Descentralização Inframunicipal e o Cumprimento dos ODM no Município de Santa Cruz



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Transcrição:

Eurides Samy Ramos Silva Descentralização Inframunicipal e o Cumprimento dos ODM Universidade Jean Piaget de Cabo Verde Campus Universitário da Cidade da Praia Caixa Postal 775, Palmarejo Grande Cidade da Praia, Santiago Cabo Verde 29.11.2014

Eurides Samy Ramos Silva Descentralização Inframunicipal e o Cumprimento dos ODM

Eurides Samy Ramos Silva, autora da monografia intitulada A Descentralização Inframunicipal e o Cumprimento dos ODM, declara que, salvo fontes devidamente citadas e referidas, o presente documento é fruto do meu trabalho pessoal, individual e original. Cidade da Praia, 29 de Novembro de 2014 Eurides Samy Ramos Silva Memória Monográfica apresentada à Universidade Jean Piaget de Cabo Verde como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Licenciatura em Administração Pública e autárquica. 4

Sumário O presente trabalho que se intitula A Descentralização Inframunicipal e o Cumprimento dos ODM, enquadra-se no âmbito do curso de licenciatura em Administração Pública e Autárquicas realizado pela Universidade Jean Piaget de Cabo Verde. Em Cabo Verde e, sendo assim para, o Município de Santa Cruz estabeleceu os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio a serem alcançados até 2015, bem como as metas e as matrizes financeiras de forma a mobilizar os recursos financeiros para o efeito, o que devido a crise económica e financeira, tem vindo a deparar com constrangimentos na concretização dos mesmos. Entretanto, o reforço da descentralização inframucipal pode constituir-se numa das vias para a prossecução dos objectivos a respeito do desenvolvimento, quer a nível nacional, regional, local e comunitário. Este trabalho visa, de entre outros objetivos, analisar a relação entre o reforço da descentralização inframunicipal e o cumprimento dos ODM em Cabo Verde, com realce para o Município de Santa Cruz, de forma a inteirar-se sobre o cumprimento ou não desses objetivos, conhecer os constrangimentos a esse respeito, e sugerir medidas de políticas e estratégias a esse respeito. Para a realização deste estudo utilizou-se uma metodologia com enfoque qualitativo e de carácter exploratório, Tendo em conta pesquisa documental. 5

Com a realização do trabalho, concluiu-se que, apesar dos recursos mobilizados e medidas de políticas e estratégias adotadas no sentido de melhorar as condições de vida das pessoas e garantir a sustentabilidade ambiental, entre outros Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, ainda há que se implementar políticas públicas e sociais a esse respeito. Palavras-chave: Descentraliza; Inframucipal; Cumprimento; ODM. 6

Agradecimentos Primeiramente a Deus, por estar presente em minha vida, iluminando os meus caminhos e sendo fonte de inspiração, força e determinação para que eu atinja meus ideais. Em especial quero agradecer ao Senhor Aristide Lima Silva, que tornou meu sonho realidade ao oferecer- me uma bolsa de estudo sem se quer um pedido para tal, serei imensamente grata. Quero ainda acrescentar um profundo agradecimento a Dona Ana Maria Mendes Ramos, avó da minha Filha Ana Elisa, que cuidou da minha menina desde bebé para que eu possa estudar com tranquilidade e paz de espírito. Aos meus pais, Joaquim Silva Monteiro e Isabel Maria Ramos dos Santos, pelo amor incondicional e pela paciência. Por terem sentido junto comigo, todas as angústias e felicidades, acompanhando cada passo de perto. Pelo amor, amizade e apoio depositados, além da companhia por todos esses anos, melhor, não poderia encontrar. Ao meu querido Namorado pela compreensão, empenho, entendimento, e que tem-me dado todo apoio necessário nos últimos tempos para finalização deste trabalho. Na mesma linha não quero esquecer do meu amigo muito especial Victor Hugo, que me deu toda força e moral, e não me deixou desistir nos momentos mais difíceis e acreditou em mim. Por muito individual que seja, a elaboração de qualquer trabalho científico, requer a ajuda, a colaboração e o apoio de outras pessoas e instituições. Assim sendo, é com um sentimento de imensa satisfação que agradeço a todos os que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. 7

