AVALIAÇÃO DOS SINTOMAS BULÍMICOS EM ADOLESCENTES DO ENSINO MÉDIO PÚBLICO DE PALMAS-TO Beatriz Silva de Melo¹, Leila Rute Oliveira Gurgel do Amaral² ¹Aluna do Curso de Medicina; Campus de Palmas; e-mail: bia_melo3@hotmail.com 2 Orientadora do Curso de Medicina; Campus de Palmas; e-mail: leila.gurgel@uft.edu.br RESUMO A bulimia nervosa caracteriza-se por compulsões periódicas de ingestão alimentar, em um período curto de tempo, com tentativas ou execução de compensação visando evitar o ganho de peso. Embora haja diversos estudos com identificação de fatores que predispõem os adolescentes aos transtornos alimentares, há carência de dados referentes a Palmas-TO. O objetivo desse estudo foi mapear os sintomas bulímicos nas escolas públicas do ensino médio desse município. Participaram da pesquisa 400 escolares do Ensino Médio de instituições públicas estaduais de Palmas- TO. Os instrumentos utilizados na pesquisa foram: questionário socioeconômico e Teste de Investigação Bulímica de Edinburgh, este constituído por 33 perguntas, com 30 questões sobre sintomatologia bulímica, variando de 0 até 30 pontos, e com 3 sobre gravidade dos sintomas, que se aplica quando o escore na escala de sintomas é superior a 10. Os dados foram tabulados e analisados estatisticamente com auxílio do software EPI-INFO. As variáveis foram sumarizadas como percentagem ou média. Dos participantes, 54,86% eram do sexo feminino e 45,14% do sexo masculino, 53,87% apresentaram renda familiar mensal de 3-6 salários mínimos e 89,03% residiam na zona urbana. A idade média dos entrevistados foi de 17,08±1,95 anos. Dentre os entrevistados, 11% apresentaram comportamento de compulsão alimentar com grande possibilidade de bulimia e 33% padrão alimentar não usual. O aumento da incidência de adolescentes escolares com episódios sugestivos de bulimia demanda a necessidade de uma abordagem preventiva e informacional, dos órgãos da saúde e educação, para evitar a instalação da afecção nestes jovens. Palavras-chave: Adolescentes; Bulimia; Transtorno Alimentar. Página 1
INTRODUÇÃO Para a compreensão dos transtornos alimentares, o presente estudo apropriou-se da perspectiva teórica fundamentada no modelo multifatorial que compreende o processo saúde-doença a partir de múltiplas determinações e causalidades (OLDS; PAPALIA, 2013). Desse modo, pensar os transtornos alimentares requer uma visão ampla tanto dos aspectos biológicos como também emocionais, sociais e culturais. Os transtornos alimentares (TA) caracterizam-se por consumo, padrões e atitudes alimentares perturbadoras e demasiada preocupação com o peso e a forma corporal (APA, 2006). De modo geral, os transtornos alimentares para os meninos, tem se mostrado relacionados com a saúde e o condicionamento físico, ao passo que para as meninas os fatores estéticos se sobressaem (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000). Inserida no contexto dos TA tardios, a bulimia nervosa é definida por compulsões periódicas de ingestão alimentar, em um período curto de tempo, de uma quantidade de alimentos considerada superior àquela que a maioria dos indivíduos consumiria, e tentativas ou execução de compensação visando evitar o ganho de peso (ALVARENGA, et al., 2011). O indivíduo possui TA quando a compulsão alimentar periódica e as compensações ocorrem, em média, por cerca de três meses e por pelo menos duas vezes por semana (APA, 2014). Existem dois tipos de pacientes bulímicos: 1) o purgativo, quando o indivíduo vomita por autoindução, utilizando laxantes, diuréticos ou enemas; e 2) o sem purgação, quando a compensação é realizada com jejuns e exercícios excessivos (FARAHL; MATEL, 2015). O culto ao corpo e a pressão para se atingir a magreza, realidade à qual muitos pré-escolares e adolescentes são expostos, parece estar associado ao desencadeamento de comportamentos bulímicos. Nesse sentido, profissionais especializados na infância afirmam que, por trás de uma pessoa acometida por um transtorno alimentar, sempre é presumível existir um problema psicológico, como depressão e ansiedade, as quais podem ser decorrentes de um ambiente familiar conflituoso ou, até mesmo, do contexto sociocultural que exclui aqueles que não apresentam o modelo corporal cultuado pela mídia. Assim, os adolescentes que enfrentam tais problemas podem isolar-se e enxergar no controle do peso a única forma de controlar alguma coisa em sua vida (OLDS; PAPALIA, 2013). Página 2
