Plínio Santos-Filho Malthus Oliveira de Queiroz Sidney Rocha. R ecife. Lugar de Memória



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Transcrição:

Plínio Santos-Filho Malthus Oliveira de Queiroz Sidney Rocha R ecife Lugar de Memória Mártires, heróis, personagens históricos são comemorados em locais públicos e privados do Recife. Neste Guia apresentamos alguns destes personagens e locais. 2012

Santos-Filho, Plínio Queiroz, Malthus Oliveira de Rocha, Sidney Recife Lugar de Memória / Plínio Santos-Filho; Malthus Oliveira de Queiroz; Sidney Rocha _Recife: SDHSC - Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Cidadã, Prefeitura do Recife. _Ministério da Justiça, Pronasci. _AERPA Editora, 2012. 104p. : il. Inclui bibliografia / Includes bibliography ISBN: 978-85-60136-05-6 1. Geografia e viagem Brasil. I. Santos-Filho, Plínio. I I. Título. CDD 918.1 AERPA Editora Rua Antônio Vitrúvio, 71, Poço da Panela, Recife Pernambuco - Brasil CEP 52061-210 Os horários de visitação, os números dos telefones e os preços de ingresso dos museus, das igrejas e demais monumentos constantes deste guia foram obtidos junto aos órgãos oficiais da administração pública e nos próprios estabelecimentos. Horários atualizados, localização de hotéis e pousadas, bares e restaurantes, assim como outras informações, podem ser encontrados na internet, nos sites dos estabelecimentos. Seus comentários e sugestões podem ser enviados pelo e-mail constante no site da AERPA: www.restaurabr.org Este livro foi parcialmente financiado pelo Ministério da Justiça através do Projeto Restauração de Fachadas - Construção Civil, do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania - Pronasci, da Secretaria Nacional de Segurança Pública - Ministério da Justiça, com Convênio coordenado pela Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Cidadã da Prefeitura do Recife e pelas demais instituições e empresas listadas pelas logomarcas na contracapa.

Ideia original e autoria Plínio Santos-Filho Malthus Oliveira de Queiroz Sidney Rocha AERPA Editora Diretor Editorial - Plínio Santos-Filho Design e Tipografia - Carla Andrade Reis Pesquisa e revisão - Catarina S. Queiroz, Malthus O. Queiroz, Plínio Santos-Filho Fotografia, projeto gráfico e direção de arte - Plínio Santos-Filho Publicado pela AERPA Editora - Rua Antônio Vitrúvio, 71 Poço da Panela, Recife, Pernambuco - Brasil CEP 52061-210 Telefone: 55 (81) 3266-8463 Prefeitura do Recife João da Costa - Prefeito Amparo Araújo - Sec. de Direitos Humanos e Segurança Cidadã Cacilda Medeiros - Diretora de Segurança Cidadã Impressão e encadernação - Gráfica Santa Marta Todos os direitos reservados de acordo com as leis brasileiras, panamericanas e leis internacionais e convenções de copyright. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em sistemas de bancos de dados ou transmitida em nenhuma forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou qualquer outro, sem a permissão prévia e por escrito dos proprietários dos direitos de copyright. Copyright 2012 AERPA Editora Impresso no Brasil - Printed in Brazil

Sumário Apresentação 6 O Recife 8 Rota Verde 10 - O Açúcar Engenhos do Capibaribe 16 Engenho Magdalena 15 Engenho da Torre 16 Engenho do Cordeiro 17 Engenho Ambrósio Machado 17 Engenho Casa Forte 19 Poço da Panela 20 Museu do Homem do Nordeste 21 Engenho São Pantaleão do Monteiro 25 Engenho de Apipucos 26 Fundação Gilberto Freyre 27 Engenho Dois Irmãos 28 Engenho Brum-Brum 29 Engenho Poeta 29 A Várzea do Capibaribe 30 Engenho do Meio 30 Engenho de Santo Antônio 31 Instituto Ricardo Brennand 32 Engenho São João 33 Ateliê e Oficina Cerâmica Francisco Brennand 33 Museu do Estado de Pernambuco 34 Teatro de Santa Isabel 34 Faculdade de Direito do Recife 35 Parque 13 de Maio 35 Basílica e Convento do Carmo 35 Joaquim Nabuco 36 Porto do Recife - Cruz do Patrão 37 Rota Azul 38 - Os Holandeses O Período Holandês 40 Forte do Brum 42 Quarteirão Franciscano 43 Forte Ernesto 43 Praça da República e Imperador 44 Maurício de Nassau 45 Rua do Bom Jesus 46 Palácio da Boa Vista 46 Forte das Cinco Pontas 47 A Insurreição Pernambucana 48 Praça Sérgio Loreto e Arredores 48 Os Quatro Heróis 49 A Batalha de Casa Forte 50 Arraial Velho do Bom Jesus - Sítio da Trindade 51 Nossa Senhora dos Prazeres do Monte Guararapes 52