Eu gostaria de expressar minha especial gratidão ao Professor Doutor Simão Paulo Rodrigues Varela pela sua disponibilidade, paciência e dedicação que de uma forma brilhante orientoume na minha investigação e aos apoios moral que não faltaram durante a elaboração da investigação. Ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, Dr. Orlando Sanches, por ter autorizado a disponibilização de informação à realização desta investigação. A todos os funcionários da Câmara Municipal de Santa Cruz que prontamente responderam aos inquéritos com grande sentido de profissionalismo, partilhando as suas práticas profissionais e cuja colaboração foi preciosa para atingir os objectivos propostos. A todos, meu reconhecimento e a minha profunda gratidão. Bem hajam! 8

Índice SUMÁRIO... 5 AGRADECIMENTOS... 7 INTRODUÇÃO...15 1. CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMÁTICA...15 2. IMPORTÂNCIA DO TRABALHO...16 3. PERGUNTAS DE PARTIDA...17 4. OBJETIVOS DO TRABALHO...17 4.1. OBJETIVO GERAL...17 4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS...17 5. ESTRUTURA DO TRABALHO...18 CAPÍTULO 1: ABORDAGEM TEÓRICA E METODOLÓGICA...19 1. APROVAÇÃO DE CONCEITOS...19 1.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...22 1.2. METODOLOGIA DO TRABALHO...26 CAPÍTULO 2: DESCENTRALIZAÇÃO DO PODER LOCAL EM CABO VERDE...27 2. BREVES CONSIDERAÇÕES...27 2.1. HISTORIAL SOBRE A DESCENTRALIZAÇÃO DO PODER LOCAL...27 2.2. OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO DO MILÉNIO E RESULTADOS CONSEGUIDOS...29 9

2.3. FIXAÇÃO DAS PRIORIDADES DE INVESTIMENTO PÚBLICO DE DESENVOLVIMENTO POR MUNICÍPIO..43 2.4. POLÍTICAS PÚBLICAS E COMBATE A POBREZA...45 2.5. ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E O COMBATE À POBREZA...51 2.6. ESTRATÉGIAS DAS FAMÍLIAS NO COMBATE À POBREZA...56 CAPÍTULO 3: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO ESTUDO...60 3.1. CARATERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ...60 3.1.1. ENQUADRAMENTO GERAL...60 3.1.2. REALIZAÇÕES NO MUNICÍPIO...63 3.1.3. EVOLUÇÃO DO ORÇAMENTO DA CMSC...69 3.1.4.SÍNTESE DA ANÁLISE SWOT SOBRE O MUNICÍPIO...70 CONCLUSÕES GERAIS E SUGESTÕES...77 BIBLIOGRAFIA...81 ANEXOS...87 10

Índice de Gráficos GRÁFICO 1 PERCENTAGEM DE POPULAÇÃO POBRE...30 GRÁFICO 2 EVOLUÇÃO DA TAXA DE ESCOLARIZAÇÃO...34 GRÁFICO 3 EVOLUÇÃO DA TAXA DE MORTALIDADE MATERNA...38 GRÁFICO 4 EVOLUÇÃO DO ORÇAMENTO DA CMSCZ...70 Índice de Figuras FIGURA 1 LIMITES DO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ...61 Índice de Tabelas TABELA 1 PERCENTAGEM DE POPULAÇÃO RESIDENTE...62 TABELA 2 PONTOS FORTES E FRACOS DO MUNICÍPIO...72 TABELA 3 OPORTUNIDADES E AMEAÇAS...73 TABELA 4 RELAÇÃO ENTRE ODM E ATUAÇÃO DO MUNICÍPIO DE STª CRUZ...74 11

