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Transcrição:

9) Banco Genético da Embrapa e o seu papel de Conservação da Diversidade Genética da Flora Brasileira Juliano Pádua Eng.Agr. UFLA, 2000, Dr. Esalq/Usp, 2004. Pesquisador A da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Curador de Espécies Frutíferas e da Coleção de Base. Atua em recursos genéticos, conservação, frutíferas e sementes. Histórico No ano de 1977, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, à época Centro Nacional de Recursos Genéticos - Cenargen construiu sua primeira câmara de conservação de germoplasma semente. Essa estrutura tinha a capacidade para armazenar cerca de 7 mil amostras, que eram conservadas em temperatura de +10 C, com umidade relativa de 25% (Silva et al., 2007). Em 1979, pesquisadores do Cenargen constataram que essa estrutura, do ponto de vista estratégico, não apresentavam as condições necessárias para a conservação de germoplasma semente em longo prazo (Embrapa, 1980). Os técnicos do Cenargen visitaram as maiores coleções mundiais para definir uma estratégia de implantação de um sistema de conservação no país (Silva et al., 2007). Como resultado, em 1981, construiu-se o PCG Prédio da Conservação de Germoplasma, do qual faziam parte laboratórios, salas de técnicos e pesquisadores e as câmaras frias para conservação de sementes. As atividades de coleta, bem como a introdução e o intercâmbio de germoplasma foram intensificadas. Da mesma forma, investiu-se na qualificação de pessoal e no estabelecimento de convênios de parceria com instituições internacionais (Silva et al., 2007). Nessa época as sementes dessecadas, com grau de umidade entre 3 e 7%, eram armazenadas em latas de alumínio. Com o aumento substancial do número de amostras conservadas, em 1992, procedeu-se a ampliação da capacidade de armazenamento. Foram instaladas cinco câmaras frias que operavam a -20 C. As sementes, anteriormente armazenadas em latas, passaram a ser conservadas em envelopes aluminizados trifoliados. No ano de 2009, a Embrapa decidiu implementar melhorias na área de conservação de recursos genéticos. Um novo prédio para conservação de germoplasma animal, microbiano e vegetal foi projetado. A este conjunto de coleções denomina-se Banco Genético. A concepção da nova estrutura é de reunir, em uma única edificação, toda a infraestrutura de conservação. Assim, o Banco Genético é dotado de câmaras frias 62

operando a -20 C, câmaras de secagem de sementes (15% UR; 20 C e 30% UR e 10 C), câmaras de temperatura controlada para conservação in vitro (10, 20 e 25 C), tanques de nitrogênio líquido para conservação de estruturas vegetais, tecidos e células animais e micro-organismos. O Banco Genético foi inaugurado em abril de 2014 durante as comemorações do 41 aniversário da Embrapa. Figura 1. Vistas frontal (A) e posterior (B) do Prédio do Banco Genético da Embrapa. Com essa nova infraestrutura, a capacidade de conservação foi incrementada. Em relação à conservação de sementes, dispunha-se, anteriormente, de espaço em câmara para a conservação de aproximadamente 180 mil acessos. No Banco Genético, foram instaladas quatro câmaras frias com dimensão aproximada de 8,0 x 7,60 m, provida de estantes deslizantes (Figura 2). Há ainda uma área de expansão, possibilitando a instalação de outras duas câmaras com estas mesmas dimensões. Com essa conformação, a capacidade instalada é de aproximadamente 425 mil acessos, podendo ser expandida para conservar 635 mil amostras. Figura 2. Entrada das câmaras frias com controle biométrico de acesso e vista interna das câmaras frias com estantes deslizantes. Fluxo de Funcionamento e Normatizações B Como descrito anteriormente, o Banco Genético é a estrutura que abriga as cópias de segurança das coleções de germoplasma de animais, de micro-organismos e de vegetais que estão dispersas pelas unidades descentralizadas da Embrapa em todo o território nacional. 63

