RELAÇÃO ENTRE NÍVEL DE ESCOLARIDADE DE MÃES E PERCEPÇÃO SOBRE SAÚDE BUCAL DE BEBÊS



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RELAÇÃO ENTRE NÍVEL DE ESCOLARIDADE DE MÃES E PERCEPÇÃO SOBRE SAÚDE BUCAL DE BEBÊS Mariana Pracucio Gigliotti 1 Danieli Theodoro 1 Thais Marchini de Oliveira 2 Salete de Moura Bonifácio Silva 3 Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado 3 1 Aluna do Curso de Graduação em Odontologia da FOB/USP; 2 Aluna do Curso de Graduação em Odontologia da FOB/USP; 3 Professor Doutora de Odontopediatria da FOB/USP; GIGLIOTTI, escolaridade de Salusvita, Bauru, RESUMO Neste estudo avaliou-se a percepção das mães em relação à saúde bucal de seus bebês, correlacionando com o nível de escolaridade das mesmas. A amostra foi constituída de setenta e oito mães que responderam um questionário que abordava os conhecimentos sobre saúde bucal. Os resultados mostraram correlação estatisticamente significante (teste de coeficiente de correlação de Spearman R=0,50) entre grau de conhecimento das mães bucal e nível de escolaridade. Concluiu-se que quanto maior o nível de escolaridade das mães, maior o conhecimento bucal e que há necessidade de maiores esclarecimentos destas mães sobre este assunto. Palavras-chave: Saúde bucal, Odontopediatria, Escolaridade, Mães, Cárie dentária. ABSTRACT Recebido em: 15/12/2005 Aceito em: 25/09/2006 This study evaluated mothers perception about oral health of their babies and its correlation with mother s education levels. Seventyeight mothers completed a questionnaire enquiring their dental 169

health knowledge. The results showed that mother s education levels infl uence the perception of their babie s oral heath, and that they do not have enough knowledge about the required procedures for children s health. It could be concluded that the lower the mother s education levels, the lower is the oral health perception. Therefore, dental professionals should provide mothers with more explanation regarding this subject. Key-words: Oral health, Pediatric dentistry, Educational status, Mothers, Dental caries. GIGLIOTTI, INTRODUÇÃO A Odontologia atual tem dado grande enfoque para a promoção de saúde. Segundo essa concepção de Odontologia, os Cirurgiões Dentistas têm como dever contribuir para a qualidade total de vida de seus pacientes, ou seja, garantir através de todos os meios existentes e disponíveis uma cavidade bucal saudável. Nada existe de mais simples, econômico e confortável para atingirmos tais objetivos do que a prevenção das doenças bucais, já que o mecanismo curativo envolve processos mais avançados, não adequadamente efetivos e em muitos casos, facilitando a recorrência da doença (NOWAK & CASAMASSINO, 1995). A cárie dentária tem sido descrita como sério problema médico-social, porque continua prevalente em uma parte da população, sendo reconhecida como uma doença infecto-contagiosa, de caráter multifatorial, resultante da interação do fator hospedeiro, da microbiota, da dieta e do tempo (ARDENGUI & IMPARATO, 2002; BÖ- NECKER & SHEIHAM, 2004; MACHADO et al., 2005; PINTO, 2000; ZANATA, 2001). Atualmente, verifica-se a existência de grupos ou populações de indivíduos que ainda apresentam altos índices de cárie, denominados de grupos de polarização. Para esta população, os esforços preventivos visando a Promoção de Saúde não têm sido suficientes para uma melhora aceitável nos índices de higiene bucal, devido à sua vulnerabilidade ou por estar exposta a um maior contingente de fatores de risco (ARDENGUI & IMPARATO, 2002; BÖNECKER & SHEIHAM, 2004; MACHADO et al., 2005; PINTO, 2000). Di Reis & Moreira (1995) acreditam que a atenção odontológica deve começar ainda em tenra idade, quando os fatores determinantes da doença começam a se instalar, ou seja, em bebês de 0 a 12 meses de idade. Para Serino & Gold (1997), a visita da criança ao dentista deveria acontecer com a erupção do primeiro dente e não mais tarde 170