Siglas e Abreviaturas ADA Agência de Distribuição de Água AMS Associação dos Municípios de Santiago ANMCV Associação Nacional dos Municípios de Cabo Verde CMSC Câmara Municipal de Santa Cruz CV Cabo Verde DNP Direcção Nacional do Planeamento EIGRSS Empresa Intermunicipal de Gestão de Resíduos Sólidos de Santiago FFM Fundo de Financiamento Municipal GC Governo Central IA Insegurança Alimentar IDRF Inquérito às Despesas e Receitas das Famílias IDRS Inquérito Demográfico e de Saúde Reprodutiva 12

IMC Inquérito Multiobjectivo Continuo INE Instituto Nacional de estatística IUP Imposto Único sobre o Património MDHOT Ministério de Desenvolvimento, Habitação e Ordenamento do Território MEES Ministério de Educação e de Ensino Superior MF Ministério das Finanças MS Ministério da Saúde ODM Objetivo do Desenvolvimento do Milénio OMS Organização Mundial da saúde ONU Organizações das Nações Unidas QUIBB Questionário Unificado de Indicadores de Bem-estar SA Sociedade Anónima SIDA Síndrome de Imunodeficiência Adquirida SWOT Strengths Weaknesses Opportunities Threats 13

TMM Taxa de Mortalidade Materna UE União Europeia VIH Viros da Imonoficência Humana 14

Introdução 1. Contextualização e problemática Em Cabo Verde e, sendo assim, o Município De santa Cruz estabeleceu os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio a serem alcançados até 2015, com base em metas e matrizes financeiras de forma a mobilizar os recursos financeiros para o efeito, o que devido a crise económica e financeira, depara-se com constrangimentos na concretização dos mesmos. Entretanto, o reforço da decentralização inframunicipal poderá vir a constituir-se numa das vias para a prossecução dos objectivos, porque com a descentralização inframunicipal ficarão mais próximo dos munícipes, e poderão dar respostas com maior rapidez às necessidades dos munícipes e contribuirão para desenvolvimento, quer a nível nacional, regional, local e comunitário. Não obstante ao quadro geral que apresenta Cabo Verde com situações a nível dos ODM praticamente realizadas pelo menos quanto aos quatro objectivos já indicados, a nível dos municípios 10 dos 22 encontram-se numa situação de avanço lento. São praticamente os 15

municípios rurais das ilhas de Santiago, Santo Antão e da ilha do Fogo e que detêm no total 37% da população residente. Em 2010, os Municípios que se encontravam no grupo de avanço lento são os de Santa Cruz, Paul, Santa Catarina de Fogo, Ribeira Grande, Porto Novo, São Miguel, São Lourenço dos Órgãos, Tarrafal e Ribeira Grande de Santiago. Apesar dos ganhos alcançados, o Município de Santa Cruz, depara com constrangimentos a nível socioeconómico, com reflexos negativos no meio ambiente. Para a realização do trabalho, utilizou-se a metodologia com enfoque qualitativo e de caráter exploratório, e com recurso ao estudo documental e consulta aos responsáveis, técnicos dos serviços central e local, sendo neste último, com realce para os que estão direta ou indiretamente a trabalhar no e para o Município de Santa Cruz, bem como especialistas, Professores e Investigadores em matéria de autonomia do poder local e desenvolvimento e, sendo assim, em que questões relacionados com o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. 2. Importância do trabalho O cumprimento dos ODM em Cabo Verde, e sendo assim, depende, em certa medida, pelo reforço descentralização inframunicipal, tanto a nível financeiro, administrativo, bem como patrimonial. A realização deste trabalho justifica-se, entre outras, pelas seguintes razões: 16

