejam maiores e capazes e que acordem entre si. O intento deste artigo é tecer breves considerações a respeito da possibilidade da realização de inventário, partilha, separação e divórcio consensuais, pelo procedimento extrajudicial. A via extrajudicial é facultativa, mas impõe-se o cumprimento das seguintes exigências legais (THEODORO JÚNIOR): a) todos os interessados deverão ser maiores e capazes. b) todos os interessados devem estar de acordo quanto aos termos do inventário, partilha, divórcio ou separação, conforme o caso. c) todas as partes interessadas devem comparecer à presença do tabelião assistidas por advogado, que pode ser comum ou não, sob pena de invalidação do ato; todos firmarão a escritura. d) no caso de inventário, a sucessão não poderá ser testamentária, tem de ser legítima, pois a existência de testamento torna obrigatório o seu cumprimento pelas vias judiciais. Convém ressaltar que as partes poderão optar pelo tabelião de sua confiança para lavrar a escritura, mesmo que seja de outra cidade ou Estado. Não há restrição relativa à circunscrição do domicílio das partes, nem mesmo para o inventário, que seria o domicílio do de cujus. Ademais, o tabelião poderá ir à casa da parte ou ao escritório do advogado. O modo de escriturar o conteúdo da escritura será equiparável ao observado nas escrituras comuns de divisão de condomínio: identificam-se os comunheiros e todos os bens comuns; atribui-se valor ao acervo e define-se a quota ideal com que cada interessado irá concorrer na partilha; elabora-se folha de pagamento para cada um
3 deles, descrevendo-se os bens que formarão o respectivo quinhão (THEODORO JÚNIOR). O tabelião é o responsável pelo controle do recolhimento do imposto de transmissão e pela exigência do comprovante das quitações tributárias que digam respeito aos bens transmitidos e sem os quais a escritura não logrará registro no cartório de registro de imóveis. É sobremodo importante assinalar que, como se passa com as escrituras em geral, a responsabilidade dos tabeliães e registradores é solidária com o contribuinte nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis, como dispõe o artigo 134 do Código Tributário Nacional. 1. Separação e divórcio. Uma crítica que se faz em relação à separação e divórcio é o sigilo dos processos em questões de família, pois há publicidade do ato celebrado por escritura pública. Consoante entendimento do douto CAHALI, apesar de ter ensejado muitas discussões, pode ser requerida a separação sigilosa, o que não significa que as pessoas não terão acesso à informação de que existe uma escritura, no entanto, haverá restrição para obter seu conteúdo. Além da dissolução da sociedade conjugal, a lei trata também da questão do nome, alimentos e partilha de bens que poderão ser resolvidas por partes, procedimento este chamado de cindibilidade. Pode-se resolver o vínculo, independentemente da partilha, sendo possível o inventário e a partilha pós-separação e pós divórcio. Quanto à renúncia de alimentos, para os que entendem que pode haver, lavra-se a escritura e homologa-se um acordo desta natureza. Porém, para os que entendem que os alimentos são irrenunciáveis, poderá ser proposta ação direta de alimentos, permanecendo a escritura válida. Cumpre-se dizer que os alimentos poderão ser revistos, bastando lavrar-se nova escritura para aumentar ou diminuir o valor
4 fixado anteriormente, que será descontado em folha, desde que previsto no documento público. Registre-se ainda que, para CAHALI, a escritura é título executivo judicial, que permite a execução de alimentos em caso de não pagamento de pensão alimentícia com base no artigo 733 do Código de Processo Civil, ou o cumprimento de sentença, com as características próprias, uma vez que não há intimação pelo advogado. A partilha deverá ser encaminhada ao registro de imóveis se houver bens imóveis, sendo a escritura título hábil para também ser levada a qualquer órgão ou instituição que tenha o registro de outros bens, como Detran, Junta Comercial, bancos, Telefônica etc. Quanto ao nome, a qualquer momento o cônjuge que tiver mantido o nome poderá renunciá-lo, o que pode ser feito unilateralmente e com a presença de um advogado. Tenha-se presente que a reconciliação do casal é possível judicial ou extrajudicialmente, independentemente da origem da separação. Tanto o divórcio direto como o divórcio por conversão são possíveis por meio da via extrajudicial. Para a conversão da separação em divórcio se exige apenas a certidão atualizada constando a separação judicial ou extrajudicial, observando-se os requisitos essenciais, quais sejam a existência de separação anterior e o transcurso do prazo de um ano, a contar da separação. Não há necessidade de partilha, pois já foi resolvida na separação. Em alguns dias se consegue a conversão da separação em divórcio, o que levaria meses para se obter no Judiciário, pois primeiro deve-se desarquivar o processo de separação judicial, consensual ou litigiosa. Para o divórcio direto se observa a existência de separação de fato há mais de dois anos, permitindo-se a presença de uma única testemunha, que deverá comparecer no ato para afirmar a separação ou apresentando-se apenas sua declaração. Esta é a orientação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Podem ser resolvidas a partilha de bens, solução do nome e a definição dos alimentos.
