GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS O IBAMA E AS CONCESSÕES FLORESTAIS NO BRASIL Paulo José Prudente de Fontes Engº. Florestal / Analista Ambiental IBAMA / ASIBAMA
O RECURSO FLORESTAL BRASILEIRO O Brasil é detentor da maior extensão de florestas tropicais do mundo 540 milhões de ha de florestas nativas e 5 milhões de ha de florestas plantadas Maior produtor ( 22 milhões de m3) e maior consumidor de madeira tropical do mundo Consumo de madeira de floresta plantada é da ordem de 100 milhões de m3 / ano É um dos maiores mercados de madeira do mundo
Cadeias Produtivas e Importância Econômica (2002) 2 milhões de empregos diretos 8% das exportações 4 % PIB PAPEL E CELULOSE SIDERURGIA E CARVÃO MADEIRA SÓLIDA CHAPAS E COMPENSADOS Exportações Importações Contribuição para Balança Comercial em 2002 (Bilhões de US$) Setor Florestal US$ 4,3 bi US$ 0,6 bi Brasil US$ 60 US$ 47,2 % 7,1 1,3 RESINAS E ÓLEOS Saldo US$ 3,7 bi US$ 13,1 28,2 Milhares de comunidades locais COSMÉTICOS E FÁRMACOS ALIMENTOS
ACESSO AO RECURSO E GESTÃO DE FLORESTAS FORMAS DE ACESSO AO RECURSO FLORESTAL Desmatamento Manejo Florestal em áreas privadas Áreas protegidas (Flonas, Flor. Estaduais e Resex) Florestas plantadas (Reflorestamento) Áreas públicas (Assentamentos florestais e Concessões) GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS Gestão direta do Estado (ex. Polônia) Gestão direta com serviços tercerizados (ex. Australia e o projeto piloto na Flona Tapajós - PA) Regime de concessões (ex. Bolívia)
FLORESTAS NACIONAIS - FLONAS O Código Florestal Brasileiro (Lei 4.771/65), estabelece no seu artigo primeiro que as florestas existentes no território nacional..., são bens de interesse comum a todos os habitantes do País... O Código Florestal visando ainda coibir a exploração predatória e assegurar o suprimento de matéria-prima florestal em bases sustentáveis previu também a criação de Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais. Conceito de FLONA : uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas. Lei do SNUC n. 9.985 / 2000
As Florestas Nacionais do Brasil Região N. de FLONAS Área (em hectares) Sul Sudeste Centro-Oeste Nordeste Norte TOTAL 10 10 03 07 36 66 15.150,66 15.521,70 11.822,32 62.704,70 17.282.049,99 17.387.249,57
FLORESTAS NACIONAIS - FLONAS 99,4% das áreas de FLONAS estão na Amazônia; 19 FLONAS com sobreposição em terras indígenas, cerca de 8.560,139 ha ou 49% do total; Estudo realizado pelo PNF em 05 FLONAS da Amazônia (Jamari e Bom Futuro; Caxiuanã e Tapajós; e Tefé ) revelou que: A produção de madeira manejada pode ser rentável em 04 das 05 FLONAS estudadas (Tefé não é atrativa); Em Caxiuanã os custos de produção são similares aos da iniciativa privada; Os custos de produção em florestas privadas são mais elevados devido aos custos de capital da terra.
Manejo Florestal em Áreas Privadas N. de PMFS autorizados pelo IBAMA Área de exploração florestal autorizada (ha / ano) Volume autorizado (M3 de toras) % da Produção Nacional de madeira tropical % do N. de PMFS cadastrados no IBAMA (2003) 400 232.686,00 5.851.015,00 27,34 8,8 (2004) 580 289.915,87 7.650.604,00 35,75 12,8 1200 648.000,00 16.692.480,00 78,00 26,6 Os 1200 PMFS autorizados correspondem a uma área anual de exploração de 648.000,00 hectares Para um ciclo de 25 anos a área total sob manejo deverá ser de 16,2 milhões de hectares ou 11,2% das áreas de florestas nativas privadas na Amazônia Legal
Situação Fundiária na Amazonia Legal 500 milhões ha 24% Áreas Protegidas 29% Terras Privadas 47% Terras Devolutas/ Disputa 235 milhões ha
PROJETO DE LEI N. 4.776 / 2005 Instrumento legal com 84 artigos, distribuídos em em cinco títulos, destacando-se: a) gestão de florestas públicas 49 artigos b) órgãos responsáveis 5 artigos c) criação do Serviço Florestal Brasileiro 16 artigos Extremamente detalhado, trazendo regulamentações que podem engessar toda atividade futura, deveria deixar os detalhamentos para decretos, portarias ou instruções normativas posteriores Definição de Concessão Florestal: Delegação onerosa do direito de praticar manejo florestal sustentável para exploração de produtos e serviços, numa unidade de manejo, feita pelo poder concedente, mediante licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado
O PROJETO DE LEI n. 4.776 / 2005 Trata no mesmo instrumento de assuntos distintos: Dispõe sobre a gestão de florestas públicas para a produção sustentável; Institui na estrutura do Ministério do Meio Ambiente, o Serviço Florestal Brasileiro SFB; Cria o Fundo Nacional de FNDF Desenvolvimento Florestal O PL nº. 4.776 / 2005 traz no bojo, a cultura do excesso de regulamentação sem, contudo, propor o uso adequado e eficiente dos instrumentos de implementação da gestão florestal. Regulamentação baseada em instrumentos de comando e controle: É o controle direto, acompanhado de fiscalização e sanção para o não-cumprimento das normas e padrões estabelecidos (Estudos de Impacto Ambiental, Licenciamentos, Zoneamentos, etc.). Os instrumentos econômicos de gestão ambiental buscam alcançar metas ambientais através de incentivos ou desincentivos via sistema de preços ( taxas, impostos, multas, subsídios, etc.).