Importância e atualidade do tema para a comunidade académica e científica; Necessidade pessoal em aprofundar os conhecimentos adquiridos, a esse respeito, durante a parte curricular do curso; e Por ser um dos requisitos a obtenção do grau de licenciatura Administração Pública e Autárquica. 3. Perguntas de partida Para a realização deste trabalho, formulou-se a seguinte pergunta de partida: De que forma a descentralização inframunicipal pode contribuir para o cumprimento dos objetivos do desenvolvimento do milénio por parte do Município de Santa Cruz? 4. Objetivos do trabalho 4.1. Objetivo geral Este trabalho tem por objetivo geral analisar a relação entre a descentralização inframunicipal e o cumprimento dos ODM em Cabo Verde, com realce para o Município de Santa Cruz. 4.2. Objetivos específicos Os objetivos específicos deste trabalho são, de entre outros, os seguintes: Inteirar-se sobre o grau do cumprimento dos objetivos do desenvolvimento do milénio ; 17

Conhecer os constrangimentos ao cumprimento desses objetivos por parte desse Município; Compreender a relação entre a descentralização inframunicipal e o cumprimento desses objetivos; Sugerir medidas de políticas e estratégias sobre o reforço da descentralização inframunicipal, e que contribuam para o cumprimento desses objetivos nesse Município. 5. Estrutura do trabalho Para que o trabalho tenha uma sequência lógica, para além das partes pré-textuais e póstextuais, da introdução e da conclusão, encontra-se estruturado nos seguintes capítulos, a saber: Capítulo 1, Abordagem teórica e metodológica onde se apresentou os conceitos, a fundamentação teórica e a metodologia utilizada para a realização do trabalho. Capítulo 2, Descentralização inframunicipal em Cabo Verde, com realce para as breves considerações, o historial sobre a descentralização do poder local, os ODM, os objetivos do desenvolvimento do Milénio e resultados conseguidos, a fixação das prioridades de investimento público de desenvolvimento por município, as políticas públicas e combate a pobreza, as organizações da sociedade civil e o combate à pobreza, bem como as estratégias das famílias no combate à pobreza. Capítulo 3, Análise e discussão do resultado do estudo, caraterização do Município de Santa Cruz, com realce para o seu enquadramento geral, as realizações no Município, a evolução do orçamento da CMSC, e a síntese da análise SWOT sobre o Município. 18

Capítulo 1: Abordagem teórica e metodológica 1. Aprovação de conceitos Para uma melhor compreensão e abordagem sobre a descentralização poder local e o cumprimento dos ODM, apresenta-se os conceitos de: Descentralização É a existência de diversas entidades na administração pública, para além do Estado- administração, todas participando no exercício da função administrativa do Estado- colectividade, umas dessas entidades dispõe de base territorial, outra não (Sousa, 1999:139). É transferência de poderes ou competência do estado para pessoa colectivas de direito público diferentes, ou seja, entre distintas entidades públicas cada uma com a sua personalidade jurídica. (Pereira, et al., 2005:341). Desconcentração É a repartição das competências dentro da cada entidade administrativa entre o órgão de topo e órgão subalternos, reforçando a competência própria ou delegada deste, por natureza mais 19

próximos daqueles cujos necessidades se visa satisfazer (Sousa, 1999:139). Assim, de uma forma mais simplificada a desconcentração acontece dentro da mesma pessoa jurídica conservando-se o poder de decisão, sendo o poder exercido em regime de delegação de competências e afectação de meios. Autonomia administrativa É a possibilidade de praticar atos administrativos, só susceptíveis de impugnação direta em via contenciosa, possibilidade de decisão independente no âmbito das suas funções (Dias & Oliveira, 2006:59). Município São definidos como entidades territoriais colectivas com órgãos representativos (deliberativos e executivo) emanados das suas respectivas populações, dotados de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, normativa e organizacional e que prosseguem os interesses das suas populações 1. Descentralização Inframunicipal A descentralização Inframunicipal poderá vir a ser uma unidade de descentralização da Administração local ou municipal, com a sua própria autonomia financeira, atribuições e competências. 1 ANMCV, Legislação Municipal Cabo-Verdiana, Estatuto dos Municípios (Lei nº134/iv/95), 2010. 20

