2 Técnica Administrativa do Hospital de Clínicas Veterinárias da Faculdade de Veterinária,

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Transcrição:

PREDISPOSIÇÃO PARA O AUMENTO NA PRESENÇA DE Demodex spp. NA PELE DE CÃES ADULTOS SUBMETIDOS A PROTOCOLOS QUIMIOTERÁPICOS ANTINEOPLÁSICOS PREDISPOSITION FOR THE INCREASE IN THE PRESENCE OF Demodex spp. IN THE SKIN OF ADULT DOGS SUBMITTED TO ANTINEOPLASTIC CHEMOTHERAPY PROTOCOLS Daniela Flores FERNANDES 1, Luciane Cristina VIEIRA 2, Luciana Oliveira de OLIVEIRA 2, Márcia Duster CORREA 3, Daniel Guimarães GERARDI 4 1 Estudante de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, dani.sleo@gmail.com 2 Técnica Administrativa do Hospital de Clínicas Veterinárias da Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul 3 Residente do Hospital de Clínicas Veterinárias da Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul 4 Professor adjunto na disciplina de Medicina de Cães e Gatos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul Resumo: A demodicidose do cão adulto é menos frequente e parece ocorrer devido à presença de uma condição imunossupressora/imunodepressora que leva à perda da capacidade de controle, pelo sistema imune do animal, da população de ácaros Demodex spp. na pele. Embora seja classicamente aceito que endocrinopatias, doenças infecciosas, neoplasias e tratamentos imunossupressores possam agir como gatilho para a doença, há escassez de trabalhos que abordem a real influência de tais fatores na proliferação dos parasitas. Este trabalho teve como objetivo avaliar se cães adultos submetidos à quimioterapia antineoplásica têm maior possibilidade de apresentar ácaros Demodex spp. na pele. Foram incluídos 33 cães clinicamente saudáveis (Grupo 1) e 27, submetidos a protocolos quimioterápicos antineoplásicos (Grupo 2). Todos animais tinham idade superior a um ano e meio, não possuíam histórico de demodicidose juvenil, tampouco de uso prévio de medicação acaricida. Foi realizado exame parasitológico de pele (EPP) tricograma, impressão por fita adesiva e raspado cutâneo profundo, pontualmente, em cinco pontos anatômicos pré-determinados. A frequência, com intervalo de confiança (IC) de 95%, de cães positivos para a presença de Demodex spp. no grupo 1 foi igual a 6,1% (IC: 0,7-20,2) e no grupo 2, 18,5% (IC: 6,3-38,1). A razão de chances (Odds ratio) do G2 em relação ao G1 foi 3,52 (IC: 0,7-17,65) e não houve diferença significativa entre as frequências de EPP positivos entre os grupos Anais do 38º CBA, 2017 - p.2220

(P=0,226). Tal resultado pode ter ocorrido em função do número de animais incluídos no estudo, da provável dispersão da população parasitária na pele dos cães e do comportamento nômade do Demodex spp. Protocolos quimioterápicos antineoplásicos parecem influenciar no aumento da população de ácaros Demodex spp. na pele de cães adultos. Palavras-chave: demodicidose, dermatopatia parasitária, canino, quimioterapia. Keywords: demodicosis, parasitic skin disease, canine, chemotherapy. Introdução: A demodicidose canina é uma doença inflamatória parasitária comum e de distribuição mundial (TAYLOR et al., 2010). Todos os cães albergam e toleram a presença de uma pequena população de Demodex spp. no interior de seus folículos pilosos e glândulas sebáceas (RAVERA et al., 2013; FERRER et al., 2014). Porém, quando o número de parasitas aumenta de forma exacerbada, são observados sinais clínicos como foliculite, furunculose e infecção bacteriana secundária (MILLER et al., 2013). No cão adulto, a doença é menos frequente e parece decorrer de quadros clínicos que levam à imunodepressão/imunossupressão e consequente perda do controle, pelo sistema imune, da população de ácaros, visto que nestes casos há tolerância da presença do parasita por anos (MILLER et al., 2013). Afecções ou condições como hiperadrenocorticismo, hipotireoidismo, leishmaniose, neoplasias e terapias imunossupressoras ou citotóxicas são consideradas como potenciais gatilhos para a demodicidose do cão adulto (MOZOS et al., 1999; SARIDOMICHELAKIS et al., 1999; MILOSEVIC et al., 2013). No entanto, há carência de trabalhos que avaliem a real influência destes fatores no aumento da população de Demodex spp. na pele destes animais. Objetivo: Este estudo teve como objetivo avaliar se cães adultos submetidos à quimioterapia antineoplásica têm maior possibilidade de apresentar ácaros Demodex spp. na pele. Materiais e métodos: O trabalho foi desenvolvido no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCV/UFRGS), tendo sido previamente aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da UFRGS (CEUA/UFRGS). Anais do 38º CBA, 2017 - p.2221