O PROJETO DE LEI n. 4.776 / 2005 As críticas para os instrumentos de CC são: Incapacidade das agências ambientais aplicarem as leis (falta de recursos e estrutura adequada); Instrumentos limitados sem a capacidade de gerar recursos econômicos suficientes para manter o sistema; Eventual recurso arrecadado vai para um Fundo governamental, desmotivando as agências; Complexidade da lei, encarece o processo de controle e monitoramento, e pode estar acima da capacidade administrativa do órgão executor da política ambiental; e Falta coordenação entre as diversas agências dos governos, em seus diferentes níveis.
O IBAMA e o Serviço Florestal Brasileiro Competências do IBAMA / DIREF coordenar, supervisionar, regulamentar e orientar as execuções das ações federais referentes ao reflorestamento, acesso, manejo e uso sustentável dos recursos florestais, bem como a proposição de criação e gestão das florestas nacionais e reservas equivalentes: promover a elaboração e revisão de normas e procedimentos básicos para o manejo florestal; coordenar a geração, a sistematização e a disponibilização de informações florestais; implementar ações de monitoramento, avaliação e controle relativos ao uso dos recursos florestais; promover e apoiar ações para o florestamento e reflorestamento; implementar ações para melhoria do atendimento das demandas de acesso, uso e comercialização dos recursos florestais; coordenar, promover e executar ações, pesquisas e estudos de valoração econômica de bens e serviços ambientais, em Flonas. Competências do SBF exercer a função de órgão gestor da concessão florestal; Apoiar o treinamento e capacitação técnica nas atividades de silvicultura, manejo florestal, exploração de serviços e processamento de produtos florestais; fomentar a expansão da base florestal plantada (refloresta - mento); criar e manter um sistema de informações florestais e o cadastro geral das florestas públicas; propor estudos de mercado para produtos e serviços florestais e planos de produção florestal sustentável.
Fases e instituições públicas responsáveis pela gestão dos recursos florestais do Brasil. Fases Períodos Instituições Federais Principais realizações 1 1891-1964 Serviço Flor. Brasileiro (1921-1962) Instituto Nac. do Mate (1938-1967) Instituto Nac. do Pinho (1941-1967) Promulgação do Código Florestal; Implantação do parque industrial madeireiro no sul e sudeste; criação dos Parques Florestais 2 1965-1986 Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal-IBDF (1967-1989) Código Florestal de1965; Fiset-Reflorestamento; Criação das FLONAS 3 1987-1999 IBAMA (1989) e MMA (1992) Ausência de política florestal; Regulamentação do Manejo Florestal para a Amazônia. 4 2000 IBAMA (1989) e MMA (1992) Lançamento do PNF e a proposta de política florestal.