Lino Monteiro, numa opinião a cerca da regionalização, concedia ao jornal de São Nicolau, a 14 de Maio de 2014, referiu que os estudos conducentes á criação de um município deveriam ter em conta a população efectivamente residente e a actividade económica local que proporcionasse receitas para cumprir todas as despesas de funcionamento do município. Referiu ainda que, a regionalização deveria começar pela organização do poder inframunicipal, como as zonas e as freguesias. Os municípios assim como estão organizados estão mais longe da população do que se imagina. A autoridade local não deveria ter sido extinta, mas sim democratizada. Descentralização financeira É a transferência de créditos entre uma unidade gestora e suas beneficiárias, para que estas efetuem sua execução, onde a beneficiaria ganha a condição de determinar em quê e como gastar os recursos recebidos 2. Descentralização administrativa É um simples processo técnico de descongestionar o estado de uma parte da sua tarefa/função (Caetano, 2001:248). Descentralização fiscal Refere-se á transferência de recursos do governo central, a cobrança de impostos para as unidades sub-nacionais do governo, observando-se os dois lados do processo, isto é, recursos e gastos 3. 2 Cfr http//www.educacao.escolas.ba.gov.br/node/22. 21

Descentralização política Diz respeito a funções de governo exercidas em esferas inferiores da estrutura estadual (município) mediante competência e poderes próprios. (Sousa et al., 1998:162). 1.1. Fundamentação teórica O reforço da descentralização inframunicipal são vistas como um processo positivo e democrático e a centralização como um processo negativo e autocrático. Na realidade, a descentralização é um processo que pode apresentar vantagem e inconvenientes, a depender do momento histórico em que ocorre, do grau de desenvolvimento social, cultural e económico da sociedade, e das motivações que a ela conduzem. Como vantagem, permite aproveitar para a realização do bem comum a sensibilidade das populações locais relativamente aos seus problemas, e facilita a mobilização das iniciativas e das energias locais para as tarefas de administração publica, proporcionando soluções mais vantajosas de que a centralização, em termo de custo e eficácia (Amaral, 1998:696). Referindo-se o supra autor, como inconvenientes da descentralização é que gera algumas descoordenações no exercício da função administrativa, abra a porta ao mau uso dos poderes discricionários da administração por parte de pessoas nem sempre bem preparada para o exercício. As propostas baseavam-se geralmente nos modelos britânicos ou francês, embora com autoridade e funções bem limitadas. O primeiro considerava a descentralização como forma 3 Idem. 22

de transferência de atribuição e competências da administração central para a administração local, bem como de responsabilidades, serviços e recursos. Já a visão francesa apenas achava necessária a promoção e desenvolvimento de condições jurídico institucional que permitissem o deslocamento do poder, da gestão e das decisões para os níveis mais periféricos de um sistema ou organização (Amaral, 1998:100). Com base nisso podemos afirmar que o modelo britânico permitia uma maior descentralização já que abarcava a parte administrativa, política, fiscal e financeira, enquanto o modelo Francês consistia numa descentralização político e administrativa. Existem exceções, como a de alguns países do Pacifico, onde a descentralização surgiu como resposta ás pressões de grupos locais e regionais numa demanda por maior autonomia local (Lamour & Qalo, 1985). A descentralização como sendo a distribuição territorial de poder, ligada ao grau em que o poder e a autoridade estão distribuídos as instituições, através da hierarquia geográfica do estado e aos processos através dos quais tais distribuições ocorrem (Smith, 1985). Ela, vincula- se á subdivisão do território do Estado em áreas menores e à criação de instituições políticas ou administrativas que podem, por si decidir por novas formas de descentralização. A descentralização inclui formas diferentes de combinar hierarquicamente instituições e funções, assim como a distribuição de poder. Cada nível de governo, no Estado unitário, deve ser capaz de atribuir poderes a níveis hierarquicamente inferiores às suas unidades 23

