AUTOMEDICAÇÃO - O BARATO QUE SAI CARO



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Transcrição:

AUTOMEDICAÇÃO - O BARATO QUE SAI CARO Selma Teresinha Helgenstiler Arendt multiplicadora 1 Maria Fátima Andriollo Abel Orientadora² Angela Biazus-Orientadora³ Resumo: O presente artigo refere-se a uma pesquisa de opinião realizado através do projeto NEPSO, desenvolvido junto a alunos da sétima série da Escola Municipal Demétrio Moreira da Luz, em São Marcos RS,. Tem como tema a automedicação. O problema de pesquisa indagou: quais as razões que levam as pessoas a se automedicarem. Com essa pesquisa pretendeu-se ampliar os conhecimentos sobre o tema, a fim de conscientizar as pessoas sobre as conseqüências dessa prática para a saúde do indivíduo, interligando os dados obtidos com as realidades social e econômica do país, refletindo sobre a influência da propaganda no incentivo ao consumo de remédios que invade o cotidiano de todos os cidadãos. Os dados levantados através das entrevistas indicam que a automedicação é comum no dia-a-dia das pessoas, especialmente pela facilidade com que os remédios são adquiridos em farmácias, drogarias ou através da Internet, tendo nos antiinflamatórios, analgésicos e antibióticos a principal causa de intoxicação. Partindo disso, aprofundamos o debate sobre a automedicação que pode ser compreendida como uma questão de saúde pública. Não podemos negar a existência de uma verdadeira cultura do remédio. Dentre nossas conclusões, está a necessidade de substituir o hábito do uso de medicamentos sem receita médica por esclarecimentos à população. É importante construir um trabalho voltado para a saúde de nossos cidadãos, para que realmente tenham qualidade de vida. Palavras-chave: automedicação, saúde, qualidade de vida. INTRODUÇÃO Todos os dias os jornais e a televisão noticiam que novas tecnologias sendo descobertas. Umas para o bem estar da população, outras que irão causar dependência sem controle nenhum por parte de governantes. Toda a nova tecnologia provoca fascínio e o orgulho das conquistas humanas; a impressão que se tem é a de que o homem está rompendo os limites do conhecimento, da força e da velocidade. Todas essas conquistas ou invenções não são apenas conquistas tecnológicas ou provas do aprimoramento científico. Elas servem para aumentar significativamente a produção. A tecnologia não é neutra, nem necessariamente libertadora, ela auxilia nas relações de dominação que nasceram com a grande indústria. A industrialização significa um avanço tecnológico extraordinário. Trouxe benefícios inquestionáveis à vida do planeta. Essas conquistas, no entanto, não se fizeram sem dor. 1 ARENDT, Selma Teresinha Helgenstiler. Professora da Rede Municipal e Estadual de São Marcos, multiplicadora. Licenciatura Plena em História e Pós Graduação em Religião pela UCS Universidade de Caxias do Sul, RS. ² Professora da Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul, Licenciada em Ciências Exatas e Matemática pela UCS/RS, Especialista em Ação Interdisciplinar pela FAI/ISEI/SC. ³ Professora da Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul, Licenciada em Educação Física pela UCS/RS, Especialista em Educação do Movimento pela UCS/RS

