Emprego do Questionário CAGE para Detecção de Indivíduos com Transtornos de Uso de Álcool numa Demanda Espontânea de um Município Paulista



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Transcrição:

Emprego do Questionário CAGE para Detecção de Indivíduos com Transtornos de Uso de Álcool numa Demanda Espontânea de um Município Paulista Divani de Vargas 1 1 Faculdades Integradas Fafibe Bebedouro (SP) divani@fafibe.br Adriana Néri Campos 2 Flávia de Souza Carvalho 2 Flavio Hiroshi Shirama 2 2 Graduação Faculdades Integradas Fafibe Bebedouro (SP) Abstract. The problems related to the abusive alcohol ingestion have called attention all over the world in the last years, which is justified by the significant increase of people who sicken because of that cause. In Brazil, there are few studies about that issue, and considering the importance that alcoholism has in public health, this study aimed at presenting the results of an inquiry conducted to detect carriers of alcoholic problems in a spontaneous demand in a city of São Paulo State. The CAGE questionnaire was applied in a population of 200 hundred people. As to the characteristics of the samples, (57.5%) were men and (42.5%) women; the ages ranged from 20 and 80 years old. The predominance was (21.5%), being men the highest percentage (17.5%). The age with the highest rate of positive CAGE was between 30 and 40 years old for both men and women. We emphasize the presence of a significant number of probable chronic alcoholics in a spontaneous demand, and it is being discussed the necessity and urgency of special programs of precocious detection and specialized treatment for alcoholics. Key-words. alcohol; alcoholism; substance abuse test; CAGE Resumo. Os problemas ligados ao consumo abusivo de álcool vêm recebendo atenção no mundo inteiro nos últimos anos. Fato justificado pelo aumento significativo de pessoas que adoecem devido a esta causa. No Brasil poucos são os estudos que abordam essa questão, e diante da importância que o alcoolismo assume em termos de saúde pública, objetivou-se neste trabalho apresentar os resultados de um inquérito realizado, para detectar portadores de problemas com o álcool em uma demanda espontânea num município paulista. Aplicou-se o questionário CAGE, numa população de 200 indivíduos. Quanto às características da amostra, (57,5%) eram homens e (42,5%) mulheres; a faixa etária variou entre 20 e 80 anos. A prevalência encontrada foi de (21,5%). Sendo que o maior percentual destes foi entre os homens (17,5%). A faixa etária com o maior índice de CAGE positivo foi entre os 30 e 40 anos tanto para homens quanto para mulheres. Ressalta-se a presença de um número significativo de prováveis alcoolistas crônicos