administrativas, em todos os níveis de modo a praticar a descentralização dentro das suas organizações 4. Na perspectiva marxista, analisa a descentralização de acordo com a natureza do Estado e do sistema económico em que ela se processa, buscando-se entende-la a partir dos que dela se beneficiam e controlam as instituições políticas sub-nacionais. Nas sociedades capitalistas estudiosos do processo alertam para o facto de que maior papel da descentralização é ser parte de um reformismo liberal, incorporando ao aparelho do Estado as forças antagónicas ao regime, estendendo esse aparelho a níveis inferiores, criando-se, desse modo, a dispersão do poder sem, contudo, abdicar-se de seu controle (Amaral, 1998). A descentralização, pela sua complexidade, tem merecido a atenção de diferentes disciplinas, apresentando dimensões distintas, tais como: a dimensão política, administrativa, económica e social. A abordagem relacionada com a dimensão administrativa analisa a descentralização como transferência de funções, competências e responsabilidades entre esferas do governo, unidades ou órgãos (Caetano, 2001). A análise da dimensão económica encara a descentralização como a transferência de atividades económicas do sector público para o privado, ou como uma política para capacitarem as unidades governamentais sub-nacionais a decidirem sobre bens e serviços públicos nas suas próprias comunidades. Ainda, quanto à dimensão social entende-se que este processo supõe a participação social na gestão pública local, criando condições para que a população possa exercer funções de fiscalização sobre a gestão dos serviços públicos (Amaral, 1998). 4 Constituição da Republica de Cabo Verde, art.2º,p:8, Cidade da Praia, 2008. 24

Por devolução deve ser entendida a criação ou fortalecimento de níveis sub-nacionais de governo (governo local ou autoridades locais), que se tornam independentes do nível central face a um conjunto definido de funções com personalidade jurídica clara, fronteiras geográficas delimitadas e autoridade para conseguir fundos e realizar despesas (Amaral, 1998). Um país é considerado como possuidor de alto nível de descentralização administrativa se as regras e os procedimentos permitirem às unidades sub-nacionais do governo o controle de um grande número de serviços públicos (Rondinelli et al. 1984). Todos os estados contemporâneos parecem de algum modo encontrar, dentro de sua organização política, fiscal ou administrativa, medidas e políticas voltadas para a descentralização. Cabe, contudo, levar-se em consideração que se a descentralização total leva a romper a própria noção de Estado, existe também a utopia de uma descentralização total do Estado moderno, que possui uma vasta complexidade de funções e finalidades que conduzem a que todos os ordenamentos sejam em parte centralizados e em parte descentralizados, não existindo um sistema político-administrativo que seja orientado num ou noutro sentido (Bobbio, 1986). Segundo Amaral (1998:698), a descentralização tem de ser submetida a certos limites, ou seja não pode ser ilimitado. A descentralização ilimitada degenera rapidamente no caos administrativa para desagregação do estado, além de que provocaria com certeza a apelo a legalidade, a boa administração e aos direitos dos particulares. Por isso á necessidade de impor limite a descentralização. Ainda, segundo esse autor, mesmo que nos encontremos no quadro de um sistema juridicamente descentralizado, dir-se-á que há centralização, sob o ponto de vista político-administrativo, quando os órgãos das autarquias locais sejam 25

livremente nomeados e demitidos pelos órgãos do Estado, quando devam obediência ao partido único ou quando se encontrem sujeitos a formas particularmente intensas de tutela administrativa, designadamente a uma ampla tutela de mérito. 1.2. Metodologia do trabalho Este trabalho foi realizado com base no projeto de memória elaborado no âmbito da disciplina de Metodologia de Investigação em Administração Pública e Autárquica. Para a realização deste estudo utilizou-se uma metodologia com enfoque qualitativo e de caráter exploratório, tais como pesquisa documental, nomeadamente livros e revistas especializados, sites, documentos jurídicos e de gestão, relatórios e estudos de consultoria. A análise e a discussão dos dados e das informações foram feitas, tendo em consideração a pergunta de partida, os objetivos, a fundamentação teórica e a metodologia do trabalho. 26