Partindo dessas mudanças advindas da inserção do Brasil nessa tecnologia globalizada, desenvolveu-se um projeto de pesquisa de opinião, desenvolvido com a turma setenta e dois da Escola Municipal Demétrio Moreira da Luz, São Marcos RS. Foi utilizado como ferramenta pedagógica a metodologia NEPSO. Nesse artigo procuramos saber quais as razões que levam as pessoas a se automedicarem notamos a força da indústria farmacêutica e o marketing como um forte influenciador da automedicação. A perspectiva multifocal da proposta desse projeto de pesquisa justifica a escolha do tema automedicação. Educar para a cidadania é uma proposta diferente, é a virtude que tem a educação como instrumento de mudança social, capaz de produzir, estimular, quem deseja participar de sua comunidade, aprofundar a reflexão sobre o problema, projetando soluções, reflexões e ações para melhoria da sociedade da qual estamos todos inseridos. A proposta de fazer projetos de pesquisa de opinião que visam à construção de conhecimento, em geral, partem de questões simples levantadas pelos estudantes, são temas que contemplam situações e problemas relacionados à vida humana, tudo isso contempla a proposta da metodologia NEPSO. Estudantes vão aplicar os conhecimentos trabalhados em situações relativamente novas, tomam contato com conceitos e variáveis, essa prática estimula-os a adquirirem novos ou outros conhecimentos para analisar e entender a exploração da indústria farmacêutica. A automedicação é um assunto polêmico para a comunidade, enfoca dimensões sociais, de saúde pública e o jogo de interesses e de poder entre os diversos agentes sociais envolvidos e permitindo discutir a ação dos governos diante dessas situações. 1. Paradoxo: saúde pela metade cria uma dependência dos remédios. Indiscutivelmente o problema da automedicação há que se ter dois olhares distintos: aqueles que carecem de recursos para pagar planos de saúde e outros que dependem unicamente do sistema público de saúde. Citando a gestão pública, muitas pessoas esperam assistência por meses ou anos. Nesse mundo da precariedade, de interesses e circunstâncias que conspiram com as necessidades da população, os efeitos desses esvaziamentos sociais levam as pessoas a comprar remédios em farmácias ou outros locais, devido as suas necessidades, sejam elas para amenizar a dor ou desconhecimento das conseqüências para o organismo. Se a saúde do povo brasileiro custa caro e representa um ônus social e econômico crescente, vemos na prática da automedicação um dos indicadores para essa situação tornar-se cada vez mais crítica, pois existe o hábito de tentar solucionar o problema com

opiniões de conhecidos e a facilidade com que se encontra os medicamentos em farmácias ou Internet.Conforme nos diz Moacir Scliar 2 O Brasil tem uma farmácia a cada três mil habitantes, mais que o dobro recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Sendo o número de farmácias per capita um bom indicador do problema da automedicação. E nos diz ainda que No Brasil, a automedicação é responsável por numerosos casos de baixa por intoxicação. O uso de remédios como os narcóticos se mostra perigo maior do que aquele representado por traficantes de drogas. Um dos remédios mais populares de toda a história: a Aspirina nos dá o exemplo claro de que a irresponsabilidade da propaganda e a ignorância de alguns criaram um novo vício, tão perigoso quanto o das drogas ilegais: a farmacodependência. Só no Brasil existem mais de trinta e cinco mil rótulos de medicamentos com variações de mais de treze mil substâncias. Conforme estudos realizados pela ONDCP, na sigla em inglês que quer dizer A Análise do Escritório para a Política Antidrogas da Casa Branca, os jovens estão reduzindo o consumo de drogas que costumam obter nas ruas, mas têm buscado em casa e entre amigos remédios que lhes tragam novas sensações. Segundo texto publicado na revista Super Interessante os brasileiros adoram tomar analgésicos e antiinflamatórios e estão entre os campeões de consumo, citando ainda o sexo feminino como responsável por 75% do consumo de tranquilizantes no país. Ainda destacando os campeões de vendas nas farmácias do Brasil em unidades estão: 1º Neosaldina, 2º Cataflan, 3º Hipoglós, 4º Novalgina em 5º Tylenol, em valores os que se destacam são: 1º Viagra, 2º Tylenol, 3º Dorflex, 4º Cataflan e 5º Vioxx. Salientando o papel dos médicos na hora da consulta, boa parte deles no ato da mesma a medida que o médico tem menos tempo e disponibilidade para a conversar e se dedicar aos pacientes, mais propenso fica a receitar medicamentos. Nessas rotinas de apenas dez minutos de consulta, não é raro o médico indicar ao paciente psicotrópicos (como calmantes) ou drogas para hipertensão, já que em dez minutos é impossível levantar o histórico do paciente, então como conseqüência vem a automedicação, pois se o médico levou apenas dez minutos para prescrever o remédio, tudo leva a crer que aquele medicamento não é tão perigoso e, a mesma decisão poderia ser tomada pelo balconista da farmácia ou pelo próprio paciente. 2. A ameaça da saúde está nas gavetas de nossas casas. 2 SCLIAR, Moacir. Jornal Zero Hora. Porto Alegre, Sábado, 10 de março de 2007. P 2 Caderno Saúde