em uma demanda espontânea, e discute-se a necessidade e urgência de programas especiais de detecção precoce e tratamento especializado para alcoolistas. Palavras-chave. álcool; alcoolismo; teste de abuso de substâncias; CAGE 1. Introdução Sabe-se que desde os tempos pré-bíblicos já havia a tecnologia para se produzir álcool, porém, foi somente ao final do século XVIII e começo do século XIX que apareceu o conceito de beber excessivo. Tal mudança deve-se ao fato de que, até o século XVIII, a produção do álcool era artesanal. Após a revolução industrial Inglesa, alguns fatores contribuíram para a mudança nos padrões do uso de álcool pela sociedade. Primeiramente, passou-se a produzir álcool não mais de forma artesanal, mas industrialmente, em grandes quantidades. Unido a isso, modificou-se o tipo de bebida fabricada, com um conteúdo de álcool muito maior. O aumento da produção fez com que o preço do álcool diminuísse, facilitando assim o consumo do produto (ALMEIDA;DRACTU;LARANJEIRA,1996). Inicialmente, o álcool era uma bebida consumida durante as refeições, constituindo-se além de outros, fonte de água menos contaminada para se beber. Com o passar dos anos foi tornando-se uma bebida forte, que era comprada pelas pessoas a preços baixos e que, muitas vezes, procuravam a intoxicação (LARANJEIRA; PINSKY, 1998). Com essas mudanças, um número muito maior de indivíduos passou a consumir álcool constantemente e, a partir daí começou-se a observar uma série de complicações físicas, mentais e psicológicas, decorrentes do consumo excessivo, sendo que as primeiras descrições do que hoje chamamos de alcoolismo, foi descrita pela primeira vez pelo médico sueco Magnus Huss em 1849. Considera-se o alcoolismo uma doença, instalada em indivíduos que se habituaram ao uso excessivo do álcool por tempo prolongado, ou seja, abuso e dependência de álcool. A ingestão crônica excessiva de bebidas alcoólicas produz distúrbios na saúde, e no funcionamento social ou profissional, e a adaptação crescente aos efeitos do álcool exigindo doses cada vez maiores para alcançar e manter o efeito desejado. Considerada uma doença que não pode ser atribuída a somente um fator, dentre os fatores que influenciam o consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode se citar dentre outros, fatores biológicos, sociais e culturais (ARAUJO;DRACTU,1985). Extensivas pesquisas demonstraram que quanto mais elevado o consumo médio do álcool na população, maior a incidência populacional de problemas relacionados ao álcool. Dentre tais problemas pode-se citar infrações de trânsito ao dirigir alcoolizado, mortalidade devido à cirrose de fígado, câncer, crimes violentos, entre outros (EDWARDS;MARSHAL;COOCK,1999). Como fatores contribuintes para o uso abusivo do álcool, os eventos importantes de vida e o estresse do cotidiano parecem aumentar a quantidade de bebida ingerida pelas pessoas. Isso pode ser explicado com base na seguinte afirmação: O álcool alivia a ansiedade e, portanto, é usado como um meio de lidar com o estresse (a chamada hipótese da redução de tensão ), tais fatores parecem contribuir importantemente para o desenvolvimento do beber problemático (EDWARDS;MARSHAL;COOCK,1999). O I Levantamento Domiciliar Nacional sobre Uso de Drogas Psicotrópicas, realizado por Carlini et al. (2001), englobou 107 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes, correspondendo a 47.045.907 habitantes, ou seja, 27,7% do total do Brasil. Os resultados mostraram que o uso na vida de álcool na população total foi de 68,7%. Quanto à dependência do álcool ainda este estudo, apontou uma prevalência de 11,2% de dependentes de bebidas alcoólicas, sendo que a proporção encontrada de dependentes dessa droga em

relação ao uso na vida, segundo o sexo, foi de 20% para homens e 10% para mulheres. Em referência à população estimada, ter-se-iam, aproximadamente, 5.283.000 pessoas dependentes de álcool nas cidades brasileiras pesquisadas. Considerando que considerável parte da população brasileira (3% a 10%) sofre de alcoolismo, consideramos pertinente realizar uma pesquisa no intuito de detectar pessoas com problemas relacionados ao álcool numa demanda espontânea no município de Bebedouro, no interior do estado de São Paulo. 2. Objetivo Detectar pessoas com problemas relacionados ao álcool em uma demanda espontânea de uma cidade do interior paulista. 3. Metodologia Trata-se de um estudo exploratório de caráter quantitativo realizado junto a uma população de 200 indivíduos, com objetivo de detectar bebedores problemas. Para coleta dos dados utilizou-se o questionário CAGE, elaborado especificamente para detectar alcoolistas crônicos. O CAGE trata-se de um questionário composto por quatro perguntas as quais são demonstradas no quadro 1. Concomitantemente ao questionário CAGE foram introduzidas outras perguntas quanto aos hábitos de saúde, que abordavam tabagismo, pesquisas de antecedentes familiares de doenças, hipertensão, diabetes e hábitos alimentares. O objetivo desta ação foi minimizar o impacto das perguntas focalizadas ao tema alcoolismo. Quadro 1- Questões que compõe o teste CAGE Alguma vez o(a) senhor(a) sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida alcoólica ou de parar de beber? As pessoas o(a) aborrecem porque criticam o seu modo de tomar bebida alcoólica? ; O(A) senhor(a) se sente chateado(a) consigo(a) mesmo(a) pela maneira como costuma tomar bebida alcoólica? Costuma tomar bebidas alcoólicas pela manhã para diminuir o nervosismo ou ressaca? No Brasil, a validação do CAGE foi feita por por Masur e Monteiro (1983), que encontraram uma sensibilidade de 88% e uma especificidade de 83%. Nesse teste, pacientes devem responder afirmativa ou negativamente às quatro perguntas. Considera-se um resultado positivo para o mesmo quando duas ou mais perguntas obtêm a resposta afirmativa (PAZ FILHO et. al, 2001). Os dados foram coletados pelos alunos do 3º período do curso de enfermagem das Faculdades Integradas - FAFIBE, durante atividades comemorativas da semana de enfermagem de 2003, realizadas na praça Barão do Rio Branco, localizada no centro de Bebedouro. Dentre outros foram oferecidos a população, serviços de saúde tais como aferição de pressão arterial, exame glicosimetria e orientação quanto à hábitos alimentares e de saúde. Para aplicação do questionário, os alunos foram previamente treinados pelo docente responsável a fim de minimizar erros. Antes do início das perguntas e após terem sido dadas as informações sobre o objetivo do estudo, foi solicitado aos participantes que assinassem um termo de consentimento livre e esclarecido.

