Oficina Cebes DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA E SAÚDE



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Transcrição:

RELATÓRIO Oficina Cebes DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA E SAÚDE 30 de março de 2009 LOCAL: FLÓRIDA WINDSOR HOTEL No dia 30 de março de 2009, o Cebes em parceria com a Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES), realizou a Oficina DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA E SAÚDE, que faz parte do Projeto "REFORMA SANITÁRIA EM DEBATE Atualização da Agenda, Desafios à Renovação dos Conhecimentos e Práticas". Esse projeto visa recolocar temas cruciais da Reforma Sanitária, a partir de três eixos centrais: I - Produção de conhecimento para a retomada da Reforma Sanitária; II Formulação de estratégias políticas; III - Construção de alianças. Um dos temas desse Projeto é o do Financiamento em Saúde. Para balizar a discussão, foi contratado o documento DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA E SAÚDE, elaborado pelos professores Maria Alicia Domínguez Ugá e Áquilas Mendes. Esta Oficina constituiu-se em etapa preliminar ao desenvolvimento de documentos para o Seminário a ser organizado pelas duas instituições em agosto próximo e que possui o objetivo de aprofundar o tema do Financiamento em Saúde. As discussões ocorridas durante a oficina permearam os seguintes temas e que possuem como eixos desencadeadores a crise econômica internacional e o financiamento da seguridade social e do SUS: 1

1. Crise econômica global e suas repercussões sobre as políticas sociais - Aprofundar o tema, pois trará para o foco do debate a discussão da reforma social devido à pressão sobre o sistema de proteção social; - Chamar a atenção para o fato de o sistema de seguridade social constituir-se como uma forma de prevenir os efeitos da crise para a população, além de ter o potencial de ser frente de resistência e de avanço do modelo de proteção social no Brasil; - Aprofundar as evidências que apontam que o desemprego gerado neste período de crise no Brasil não será reposto. Há possibilidade de ocorrer ajustes por parte das empresas no momento da retomada do dinamismo da economia brasileira, sem a recontratação dos desempregados; - No caso da Saúde, este contingente de desempregados buscará atendimento no SUS por não ter mais acesso ao sistema de saúde suplementar. Esta clientela que freqüentará o sistema público, formada em grande parte pela classe média, terá maior capacidade de reivindicar por acesso e qualidade, devido ao poder de vocalização de suas demandas. A partir daí, deve-se considerar: a) O SUS está preparado para suportar essa pressão? b) Através de uma análise de cenários, como o nível de emprego poderá influenciar o acesso e a qualidade do atendimento no SUS? Para o aprofundamento do debate da crise econômica e suas repercussões sobre a seguridade social e o SUS, se propôs a realização de estudos que enfoquem: a) A repercussão internacional da crise sobre a seguridade social, com destaque para a política de saúde, incluindo a perspectiva internacional; b) No caso do Brasil, apresentar uma análise dos constrangimentos do setor saúde, com encadeamento histórico a partir da Constituição Federal, da política de cunho neoliberal que se impôs sobre as políticas sociais até se conectar com a crise. E, ainda, focalizar a questão das classes sociais e da seguridade social; c) Chamar a atenção para os efeitos da crise sobre o superávit fiscal e a restrição de recursos para as áreas sociais; 2

d) Quantificar a perda de empregos, com ênfase nos trabalhadores formais, e a partir daí discutir o sistema de saúde suplementar e a migração dessa clientela para o SUS. 2 Desenvolvimento, economia e saúde - Identificar o momento atual de crise como uma moldura para a discussão de outros temas, incluindo as oportunidades para discutir modelos de desenvolvimento; - Necessidade de analisar este item a partir da articulação da política industrial com a política de saúde, sob a perspectiva de sua inserção no modelo de desenvolvimento econômico que se pretende para o País. Por exemplo, a abordagem atual do Ministério da Saúde se dá pelo tema do Complexo Produtivo da Saúde; - Entendimento do debate e da perspectiva do modelo de desenvolvimento econômico tomando também como referência outros objetos, não somente voltados para o aumento da produção, da participação indutora do Estado e do potencial do Complexo Produtivo da Saúde para a geração de empregos; - A partir da discussão do modelo de desenvolvimento, incorporar a universalidade, a integralidade e a questão dos incentivos e a distributiva; - Considerar o modelo desenvolvimento econômico e seus vínculos com os determinantes externos, incluindo sob esta perspectiva o leque da distribuição de renda; - Discutir o desenvolvimento com o desafio de buscar um contraponto ao modelo hegemônico, partindo-se da constatação de que um novo modelo é fundamental para a construção de um consenso, incluindo questões correlatas como: seguridade, isenção fiscal e a lei de responsabilidade fiscal; 3 - Financiamento do SUS e a reforma tributária - Reconhecimento de que desde 1989 o embate da Reforma Tributária vem gerando um histórico de problemas que inclui a forma de condução das três esferas de governo na aplicação de recursos; - Reconhecer que não se abre mão de fortalecer a discussão da reforma da Seguridade Social no âmbito da Reforma Tributária. Esta discussão é central e não implica na não inserção de outros temas como: a renúncia fiscal e a criação de novos impostos com destinação para a seguridade social e suas repercussões sobre o potencial de arrecadação; 3