No caso específico de germoplasma-semente, podemos classificar o acervo conservado em cinco coleções: A Coleção de Base propriamente dita: desempenha o papel de cópia de segurança do germoplasma conservado pelos bancos ativos e coleções de germoplasma da Embrapa, conforme descrito anteriormente; A Coleção Banco de Cultivares da Embrapa : conserva uma amostra das cultivares lançadas pela Embrapa. Esta coleção foi estabelecida no ano de 1998 (Deliberação 16/98). Porém, com a constante melhoria da infraestrutura de conservação disponível nas unidades descentralizadas, há uma discussão sobre a necessidade da centralização deste acervo; Banco Fiel Depositário: coleção responsável pela conservação de subamostras representativas de cada população componente do patrimônio genético acessado, conforme estabelecido nos termos do art. 16, 3º, da Medida Provisória no 2.186-16, de 2001 e resolução nº 18, de 07 de julho de 2005 do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético Cgen. A Coleção de Base foi credenciada pela Deliberação nº 73, de 26 de agosto de 2004. Banco Pré-melhoramento : tem a função de conservar os ativos pré-tecnológicos gerados no âmbito dos programas de pré-melhoramento da Embrapa. Banco de Plantas geneticamente modificadas: conserva as linhagens produzidas e eventos desenvolvidos no âmbito dos projetos de pesquisa da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Esse acervo permanece isolado e identificado do restante do acervo. De forma geral, para a introdução de acessos na Coleção de Base, duas condições devem ser atendidas: apresentar no mínimo 1500 sementes e também um potencial germinativo de 85%. Esses parâmetros são válidos para a maioria das espécies cultivadas, porém, são flexíveis para espécies com baixo grau de domesticação. Nesses casos, esses critérios são estudados e estabelecidos em comum acordo com os curadores. As amostras são inicialmente recebidas, conferidas e encaminhadas para realização de um tratamento de fumigação, com o intuito de prevenir a entrada de pragas e os danos por elas causados. Esse procedimento é feito pela exposição das sementes a fosfina (fosfeto de alumínio) na concentração de 1g/m³ por uma semana. Ocasionalmente, a Colbase recebe amostras diretamente do exterior. Nesse caso, as amostras são submetidas ao setor de Quarentena para que análises quarentenárias sejam realizadas. Essa etapa é de fundamental importância para evitar a entrada de pragas exóticas no território nacional. Tais análises visam detectar a presença de plantas infestantes e parasitas, insetos, ácaros, vírus, viróides, fitoplasmas, fungos, bactérias e nematóides, prioritariamente daquelas que constam das listas de pragas quarentenárias ausentes (A1) e de pragas quarentenárias presentes (A2) para o Brasil, definidas em Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 64

Após o procedimento de fumigação, as sementes são encaminhadas para a Sala de Recebimento e Documentação. Cada acesso é avaliado e é verificado se já existe algum registro do mesmo nos módulos de intercâmbio e passaporte. No caso de um novo acesso, as informações de passaporte são inseridas no sistema e lhe é atribuído um código de identificação BRA, constituído de seis dígitos. No caso do acesso já ter sido registrado no sistema, tratando-se de uma nova introdução do mesmo na coleção, o seu código BRA é resgatado e atribui-se um sufixo. Se essa introdução é resultado da multiplicação ou regeneração do acesso original, os sufixos são 10, 20, 30, primeira, segunda ou terceira multiplicação, e assim sucessivamente. Caso seja a introdução de uma nova amostra de um acesso existente, mas não associada à amostra original conservada, esses sufixos são 01, 02, 03, e assim por diante. Por exemplo, se existe conservado o acesso BRA 123456.00 e no processo de monitoração da sua viabilidade, for detectada a necessidade de sua regeneração em razão de queda no seu percentual de germinação, quando as sementes retornarem, esta amostra será identificada como BRA 123456.10. Se recebermos uma nova amostra deste acesso, cujas sementes não foram obtidas da amostra original conservada, essa amostra receberá a identificação BRA 123456.01. Todo este procedimento de documentação dos dados de passaporte é realizado por meio de um sistema de informatização Sibrargen Sistema de Informações sobre Recursos Genéticos. As respectivas etiquetas de identificação dos acessos são geradas e coladas nas embalagens das sementes. A partir desse momento, toda a movimentação dos acessos é realizada e monitorada por códigos de barra impressos nas etiquetas de identificação (Figura 3). A Figura 3. Etiquetas utilizadas para identificação de acessos na Coleção de Base. Em (A) temos a etiqueta final de armazenamento; em (B) a etiqueta de identificação inicial do acesso, emitida após a conferência na base de dados. Assim, os dados básicos de passaporte como local de coleta com dados de georreferenciamento, coletor, data de coleta, denominação em outras instituições, dentre outros, quando informados pelo depositante, são inseridas via Sibrargen. Enquanto todo esse procedimento de documentação é realizado, as sementes permanecem em uma câmara com temperatura de 10 C e umidade relativa de 30%. Concluída a etapa de introdução dos dados de passaporte, etiquetas de identificação de B 65