Rota Amarela 54-1817 e 1824 Revolução de 1817 56 Forte do Brum 58 Campo da Honra 59 Ponte do Recife 60 Forte das Cinco Pontas 61 Matriz de Santo Antônio 61 Confederação do Equador - 1824 63 Monumento a Frei Caneca 63 Capelinha da Praça da Jaqueira 64 Cemitério dos Ingleses 65 Rota Vermelha 66 - Ditadura 64 Resistência ao Regime Militar 68 O Centro do Recife 69 Miguel Arraes 70 Palácio do Campo das Princesas 72 Gregório Bezerra 74 Casa da Cultura 76 O Dom - Igreja das Fronteiras 78 Padre Henrique - Cidade Universitária 82 Rua da Aurora 405 84 Vila Buriti - Macaxeira 86 Ruas da Vila Buriti 88 Colônia Penal do Bom Pastor 94 Monumento Contra a Tortura 96 Paulo Freire 98 Índice Geral do Mapa 101 Bibliografia 104

Apresentação O presente livro é resultado de uma parceria entre a Prefeitura da Cidade do Recife, através de sua Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Cidadã, e a Agência de Estudos e Restauro do Patrimônio AERPA, que, por meio de financiamento pelo Ministério da Justiça, conseguiram produzir este Guia tão importante para o Recife. Importante porque revisita fatos, personalidades e locais da cidade onde ocorreram esses fatos, buscando, de forma direta, desvendar um Recife escondido na sua intensa agitação cotidiana de grande metrópole. Para Gilberto Freyre, um dos grandes inspiradores desse livro, o Recife é uma cidade a ser desvendada. Tanto nos subúrbios como no centro, o Recife é uma cidade recatada. Não se exibe. Não se mostra. Retrai-se. Contrai-se. Esconde-se, até, dos olhos dos estranhos. (...) O Recife é assim: cidade que antes se esconde dos admiradores que se oferece à sua curiosidade. Para os autores da presente obra, desvendar o Recife é contar um pouco da sua história, visitar lugares, perceber mudanças e, principalmente, exercitar a curiosidade, já que muito das informações aqui apresentadas são fruto de um conhecimento resultante da paixão pela descoberta, da imensa vontade de saber mais sobre quem somos, onde vivemos e que cidade é essa que nos acolhe e nos deserta nos desvãos de seus caminhos e descaminhos. Por isso, o formato de guia de visitação, com roteiros selecionados para serem percorridos a pé, de carro ou mesmo de bicicleta, nos moldes dos recentemente lançados Um Dia no Recife e Um Dia em Olinda, ambos também pela AERPA Editora. Esse formato, coadunado com as práticas saudáveis e ecologicamente corretas do turismo urbano contemporâneo, permite uma descoberta sem pressa, interativa e certamente construtiva. Quatro rotas compõem este guia: A Rota do Açúcar, que explora os locais e as memórias remanescentes deixadas pelo ouro branco, base de um época rica e faustosa da cidade e 6 Photo: Downtown Recife at sunset Acima, arrecifes e molhe, Forte do Pição. À direita na foto, ilhabairro de Santo Antônio visto do Paço Alfândega, Bairro do Recife.

