PROIFES CIDADANIA CARTILHA: DIREITOS DOS DOCENTES PROIFES-FEDERAÇÃO PROIFES CIDADANIA
APRESENTAÇÃO Esta cartilha tem o objetivo de fornecer aos docentes das Instituições Federais de Ensino do Brasil um resumo dos seus direitos e breves orientações do que fazer caso sejam vítimas de assédio, invasão de sala de aula, gravação e exposição indevida de vídeos, ofensas, ameaças e violências. O docente tem o direito constitucional de liberdade de ensinar, que consiste em não sujeição a censura em respeito aos princípios da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber e o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (arts. 205 e 206 da Constituição Federal). O processo educacional brasileiro é regido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei n 9.394, de 20/12/1996) que regulamenta o sistema educacional público ou privado do Brasil, da educação básica ao ensino superior. 1
1 ARTIGOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL QUE GARANTEM A LIBERDADE DE ENSINAR A todos os docentes é garantido o direito constitucional de liberdade acadêmica, direito inerente a sua atividade, conforme estabelecido nos artigos 205, 206 e 207 da Constituição Federal: Art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. 2
Além disso, a Autonomia Universitária, descrita no artigo 207 da Constituição Federal, também se aplica à atividade docente, conferindo aos professores e professoras autonomia didático-científica. Em resumo, a Constituição garante a liberdade de ensinar, o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e a valorização dos profissionais da educação. Agregado a esses dispositivos, o artigo 5º caput e inciso IX da Constituição Federal destacam: Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. CONSTITUIÇÃO Da República Federativa do Brasil 3
2 ARTIGOS DA LDB QUE TRATAM DO PROCESSO EDUCACIONAL BRASILEIRO: Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; LDB Art. 43. A educação superior tem por finalidade: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; 4
3 DECISÃO DO STF Em manifestação sobre as invasões às universidades ocorridas durante o pleito eleitoral de 2018 o plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu pela: suspensão dos efeitos de atos judiciais ou administrativos, emanados de autoridade pública que possibilitem, determinem ou promovam o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas, o recolhimento de documentos, a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes universitários, a atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e divulgação do pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob a administração de universidades públicas e privadas e serventes a seus fins e desempenhos. 5
4 ASSÉDIO INTIMIDAÇÃO AGRESSÃO Assédio consiste em um tipo de violência em que uma pessoa ofende, destrata, humilha, fere a honra e a dignidade de outra. Todos os trabalhadores e trabalhadoras, públicos e privados, possuem o direito a um ambiente de trabalho saudável. Assédio no ambiente de trabalho se caracteriza em um conjunto de atos hostis, como coações, humilhações, perseguições, punições, etc, praticados pelo assediador contra o trabalhador, com o objetivo de prejudicá-lo injustamente e degradar sua condição física, psíquica, moral e jurídica. Os docentes podem ser vítimas de assédio quando agredidos em sua honra agressões verbais, de caráter constrangedor por alunos e colegas de trabalho, com cargos de chefia ou não, que insistentemente interfiram no conteúdo das aulas e na condução da atividade docente, expondo a honra e a imagem dos docentes, às vezes expondo a intimidade destes, por razão, fato ou circunstância que não condiz com a realidade, tampouco com o objeto de estudo ou da aula ministrada. 6
Não restam dúvidas de que o assédio na relação aluno-professor ocorre quando os valores essenciais que permeiam a educação são esquecidos e desvalorizados e, nesse contexto de valores deturpados, o professor é submetido ao constrangimento moral, descaracterizando-se o processo educativo. Recentemente o Ministério Público Federal (MPF) em Pernambuco (PE) expediu duas recomendações, sendo uma direcionada à Secretaria Estadual de Educação, à Secretaria de Educação do Recife e à Universidade de Pernambuco assinada em conjunto com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), e a outra, à Universidade Federal de Pernambuco, à Universidade Federal Rural de Pernambuco e ao Instituto Federal de Pernambuco. MPF e MPPE recomendam que não haja qualquer atuação ou sanção arbitrária, bem como, que seja impedida qualquer forma de assédio moral a professores, por parte de estudantes, familiares ou responsáveis. 7