A população foi composta por todos os sujeitos que procuraram o serviço e aceitaram participar do estudo. A análise dos dados se deu em dois momentos, no primeiro foi feita análise das características sócio-demográficas da população, e no segundo analisou-se as respostas dos sujeitos quanto ao questionário. 4. Apresentação e Discussão dos Resultados 4.1 Características sociodemográficas da população A população do estudo constituiu-se em sua maioria por indivíduos do sexo masculino 57,5%, sendo que 42,5% dos sujeitos eram do sexo feminino a faixa etária dos sujeitos variou entre 18 e 80 anos de idade, havendo o predomínio de indivíduos entre 25 e 45 anos (48%). 4.2 Resultados da aplicação do teste CAGE Os dados revelaram uma porcentagem de Casos CAGE positivo em 43 indivíduos, 21,5%, da população. Em comparação com estudos da mesma natureza utilizando o CAGE, embora em populações específicas, pode-se dizer que a prevalência de transtornos relacionados ao álcool neste estudo foi maior, Filho et.al (2001) estudando 374 sujeitos em um pronto socorro encontrou uma prevalência de 15,77%, Almeida e Coutinho (1990) estudando uma população de 561 sujeitos obteve prevalência de 8,4%. A distribuição de indivíduos CAGE positivo por faixa etária mostrou um predomínio de problemas com álcool na população com faixa etária entre 31 a 40 anos (25,6%) dado que converge com achados do estudo de Raeder e Cotrim (1990), que apontou que das mais de 60 mil pessoas internadas por ano em decorrências de problemas com o álcool, a faixa etária mais atingida era especialmente pessoas do sexo masculino com mais de 30 anos, ou seja, uma camada da população que constitui hoje, o principal contingente de força de trabalho Os dados da Tabela 1, apresentam a distribuição de Casos CAGE positivo de acordo com o sexo e a faixa etária. Tabela 1 - distribuição de Casos CAGE positivo de acordo com o sexo e a faixa etária. Bebedouro,2006 Faixa etária Homens Mulheres % De 18 a 20 anos 0 2 4,65 De 21 a 30 anos 2 1 6,97 De 31 a 40 anos 8 3 25,60 De 41 a 50 anos 5 1 13,95 De 51 a 60 anos 8 0 18,60 De 61 a 70 anos 8 1 20,93 De 71 a 80 anos 4 0 9,30 Total 35 08 100,0 Na população que apresentou CAGE positivo os dados revelaram que 82% destes eram do sexo masculino, seguido de 18% de sujeitos do sexo feminino. Quando se considera a população total, 200 indivíduos, o índice de casos CAGE positivo foi detectado em 17,5%, dos homens e 4% nas mulheres. Cabe ressaltar ainda que 52% dos indivíduos que apresentaram CAGE positivo, faziam uso concomitante do tabaco, dado que converge com os dados da literatura que aponta