profundamente enraizada na sua identidade cultural; a Rota dos Holandeses, época decisiva para a formação do Recife e do ideal de nacionalidade brasileira; a Rota das Revoluções de 1817 e 1824, movimentos que refletem o desejo de se estabelecer uma república no Brasil, confrontando os ideais reacionários da monarquia; e o período do regime militar de 1964, ainda uma mancha recente e de proporções indefinidas na democracia brasileira. A pesquisa textual e iconográfica envolveu várias idas à Fundação Joaquim Nabuco - Fundaj, onde sempre contamos com a cortesia e a colaboração de seus funcionários; buscas em publicações impressas e digitais especializadas; e conversas com especialistas e curiosos na área, como o escritor Paulo Santos de Oliveira, o que muito nos ajudou a formatar o conteúdo abordado neste livro. A maioria das imagens, no entanto, são de Plínio Santos-Filho, que descreve através da lente fotográfica o trajeto visual das rotas. É importante ressaltar que o presente trabalho não é de forma alguma completo. Sabemos e avisamos de antemão que assuntos, fatos, pessoas, datas e locais ficaram de fora da publicação, não por ignorância, mas pelo tamanho e abrangência do assunto, assim como não foi possível consultar todas as fontes sobre os temas. Gostaríamos de agradecer o empenho de Amparo Araújo, Secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadã da cidade do Recife; os parceiros de caminhadas dominicais, Antônio Carlos Montenegro, Carla Andrade Reis, Fernando Braga, Francisco Cunha, Fred Leal, Nelson Telles e Nilce Falcão, sem os quais não seria possível a realização deste trabalho. Desejamos a todos uma boa leitura e ótimas caminhadas! Plínio Santos-Filho Malthus Oliveira de Queiroz Sidney Rocha 7

Recife Lugar de Memória O Recife O Recife é a capital do Estado de Pernambuco e uma das mais importantes capitais do Nordeste brasileiro. Por sua localização estratégica, a cidade é polo comercial e de serviços e porta de entrada e saída para o comércio com a Europa e a América do Norte. Originado de um pequeno povoado de pescadores, marinheiros e mercadores, o Recife tem profunda ligação com o mar, simbolizada por seu porto natural de arrecifes, de onde surgiu o nome da cidade, e pela famosa Praia de Boa Viagem, considerada uma das mais aprazíveis praias urbanas do Brasil. O clima tropical, na maior parte do tempo com sol, favorece as caminhadas no calçadão e os banhos de mar. Os rios Capibaribe e Beberibe, cortando a cidade, dão-lhe certo charme veneziano. O Recife é marcado pela pluralidade. Sua identidade cultural multifacetada abre espaço para variadas manifestações artísticas, que permeiam música, literatura, teatro, cinema, dança e arquitetura. A boa estrutura para eventos possibilita a realização de grandes festivais, segmento importante do calendário cultural da cidade. Seu patrimônio histórico reminiscente, narrando constante e gratuitamente o passado glorioso e de lutas, se insere no ambiente contemporâneo como uma importante atração. A infraestrutura hoteleira do Recife é uma das melhores da região. A cidade oferece ao visitante muitas opções de hospedagem, com grande variedade de preços e serviços. O lazer fica por conta de restaurantes, bares, teatros, shoppings, praças, mercados públicos, boates e shows, além de outras atividades que podem ser programadas previamente. O Recife, com sua brisa, mergulhado no azul do céu e no verde do mar, é fonte de inspiração para artistas diversos. Descobri-lo e redescobri-lo é sempre um grande prazer. 1537 1561 1595 8 Primeira referência sobre o Recife, feita por Duarte Coelho no Foral de Olinda. Nessa época, o donatário o descreve como um pequeno povoado junto ao porto, em torno da ermida de São Frei Pedro Gonçalves. Esse porto de Olinda foi durante muitos anos o de maior movimento da América Portuguesa. Franceses invadem o Recife com o objetivo de dominar o comércio do açúcar. São expulsos no mesmo ano. Invasão inglesa, que durou apenas 30 dias. Acima, Forte das Cinco Pontas - Museu da Cidade do Recife