Embora haja diversos estudos referentes à identificação de fatores que predispõem os adolescentes aos transtornos alimentares, percebe-se uma carência quanto aos dados referentes ao município de Palmas-TO. De acordo com o exposto, é possível perceber a relevância do presente estudo, uma vez que se propõe o mapeamento de todas as escolas públicas do ensino médio quanto aos sintomas bulímicos. MATERIAL E MÉTODOS Participaram da pesquisa escolares regularmente matriculados no Ensino Médio de instituições públicas estaduais do município de Palmas-TO. A população desses escolares totaliza 11.234 adolescentes. A amostra desse estudo foi composta por 400 indivíduos e foi calculada segundo Barbetta (2003), considerando o erro máximo tolerável de 5%. A amostragem foi aleatória e estratificada por escola. Utilizou-se como critério de exclusão estudantes que não tiveram assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que faziam parte da rede de ensino privada ou municipal. A coleta iniciou em fevereiro de 2017, em virtude do movimento grevista, no qual as escolas da rede pública estavam envolvidas. Os instrumentos utilizados na pesquisa foram: o questionário socioeconômico e o Teste de Investigação Bulímica de Edinburgh (BITE). O questionário socioeconômico teve como objetivo identificar tipo de moradia, escolaridade dos pais e/ou cuidadores e renda familiar. O Teste de Investigação Bulímica de Edinburgh (BITE) é constituído por 33 perguntas, com 30 questões dirigidas à sintomatologia bulímica, variando de 0 até 30 pontos. A resposta sim representa a presença do sintoma, valendo 1 ponto, enquanto a resposta não significa a ausência (0). Nas questões 1, 13, 21, 23 e 31 pontua-se inversamente. Escore abaixo de 10 pontos foi considerado normalidade e escore igual ou acima de 10 pontos foi considerada presença de comportamento alimentar de risco. A escala de gravidade dos sintomas é avaliada pelos itens 6, 7 e 27 e se aplica quando o escore na escala de sintomas é superior a 10. Na escala de gravidade, as questões 6, 7 e 27 pontuam de 1-5, 1-4 e 1-6, respectivamente, sendo que, escore superior a 5 é considerado clinicamente significativo e pontuação igual a 10 indica elevado grau de gravidade. Página 3
Os dados foram tabulados e analisados estatisticamente com o auxílio do software EPI-INFO (versão 7). As variáveis foram sumarizadas como percentagem ou média, para os dois instrumentos utilizados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 400 dados coletados nas 19 escolas de ensino médio da rede pública estadual de Palmas TO, 54,86% dos participantes eram do sexo feminino e 45,14% do sexo masculino. A renda familiar mensal predominante foi de 3-6 salários mínimos (53,87%) e o local de moradia predominante foi na zona urbana de Palmas (89,03%). A idade média dos entrevistados foi de 17,08±1,95 anos. Dentre os entrevistados, 11% (44) apresentaram comportamento de compulsão alimentar com grande possibilidade de bulimia e 33% (132) apresentaram padrão alimentar não usual. No primeiro grupo, 79,55% eram do sexo feminino, assim como 51,52% dos participantes que apresentaram padrão alimentar não usual. A predominância da moradia na zona urbana é fator preditor positivo para o risco de TA, tendo em vista que a urbanização facilita a ação difusora da mídia para comportamentos de risco e práticas psicopatológicas (ALVARENGA et al., 2011). Relacionando a idade com a presença de padrão alimentar não usual e sugestivo de bulimia, a faixa etária mais acometida está entre 15 e 18 anos, representando 73,48% e 70,46% do total analisado, respectivamente. Além disso, 18 anos foi a idade mais afetada, com 23,48% e 20,45%, respectivamente. Esses dados são