ACÓRDÃO ^SSS^ AC TGISTRADO(A)SOBN -- iriümpiii *00727314* Vistos, relatados e discutidos estes autos de RECURSO EX-OFICIO n 114.385-0/2-00, da Comarca de ITAPETININGA, em que é recorrente JUÍZO "EX OFFICIO", sendo recorridos PROMOTOR DE JUSTIÇA DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE ITAPETININGA, PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAPETININGA E CÂMARA MUNICIPAL DE ITAPETININGA: ACORDAM, em Câmara Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "POR UNANIMIDADE DE VOTOS, DAR PROVIMENTO AO RECURSO", de conformidade com. o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores MOHAMED AMARO (Presidente, sem voto), RUY CAMILO e GENTIL LEITE. São Paulo, 20 de dezeimqro de 200/4. JAáMs MA^ONI Relator Vb 5 7
CÂMARA ESPECIAL RECURSO "EX-OFÍCIO" N 114.385.0/2-00 Recorrente: Juízo "ex officio" Recorridos: Ministério Público e outros Voto n liw AÇÃO CIVIL PUBLICA - Ministério Público que ajuíza ação visando a condenação do município em obrigação de fazer consistente em criar programa oficial de auxílio, orientação e tratamento de menores alcoólatras e toxicômanos Sentença procedente - Exclusivo recurso oficial - Decisão judicial que implica em indevida violação ao princípio constitucional da separação dos Poderes - Recurso provido para julgar improcedente a ação. 1. Trata-se de reexame necessário de sentença que, julgando procedente ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público, condenou a Prefeitura do Município de Itapetininga em obrigação de fazer, "consistente no implemento de programa oficial de auxílio, orientação e tratamento de menores toxicômanos, com prioridade, abrangendo esta a garantia das verbas no orçamento para o suprimento das necessidades do setor e a construção das obras pertinentes, de modo a assegurar o atendimento a todos os menores que se encontram aguardando vagas para tratamento da dependência química" (fls. 340/348). A Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo improvimento do recurso (fls. 357/361).
2. Cuida-se, na hipótese, de ação civil pública para cumprimento de obrigação de fazer ajuizada pelo Ministério Público contra a Prefeitura Municipal de Itapetininga, objetivando, resumidamente, a implementação de políticas sociais básicas de saúde, assistência social e de ações de proteção especial aos menores toxicômanos e alcoólatras. Respeitados os argumentos deduzidos pelo d.magistrado sentenciante, impõe-se o acolhimento do recurso para, então, julgar-se improcedente a ação, porquanto a decisão judicial representa, à evidência, indevida ingerência do Judiciário no Poder Executivo, importando, assim, em violação oo princípio constitucional da independência dos Poderes. Importante registrar, de imediato, ser possível ao Poder Judiciário impor ao Estado a obrigação de cumprimento dos deveres provenientes do Estatuto da Criança e do Adolescente, inclusive o de disponibilizar locais adequados para atendimento aos menores. Esse entendimento baseia-se fundamentalmente na preocupação do legislador constitucional, que no artigo 6 o da Carta Magna, dentre outros, erigiu a proteção à infância à categoria de direito social, preocupação também estendida à Constituição Estadual, consoante disposto em seus artigos 277 e 278. Em complemento, o Estatuto da Criança e do Adolescente não só reafirmou a obrigação do Poder Público de prestar atendimentos às crianças e adolescentes, como também previu de forma expressa a possibilidade de socorro à autoridade judiciária e como corolário lógico, a possibilidade de intervenção desta em prol dos menores, sempre que houver ofensa aos direitos assegurados nesse sentido, pelo não oferecimento, ou por oferta irregular. Recurso "ex-oflcio" n 114.385.0/2-00 - p. 2 r v
Há, porém, um limite para a atuação do Poder Judiciário. Sabe-se que o município disponibilizou locais para atendimento de crianças e de adolescentes "viciadas", que, entretanto, não suprem a necessidade local. Contudo, essa deficiência decorre especialmente de dificuldades financeiras, mas, ainda que isso ocorra, o atendimento é realizado. s Sendo assim, muito embora inegável a ausência de locais para todas as crianças, não é possível ao Poder Judiciário interferir na administração pública para impor a modificação do atual sistema de atendimento aos menores, pois o deferimento do pedido inicial não envolve inobservância da lei, mas análise de conveniência e oportunidade da administração, momentos em que sua atuação não pode ser substituída por ordem judicial. Em outras palavras, o respeito à norma legal não está sujeito ao arbítrio do administrador público, mas há discricionariedade quando de duas ou mais providências possíveis, quaisquer delas possa atender ao escopo legal. Nesse caso cabe ao agente público definir a melhor forma de executar a lei. É a lei que limita o exercício do poder discricionário. Conveniente lembrar, ainda, ensinamento de Hely Lopes Meirelles, para quem "só o administrador, em contato com a realidade, está em condições de bem apreciar os motivos ocorrentes de oportunidade e conveniência na prática de certos atos, que seria impossível ao legislador, dispondo na regra jurídica - lei - de maneira geral e abstrata, prover com justiça e acerto. Só os órgãos executivos é que estão, em muitos casos, em condições de sentir e decidir Recurso "ex-ofício" n 114.385.0/2-00 - p. 3
J> PODER JUDICIÁRIO, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SAO PAULO administrativamente o que convém e o que não convém ao interesse coletivo" (Direito Administrativo Brasileiro, 28 a ed., pág. 116). Por derradeiro, o C.Superior Tribunal de Justiça, analisando questão análoga, decidiu que "com fulcro no princípio da discricionariedade, a Municipalidade tem liberdade para, com a finalidade de assegurar o interesse público, escolher onde devem ser aplicadas as verbas orçamentárias e em quais obras deve investir, Não cabe, assim, ao Poder Judiciário interferir nas prioridades orçamentárias do Município e determinar a construção de obra especificada" (REsp.n 0 208.893-PR, rei. Min. Franciulli Neto). Portanto, como não se vislumbra efetiva omissão do Executivo em cumprir o preceito legal e como somente se desobedecer aos ditames legais, a ação deixa de ser válida por desvio de poder, podendo ser objeto de controle judicial, hipótese que não se caracterizou no caso dos autos, de rigor o acolhimento do recurso interposto. oficial para julgar improcedente a ação. 3. Diante do exposto, dá-se provimento ao recurso Custas como de direito. i 1 '( JarbasJÇfazzoni " Relator ' Recurso "ex-ofício" n 114.385.0/2-00 - p. 4