1630 1636 1649 1654 1709 1709 1710 1801 1817 1823 1824 1825 1827 1848 1867 1930 1930 1964 2000 14 de fevereiro Holandeses, buscando dominar o comércio do açúcar, invadem a cidade. Passando por Olinda, instalam logo depois a capital do seu governo no Recife. Sob o comando de Maurício de Nassau, promovem muitas inovações. Fundação da Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira sinagoga das Américas. 19 de fevereiro Segunda Batalha dos Guararapes, travada nos Montes Guararapes, na qual os holandeses foram derrotados. 26 de janeiro Expulsão dos holandeses do Recife, que em pouco tempo deixaria de ser um simples povoado para se tornar um núcleo de progresso e abastança. 10 de novembro Carta régia eleva o Recife à condição de vila, chamada Santo Antônio do Recife. Esse fato foi mais tarde um dos motivos para a Guerra dos Mascates. 1709 a 1714 Guerra entre o Recife e Olinda, conhecida como Guerra dos Mascates (assim eram chamados os comerciantes recifenses). Nessa época, o Recife crescia economicamente e reivindicava autonomia política. Com a autoridade ameaçada, os nobres olindenses utilizaram da força para sabotar as intenções dos recifenses. 15 de fevereiro Foi erguido o pelourinho na cidade do Recife, indicando que a vila possuía governo próprio. O Recife expandiu seu território no séc. XIX. Foram feitos aterros em áreas alagadas, e alguns bairros foram incorporados ao Recife. 6 de março Inspirada pelos ideais iluministas e republicanos, é deflagrada a Revolução Pernambucana de 1817, primeiro movimento brasileiro que buscava a formação de um governo próprio, fora do domínio português. 5 de dezembro O Recife é elevado à categoria de cidade. Julho Eclode a Confederação do Equador. Descontentes com o Imperador D. Pedro I, o movimento tentava estabelecer um estado independente dentro da Região Nordeste do Brasil. 7 de novembro Primeira edição do Diario de Pernambuco, jornal mais antigo da América Latina, até hoje em circulação. 15 de fevereiro A cidade do Recife torna-se a capital do Estado de Pernambuco. Eclode a Revolução Praieira, movimento liberal que se opunha à monarquia e pregava a instituição da República no Brasil. Foi a última das revoluções provinciais. Janeiro Inauguração da primeira linha de trem urbano da América Latina, a Maxambomba. 22 de maio O Zeppelin pousa pela primeira vez no Brasil. 26 de julho Assassinato de João Pessoa na Rua Nova, em frente à Confeitaria Glória. Esse fato foi um dos motivos da Revolução de 1930. De 64 a 85 o Brasil fica sob o regime de Ditadura Militar. O Recife industrializa-se e se consolida como polo de serviços (turismo, informática, medicina, entre outros), estruturando sua base econômica atual. 9

Recife Lugar de Memória 10

Açúcar 12 1 14 34 37 O Açúcar Engenhos do Capibaribe Pontos de Interesse Porto do Recife

Recife Lugar de Memória 1 O Açúcar O açúcar e a exploração humana, por si só, requerem uma publicação volumosa e distinta. Aqui nesse guia, relacionamos alguns locais que podem ser visitados e que guardam, mostram ou pertencem à história do açúcar e da escravidão no Recife. Bairros, ruas e praças, edifícios, instituições e museus locais possuem referências diretas à escravidão e ao seu principal produto econômico, o Açúcar. O açúcar é diretamente responsável pelo modo de ser e de viver no Recife e em todo um Brasil. Gilberto Freyre escreveu em Casa Grande & Senzala (G. Freyre, CG&S, pg. 265, Global Editora, 2005): O escravocrata terrível, que só faltou transportar da África para a América, em navios imundos, que de longe se adivinhavam pela inhaca, a população inteira de negros, foi, por outro lado, o colonizador europeu que melhor confraternizou com as raças chamadas inferiores. O menos cruel nas relações com os escravos. É verdade que, em grande parte, pela impossibilidade de constituir-se em aristocracia europeia nos trópicos: escasseava-lhe, para tanto, o capital, senão em homens, em mulheres brancas. Mas, independente da falta ou escassez de mulher branca, o português sempre pendeu para o contato voluptuoso com mulher exótica. Para o cruzamento e miscigenação. Tendência que parece resultar da plasticidade social, maior no português que em qualquer outro colonizador europeu. 12 P. 10: Painel de F. Brennand - Museu do Homem do Nordeste - MHN Acima: Tapeçaria belga baseada em desenho de A. Echkout e F. Post - MHN