cada amostra, com código de barras são impressas e coladas nas respectivas embalagens. As sementes passam por um processo de limpeza, manual ou usando peneiras ou sopradores (Figura 4), de forma a eliminar sementes vazias, gravetos, terra, pedras, ou qualquer outro tipo de contaminante macroscópico. Figura 4. Sopradores utilizados para a limpeza das amostras. As sementes são então contadas e encaminhadas para uma câmara de secagem que opera a 20 C e umidade relativa de 15% (Figura 5). Essas condições de ambiente permitem que as sementes percam água para o ambiente. As sementes permanecem nessa câmara até atingirem grau de umidade de 5% ±2%. Uma vez que as sementes serão congeladas a -20 C, é fundamental que a quantidade de água dentro delas esteja nesse intervalo, evitando-se a formação de cristais de gelo que comprometerão a integridade das células e consequentemente a viabilidade das sementes. A B C Figura 5. Processo de secagem de sementes. Em (A) é apresentado o desumidificador de ambiente; em (B) uma visão da câmara e em (C) envelopes permeáveis identificados contendo sementes De forma geral, aproximadamente duas semanas são suficientes para que as sementes atinjam o grau de umidade desejado. Essa avaliação é realizada por meio de um teste de umidade realizado pelo método da estufa a 105 C. Caso as amostras não tenham 66

perdido água o suficiente, permanecendo com grau de umidade superior a 7%, elas permanecerão por mais tempo na câmara de secagem. Os testes de umidade são repetidos até que as amostras atinjam o limite máximo de 7% de conteúdo de água. Alternativamente é empregado um medidor de atividade de água (Figura 6). Este equipamento mede a umidade relativa de equilíbrio das sementes com o ambiente. Dessa maneira, é possível saber se as sementes já estão em equilíbrio com a umidade relativa do ambiente da câmara. Atingindo este equilíbrio as sementes não mais perderão ou ganharão água, e com certeza, estarão no intervalo desejável de grau de umidade. Figura 6. Medidor de atividade de água. Equipamento utilizado para inferir sobre a secagem das sementes. Após atingir níveis adequados de grau de umidade, uma subamostra é retirada e encaminhada para avaliação da qualidade fisiológica, expressa através do poder de germinação. Como descrito anteriormente, foi estabelecido que para a incorporação de acessos de espécies cultivadas, é exigido que estes apresentem no mínimo 85% de poder germinativo. No caso de espécies com baixo nível de domesticação, este limite é estabelecido caso a caso com o depositante. Os protocolos de germinação utilizados são os descritos nas Regras de Análise de Sementes (RAS) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com algumas adaptações, notadamente em relação ao tamanho da amostra, de acordo com a quantidade de sementes encaminhadas para conservação. Para as espécies não contempladas nas RAS, faz-se uma busca na literatura especializada, ou a equipe da Colbase busca definir a metodologia mais adequada para realizar as avaliações. De maneira geral, os testes são conduzidos usando-se como substrato papel Germitest, mantidos em germinador (Figura 7). Em casos específicos, utiliza-se papel mata-borrão, areia ou Vermiculita como substrato. 67