Capítulo 2: Descentralização do Poder Local em Cabo Verde 2. Breves considerações Neste capítulo apresentou-se o historial sobre a descentralização do poder local, os Objetivos do Desenvolvimento do Milénio e resultados conseguidos e as considerações finais. 2.1. Historial sobre a descentralização do Poder Local Da descoberta das ilhas, em 1460, à 1975, a dominação colonial foi caracterizada, primeiro, por uma sociedade escravocrata e, a partir de 1838, por uma colónia de serviços. É neste último período que, em 1933, se deu a consagração jurídica das autarquias locais pelo Decreto-Lei 23.229, de 15 de Novembro de 1933, enquanto órgãos de administração e gestão de interesses dos Concelhos. Esta situação não se efetivou, sobretudo por manifesta falta de vontade política e pela implantação do estado novo em 1935 e a reforma administrativa ultramarina que cola a figura do presidente da câmara à do 4 administrador do concelho, o qual, até a independência nacional, acumula nomeadamente as funções judicial, de registo civil e de polícia. No decorrer da sua constituição social, Cabo Verde não conheceu formas de 27

organização e gestão endógenas, habilitadas a desempenhar as funções de poder, salvo determinadas formas de solidariedade social, em particular, no meio rural, ou seja, não houve nem descentralização, nem poder local, nem participação. Após o 25 de Abril de 1974, em Portugal e, na sequência dos acordos entre o governo Português e o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, foi instalado o governo de transição incumbido de assegurar as condições políticas e administrativas que conduziram à proclamação da independência nacional a 5 de Julho de 1975. De 1981 à 1985, o programa do governo consagra o poder local como poder político, devendo os seus órgãos ser eleitos democraticamente, impondo ao estado o dever de apoiar a ação das colectividades territoriais descentralizadas e dotadas de autonomia. O programa do governo, para 1986/1990, realça a necessidade de aplicação progressiva da descentralização, sendo tomadas medidas de carácter legislativo, em matéria do poder local, com destaque para a Lei de bases das autarquias locais evidenciada pela Lei 47/III/89, a Lei eleitoral municipal definida pela Lei 48/III/89, a Lei da organização e funcionamento da administração Municipal consagrada pelo Decreto-Lei 52-A/90 e a lei das finanças locais estabelecida no Decreto-Lei 101/90. A república de Cabo Verde é constituída por 22 (vinte e duas) circunscrições denominadas de concelhos, cujas áreas de jurisdição correspondem as municipalidades, e 31 freguesias. A actual divisão político-administrativa é, no essencial, a mesma herdada do período colonial, salvo o facto do número de concelhos, único nível de administração local, que passou de 13 em 1975, para 17 e 22, em 2000 e 2005, respectivamente. 28