Foram determinados dois grupos de inclusão no estudo. O grupo 1 (G1) foi constituído por cães clinicamente saudáveis, sem uso prévio de glicocorticoides, e o grupo 2 (G2) por cães submetidos a protocolos quimioterápicos antineoplásicos com fármacos citotóxicos/citostáticos que haviam completado aproximadamente 50% do protocolo terapêutico proposto inicialmente. Todos animais tinham idade superior a um ano e meio, não possuíam histórico de demodicidose juvenil, tampouco de uso prévio de medicação acaricida. Foi realizado exame parasitológico de pele (EPP), pontualmente, através das técnicas de tricograma, impressão por fita adesiva e raspado cutâneo profundo em cinco pontos anatômicos pré-determinados: mento, membros torácico e pélvico, abdômen e tórax dorsal. Amostras em que foram observadas formas adultas e/ou imaturas de ácaros Demodex spp., independentemente de sua quantidade, proporção ou de perda parcial de integridade, foram consideradas positivas. Os dados foram digitados em programa Excel e exportados para programa SPSS v.18.0. As variáveis amostra positiva e amostra negativa foram descritas por frequências e percentuais. Foram realizados testes Exato de Fisher e de Quiquadrado. A razão de chances (Odds ratio) foi calculada como medida de força de associação entre a condição de risco (quimioterapia) e o grupo de cães clinicamente saudáveis. Foi considerado um nível de significância de 5%. Resultados: No G1 foram incluídos 33 cães e em todos foi possível realizar as coletas propostas. Dois apresentaram amostras positivas, sendo a frequência, com intervalo de confiança (IC) de 95%, de cães positivos para a presença de Demodex spp. no grupo igual a 6,1% (IC: 0,7-20,2). O G2 foi composto por 27 cães submetidos a protocolos quimioterápicos antineoplásicos baseados na classificação histológica das neoplasias. Cinco protocolos distintos foram incluídos: carboplatina (13/27; 48,1%), vimblastina associada à prednisona (8/27; 29,6%), vincristina, prednisona, doxorrubicina e ciclofosfamida (Wisconsin-Madison) (2/27; 7,4%), vincristina (2/27; 7,4%) e vincristina associada à prednisona (2/27; 7,4%). Em um cão não foi possível realizar nenhuma das coletas propostas no mento e o EPP dos demais pontos foi negativo. Cinco animais apresentaram amostras positivas. Neste grupo, a frequência de cães positivos para a presença do ácaro foi igual a 18,5% (IC: 6,3-38,1). Anais do 38º CBA, 2017 - p.2222