Rota do Açúcar 1 O Recife, como cenário da sua história de quase cinco séculos, reflete a colonização a que foi submetido. A distribuição física e geográfica da sua população, dos serviços e equipamentos urbanos reflete diretamente os efeitos da economia açucareira de Pernambuco. O donatário Duarte Coelho veio pelo açúcar; os holandeses invadiram o Nordeste para dominar o açúcar; na Guerra dos Mascates, os donos de terras e engenhos em Olinda não queriam pagar suas dívidas aos seus credores e comerciantes no Recife; a Revolução Pernambucana de 1817 tinha por um lado um Portugal (fugido no Rio de Janeiro) que tirava ouro do açúcar, e, do outro, os donos de engenho, que queriam ficar com esse ouro. Recentemente, passamos pela ditadura civil e militar de 1964, que teve o apoio no latifúndio açucareiro regional contra os movimentos que pregavam a reforma agrária; e chegamos à contemporaneidade, onde uma boa parcela da economia de Pernambuco depende dos mercados do açúcar e do álcool. No Brasil, a catedral ou a igreja mais poderosa que o próprio rei seria substituída pela casa-grande de engenho. (G. Freyre, CG&S, pg. 271, Global Editora, 2005) E ainda é um tanto disso. Em Pernambuco e no Recife somos cana e açúcar. A cana que adoça é a mesma que move veículos e nos embriaga. Nesse guia de memórias do Recife, vamos visitar alguns dos locais onde essa nossa história está presente. São locais onde a cana e o seu açúcar marcam com nomes e objetos a paisagem e história da cidade. Acima: Detalhe de tapeçaria belga baseada em desenho de A. Eckhout e F. Post Presenteada por Maurício de Nassau a Luís XIV - MHN 13

Recife Lugar de Memória 1 Engenhos do Capibaribe As margens do Rio Capibaribe, que junto com as do Rio Beberibe formam a bacia hidrográfica responsável pelo cultivo da cana- -de-açúcar no Recife, têm de um lado a Avenida Caxangá, que da Madalena vai dar no Bairro da Várzea, extremo oeste da cidade, e do outro lado a Volta ao Mundo, que desde a Várzea leva a Av. Dois Irmãos, Av. Apipucos e Av. 17 de Agosto, já nos bairros de Casa Forte e Parnamirim. Essas terras foram ocupadas a partir do século XVI por engenhos de cana, esses tornados arruados e vilarejos que deram origem a muitos bairros do Recife. Aqui, relacionamos os engenhos que ladeavam o Rio Capibaribe e marcaram a memória da cidade. Uma grande rota circular de visitação aos locais citados pode ser iniciada no bairro da Madalena, na direção oeste pela Avenida Caxangá, chegando após sete quilômetros de linha reta ao norte do bairro da Várzea. Antes da ponte e à esquerda, chegamos ao centro da Várzea. Cruzando a ponte sobre o Capibaribe e em frente, chegaremos a Camaragibe; e dobrando à direita iremos dar em Dois Irmãos, Apipucos, Monteiro, Casa Forte, Torre e de volta ao bairro da Madalena. Nesse circuito, passamos por muitos dos locais onde a economia e história do Recife foram forjadas. Nessa proposta de Rota do Açúcar no Recife, listamos a seguir os engenhos que nela existiram, subindo o Capibaribe e olhando para o que existiu às suas margens. 14 Acima: Gravura sobre trabalho no engenho de cana-de-açúcar - MHN

Rota do Açúcar 1 Engenho da Magdalena Bairro da Madalena - Foi construído no século XVI por Pedro Afonso Duro, casado com Magdalena Gonçalves. A casa-grande era onde hoje está o Museu da Abolição, no início da Av. Caxangá. O Museu da Abolição é recoberto por azulejos portugueses. Este revestimento colonial melhorava a umidade dentro das edificações. Perto do museu está o Mercado da Madalena que faz parte da área da Praça da Madalena, que é um dos mais tradicionais mercados públicos do Recife, com bares, comedorias e feira de pássaros. 15