- Promover uma reflexão acerca de uma proposta de estrutura tributária que seja eqüitativa; - Necessidade de mais estudos e simulações na proposição de novas fontes e na análise das atuais; - Não afastar, mas se aproximar e contribuir com um dos principais focos de debate do financiamento da saúde no Brasil: a crença de que a alavancagem do setor se daria somente com a aprovação da CPMF, o que acaba por desviar a discussão mais ampla e profunda do tema no País; 4 - Alocação de recursos no SUS entre as esferas governamentais Neste item, foi destacado o tema da alocação de recursos e seu potencial de indução de um modelo assistencial que incorpore a perspectiva das redes assistenciais. Assim, foram abordados os seguintes aspectos: 4.1 Alocação de recursos - Discutir a concentração do gasto, fortemente centralizado na assistência hospitalar; - Aprofundar as dificuldades de estados e municípios de se agregarem em projetos que propõem redirecionar a alocação de recursos, incluindo aí o Pacto de Gestão; - Necessidade de aprofundar o registro e a estrutura de gastos começando pelo Governo Federal: a) Como acompanhar os orçamentos estaduais e municipais, se somente o federal é possível? b) O acompanhamento das contas públicas se dará pela regionalização das ações e dos serviços de saúde? - Discussão da alocação de recursos a partir de dois eixos: alocação por meio de necessidades de saúde ou pela lógica do nível de atenção? Aprofundar este debate, pois atualmente com a vigência do Pacto de Gestão, os blocos de financiamento foram construídos pela lógica do nível de atenção. Esta estrutura dificulta a definição e o aprimoramento da alocação do gasto pelos gestores estaduais e municipais; 4

- Aprofundar a discussão da restrição orçamentária dos municípios, bem como as dificuldades de alavancar o aporte de recursos. Neste ponto, vincular a alocação à responsabilização dos municípios, considerando as suas restrições, explicitadas pela lei de responsabilidade fiscal que traz o ajuste neoliberal para o campo da saúde; - Conhecer ainda, em relação à gestão orçamentária, como se estabelecem as vinculações com outros programas. Por exemplo, no âmbito do Mais Saúde, as vinculações entre metas e acesso estão estabelecidas e do Complexo Produtivo se destaca a questão do emprego; - Ainda, a alocação de recursos entre esferas de governo deve avançar para uma alocação pela eqüidade, já proposta e que traz a avaliação a partir de indicadores por necessidades de saúde e contempla ajustes de fluxos de entradas e saídas de pacientes. Porém, é um debate não mais preconizado atualmente, diante do protagonismo da alocação pelo Pacto de Gestão, através dos blocos de financiamento. 4.2 Constituição de redes assistenciais - Referenciar nesta discussão a ausência da apropriação política da alocação de recursos, em que as potencialidades dos mecanismos de alocação poderiam ser exploradas. Nesse sentido, ressalta-se a discussão do modelo assistencial em torno da constituição das redes assistenciais que tentam romper com o modelo hospitalocêntrico; - Vincular as redes assistenciais, a fragmentação e a segmentação do sistema aos elementos que fornecem uma complexidade maior ao modelo assistencial; - Necessidade de aprofundar as causas dessa fragmentação e segmentação, partindo dos arranjos público - privado. A regulação do sistema se modifica a partir dessa realidade? É capaz de apontar questões associadas ao desafio da governança, com regulação pública mas interagindo com os arranjos? O desafio de construção de redes assistenciais deve interagir com os arranjos, mas como e até que ponto? - Trazer à tona as possibilidades da forma e da natureza do gasto gerarem uma discussão federalista que rompa com a fronteira do municipalismo e incorpore as especificidades regionais ao modelo de alocação; - Trazer outros mecanismos de alocação de recursos que considerem a programação orçamentária integrada, aprofundando a organização por redes assistenciais; 5