5 2. Inventário e partilha. Há transmissão dos bens da pessoa natural aos sucessores legítimos e testamentários, com a sua morte, consoante o disposto no artigo 1.784 do Código Civil de 2002. Se o patrimônio do autor da herança se constituir em uma universalidade, é necessário se apurar quais são os bens que o integram. Para tanto, existe o procedimento especial que se apresenta em dois estágios: o inventário e a partilha. O inventário, na tradição do direito processual civil era sempre judicial, enquanto a partilha a critério dos herdeiros, tanto podia ser processada em juízo como extrajudicialmente. Para que seja minimizado o risco de se ter preterido um herdeiro ou ignorada uma ação de investigação de paternidade devido à promoção de um inventário fora do domicílio do autor da herança, foi criada pelo Colégio Notarial do Brasil seção São Paulo, a CESDI Central de Escrituras de separação, divórcio e inventários. Tanto a partilha como a adjudicação a um único herdeiro pode ser promovida por meio da via administrativa. Não haverá formal de partilha em qualquer caso; a própria escritura é o título hábil para o ato registral, devendo o tabelião fornecer aos interessados o traslado respectivo. Não há inventariante, não há processo nem procedimento, simplesmente um único ato notarial. O cônjuge e os herdeiros deverão comparecer e participar de comum acordo na escritura. Admite-se a presença de procurador, acompanhado do instrumento de mandato com poderes especiais para lavrar a escritura e por instrumento público. Tenha-se presente que, se algum bem foi esquecido durante a partilha, poderá ser feita uma sobrepartilha. Se houver dívidas, pode-se promover o inventário e partilha com ou sem reserva de bens, uma vez que a dívida é problema do credor. Poderão ser igualmente resolvidas a cessão e a renúncia de direitos.
6 Segundo THEODORO JÚNIOR, com base na escritura obtida nos moldes do artigo 982 do CPC, o sucessor poderá promover a execução forçada, caso outro interessado retenha bem do acervo que lhe tenha sido adjudicado na partilha, sendo a execução, na espécie, de título executivo extrajudicial e não de título judicial, como acontece com o formal. CONCLUSÃO Em síntese, a partir da Lei nº 11.441/2007 passou a vigorar no país a via extrajudicial para separação, divórcio, inventário e partilha, desde que as partes envolvidas sejam maiores, capazes e concordes entre si, bem como ser imprescindível a presença de um advogado que zelará pelo fiel cumprimento da lei, atestando de acordo com seu conhecimento, o preenchimento das formalidades e de todos os requisitos. Indubitável são os benefícios trazidos pela via administrativa, não somente para as partes, mas para os serviços judiciários. Aliviou-se o Poder Judiciário de uma sobrecarga significativa de processos e contemplou os indivíduos com um procedimento mais simples, célere, menos dispendioso e, igualmente seguro juridicamente REFERÊNCIAS CAHALI, Francisco José. Lei nº 11.441/2007: inventário, partilha, divórcio e separação extrajudicias. In: http:// www. irib.org.br. Acesso em 14.06.2008. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Procedimentos especiais. 38 ed. Rio de Janeiro: Forense, v. III.