GIGLIOTTI, que 12 meses. Nesta ocasião seria o momento ideal de orientar as mães para iniciar a limpeza da gengiva e dos dentes recém irrompidos com gaze limpa envolta no dedo, pelo menos uma vez ao dia. A iniciação precoce irá acostumar a criança ao processo de higienização (BÖNECKER & SHEIHAM, 2004; MACHADO et al., 2005; SERINO & GOLD, 1997; ZANATA, 2001). O impacto de ações bem sucedidas na primeira infância influenciará positivamente o padrão de saúde bucal durante toda a vida do indivíduo, por outro lado, hábitos inadequados durante os primeiros anos de vida apresentarão grande dificuldade de modificação no futuro. Assim, tendo como base ações educativas e preventivas torna-se visível a modificação dos hábitos de saúde bucal no núcleo familiar a partir de ações voltadas para as necessidades específicas do bebê (MACHADO et al., 2005; WALTER et al., 1996). Tanto a cárie quanto as doenças periodontais possuem um caráter dinâmico e se desenvolvem por um desequilíbrio no processo de saúde, não por uma fatalidade na vida do indivíduo. Dessa forma, tais enfermidades, devem ser diagnosticadas e prevenidas o mais cedo possível, isto é, durante a gravidez e nos primeiros anos de vida do bebê (BÖNECKER & SHEIHAM, 2004; MACHADO et al., 2005; ZANATA, 2001). Tendo em vista o papel fundamental dos pais na promoção e manutenção da saúde dos bebês, o objetivo deste estudo foi avaliar o conhecimento das mães de bebês de 0 a 3 anos, relacionados à saúde bucal, bem como correlacionar com o nível de stas. MATERIAL E MÉTODO Para a viabilização deste estudo foi elaborado um questionário aplicado por um examinador previamente calibrado, a 78 mães de bebês de 0 a 3 anos de idade matriculadas em creches públicas da cidade de Bauru SP. A pesquisa foi analisada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Bauru, da Universidade de São Paulo, no processo nº 152/2004, recebendo de tal comitê parecer favorável para sua realização. Os questionários foram aplicados individualmente dentro do próprio espaço físico das creches públicas. Estes constavam de uma ficha de identificação com o nome da criança, sexo, idade, data de nascimento, nome da mãe ou responsável, idade, endereço e telefone; questões sobre as condições socioeconômicas dos pais e sobre prevenção de cárie, contendo 22 questões em forma de testes e descritivas abordando tópicos relacionados aos conhecimentos de promoção e manutenção de saúde bucal 171

como: dieta/hábitos, higiene bucal do bebê e da mãe, amamentação, etiologia da cárie, uso de flúor. O processo de análise foi feito de modo descritivo e quantitativo. Primeiramente, as mães foram classificadas em relação ao conhecimento bucal em: péssimo, ruim, regular, bom e ótimo. Em seguida, analisamos a existência de correlação estatística entre o grau de conhecimento das mães bucal e o nível de escolaridade, com o auxílio do programa Statistic for Windows 6.0, para o teste de coeficiente de correlação de Spearman para p<0,05. As respostas também foram verificadas separadamente e foi feita a análise descritiva de cada questão. GIGLIOTTI, RESULTADOS A análise estatística através do programa Statistic for Windows 6.0, para o teste de coeficiente de correlação de Spearman para p<0,05 mostrou correlação estatisticamente significante para R=0,50 e p=0,000003 entre grau de conhecimento das mães sobre saúde bucal e nível de escolaridade. Estes dados são mostrados na Figura 1. 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 Instrução 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0-0,5 0 1 2 3 4 5 6 7 Escolaridade Figura 1 - Correlação escolaridade e grau de instrução das mães bucal. Da população das mães do presente estudo, 40 tinham entre 20 e 30 anos de idade (52,63%); 33 tinham entre 31 e 40 anos (42,31%) e 172