- Considerar que a municipalização tem aspectos positivos em relação ao acesso e à reformulação do modelo assistencial, porém a pauta da regionalização não está no centro do debate, posto que as condições para isso, incluindo as técnicas que poderiam potencializar a capacidade dos gestores e as questões legais, não foram criadas; - Debater a responsabilização e estruturação das redes: caberia ao gestor estadual este papel? Refletir sobre a regionalização da NOAS não ter seguido adiante. E, deve-se atribuir este retrocesso em parte ao gestor estadual por ele não ter um papel protagonista? - Chamar a atenção para que a regionalização vinculada à capacidade de financiamento passe a ser um objeto de debate importante. Neste tópico, foi proposta a realização de uma discussão prévia capaz de nortear a proposta de debate em torno das redes e da alocação de recursos: a) Como os estados e municípios estão equipados em termos de recursos financeiros? b) Como funciona a operacionalização dos incentivos financeiros, considerando o tamanho dos municípios e o modelo assistencial? Ainda, foi sugerido disseminar a publicação de documentos que tratam do tema das redes assistenciais e de questões ligadas à temática geral do financiamento relativa ao modelo de gestão. 5. Financiamento em saúde e relação entre os prestadores - Discussão da inserção da saúde no debate político, no âmbito público e privado, através da dinâmica do aumento das tabelas de remuneração de procedimentos do SUS; - Aprofundar o debate que relaciona a defesa de um sistema universal e o percentual do gasto privado que se observa atualmente no sistema de saúde; - Retomar a discussão antiga, mas abandonada da universalização, com o entendimento da competição entre os sistemas público e privado; - Abordagem da judicialização da saúde por ser uma questão que toca no tema da garantia do direito à saúde. E considerar o ponto de vista do usuário em relação à garantia de acesso e de atendimento com qualidade, à integralidade e à universalidade. 6

Resultados da Oficina A discussão sobre Financiamento em Saúde terá continuidade no Seminário Internacional que ocorrerá em agosto próximo. A produção de conhecimento durante a Oficina contribuiu para o aprofundamento das questões centrais associadas à retomada dos princípios da Reforma Sanitária, à articulação de alianças estratégicas e a sua recolocação no debate político da saúde no Brasil. Em relação à atualização do debate sobre financiamento, deve-se destacar os seguintes temas a serem aprofundados: i) a crise financeira e econômica global e seu impacto sobre as políticas sociais e o setor saúde; ii) recuperar a discussão do orçamento da seguridade social a partir da disputa por recursos entre a área da saúde e outras áreas sociais e do conceito de seguridade social integrada vinculando-o aos princípios que norteiam o SUS; iii) financiamento da seguridade social, do SUS e a reforma tributária; iv) financiamento e relação com os prestadores a partir da perspectiva da competição entre os sistemas público e privado; v) alocação de recursos entre esferas governamentais e a distribuição com foco na alocação por eqüidade, conforme as necessidades de saúde da população; vi) debate da organização do sistema de saúde por redes assistenciais; e vii) discussão do modelo de desenvolvimento econômico que se pretende para o Brasil, sob a perspectiva da crise. Ademais, foi proposta a criação de um observatório político do tema Financiamento em Saúde, que vise à difusão do conhecimento, que produza informação organizada e capaz de fornecer argumentos para a defesa do SUS e para construir uma massa crítica. Quanto à construção de alianças e retomada da Reforma Sanitária na agenda da saúde, vários encaminhamentos foram sugeridos: - Necessidade de retomar a discussão dos conflitos, por ora paralisada, que fornecerá bases para o encaminhamento político; - Reconhecer a não apropriação da emenda constitucional 29 e se aproximar das centrais sindicais e de outros movimentos sociais que apóiam a emenda e atuar para fortalecer este apoio; 7

- Retomar a defesa do orçamento da seguridade social seguro e solidário, balizado pelos princípios do SUS, e que no passado possuía um tratamento prioritário nas discussões da política social brasileira; - Aprofundamento das questões da seguridade social incorporando a análise da crescente privatização da proteção social no Brasil; - Necessidade de se criar uma área de coordenação da questão social no Brasil, em que se repense a articulação da política social e que seja direcionada pela visão política e não pela burocrática. Esta área também deverá ter como um dos propósitos vencer a fragmentação e a especialização e priorizar a defesa de interesses coletivos; - Aprofundar a discussão da questão social, no que se refere à desorganização do contingente de usuários do SUS, com a perspectiva de contribuir para que a base social que será montada tenha uma perspectiva mais coletiva e menos corporativista; - Criar mecanismos para que essa base tenha a capacidade de se articular mais intrinsecamente com o movimento político; - Sob a perspectiva do emprego, há o entendimento de que a articulação de estratégias e alianças políticas na área da saúde está cada vez mais difícil. No passado, havia a crença de que os trabalhadores organizados acompanhariam o movimento da Reforma Sanitária. Mas atualmente este engajamento não é tão visível, trazendo à tona as dificuldades de articular uma ação política mais coerente. A partir disso deve-se considerar: o Quais estratégias são factíveis para construir alianças, fomentar o debate e identificar atores (antigos e novos)? o Como se altera a correlação de forças? o Como pensar de forma estratégica as temáticas, como conduzi-las e assim estabelecer as parcerias e alianças? o Realizar um balanço das classes sociais que apoiaram o movimento da Reforma Sanitária e por onde caminharam; - No que se refere ao tema da relação dos prestadores privados e o SUS, se propôs analisar como as alianças se constituíram e foram capazes de provocar as distorções no sistema de saúde. 8