Química e Medicamentos Automedicação e os riscos à saúde

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1 Química e Medicamentos Automedicação e os riscos à saúde A falta de consciência da população no uso de diversos medicamentos sem a prescrição médica e os riscos da automedicação à saúde foram os principais fatores que motivaram realizar esse projeto educacional. Cresce o número de pessoas que se automedicam e os resultados podem ser muito perigosos, desde uma simples intoxicação até a morte. O problema não está na medicação em si, mas na prática abusiva e em combinações perigosas, podendo mascarar sintomas e agravar doenças. Outro risco é a dependência física e psicológica, como nos casos de psicotrópicos (antidepressivos, ansiolíticos) que, quando tomados acima da dose, afetam o sistema nervoso. Medicamentos vendidos sem receita médica como, por exemplo, o paracetamol, a dipirona sódica e o ácido acetilsalicílico, que parecem inofensivos, podem causar danos principalmente no fígado, se ingeridos indevidamente. Nossos principais objetivos foram: trabalhar esse assunto com os estudantes em sala de aula, já que está presente no cotidiano deles; alertá-los sobre as conseqüências da automedicação e sobre a importância da leitura de bulas e analisar a composição química de alguns medicamentos. Nós trabalhamos com uma segunda série do ensino médio 1ª aula: Concepções dos alunos Nessa aula, os alunos leram inicialmente o texto abaixo e responderam as questões em grupos de 4 a 6 alunos. Automedicação O grande uso de diversos medicamentos pela população, muitos deles comprados sem receita médica, e os riscos da automedicação para a saúde, são assuntos importantes que devem ser estudados. O principal objetivo é conscientizar as pessoas sobre as conseqüências da automedicação, por meio de estudos químicos. Os resultados da automedicação podem ser muito perigosos, desde uma simples intoxicação até a morte. O problema não está na medicação em si, mas na prática abusiva e combinações perigosas, podendo mascarar sintomas e agravar doenças. Outro risco é a dependência física e psicológica, como nos casos de psicotrópicos (antidepressivos) que, se tomados acima da dose, afetam o sistema nervoso. Remédios vendidos sem necessidade de receita ácido acetilsalicílico, paracetamol, dipirona sódica parecem inofensivos, porém o uso indevido causa danos principalmente no fígado. Perguntas:

2 Você sabe o que é automedicação? Costuma fazer uso de remédios sem prescrição médica? Quais remédios você mais utiliza no seu dia-a-dia? Quais desses são comprados sem receita médica? Quais os riscos que a automedicação pode causar a saúde? Já presenciou algum caso de complicação por automedicação? Se sim, o que aconteceu? Em seguida, fizemos um debate onde discutimos as questões e todos falaram sobre o assunto. Os alunos disseram: Eu tomo AAS porque é gostoso. Quando estou com dor de cabeça, tomo remédio de 2 em 2 horas. Eu conheço uma mulher que tomou uma cartela de um remédio fortíssimo para morrer. Se todo mundo toma um remédio e nunca morreu, não tem problema então tomar. Eu adoro remédio. Eu tenho alergia a própolis. Nessa mesma aula, uma aluna abriu a mochila e colocou em cima da mesa diversos medicamentos e disse: Eu tomo todos, mas cada um para um tipo de dor diferente. Ao final, perguntamos aos alunos se eles possuíam o hábito de ler bulas dos medicamentos que eles utilizavam e a grande maioria disse que não. Então solicitamos que fizessem uma pesquisa junto aos seus familiares, amigos e vizinhos sobre os medicamentos que tomavam e que cada um/a levasse uma bula para analisarmos na próxima aula. 2ª Aula: Leitura de Bulas Primeiramente os alunos relataram suas pesquisas euforia, todos indicando medicamentos usados na comunidade, os quais foram sendo escritos na lousa na medida em que os alunos falavam. Em seguida, eles aprenderam a classificar os medicamentos de acordo com as classes mais utilizadas: ANALGÉSICO: alívio da dor.