GIGLIOTTI, 3 mães tinham mais que 41 anos (3,85%), considerando que 2 mães entre as 78 estudadas não responderam à esta pergunta. Com relação à transmissão dos germes das mães aos bebês, 93,6% das mães relataram que esta pode ocorrer; e 6,41% acreditaram que não. As mães, em caso afirmativo, foram questionadas sobre quando essa transmissão poderia ocorrer. Foram mostradas três opções em que elas poderiam escolher mais de uma alternativa: provando a comida com a colher do bebê (73,1%); beijando o bebê na boca (82,05%) e limpando a chupeta com a sua boca (80,8%). A higiene bucal do bebê foi analisada em relação ao tipo de material utilizado, à possibilidade do uso de fio dental, como é feita a escolha do creme dental do bebê e a quantidade de creme dental colocada na escova da criança. Observamos que 18 entre 78 mães (23,1%) utilizaram escova e creme dental; 46 mães (58,97%) fralda e água filtrada; 7 mães (8,97%) usaram fralda e água oxigenada; 5 mães (6,41%) fralda ou escova de dente e creme dental dependendo da idade e 2 mães (2,56%) fralda com água oxigenada ou escova e creme dental. A possibilidade de utilização do fio dental foi positiva em 56,41% das mães e negativa em 43,59%. A pergunta: Qual o critério de escolha do creme dental para seu filho(a)? tinha três alternativas para resposta: o preço de mercado, o sabor da pasta e a quantidade de flúor que ela contém. 3 mães (3,85%) responderam a primeira alternativa; 6 (7,7%) escolheram a segunda e 68 mães (87,2%) escolheram a terceira resposta. Deve se considerar que uma mãe não respondeu a esta pergunta. A quantidade de creme dental colocada na escova dos bebês também foi verificada. 56 mães (71,8%) optaram pela resposta de pequena quantidade; 20 mães (25,64%) optaram pela média e somente duas mães (2,56%) acreditaram que a quantidade grande seria a melhor escolha. Em relação ao hábito do bebê dormir com a mamadeira, 93,6% das mães acreditaram na possibilidade de existir algum problema com esse hábito, sendo que 3,85% acharam que não e 2,56% não responderam a esta questão. O motivo foi relatado como sendo a impossibilidade da mãe realizar a higiene do bebê, aumento a quantidade de bactérias e risco de cárie por 41,02% das mães; o risco do bebê engasgar ou se sufocar em 30,77%; e a chance de ocorrer má formação dentária e problemas ortodônticos em 8,97%. A idade ideal para a criança deixar a mamadeira ou o peito e tomar leite no copo também foi avaliada. A maioria das mães (47,43%) acredita ser em torno dos 12 meses de idade, 44,87% acredita não ter idade certa e 7,69% responderam que é a idade em que a criança desejar. 173

Em relação à possibilidade de ocorrer fluorose nos dentes permanentes da criança, caso engula creme dental contendo flúor antes dos 7 anos, foi considerado que sim em 42,31% das mães; não em 51,28% e 6,41% não sabiam. Um dado relevante corresponde à idade em que a mãe julgaria ser ideal para a utilização de creme dental com flúor para a escovação dos dentes do seu filho, já que 33 mães (42,31%) acreditaram que a melhor idade seria assim que os dentes aparecerem na boca; 21 mães (26,92%) usariam à partir dos 3 anos de idade; 18 mães (23,1%) relataram aos 2 anos de idade e apenas 3 mães (3,85%) responderam a partir dos 7 anos de idade. Três mães não responderam esta pergunta. Outra questão interessante foi condizente à idade em que foi colocado açúcar na mamadeira ou na alimentação do bebê; em que 14 (17,95%) mães implementaram o açúcar entre 2 e 6 meses; 20 mães (25,64%) entre 6 e 12 meses de vida; 16 mães (20,51%) entre 12 e 18 meses; 12 (15,4%) após os 18 meses; 3 (3,85%) desde o nascimento e somente 11 mães (14,1%) ainda não utilizam o açúcar na alimentação do bebê. A primeira visita ao dentista também foi analisada. A maioria, como era esperado, (29 mães - 37,2%) levaram o bebê depois dos primeiros dentes irromperem na boca; 22 mães (28,2%) foram à primeira visita antes dos primeiros dentes aparecerem na boca; 18 (23,1%) nunca levaram, pois achavam muito novos e 5 mães (6,41%) nunca levaram devido à falta de vaga no Posto de Saúde ou não tiveram oportunidade e somente uma mãe levou seu filho quando estava com cárie. GIGLIOTTI, DISCUSSÃO A educação em saúde bucal pode ser considerada como essencial para a manutenção e prevenção. Não podemos negar que a educação odontológica da mãe/responsável é fator determinante para a saúde bucal futura da criança, e que esta tem sua família como modelo para seus atos e necessita dela para auxiliá-la. Como apresentado, as mães com menor nível de escolaridade têm menor conhecimento bucal. Vários estudos encontraram associação significante entre experiência de cáries dentárias e o nível de escolaridade dos pais (HOLAN et al., 1991; SAYEGH et al., 2002; VERRIPS et al 1993). A transmissão de germes das mães aos bebês mostrou ser de conhecimento de quase todas as mães deste estudo (93,6%), porém o 174