que geralmente o uso abuso do álcool associa-se ao tabagismo (EDWARDS;MARSHALL;COOK,1999). Os dados encontrados permitem dizer que quando se comparar estes resultados com os de outros estudos de mesma natureza, observa-se um número elevado de indivíduos com problemas com o álcool. O resultado obtido nos indica a emergência da realização de programas de detecção do alcoolismo, haja vista que se estima que a prevalência do alcoolismo no Brasil esteja em torno de (3%) a (10%) da população, e que os dados deste estudo apontou uma prevalência superior a 20%. Sendo assim, seria necessária uma maior ação por parte das entidades responsáveis, na busca de prevenção e diagnóstico de possíveis alcoolistas. 5. Considerações Finais Realizou-se estudo com objetivo de detectar pessoas com problemas relacionados ao álcool em uma demanda espontânea de uma cidade do interior paulista. O resultado encontrado apontou uma prevalência de 21,5% de indivíduos com problemas relacionados ao álcool e prováveis alcoolistas, percentual maior de que aquels encontrados em outros estudos que utilizaram o teste CAGE. Tais resultados demonstram a necessidade urgente de programas específicos para detecção e tratamento precoces para o alcoolismo. Dentre outros, faz-se necessário treinar recursos humanos envolvidos direta ou indiretamente com a assistência. O que poderá possibilitar o diagnóstico precoce, e, consequentemente uma intervenção global junto a esses indivíduos.pois acreditamos que se detectado precocemente, o profissional terá maior chance de intervir, ainda quando não houve comprometimentos significativos a nível social e biológico para o paciente. Além disso, sugere-se que sejam desenvolvidos programas de orientação e esclarecimento junto a vários seguimentos sociais no sentido de prevenir o adoecimento, bem como e detectar e encaminhar para tratamento, possíveis indivíduos com problemas relacionados ao beber. 6. Referências Bibliográficas 1.ALMEIDA, O.P.; DRATCU, L.; LARANJEIRA, R. Manual de psiquiatria. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 1996. 2- ALMEIDA, L.M.; COUTINHO, E, S,F. O alcoolismo e o hospital geral Estudo de prevalência, J bras Psiq, 39 ( 1 ): 27-31, 1990 3-ARAÚJO, V.A; DRATCU, L. Alcoolismo: do conceito ao tratamento. Jornal brasileiro de Psiquiatria, São Paulo, vol. 34, n 4, jul/ago 1985. 4- CARLINI EA, GALDUROZ JE, NAPPO SA e Secretaria Nacional Antidrogas e Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID). I Levantamento domiciliar sobre uso de drogas no Brasil. São Paulo: Cromosste; 2001. p.303-4. 5- EDWARDS, G.; E.MARSHALL, J.; COOK, C.H. O tratamento do alcoolismo: Um guia para profissionais da saúde. Trad. de Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre, Artes Médicas, 1999. 6- LARANJEIRA, R.; PINSKY, I. Alcoolismo. Savier. São Paulo, 1998 7 MASUR, J, MONTEIRO M.G. Validation of the CAGE alcoholism screening test in a Brazilian psychiatric inpatient hospital setting. Braz J Med Biol Res 1983;16:215-8. 8-PAZ FILHO, G..J. SATO,M.J, TULESKY,S.Y. TAKATA, C.C.C. Emprego do questionário CAGE para detecção de transtornos de uso do álcool em pronto-socorro. Revista Associação Médica Brasileira; 47(1):69-5, 2001

9- RAEDER, J. R & CARLINE-COTRIN, B., Internações hospitalares no Brasil por dependência de drogas, álcool e psicoses alcoólicas, em 1988. Revista ABP-APAL, v12,p.33-39, 1990 Este texto foi produzido por acadêmicos do 8º período do Curso de Enfermagem das Faculdades Integradas Fafibe, integrantes do grupo de estudos em álcool e alcoolismo da Fafibe; e pelo coordenador desse grupo de estudos, o Prof. Dr. Divani de Vargas.