2. Você costuma comprar remédios antes de ir ao médico? 60 56 50 40 43 30 20 10 0 Sim Não O psiquiatra e psicanalista José Atílio Bombana,, 3 da Unifesp diz qualquer pessoa pode se tornar dependente de medicamentos. As recomendações fundamentais continuam a ser escritas nas caixas dos medicamentos Não tome medicamentos sem antes consultar o seu médico, mas levemos em consideração a pesquisa que foi realizada na cidade de São Marcos- RS. Como demonstra o gráfico acima dos noventa e nove entrevistados cinqüenta e seis disseram comprar remédios sem receita médica e dezessete entrevistados disseram que o principal motivo da automedicação é a facilidade de comprar esses medicamentos e mais ainda trinta e oito responderam que estão conscientes que a automedicação pode estimular as pessoas a se tornarem viciados em remédios. Essa pesquisa traz em seus resultados as perguntas fundamentais; se é prejudicial por quê continuam vendendo como se nada de anormal acontecesse as pessoas? Remédio entre nós é palavra mágica! Uma palavra que converte-se em lucros abusivos para uma indústria farmacêutica que só perde para a indústria bélica e do petróleo. Essa falta de responsabilidade e objetividade por parte dos órgãos responsáveis pela saúde do povo brasileiro, está sendo refletida nas filas de farmácias. Pessoas que buscam solução rápida e eficaz para seus problemas de saúde. Essa questão julgamos importante que é a questão da facilidade que são adquiridos, sendo que 52 dos entrevistados disseram adquiri-los em farmácias. Nessa questão surgiram vários questionamentos. 3 REVISTA SUPER INTERESSANTE. Viciados em remédios. Fevereiro de 2003 p 42-49.

3. A indústria farmacêutica e seus mecanismos de dominação. Justificando essa falta de compromisso com a saúde do povo brasileiro Leonardo Boff 4 em seu livro Depois de 500 anos que Brasil queremos? Nos diz: Na condição de país socialmente injusto, marcado por gritantes desigualdades e pesada exclusão das grandes maiorias, a falta de investimentos oficiais em políticas públicas em termos de saúde, educação, moradia e acesso à terra condena a miséria e, prematuramente, à morte de milhões de pessoas... Existe por trás de um determinado medicamento toda uma estratégia de marketing da moderna indústria farmacêutica, conforme artigo publicado na Revista Veja por Cíntia Borsato com o título A vitamina dos Remédios em 26 de setembro de 2006 Nomes sonoros e fortes são fundamentais para o sucesso comercial dos medicamentos, o que menos importa é ligar o nome a ação terapêutica do medicamento. Muitos nomes são escolhidos simplesmente pela sonoridade e não guardam nenhuma relação com a ação do princípio ativo. Paulo Freire 5 em sua concepção de mundo e a teoria sócio política, atacava a ética do mercado sustentada pelo neoliberalismo, porque ela se baseia na lógica do controle. Esse alerta, serve para a automedicação, caracteriza-se pela espetacularização de tudo pelo consumo imediato. Há um alerta no que se refere ao papel do pesquisador, segundo Ciro Flamarion Cardoso Todo o pesquisador tem um compromisso inelúdivel com a sociedade na qual vive e age. De fato, a afirmação é pertinente ao dados levantados pela pesquisa de opinião, sendo que o capitalismo apresenta as suas características bem marcantes, e o setor farmacêutico apresenta tais características. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao apresentar o caminho percorrido através da pesquisa de opinião entrelaçando com o levantamento de dados, trazendo a luz as evidências, o nosso artigo expressa uma reflexão sobre esta prática social, ou seja automedicação,que está na realidade associada a questão de saúde pública. O procedimento da investigação instiga reflexões interdisciplinares, e essa interdisciplinaridade é uma atitude frente à questão do conhecimento. Os nossos estudantes oxigenaram-se com a perspectiva do descobrir, do 4 BOFF, Leonardo. Depois de 500 anos que Brasil queremos? Petrópolis: Vozes, 2000. 5 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1987.