Recife Lugar de Memória 1 Engenho da Torre Bairro da Torre - Conhecido no séc. XVI como Engenho Marcos André, rico colono português, foi chamado de Torre por causa da torre original da capela da propriedade. O engenho era movido a animais. Os holandeses tomaram o engenho e construíram uma fortaleza capaz de atacar o Forte Real do Bom Jesus do outro lado do rio. A praça tem brinquedos com formato modernista do escultor Abelardo da Hora. Uma agradável travessia de barco a remo pelo Rio Capibaribe pode ser feita do Bairro da Torre para o Bairro da Jaqueira. Os barqueiros também podem transportar até duas bicicletas, facilitando as visitas com esse tipo de transporte. 16

Rota do Açúcar 1 Engenho do Cordeiro Bairro do Cordeiro - Atualmente, o Cordeiro fica entre os bairros do Zumbi e Iputinga. O engenho surgiu nas terras do rico colono português e senhor de engenho Ambrósio Machado, que também foi governador da Capitania do Rio Grande do Norte. O capitão João Cordeiro de Medanha, ajudante de ordens do Governador João Fernandes Vieira, administrou o engenho e as suas terras após a expulsão dos holandeses em 1654. A Igreja do Cordeiro (acima) fica na Av. Caxangá. Essa avenida foi revitalizada e teve colocado marcos (abaixo) nas suas paradas de ônibus, registrando os antigos engenhos cujas terras ela corta. Engenho Ambrósio Machado Bairro do Zumbi - Foi confiscado pelos holandeses em 1635 e passou a produzir açúcar para a Companhia das Índias Ocidentais dos invasores holandeses. O Capitão João Cordeiro de Medanha também cuidou desse engenho, a mando de João Fernandes Vieira, após a expulsão dos holandeses. 17

Recife Lugar de Memória 18

Rota do Açúcar 1 Engenho Casa Forte Bairro do Poço da Panela - Foi fundado no século XVI por Diogo Gonçalves em terras doadas por Duarte Coelho. A casa-grande do engenho e capela eram onde hoje estão o Colégio da Congregação da Sagrada Família (acima esquerda) e a Igreja (acima direita), na Praça de Casa Forte. Em 17 de agosto de 1645, houve a Batalha de Casa Forte, que dá nome à avenida, no sítio onde está a Praça e arredores, para libertar a proprietária Ana Paes dos invasores holandeses. A praça e suas edificações próximas ficam na comarca do Poço da Panela, limite com o bairro de Casa Forte. A Praça de Casa Forte, construída em 1934, foi projetada pelo paisagista recifence Roberto Burle Marx. A calçada tem desenho modernista de ondas de Burle Marx, inspirado no antigo calçadão português da Avenida Atlântica do Rio de Janeiro de 1906. Página anterior: grilhões para prender escravos - MHN 19

Recife Lugar de Memória 1 Poço da Panela O bairro do Poço da Panela é contíguo ao bairro de Casa Forte na margem esquerda do Rio Capibaribe. As terras são originárias do Engenho Casa Forte. Muitas das suas edificações são preservadas. O centro histórico compreende a Igreja de Nossa Senhora da Saúde, o monumento ao Escravo Liberto e o busto de José Mariano Carneiro da Cunha, o abolicionista, a casa de Dona Olegarina, esposa de J. Mariano (foto acima), a venda de Seu Vital e outros casarões coloniais. O local é um dos mais urbanizados, bucólicos e aprazíveis do Recife. A Estrada Real do Poço é o seu principal acesso. No Poço, as casas antigas de família ainda são habitadas e estão em bom estado de conservação, conferindo ao local um ar dos tempos passados. 20 Fotos no sentido horário: Igreja de Nossa Senhora da Saúde, Estrada Real do Poço, Venda de Seu Vital e casarões preservados