GIGLIOTTI, modo como essa transmissão poderia ocorrer não foi linear em suas respostas, mostrando que há a necessidade de ser esclarecida alguma informação em relação ao risco que o bebê está exposto de contrair bactérias da mãe quando em contato íntimo com a mesma (BÖNE- CKER & SHEIHAM, 2004; MACHADO et al., 2005). A utilização do fio dental foi controversa neste estudo, em que 56,41% das mães acreditavam que era possível e 43,59% acreditavam que não. Isto mostra a grande importância de melhorarmos a percepção das mães em relação à saúde bucal, já que o uso do fio dental seria importante para o bebê. Já que grande quantidade de mães acredita existir algum problema em o bebê dormir com a mamadeira, porém tiveram dificuldade para explicar por que existiria problema, acredita-se que a informação aos pais sobre a necessidade de higiene dos dentes que estão irrompendo deve ser enfatizada. O uso prolongado de mamadeira aliado ao fato das crianças adormecerem durante ou logo após a alimentação, e uma redução no fluxo salivar durante o sono, levam a uma estagnação do leite sobre os dentes, proporcionando um excelente meio de cultura aos microorganismos acidogênicos da cavidade bucal (BÖ- NECKER & SHEIHAM, 2004; MACHADO et al., 2005). A quantidade de creme dental colocado na escova dos bebês também foi observada no estudo de Blinkhorn et al. (2001), em que 52% das mães sabiam que elas deveriam utilizar pequena quantidade de pasta. Em nosso estudo, 71,8% das mães faziam uso de pequena quantidade de pasta. A fluorose dentária tem aumentado significativamente nos últimos anos, devido à negligência em relação ao controle da quantidade de flúor na água de abastecimento público, e à ausência de conhecimento das mães sobre o assunto e como evitar estes danos aos dentes da criança (PINTO, 2000). Como mostrou o estudo, 42,31% das mães acreditaram que possa ocorrer fluorose caso a criança venha a engolir creme dental contendo flúor quando esta for menor de 7 anos, e 51,28% acharam que não existia esta possibilidade. Neste estudo observamos a falta de atendimento odontológico precoce, que ainda não faz parte da realidade da maioria dos serviços públicos de saúde no país. No estudo de Zuanon (2001), ele analisou qual a idade ideal para a primeira visita odontológica de seus filhos. Ele percebeu que 42,2% dos entrevistados relataram que as crianças deveriam visitar o dentista antes dos seis meses de idade; e que 28,5% e 22,9% dos pais citaram que seus filhos deveriam receber atenção odontológica após 1 e 3 anos, respectivamente. Assim como outros estudos, consideramos que a falta de informação faz com que as pessoas pensem que o tratamento odontológico para be- 175