2.2. Objetivos do desenvolvimento do Milénio e resultados conseguidos Cabo Verde aceitou o desafio lançado pela ONU, e desde então tem vindo a consolidar, desenvolver e implementar um conjunto de ações estratégicas, que lhe permitirá em 2015 estar confortável em relação ao cumprimento dos ODM, prevendo que uma série de objectivos e metas seja realizado. O conceito dos ODM, integra oito objectivos, onde são definidas, as prioridades em termos de elaboração e implementação de medidas de políticas sociais que visam sobretudo proporcionar às populações a garantia e o acesso aos serviços sociais básicos como a saúde, a educação, ao abastecimento de água e redes de saneamento, a igualdade entre os géneros e a conservação do meio ambiente. É de realçar que os 8 objectivos de desenvolvimento do milénio a ter a prioridade para a nação Cabo-verdiana até 2015 são: Objetivo 1: Reduzir a extrema pobreza e a fome Assim tendo como a meta nacional reduzir para metade, entre 1990 e 2015 a população com fome. Os indicadores a terem prioridade são: Percentagem da população a viver abaixo do limiar da pobreza; Percentagem de crianças menores de 5 anos com mal nutrição; Percentagem da população com insuficiência calórica; 29

As características demográficas do agregado familiar do país apontam para uma estrutura com uma chefia feminina em 44 para cada 100 casos e uma chefia masculina em 56 dos casos. A maioria da chefia masculina tem residência urbana ficando a chefia feminina a residir maioritariamente no meio rural. Em 2006 a chefia masculina do agregado familiar do país predominava nas duas áreas de residência. A população pobre apresenta uma estrutura com uma chefia feminina em 56% dos casos contra 44% masculina. (INE, 2007; MF, 2008). Grafico1: Percentagem da população pobre (1989/2015) Fonte: INE (2007) O número de pobres diminuiu de 163.200 ao tempo do IDRF2001/02 quando representava 36,7% da população residente, para 130.900 ao tempo do QUIBB2007 seja 26,6% da população. Seja um total de 32.300 pessoas foram retiradas da pobreza num intervalo de cinco anos. Essa diminuição foi mais acentuada no meio urbano do que no meio rural. As desigualdades entre os pobres também diminuíram nesse período. Contudo ainda os agregados mais pobres continuam a viver no meio rural. Assim, a repartição dos pobres segundo o local de residência aponta para 72% no meio rural (63% em 2001/2002) e 28% no 30

meio urbano (37% em 2007). Os pobres rurais têm na agricultura a sua fonte principal de subsistência. A incidência da pobreza continua mais acentuada entre os agregados de prole numerosa (5 e mais elementos) e entre as famílias chefiadas por mulheres uma vez que a percentagem da população pobre segundo o sexo do chefe do agregado é 33%, cerca de 12% mais elevada que para o caso masculino. A idade da chefia é também importante porquanto cerca de 60% dos agregados familiares pobres são chefiados por adultos com idade igual ou superior a 50 anos. O grau de instrução do chefe é um factor importante de pobreza (MF, 2009). Em Cabo Verde a fome não é um fenómeno de massa pelo que verdadeiramente se deve falar de insegurança alimentar (IA) e não de fome. A IA é de natureza estrutural e resulta de limitações agro-ecológicas agravadas por fenómenos de seca e desertificação e por atuação humana ofensiva sobre o ambiente. A má nutrição crónica em crianças cabo-verdianas menores de 5 anos afecta 14,5% dessa população. A população rural é ligeiramente mais afectada, sendo a má nutrição aguda na mesma faixa etária fica abaixo da metade desse valor. 6,4% A nível nacional, 6,5% no meio urbano e 6,3% no meio rural. Em 2006, cerca de 8% das crianças menores de 5 anos apresentavam insuficiência ponderal sem contudo serem expressivas as diferenças entre os meios de residência e sexo. A insuficiência ponderal tem maior incidência nas crianças masculinas de 1-2 anos (10%) e nas femininas de 3 anos (12%). Cerca de 1 têm atraso de crescimento, a situação tanto no meio rural como no meio urbano melhorou em 2007 (10%; 7,5%) comparada com a de 2006 (13%; 9%) (MF, 2009). Os eixos estratégicos de intervenção são a integração da segurança alimentar nas políticas sectoriais, salvaguardando a vertente descentralizada, como factor catalisador da participação dos diferentes atores, desenvolvimento e modernização tecnológica do sistema (agro-silvo- 31