investigar, questionar, analisar, sair às ruas ouvindo opiniões e falando de suas experiências como pesquisadores. Através deles consegue-se muitos olhares; esse mundo do século XXI, é o cenário, e é daí que surgem os verdadeiros problemas (leia-se conteúdos)a serem explorados. Eles dizem estarem felizes por ser o segundo ano de projetos; outras falas como:saímos em duplas, tive que dar uma força para o nervosismo do colega; ainda, encontramos uma pessoa que nunca foi a escola, mas que respondeu o questionário; logo adiante mais alguém diz: professora uma pessoa não quis responder porque ficou envergonhado, ou outro que disse a senhora que entrevistamos nos pediu sobre o projeto de pesquisa e nós fomos entrevistados. O importante nessa magnifica e provocante tarefa são as emoções: tem a euforia, frustrações, exige-se, busca-se, erra-se, conserta-se, faz, desfaz, pesquisa, pergunta, age, reage, envergonhase, fala-se, ouve-se, se faz ouvir, é entrevistador, é entrevistado, até há pouco pensavase que era assim, já na pergunta seguinte descobre-se que não era o que pensávamos ser; as dimensões são extra curriculares, necessita-se muito mais e tudo isso dá um significado de prazer. As velhas limitações do conhecimento são extrapoladas; todas as perspectivas do construir conhecimento são partilhadas: notícias que saíram em jornais e revistas, uma caixa de remédio vazia; não há como não aprender a cooperar com o grupo, a trabalhar em grupo. Quando percebemos que o ato de aprender é mútuo e que as potencialidades estão em todos, transcende-se para a simplicidade das práticas cotidianas, temos tesouros escondidos em nossos alunos, em nossas comunidades. Através da pesquisa de opinião percebemos também que o tema é polêmico, e essa pesquisa não para por aqui, os dados levantados nos dizem que há a necessidade de intervenção, pois mesmo sabendo das conseqüências para o organismo, as pessoas tem o hábito de comprar remédios sem receita médica. Dos noventa e nove entrevistados cinqüenta e seis disseram ser usuários de remédios sem receita médica. Disseram também consegui-los com facilidade em farmácias. Sendo assim como não dizer que esse é um problema de saúde pública? Está mais do que na hora dos responsáveis pelo setor da saúde iniciar campanhas esclarecendo a população de todas as faixas etárias. A seriedade dos resultados dessa pesquisa nos diz que o ideal seria as pessoas não fazerem uso da automedicação, uma vez que uma vida saudável não está no balcão da farmácia, mas sim na qualidade de vida que todos dão para si.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES, Celso. Trabalhando com projetos. São Paulo; Edic, 2006. BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histórico na sala de aula. 5ª ed. São Paulo: Contexto. 2001. BOFF, Leonardo. Depois de 500 anos que Brasil queremos? Petrópolis: Vozes, 2000. CARDOSO, Ciro Flamario. Uma Introdução à História. São Paulo; Brasiliense, 1992. FAUSTO, Bóris. História do Brasil. Brasília: MEC, 2006. Caderno da TV Escola. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1987. GALILEU Medicamentos A Anfetamina é nossa, Maio de 2006 p 17. MARCONDES, Beatriz (Org.). Como usar outras linguagens na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003. RODRIGUES, R. M. Vida e Saúde. São Paulo: Moderna, 1995. CADERNO DA ESCOLA. Ministério da Educação e do Desporto. Brasília: MEC, 2003. PINSKY, Jaime (Org.). O Ensino de História e a criação do fato. São Paulo: Contexto, 1990. REVISTA SUPER INTERESSANTE. Viciados em remédios. São Paulo. Editora Abril. Fev. 2003. Edição 185 p. 42-49. REVISTA SELEÇÕES READER S DIGEST. Remédio sem receita, não! Junho de 2006, p. 134. SALVADOR, Ângelo Domingos. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica. Porto Alegre: Sulina, 1981. VIEIRA, Maria do Pilar de Araújo. A pesquisa em História. São Paulo: Ática, 1989. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central. Normas para apresentação de trabalhos. 3. Ed. Curitiba: UFPR, 1994. P. 8