5 GRAVAÇÃO DE AULA PODE SER ASSÉDIO Caso o docente tenha sua aula gravada sem autorização prévia, e essa gravação tenha finalidade de constrangê-lo e expô-lo na comunidade acadêmica, rede social ou aplicativo de mensagens, esta gravação constitui prática de assédio. Este ato, que é uma forma de violência, também fere o direito autoral do docente - que é personalíssimo pois cada aula ministrada é uma obra intelectual, ensejadora de direitos, portanto, tutelada e protegida pela Lei 9.610/98 Lei de Direitos Autorais. O DOCENTE TEM O DIREITO DE NÃO PERMITIR FILMAGEM E GRAVAÇÃO DE SUAS AULAS. Nestes casos, o professor ou professora que não desejarem que suas aulas sejam gravadas podem notificar diretamente a Instituição Federal de Ensino, os alunos via ambiente web (Moodle; Blackboard; ou outros sistemas do gênero) ou diretamente, de maneira verbal. Sugere-se que, sempre que possível, o docente inclua a informação sobre a proibição de filmar e gravar suas aulas nos Planos de Ensino das disciplinas. 8
A divulgação de fotos e vídeos envolvendo a imagem de uma pessoa, sem sua autorização, também viola o artigo 20 do Código Civil: Art. 20 - Salvo se auto- rizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. 9
6 INVASÃO DE SALA DE AULA CONSTITUI ATO DE ASSÉDIO Em sala de aula, no exercício de sua profissão, o docente é a autoridade máxima, sendo responsável pela condução das atividades. Qualquer ação estranha à atividade, como a entrada de pessoas em sala de aula, deverá ser previamente e expressamente autorizada pelo docente. Caso haja a entrada de pessoas sem permissão, configurando invasão à sala de aula, ocorrerá a prática de assédio, pois esta invasão é um ato que constrange e afeta a autoridade e imagem do docente. Se esse ato evoluir para algum outro tipo de ameaça além do assédio, haverá a prática de crime de ameaça, podendo haver punição de detenção de um a seis meses ou multa, conforme o artigo 147 do Código Penal. 10
7 O QUE O DOCENTE DEVE FAZER QUANDO FOR VÍTIMA DE ASSÉDIO? O professor ou professora, quando vítima de assédio, deve interromper a atividade e avisar aos presentes o motivo de sua interrupção. Nesse momento deve agir com zelo no sentido de tentar coletar provas referentes à violência que está sofrendo, seja por meio de testemunha, que pode ser qualquer pessoa presente, seja por intermédio de gravação de som e ou imagem (foto e vídeo). Imediatamente deve informar seu superior e os canais institucionais de denúncia colocados à disposição. Se o assediador for outro docente, técnico ou aluno, a vítima pode exigir da Instituição Federal de Ensino, por escrito, a instauração de processo administrativo disciplinar em face do agressor. O assediado deve, sempre que possível, reportar o ocorrido ao seu sindicato, que poderá acompanhá-lo a uma delegacia de polícia para instaurar o procedimento criminal e, dependendo da intensidade das ameaças, buscar ajuda jurídica também junto à Instituição Federal de Ensino. Poderá ainda protocolizar sua denúncia junto ao Ministério Público Federal. 11
8 RECOMENDAÇÕES: COMO AGIR Ficar calmo e nunca permanecer sozinho. Jamais entrar em contato direto com o assediador, nem pessoalmente nem por telefone. Agrupar o maior número possível de indícios e provas, falar e registrar o contato com testemunhas do fato. Acionar imediatamente os órgãos de Segurança da instituição de ensino Universidade/Instituto Federal. Denunciar, em órgão da instituição de ensino, para que sejam tomadas as medidas cabíveis. Procurar imediatamente o Sindicato ao qual é vinculado, para que a Assessoria Jurídica deste lhe dê o amparo necessário. Exigir por escrito uma providência oficial da Universidade. 12
9 QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS QUE O ASSEDIADOR PODE SOFRER? Responsabilização Penal Palavras ofensivas e de menosprezo contra professores caracterizam ocorrência dos chamados "crimes contra a honra", assim designados e tipificados em nosso Código Penal: Calúnia (art. 138 do Código Penal): -Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propaga ou divulga. 2º - É punível a calúnia contra os mortos. Difamação (art. 139 do Código Penal); - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Injúria (art. 140 do Código Penal): - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. (...) 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção, de três meses a um ao, e multa, além da pena correspondente à violência. 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou à condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003). 13
Também poderá o infrator ser denunciado pelo crime de TORTURA que é sofrimento físico e mental imposto a uma pessoa. A violência e tortura são práticas hediondas. Tortura (LEI 9.455/1997) I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental (...) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. Responsabilização Cível (indenização por danos morais) Pode o docente em determinados casos, propor ação de indenização, em decorrência de assédio moral, constrangimento e dano a sua honra e imagem. Em defesa da cidadania, liberdade de expressão e de ensinar. Em defesa da educação pública gratuita e de qualidade. Em defesa da democracia e da cidadania. 14