Figura 7. Sala de germinadores e exemplo de teste de germinação usando rolo de papel germitest. Com o resultado dos testes de germinação, é possível a tomada de decisão em relação à conservação. Caso a amostra seja composta por mais de 1.500 sementes e possua poder de germinação superior a 85%, procede-se à embalagem em envelopes aluminizados trifoliados hermeticamente lacrados usando-se selagem a quente. Essa embalagem não permite a entrada de vapor de água no seu interior, evitando-se o incremento do grau de umidade das sementes. As embalagens recebem etiquetas contendo código de barras para identificação dos acessos e outras informações importantes da amostra, como a espécie, produto, quantidade de sementes, poder germinativo e localização nas câmaras frias. Os envelopes são dispostos em caixas de PCV rígido, também identificadas. Apesar das condições de conservação prolongarem a viabilidade das sementes por dezenas ou centenas de anos, periodicamente, é realizado o monitoramento das amostras. Geralmente, esse procedimento é executado a cada dez anos, ou em um prazo maior, de acordo com negociação com o respectivo curador de banco ativo ou coleção, uma vez que deste processo, alguns acessos deverão ser por ele multiplicados ou regenerados. 68

Com essa nova e moderna infraestrutura será possível ampliar o foco de atuação da Coleção de Base. Até o presente, a Colbase detinha-se, quase que exclusivamente, na conservação de espécies relacionadas à agricultura e alimentação. Com o incremento significativo da capacidade de armazenamento e com o desenvolvimento de biotecnologias capazes de quebrar as barreiras de cruzamento entre espécies, conservar a diversidade genética de espécies que apresentam características úteis ao desenvolvimento de produtos torna-se uma ação estratégica para atender às demandas da sociedade. A convergência de várias áreas do conhecimento para a resolução de problemas e desenvolvimento de produtos é extremamente dependente de capital humano e, sobretudo de recursos biológicos. Dessa maneira, esforços para a conservação e caracterização desses recursos serão ativos tecnológicos cruciais para que um país seja bem-sucedido no desenvolvimento da bioeconomia. A partir dessa premissa, o Banco Genético, em estreita associação com os bancos e coleções de germoplasma da Embrapa e de instituições parceiras poderão contribuir de forma preponderante para que o Brasil possa atuar como protagonista desta nova faceta econômica global. Temos a certeza de que o Banco Genético e uma estrutura para atender aos anseios do país, e não somente da Embrapa. E por esta razão, diversos arranjos jurídicos serão estabelecidos para permitir que instituições de ensino e pesquisa e associações de agricultores possam realizar o depósito compartilhado de seus recursos genéticos. Nesse sentido, podemos construir um verdadeiro sistema nacional de conservação de recursos genéticos, um dos componentes importantes de um modelo de Aliança entre Embrapa e as OEPAS que já vem sendo discutido há certo tempo. Assim, como muito apropriadamente escreveu o presidente da Embrapa Dr. Maurício Lopes: "Ao compartilhar ativos, competências, estruturas e modelos de negócios, parceiros se complementam e desenvolvem novos produtos com maior rapidez e eficiência", temos que seguir essa diretriz para que os custos de conservação sejam compartilhados e consequentemente minimizados. Associado a este ponto, ter uma estrutura, compartilhada e segura de conservação em longo prazo, com capacidade para prover variabilidade genética aos bancos de germoplasma, programas de melhoramento e para a reconstituição de áreas degradadas é sem dúvida uma grande contribuição das instituições de pesquisa brasileira à sustentabilidade da agricultura Nacional e ao meio ambiente. 69