Rota do Açúcar 1 Museu do Homem do Nordeste Visitação: Terça a Sexta de 9h às 17h - Sábado e domingo de 13h às 17h O MHN é localizado na Av. 17 de Agosto, Poço da Panela, e foi fundado em 1979 por Gilberto Freyre. O Museu faz parte da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundação Joaquim Nabuco - Fundaj. Sua missão é pesquisar, documentar, preservar e difundir o patrimônio cultural material e imaterial do Nordeste. O Museu do Açúcar é hoje parte do Museu do Homem do Nordeste. O seu edifício foi projeto do arquiteto Carlos Antônio Falcão Correia Lima. Possui dois pavimentos e abriga o MHN. Seu acervo, representativo da formação histórica, étnica e social da atual Região Nordeste, possui cerca de 15 mil peças, herança cultural do índio, do europeu e do africano na formação do povo brasileiro. Compõem o acervo do museu materiais de construção dos séculos XVIII e XIX referentes aos mocambos; ex-votos e objetos de cultos afro; peças e utensílios da agroindústria açucareira; instrumentos de suplício de escravos; bonecas de pano e brinquedos populares; cerâmica regional de Vitalino, Nhô Caboclo, Zé Rodrigues, Porfírio Faustino e de outros notáveis e anônimos artistas do povo; além das tecnologias do trabalho no açúcar e peças da vida nas casas-grandes e senzalas. Esse acervo o torna um dos mais importantes museus histórico-antropológicos do Brasil. Acima: moenda de cana-de-açucar manual; Escrava ama de leite Mônica com Augusto G. Leal - Coleção Cehibra - Fundaj - Foto de João Ferreira Vilella, 1860 21

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Rota do Açúcar 1 Os folguedos populares, originados nos desejos de liberdade dos escravos e sempre regados a cachaça, são parte importante da cultura nordestina. O Bumba-meu-Boi e o Maracatu são espetáculos que misturam elementos de comédia, drama, sátira e tragédia demonstrando a força bruta e fragilidade humanas. Página anterior: Cazumbá do Bumba-meu-Boi. Acima: Festa de N. S. do Rosário dos Pretos, Caboclo de Lança e Boneca do Maracatu e Cachaça - acervo MHN - Fundaj 23

Recife Lugar de Memória 1 Índios e principalmente escravos trazidos da África foram a força motriz na agricultura, engenhos de açúcar e mineração no Brasil. A escravidão indígena foi abolida pelo Marquês do Pombal no final do séc. XVII. Mas a escravidão só foi abolida com a Lei Áurea em 13 de maio de 1888. O Parque 13 de Maio comemora essa data. 24 Acima, grilhões de ferro para prender e torturar escravos Acervo do Museu do Homem do Nordeste - MHN - Fundaj

Rota do Açúcar 1 Eng. São Pantaleão do Monteiro Bairro do Monteiro - O engenho de São Pantaleão do Monteiro foi fundado no século XVI por Manuel Vaz e sua mulher Maria Rodrigues. Seu proprietário no século XVII, Francisco Monteiro Bezerra, deu o nome ao engenho e à localidade. Ficava entre o Engenho Casa Forte e o Engenho Apipucos. Ainda existem um arruado colonial e algumas residências antigas preservadas. Há vestígios das colunas da entrada de acesso à casa-grande da propriedade. O Rio Capibaribe ainda encontra-se em um estado bastante natural no Monteiro. Tem-se acesso às vistas do rio por trás de algumas propriedades e edifícios. A depender da maré, observa-se o Capibaribe subindo ou descendo, pelo movimento das baronesas (plantas aquáticas) sobre sua superfície. 25

Recife Lugar de Memória 1 Engenho de Apipucos Bairro de Apipucos - O Engenho de Apipucos foi partilhado em 1577 das terras do Engenho São Pantaleão do Monteiro. Foi atacado em 1645 pelos holandeses, que destruíram a sua capela (onde hoje está a Igreja de Apipucos). Tudo foi saqueado e levado para o Engenho Casa Forte, onde Ana Paes, proprietária, era feita refém. Apipucos (ape-puca, caminho que bifurca em Tupi) tem um belo conjunto colonial de casas dos dois lados da Rua Apipucos, continuação da Av. 17 de Agosto. O Açude de Apipucos é uma das belas vistas do Recife e deságua no Rio Capibaribe. A Fundação Gilberto Freyre está logo em seguida à direita, na direção de Dois Irmãos. 26