bês somente se inicia quando ocorre a erupção dos primeiros dentes, e mesmo assim alguns acreditam que a doença cárie não é relevante na dentição decídua (BLINKHORN et al., 2001; FERREIRA & GAÍVA, 2001; ZANATA, 2001). Cabe aos odontopediatras acreditarem em programas preventivo-educativos e, principalmente, estarem motivados, desempenhando papel de educadores com as mães e abordando o bebê precocemente, além de levar maiores informações para a população das mães juntamente com o pediatra. O ideal é que estas informações fossem centralizadas em orientações relacionadas à higienização bucal dos pais e bebês, seus hábitos alimentares e o risco de fluorose. GIGLIOTTI, CONCLUSÃO Existe pouco conhecimento, por parte da população estudada, no que concerne aos cuidados odontológicos do bebê e esta ausência de conhecimento está intimamente relacionada com o nível de escolaridade das mães. Portanto, os resultados apontam a necessidade de implementação de ações práticas voltadas à educação em saúde bucal, principalmente atingindo a maioria desfavorecida socioeconomicamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARDENGUI, T. M., IMPARATO, J.C.P. Avaliação do risco de cárie dental em uma perspectiva atual. Jornal Brasileiro de Odontopediatria e Odontologia do Bebê, v.5, n.25, p.121-23, maio/jun 2002. BLINKHORN, A. S., WAINWRIGHT-STRINGER, Y. M., HOLLO- WAY, P. J. Dental health knowledge and attitudes of regularly attending mothers of high-risk, pre-school children. International Dental Journal, v.51, n.6, p.435-436, 2001. BÖNECKER, M., SHEIHAM, A. Promovendo Saúde Bucal na Infância e Adolescência: Conhecimentos e Práticas. São Paulo: Editora Santos, 2004. DI REIS, I.T. & MOREIRA, S.C. Risco de cárie em bebês. Rev Odontol Brasil Cent, v.3, n.14, p.11-17, 1995. FERREIRA, A. R. C., GAÍVA, M. A. M. Atenção odontológica para bebês: Percepção de um grupo de mães. Jornal Brasileiro de Odontopediatria e Odontologia do Bebê, v.4, n.22, p.485-489, nov./dez., 2001. 176

GIGLIOTTI, HOLAN, G., IYAD, N., CHOSACK, A. Dental caries experience of 5-year-old children related to their parents education levels: a study in a Arab community in Israel. International Journal of Paediatric Dentistry, v.1, n.2, p.83-87, Aug.,1991. MACHADO, M.A.A., SILVA, S.M.B., ABDO, R.C.C., et al. Odontologia em Bebês: protocolos clínicos, preventivos e restauradores. São Paulo: Editora Santos, 2005. NOWAK, A.J., CASAMASSINO, P.S. Using anticipatory guindace to provide early dental intervention. J Amer Dent Ass, v.126, n.8, p.1156-1163, Aug., 1995. PINTO, V.G. Saúde Bucal Coletiva. São Paulo: Editora Santos, 2000. SAYEGH, A., DINI, E.L., HOLT, R.D. et al. Caries in preschool children in Amman, Jordan and the relationship to socio-demographic factors. International Dental Journal, v.52, n.2, p.87-93, April, 2002. SERINO, R.J., GOLD, S.B. Infant and early childhood oral health care. NY State Dent J, v.63, n.2, p.34-35, 1997. VERRIPS, G. H., KALSBEEK, H., EIJKMAN, M. A. J. Ethnicity and maternal education as risk indicator for dental caries, and the role of dental behavior. Community of Dental Oral Epidemiology, Munksgaard, v.21, n.4, p.209-214, Aug, 1993. WALTER, L.R.F., FERELLE, A, ISSAO M. Educação Odontológica: necessidades educativas. Odontologia para o bebê: Odontopediatria do nascimento aos 3 anos. São Paulo, Artes Médicas, 1996. Cap. 5, p.74-91. ZANATA, R.L. Avaliação da efetividade de um programa de saúde bucal direcionado a gestantes sobre a experiência de cárie de seus filhos. Bauru, 2001, 195 p. Dissertação (Doutorado) FOB/ USP. ZUANON, A. C. C. Quando levar a criança para primeira visita ao dentista? Jornal Brasileiro de Odontopediatria e Odontologia do Bebê, v.4, n.20, p.321-324, jul./ago. 2001. 177