PNF - Ações Estratégicas 2004-2007 Expansão da base florestal plantada Plantio de 800 mil hectares em pequenas e médias propriedades Plantio de 1,2 milhão de hectares por meio de programas empresariais sustentáveis Expansão da área florestal manejada Agregar 15 milhões de florestas naturais em produção sustentável garantindo 30% da demanda da indústria nacional Garantir a proteção de 2,0 milhões de hectares de florestas destinadas ao manejo florestal
PNF - Instrumentos Assistência Técnica Treinamento e capacitação de técnicos e produtores rurais - CENAFLOR e parceiros Tecnologia e Informação Implantação do Sistema Nacional de Informações Florestais Créditos e Incentivos Linhas de crédito para financiar o manejo e o plantio florestal PRONAF Florestal, PROPFLORA, FNO, FCO e FNE Verde Regulamentação e Fiscalização Monitoramento das atividades florestais e modernização dos sistemas de licenciamento e controle das atividades florestais Gestão de florestas públicas
Áreas e Tempo de Concessão em alguns países País Indonésia Tamanho da Área de Concessão (ha) 80.000 a 100.000 Tempo de Concessão Até 20 anos Gana A partir de 500 Até 40 anos Gabão Filipinas 1.000 a 15.000 15.000 a 200.000 15.000 a 40.000 Até 20 anos Até 20 anos Suriname Até 5.000 Até 50.000 Até 150.000 1 a 5 anos 5 a 10 anos 10 a 20 anos
Considerações Finais A experiência internacional de concessões, em sua maioria, não foi bem sucedida. Os governos não alcançaram a remuneração desejada e também falharam no controle e monitoramento da exploração sustentável Nas Filipinas, o governo arrecadou somente 16,5% e na Indonésia 38,0%, das rendas relacionadas à extração madeireira. Por fim, gerou o desaparecimento de grande parte das florestas tropicais de países asiáticos, os principais produtores de madeira tropical Na atual economia globalizada e coorporativa, qual o papel a ser desempenhado pelos governos e pelo setor privado na produção de bens e serviços obtidos das florestas? Para que esse tipo de exploração não aconteça no Brasil, é necessária uma política de exploração sustentável e uma estruturada capacidade operacional de controle e monitoramento do órgão regulador Marco Legal e o Marco Institucional
Considerações Finais - Marco Legal ( Ambiental ) Constituição Federal Artigo 49, Inciso XVII Autorização prévia do Congresso Nacional para conceder o uso de terras públicas com áreas superiores a 2.500 hectares; Artigo 91, t 1º., Inciso III Competências do Conselho de Defesa Nacional Código Florestal Lei n. 4.771 / 1965 Lei do SISNAMA / CONAMA Lei n. 6.938 / 1981 Decreto das FLONAS Decreto n. 1.298 / 1994 Lei do SNUC Lei n. 9.985 / 2000 Artigo 14, Inciso III Inclui as FLONAS na esfera de controle do SISNAMA Artigo 17, t 1. e 3. Estabelece que as FLONAS são de posse e domínio públicos e admite a permanência de populações locais Lei das Licitações Públicas Lei n. 8.666 / 1993 Adequação ou flexibilização do instrumento legal às características peculiares da atividade florestal.
Considerações Finais - Marco Institucional Frágil, limitado e em franco processo de pulverização das competências institucionais IBAMA Perde a gestão direta das FLONAS e recursos financeiros para Ongs, OSCIPs e Empresas; A receita do IBAMA será de 40% do valor excedente ao preço mínimo, ou seja, não há garantia alguma que o Ibama terá alguma receita; Ações do órgão restritas ao licenciamento e fiscalização das atividades florestais e o esvaziamento das competências da DIREF Expedir a anuência prévia para o uso sustentável da área para concessão; Aprovar e monitorar os Planos de Manejo; Ônus da fiscalização em conjunto com órgãos estaduais e municipais; SBF Controle exclusivo do uso dos recursos florestais públicos do país; Autonomia administrativa e financeira com recursos orçamentários e das receitas da exploração do patrimônio público florestal (preço mínimo do edital); Gestão do FNDF com recursos entre 20 a 40% além do preço mínimo e doações externas sem limites ou ingerências do poder público; Retira do SISNAMA / CONAMA o controle participativo e democrático sobre as florestas públicas Propor o PAOF
Considerações Finais Falhas no desempenho do sistema de concessão Governo cria sistemas de concessão não compatíveis com uma exploração sustentável; Forma de distribuição das áreas leilões, pré-seleção de empresas Mecanismos para a captação, por parte do governo, das taxas e royalties Problemas com a corrupção existente entre as autoridades encarregadas de cobrança Falhas nas políticas de implementação O governo permite o descumprimento das leis ambientais existentes devido à falta de recursos disponíveis para realizar os trabalhos de supervisão, monitoramento e fiscalização; Estrutura organizacional forte e com tecnologia avançada para fazer cumprir a legislação.
Considerações Finais Não dá pra cruzar os braços e fazer de conta que não existe outra alternativa é preciso resistir, afinal... as florestas existentes no território nacional..., são bens de interesse comum a todos os habitantes do País... MUITO OBRIGADO PELA ATENÇÃO!!!!!