Rota do Açúcar 1 Fundação Gilberto Freyre Visitação: Segunda a Sexta de 9h às 17h - Rua Dois Irmãos, 320, Apipucos A Casa de Gilberto Freyre foi transformada em Fundação no dia 11 de março de 1987. A Vivenda Santo Antônio de Apipucos, hoje Casa-Museu Magdalena e Gilberto Freyre, está instalada no local onde o escritor escolheu para morar, por mais de 40 anos. A sua construção é reconhecida como casa-grande original do século XIX. Foi reformada em 1881. Hoje abriga o conjunto de objetos colecionados, guardados e ordenados pela família Freyre. Gilberto Freyre nasceu em 15 de março de 1900 e morreu em 18 de julho de 1987, no Recife. Dedicou-se a interpretar o Brasil. Foi sociólogo, antropólogo, historiador, jornalista, autor de ficção, poeta, pintor e fazedor de licor de pitanga, dentre muitas outras coisas. Entre os seus livros que inspiram este guia estão Casa-Grande & Senzala, 1933; Sobrados e Mucambos, 1936; e Assucar, 1939. Sua estátua está no Largo de Apipucos. Acima: painel cerâmico do artísta Francisco Brennand com poema de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) 27

Recife Lugar de Memória 1 Engenho Dois Irmãos Bairro de Dois Irmãos - O Engenho foi erguido nas terras do engenho Apipucos pelos irmãos Antônio e Tomás Lins Caldas no século XIX. Por serem muito unidos, eles construíram duas casas idênticas, lado a lado, e denominaram o engenho de Dois Irmãos. Na frente das casas está a Praça de Dois Irmãos, projetada por Burle Marx. Nos fundos da praça está o Parque Zoológico de Dois Irmãos. O Açude do Prata, que fazia parte da propriedade, e que agora está por trás do zoológico, foi usado pela antiga Companhia Beberibe de águas para abastecer o Recife. A água era bombeada para cima do morro de Dois Irmãos (agora reserva florestal de Mata Atlântica) e por gravidade era distribuída para a cidade. 28

Rota do Açúcar 1 Engenho Brum-Brum Era localizado à margem esquerda do Capibaribe, com terras que iam da povoação de Caxangá (final da Avenida Caxangá) até a propriedade que é hoje o município de Camaragibe. Acima, temos a casa-grande do Engenho Camaragibe (camara é planta / gibe é rio, em tupi-guarani) sobre a colina que é a continuação geográfica natural da várzea do Capibaribe. Engenho Poeta Esse engenho ficava onde hoje é o final da avenida Caxangá. Também pertenceu ao Governador da Capitania de Pernambuco João Fernandes Vieira e funcionou até 1942 como engenho de açúcar. Um arruado histórico ainda existe na margem direita do Capibaribe, arruado que teve sua origem nas atividades do engenho. Suas terras foram vendidas ao Caxangá Golf & Country Club, ainda em operação. A beleza da várzea do Capibaribe pode ser vista na UFRPE, Campus Dois Irmãos 29

Recife Lugar de Memória 1 A Várzea do Capibaribe Muitos engenhos surgiram na Várzea do Capibaribe, engenhos esses que deram nomes e localidades para muitos bairros do Recife. As terras de várzea, que eram ideais para o plantio da cana-de- -açúcar, pertenceram ao Engenho do Meio, Engenho São João, Engenho Santo Antônio e compreenderam o que hoje são os bairros da Várzea, Brasilit, Cidade Universitária, Iputinga, Engenho do Meio e Monsenhor Fabrício, chegando até o Cordeiro, Torre e Madalena. Engenho do Meio Bairros do Engenho do Meio e Cidade Universitária - Foi tomado pelos holandeses no século XVII. Nas suas terras foi erguida a fortificação do Arraial Novo do Bom Jesus, com as suas ruínas hoje localizadas na Av. do Forte, s/nº, Bairro do Torrões. Também, as ruínas da fundação da casa-grande do Engenho do Meio ainda podem ser vistas no canteiro central do Campus da Universidade Federal de Pernambuco, quase em frente à Biblioteca Central. 30