sustentados pela literatura, pois essa faixa etária da adolescência caracteriza-se por oscilação hormonal e suas implicações, além da iniciação sexual e busca pelo corpo perfeito (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000). Diante da presença de participantes com comportamento alimentar não adequado, analisou-se a escala de gravidade. Dos 32,9 % com padrão alimentar não usual, 4,55% faziam uso de comprimidos para emagrecer, 3,79% utilizavam diuréticos, 7,58% laxantes e 6,6% provocavam vômitos, como métodos para perder peso. Quase metade, ou seja, 45,8% já deixaram de se alimentar por um dia inteiro, 66,7% já se alimentaram de uma grande quantidade de alimentos bem acima do que a maioria costuma comer, em um intervalo curto de tempo. Dentre os participantes que apresentam comportamento de compulsão alimentar sugestivo de bulimia (11%), 80% já se alimentaram de uma grande quantidade de Página 4
alimentos em pouco tempo, 19,57% fez uso de comprimidos para emagrecer, 8,7% usou algum tipo de diurético, 15,22% utilizou algum laxante e 23,10% provocou vômitos, como métodos de perder peso. Além disso, entre os que apresentam padrão alimentar muito perturbado, 43,18% apresentaram escala de gravidade clinicamente significativa (pontuação maior que 5) e 13,63% apresentaram escala de gravidade elevada (pontuação maior ou igual a 10). Dos 33% que apresentaram padrão alimentar não usual, 12,87% apresentaram escala de gravidade clinicamente significativa (pontuação maior que 5), mas nenhum pontuou acima de 10. Os 11% dos alunos com comportamento de compulsão alimentar, estão acima dos 4% encontrado por Souza (2002) entre estudantes universitárias. Em estudo realizado por Cenci (2009), o valor encontrado para a categoria comportamentos alimentares não usuais foi de 20,9%, abaixo do encontrado no presente estudo. O presente estudo ratifica que a maioria dos adolescentes acometidos com alguma alteração do padrão de alimentação pertence ao sexo feminino, o que corrobora com a questão de que os fatores biológicos e socioculturais estão diretamente envolvidos no desenvolvimento dos TA (ALVARENGA et al., 2011). As mulheres, por questões hormonais, acumulam mais gordura que os homens, somado a isso, as adolescentes sofrem mais pressão da mídia e da sociedade em manter padrão inalcançável de corpo magro e definido, quando comparadas ao sexo masculino (REATO, 2001). O aumento da incidência de adolescentes escolares com episódios sugestivos de bulimia demanda a necessidade de uma abordagem preventiva e informacional, dos órgãos da saúde e educação, para evitar a instalação da afecção nestes jovens. LITERATURA CITADA ALVARENGA, M. S.; et al. Comportamentos de risco para transtornos alimentares em universitárias brasileiras. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 38, n. 1, p. 3-7, 2011. APPOLINÁRIO, J. C; CLAUDINO, A. M.. Transtornos alimentares. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 22, n. Supl II, p. 28 31, 2000. APA. American Psychiatric Association. Practice guideline for the treatment of patients with eating disorders. 3. ed. Virginia: American Psychiatric Publishing; 2006. APA. ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais- DSM. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Página 5
BARBETTA, P. A. Estatística aplicada às ciências sociais. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003. CENCI, M.; et al. Prevalência de comportamento bulímico e fatoresassociados em universitárias. Revista Psiquiatria Clínica, v. 36, n. 3, p. 83-8, 2009. FARAHL, M. H. S.; MATEL, C. H. Uma discussão sobre as práticas de anorexia e bulimia como estéticas de existência. Revista Educação Pesquisa, São Paulo, v. 41, n. 4, p. 883-898, 2015. OLDS, S.W.; PAPALIA, D.E.; Desenvolvimento Humano, 12ª Edição, Artmed, 2013. REATO, L.F.N. Mídia x Adolescência. Revista de Pediatria. Mod, v. 37, p. 37-40, 2001. SOUZA, F.G.M. et al. Anorexia e bulimia nervosa em alunas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará UFC. Revista Psiquiatria Clinica, v.29, n.4, p. 172-80, 2002. Página 6