A Odds ratio do G2 em relação ao G1 foi 3,52 (IC: 0,7-17,65) e não houve diferença estatística significativa entre as frequências de EPP positivos entre os grupos (P=0,226). Discussão: A frequência de cães clinicamente saudáveis positivos para a presença de Demodex spp. foi semelhante à observada por Tsai et al. (2011) e superior à obtida por Rodriguez-Vivas et al. (2003) e Fondati et al. (2010). Porém, foi inferior ao relatado por Ravera et al. (2011) e Ravera et al. (2013). As distintas metodologias empregadas poderiam justificar tais diferenças. O presente trabalho pode ter obtido maior sensibilidade no EPP do que Rodriguez-Vivas et al. (2003) e Fondati et al. (2010) por ter utilizado três formas de coleta em cinco pontos anatômicos. No entanto, a sensibilidade da técnica de PCR utilizada por Ravera et al. em ambos estudos (2011, 2013) parece ser superior à das técnicas aqui realizadas. Foi observada maior frequência de presença de ácaros Demodex spp. nos cães submetidos a protocolos quimioterápicos antineoplásicos, porém sem diferença estatística significativa. Ainda que não seja possível afirmar que quimioterapia é uma condição de risco para a demodicidose no cão adulto, tal resultado parece fornecer evidência de suporte à teoria de que esta é uma condição que pode influenciar no aumento da população do parasita, como anteriormente proposto (MILLER et al., 2013). A imunossupressão decorrente do uso de quimioterápicos (RODASKI e DE NARDI, 2008) poderia ser responsável por afetar a capacidade do sistema imune em controlar a população dos ácaros. A ausência de diferença estatística significativa pode ter ocorrido em função do número de animais incluídos no estudo, da provável dispersão da população parasitária na pele dos cães e do comportamento nômade do Demodex spp. (TSAI et al., 2011; RAVERA et al., 2013; FERRER et al., 2014). Com isso, é possível que não tenha havido a inclusão do parasita nas amostras obtidas, de modo que um maior número de animais do que o observado tenha aumento da população de ácaros em decorrência da quimioterapia antineoplásica. Conclusão: Quimioterapia antineoplásica parece influenciar no aumento da população de ácaros Demodex spp. na pele de cães adultos. Referências: Anais do 38º CBA, 2017 - p.2223

FERRER, L.; RAVERA, I.; SILBERMAYR, K. Immunology and pathogenesis of canine demodicosis. Veterinary Dermatology, Oxford, v.25, n.5, p.427-e65, Oct. 2014. FONDATI, A. et al. Prevalence of Demodex canis-positive healthy dogs at trichoscopic examination. Veterinary Dermatology, Oxford, v.21, n.2, p.146-151, Apr. 2010. MILLER, D. H.; GRIFFIN, C. E.; CAMPBELL, K. L. Muller and Kirk s small animal dermatology. 7 th ed. Missouri: Elsevier, 2013, 938p. MILOSEVIC, M. A. PCR amplification and DNA sequencing of Demodex injai from otic secretions of a dog. Veterinary Dermatology, Oxford, v.24, n.2, p.286-e66, Apr. 2013. MOZOS, E. Leishmaniosis and generalized demodicosis in three dogs: a clinicopathological and immunohistochemical study. Journal of Comparative Pathology, London, v.120, n.3, p.257-268, Apr. 1999. RAVERA, I. et al. Development of a real-time PCR to detect Demodex canis DNA in different tissue samples. Parasitology Research, Berlin, v.108, n.2, p.305-308, Feb. 2011. RAVERA, I. et al. Small Demodex populations colonize most parts of the skin of healthy dogs. Veterinary Dermatology, Oxford, v.24, n.1, p.168-e37, Feb. 2013. RODASKI, S.; DE NARDI, A. B. Quimioterapia antineoplásica em cães e gatos. São Paulo: MedVet Livros, 2008, 305p. RODRIGUEZ-VIVAS, R. I. et al. Factors affecting the prevalence of mange-mite infestations in stray dogs of Yucatán, Mexico. Veterinary Parasitology, Amsterdam, v.115, n.1, p.61-65, July 2003. SARIDOMICHELAKIS, M. et al. Adult-onset demodicosis in two dogs due to Demodex canis and a short-tailed demodectic mite. Journal of Small Practice, Oxford, v.40, n.11, p.529-532, Nov. 1999. TAYLOR, M. A. et al. Parasitologia veterinária. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010, 742p. TSAI, Y. J. et al. The dog mite, Demodex canis: prevalence, fungal co-infection, reactions to light, and hair follicle apoptosis. Journal of Insect Science, Annapolis, v.11, p.76, 2011. [13p.]. Anais do 38º CBA, 2017 - p.2224