3 ANTITÉRMICO: previne ou reduz a febre, diminuindo a temperatura corporal que está acima do normal. ANTIBIÓTICO: é uma substância que tem capacidade de interagir com microorganismos que causam infecções no organismo, interferindo na ação desses microorganismos, matando-os ou inibindo seu metabolismo e/ou sua reprodução. ANTIINFLAMATÓRIO: são medicamentos cuja função é reduzir o grau de inflamação dos tecidos. OUTROS: demais medicamentos apresentados pelos alunos como: para regular a pressão, antidepressivos, ansiolíticos, estomacais, nasais, etc. Após classificarmos os medicamentos levantados pela classe, realizamos a análise das bulas que os alunos trouxeram. Eles aprenderam a ler aspectos importantes das bulas, como a posologia do remédio, seus efeitos colaterais, a superdosagem e a composição. Alguns alunos mencionaram: Quanto nome difícil. Eu nunca li a bula. Porém, ao final da aula um aluno disse: É né! Agora a gente tem que ler a bula mesmo! Até que assim não é tão complicado. Essa aula foi excelente e seu objetivo alcançado, pois os alunos fizeram o trabalho solicitado com atenção e participação e ao final elogiaram dizendo que muitos nunca tinham pensado que poderiam estudar uma bula em sala de aula. Essa aula foi de extrema importância para tirar do aluno a visão de que a bula foi feita para não ser lida. Além de aprenderem que existem alguns tópicos nas bulas que são de extrema importância. 3ª Aula: Vídeos sobre os riscos da automedicação e os medicamentos mais utilizados pela população de São João Del-Rei A terceira aula foi realizada no teatro da escola. Primeiro os alunos assistiram uma reportagem passada no Jornal Gazeta, mostrando as novas regras da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em que as farmácias ficaram proibidas de deixarem os medicamentos de fácil acesso para os clientes, além de estarem proibidas de vender sorvetes, balas, doces e barrinhas de cereais. Logo em seguida assistiram a um vídeo produzido nas ruas de São João Del-Rei, tratando dos medicamentos mais utilizados pela população. O vídeo também mostrou uma reportagem feita numa farmácia da cidade, para mostrar como a nova regra da

4 ANVISA está sendo posta em prática. Ao final da aula fizemos um debate, onde os alunos deram suas opiniões sobre os vídeos e relataram casos de reações por algum medicamento comprado sem prescrição médica. Um aluno disse: Não sabia como era importante estudar sobre esse assunto. A cada aula percebemos que os alunos estavam mais envolvidos. Todos queriam falar um pouco e sempre demonstrando interesse sobre o assunto e contribuindo nos debates. Foi nessa aula que surgiu a possibilidade de realizarmos uma nova pesquisa, pois um dos alunos levantou a questão do uso dos fitoterápicos, dizendo que só faz uso de chás. Muitos disseram que os chás não causam mal algum a saúde, que é natural mesmo. Por isso, propomos que eles pesquisassem sobre o assunto e apresentassem em seguida para a turma. 4ª Aula: Montando Moléculas Essa aula foi realizada no laboratório de química da escola, onde mostramos aos alunos a composição química dos medicamentos por meio de slides em PowerPoint. Foram apresentadas as fórmulas estruturais dos princípios ativos dos cinco medicamentos mais utilizados no Brasil: Amoxicilina, Tylenol, Aspirina, Nimesulida e Novalgina. Em seguida, os alunos montaram modelos espaciais de duas dessas moléculas organizados em grupos: a da Aspirina e a do Tylenol, utilizando bolinhas de isopor coloridas e palitos de madeira. Após montarem as moléculas, os alunos disseram como isso foi feito e explicaram as ligações simples e duplas, a parte que correspondia ao benzeno (anel aromático), que o carbono só pode fazer 4 ligações e identificaram as funções orgânicas presentes nessas moléculas. O aluno que parecia mais desinteressado ao final da aula disse: Nossa agora sim entendi essas moléculas. Eu achava isso tão difícil. Mas nem todos ficaram contentes com a atividade, como uma aluna que disse: fazer isso é muito chato. No entanto, essa aluna foi a que mais participou da aula, principalmente quando os grupos foram apresentar as moléculas que montaram. Ela estava sempre de olho apontando os erros dos outros grupos. No final da atividade os alunos elogiaram a aula e disseram que seria muito bom ter mais aulas desse tipo. 5ª Aula: Avaliação por meio de um texto Essa foi a última aula desse projeto. A proposta foi que os alunos escrevessem um texto dissertativo sobre as aulas anteriores, com 20 a 30 linhas, relatando o que aprenderam.

5 A reação dos alunos foi de pavor, quando foi feito o comentário sobre o que eles tinham que fazer. Redação? Ah isso não, dona! Eu não vou fazer isso, não. O que isso tem a ver com química? Isso nos mostrou como os alunos não gostam de escrever, e como eles vêem a química apenas como um mundo de fórmulas, não percebendo sua relação com textos. Mas no final todos acabaram escrevendo seus textos e muitos extrapolaram o número máximo de linhas solicitado revelando atenção nas aulas e os aspectos apreendidos. O objetivo deste trabalho com certeza foi alcançado nas turmas do 2º ano do Ensino Médio da E.E.Governador Milton Campos. Primeiramente pelos comentários dos alunos e os elogios durante as aulas. Segundo porque percebemos que eles realmente aprenderam, tomaram consciência dos riscos da automedicação e estão passando os conhecimentos adquiridos para os que estão próximos a eles. Houve também o interesse pelo trabalho com fitoterápicos, o entusiasmo de cada um, a construção das moléculas e o aprendizado na leitura e interpretação das bulas dos medicamentos levantados por eles.